domingo, 27 de dezembro de 2009

Castoriadis e as "Reflexões sobre o Racismo"

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Reflexões sobre o Racismo – Racismo e Mestiçagem



Por: Cornelius Castoriadis



“Encontramos-nos aqui(*), é evidente, porque queremos combater o racismo, a xenofobia, o chauvinismo e tudo o que se relacione a eles. E fazemos isso em nome de uma posição primordial: reconhecemos todos os seres humanos como tendo valor igual como seres humanos, e afirmamos o dever da coletividade de conceder as mesmas possibilidades efetivas, no que se refere ao desenvolvimento de suas faculdades. Longe de poder estar comodamente fundada em uma suposta evidência ou necessidade transcendental dos “direitos humanos”, essa afirmação engendra paradoxos de primeira magnitude e, em particular, uma antinomia que muitas vezes já sublinhei, e que pode ser definida em abstrato como a antinomia entre o universalismo que concerne aos seres humanos e o universalismo que concerne às “culturas” (as instituições imaginárias da sociedade) dos seres humanos”. Acesso ao artigo AQUI


(*) No Colóquio “Inconsciente e mudança social” da Association pour La Recherche ET l´Intervention Psichosociologiques, em março de 1985.

Texto original em www.debatefeminista.com

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Cornelius Castoriadis


(1922-1997). Crítico social y editor de la revista Socialismo o barbarie (1949-1967), que se publicaba en Francia. Economista de la OCRE hasta 1970, Castoriadis se convirtió en psicoanalista practicante en 1974 y es director de estudios en la Escuela de Altos Estudios en Ciencias Sociales (1979). Escribió, entre otros, Los dominios del hombre: las encrucijadas del laberinto (1978), La institución imaginaria de la sociedad (1975) y Filosofía, política, autonomía (1991) .


Textos sobre
Cornelius Castoriadis

Cornelius Castoriadis Agora International Website

Escritos de Cornelius Castoriadis en Español
Spanish-Language Writings by Cornelius Castoriadis
Écrits de Cornelius Castoriadis en espagnol

Textos sobre Castoriadis o el imaginário


The Problem of Democracy Today

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A referência do texto desta postagem foi recebido de
http://www.unifem.org.br
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quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Algum conceito de tecnologia

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... parecem pequenos detalhes da vida mas, com o poder multiplicador das corporações, atinge tanta gente.

A imagem abaixo veio na capa de uma revista que me deram no avião.


Repare que a menina idiota e frustrada está lendo um livro
com inveja dos que ostentam gadgets eletrônicos...
A FNAC já teve outra vocação...

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Um abraço e um excelente 2010 a todos.

Ladislau Dowbor
contatoladislau@gmail.com
http://dowbor.org
Twitter: ldowbor

PARA MAIS
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domingo, 20 de dezembro de 2009

MERCOSUL - Professor estrangeiro terá seu título reconhecido no Brasil

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Professor estrangeiro terá seu título reconhecido no Brasil

Os professores estrangeiros que vierem a lecionar no Brasil, em sistema de intercâmbio, terão o benefício da admissão (reconhecimento) de títulos e graus acadêmicos obtidos em países do Mercosul. A decisão foi tomada em reunião do Conselho Mercado Comum (CMC), realizada em Montevidéu.

Durante o encontro, foi aprovada a Decisão nº 29, deste ano (2009), que regulamenta o Acordo de Admissão de Títulos e Graus Acadêmicos para o Exercício de Atividades Acadêmicas nos Estados do Mercosul.Justificar


Com a regulamentação, o acordo vale apenas para estrangeiros provenientes dos demais países do bloco que venham a lecionar no Brasil. Portanto, não beneficia professores brasileiros. “A admissão de títulos e graus acadêmicos, para os fins do acordo, não se aplica aos nacionais do país onde sejam realizadas as atividades de docência e de pesquisa”, diz o artigo 2º do documento.

fonte Em Questão - BR-gov.

Para o Acordo, em arquivo PDF, com data de 07-dez-2009 - www.capes.gov.br
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segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Lévi-Strauss: homenagem de "Estudos Avançados" - IEA/USP

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Tristes trópicos

10/12/2009 Por Alex Sander Alcântara


Agência FAPESP – A chamada “crise do Congresso” brasileiro é o tema central do número 67 da revista Estudos Avançados. Publicada pelo Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA/USP), a edição, que lançada nesta quinta-feira (10/12), traz um dossiê sobre a crise institucional vista por acadêmicos, parlamentares e juristas.
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Em seu conjunto, a revista traz artigos, entrevistas, ensaios e resenhas. Abriga ainda mais dois blocos temáticos. O segundo dossiê é dedicado ao antropólogo Claude Lévi-Strauss, morto em novembro, e o terceiro, intitulado Vozes do Nordeste, reúne artigos sobre Graciliano Ramos, João Cabral de Melo e Gilberto Freyre.

O dossiê Lévi-Strauss traz textos publicados em 2008 na edição especial da revista La Lettre Du Collège de France (clique para baixar a revista integralmente, em francês) produzida em homenagem ao centenário do antropólogo francês.

De acordo com o editor da revista, Alfredo Bosi, professor titular de literatura brasileira da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, a edição já estava pronta quando souberam da morte de Lévi-Strauss.

“Estive em Paris e tive o privilégio de receber autorização para publicar vários artigos que saíram na revista La Lettre Du Collège de France. É especialmente importante para nós fazer essa homenagem porque dentro do IEA temos a Cátedra Lévi-Strauss, criada graças a um convênio com o Collège de France”, disse à Agência FAPESP.

Além de textos do próprio Lévi-Strauss, a edição de Estudos Avançados traz artigos e ensaios de colaboradores e discípulos, além de entrevistas recentes. Dentre os artigos destacam-se os de Maurice Merleau-Ponty, Jean-Claude Pecker e Philippe Descola, além de entrevistas sobre Lévi-Strauss com Descola, Françoise Héritier e Eduardo Viveiros de Castro, que foram publicadas originalmente em francês.

Segundo Bosi, que também é coordenador da Cátedra Lévi Strauss, o dossiê sobre o antropólogo fala de um outro país, o “Brasil indígena”, que aparece como fonte direta de estudo de um dos maiores antropólogos do século 20.

“O estruturalismo do autor de Tristes Trópicos não teria sido possível sem os seus anos de observação empática junto a tribos sobreviventes no território brasileiro. As relações entre Lévi-Strauss e a USP, onde lecionou na juventude, foram estreitas e profundas, e os textos que agora publicamos no Brasil provam-no de modo cabal”, disse Bosi.

Para homenagear Lévi-Strauss, a cantora, compositora e pesquisadora Marlui Miranda interpretou músicas dos Suruí, Nambikwara e Bororo, povos indígenas visitados pelo francês na década de 1930, quando lecionava sociologia na recém-criada USP. “É pena porque gostaríamos que ele viesse. Ele lia bem o português. Mas fica a homenagem”, disse Bosi.

Velho Senado

Segundo o crítico literário e membro da Academia Brasileira de Letras, há muitos números a revista se caracteriza por apresentar um dossiê que “deve tratar de um tema oportuno, atual, importante e de preferência que tenha a ver com a realidade brasileira”.

“Para o dossiê – que ocupa um terço e às vezes a metade da edição – convidamos professores, pesquisadores e pensadores. Já a segunda parte é mais aberta. Aproveitamos os ensaios que chegam de várias partes do Brasil e os submetemos aos pareceristas e consultores que sigilosamente nos fazem um diagnóstico sobre os textos”, explicou Bosi, acrescentando que, nas últimas edições, a revista abriu uma nova seção de resenhas de livros.

Os três blocos temáticos apresentam unidade e todos os textos são atuais, com exceção da crônica de Machado de Assis intitulada “Velho Senado”, publicada quando o autor de Dom Casmurro escrevia para o jornal Diário do Rio de Janeiro, nos idos de 1860. De acordo com Bosi, a intenção foi mostrar a “diferença de tom”.

“Naqueles tempos o Senado [“cujos cargos eram vitalícios”] talvez não fosse nem melhor nem pior do que é hoje. Sempre deve ter havido escândalos, só que eram mais decorosos. Eles tinham um comportamento que, infelizmente parece, que se perdeu”, indicou Bosi.

No dossiê sobre o Congresso, há uma diversidade de visões e posições. Segundo o professor da USP, a grande discussão não é só mostrar o que está acontecendo, mas “por que está acontecendo”.

“De maneira geral, as análises mostram que a democracia formal em que vivemos é necessária, mas insuficiente. É preciso não só uma democracia representativa, mas participativa”, analisa Bosi.

Participam do primeiro dossiê Fábio Konder Comparato com o artigo O Direito e o Avesso” Marco Aurélio Nogueira, com Uma crise de Longa Duração, e Francisco Weffort, que questiona a ausência de reforma política em Qual reforma política?.

A segunda parte do dossiê é de entrevistas com alguns políticos representativos, como Cristovam Buarque, Arnaldo Madeira, Fernando Gabeira, e com representantes do Judiciário, como o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Do outro lado, o jornalista e professor da Escola de Comunicações e Artes da USP Eugênio Bucci analisa o papel da imprensa na cobertura da crise, ente outros.

“Acho que a crise, superficialmente, passou, porque a política continua a sua rotina, mas o dossiê fica como um momento de reflexão”, disse Bosi.

A última parte da revista é dedicada a resenhas de livros lançados recentemente e ao dossiê Vozes do Nordeste, além da análise de Aziz Nacib Ab’ Sáber, professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, sobre os eventos climatológicos que atingiram Santa Catarina em 2008.

A versão eletrônica da nova edição de Estudos Avançados poderá ser lida em breve na biblioteca on-line SciELO (Bireme/FAPESP), em

A revista impressa custa R$ 30.
Mais informações: http://www.iea.usp.br/revista/rev67.html
e 55 - 11 - 3091-1675

Fonte: Agência FAPESP
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quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Paulo Freire é anistiado 45 anos após exílio

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Paulo Freire é anistiado 45 anos após exílio

Em Brasília, 3 mil professores e educadores de todas as regiões do Brasil e de outros 22 países acompanharam a cerimônia

27/11/2009 - da Redação

A Comissão de Anistia do Ministério da Justiça concedeu, no dia 26 de novembro, a anistia política post mortem ao educador Paulo Freire, falecido em 1997. A cerimônia ocorreu durante o Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica que conta com 3 mil professores e educadores de todas as regiões do Brasil e de outros 22 países, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília.

Presente na cerimônia, a viúva, Ana Maria Araújo Freire, se emocionou ao falar do marido. “Hoje, Paulo, você pode descansar em paz. Sua cidadania plena, sem vazios e sem lacunas, foi restaurada, como você queria, e proclamada, como você merece”, disse. A homenagem ao pernambucano que revolucionou as técnicas de ensino em todo o mundo foi marcada pela emoção.

O presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão, disse que o pedido de desculpas em nome do Estado brasileiro também era direcionado aos milhões de brasileiros e brasileiras que deixaram de ser alfabetizados e emancipados por Freire. A extinção do Plano Nacional de Alfabetização, que levaria o “método Paulo Freire” a todo o país, foi um dos primeiros atos do regime autoritário, após o golpe de 1964.

O educador pernambucano foi afastado da coordenação do Plano Nacional, instituído meses antes pelo MEC, e aposentado compulsoriamente da cadeira de professor de História e Filosofia da Universidade Federal de Pernambuco. Após ser preso por 70 dias em uma cadeia de Olinda (PE), partiu para o exílio, retornando ao Brasil somente em 1980.

Em razão da perseguição política que resultou em 16 anos de exílio, a Comissão de Anistia concedeu indenização de R$ 100 mil – teto da prestação única, que prevê 30 salários mínimos para cada ano de perseguição comprovada.

Fonte: Brasil de Fato

Para ver Paulo Freire na lista dos Teóricos e Pensadores das Relações Internacionais, na página da ANU - Universidade Nacional da Austrália

Livros de Paulo Freire prontos para serem baixados, na Biblioteca da Floresta, por iniciativa do Governo do Acre.
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Conceitos sociais do feminismo

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Guia discute detalhadamente os conceitos sociais do feminismo

25/11/2009

No ensejo das comemorações do Ano da França no Brasil, a Editora Unesp lança a tradução do Dicionário crítico do feminismo. Trata-se da primeira obra do gênero publicada no país europeu que visa discutir, ao longo de 48 verbetes, não só o significado de conceitos relacionados ao movimento feminista mas o contexto em que se inserem enquanto atitudes sociais e políticas públicas adotadas em relação à hierarquia dos sexos em diferentes culturas.

Cada rubrica, organizada por um grupo de pesquisadores dedicados ao estudo das diferenças sociais relativas ao sexo, traz uma ou mais definições da noção trabalhada, traça as etapas de seu desenvolvimento histórico, expõe embates e controvérsias que ela já suscitou ou suscita e apresenta sua posição social e científica na atualidade. Como é o caso do conceito de Aborto, apresentado como “o reconhecimento do direito de dispor do seu próprio corpo (...) É um ponto decisivo, pois se trata da autonomia das mulheres”.

O Dicionário faz um questionamento sistematizado sobre o androcentrismo presente tanto na representação de objetos, como também na produção de palavras, ideias e sistemas de pensamento. É, portanto, uma obra feminista porque “coloca como central a problemática da dominação entre os sexos e suas consequências”.

A versão brasileira do guia se apresenta como uma ferramenta eficaz para os estudos de gênero, já que traz um repertório de conceitos elaborados pelas teorias feministas a esse respeito. Além disso, abre uma via de comunicação para comparações e diferenciações entre culturas distintas, como o Brasil e a França, bem como possibilita uma visão mais ampla do feminismo na Europa e no mundo.

Sobre as organizadoras:

Helena Hirata é diretora de pesquisa em sociologia no Genre, Travail et Mobilités (GTM) e estuda as divisões sexuais e internacionais do trabalho;
Françoise Laborie é socióloga e ex-membro do Genre et Rapport Sociaux (GERS) com pesquisas sobre “os desafios sociais ligados ao desenvolvimento das tecnologias de reprodução humana” e “técnicas e gêneros”;
Hélène Le Doaré é ex-membro do GERS e investiga as diversas relações sociais em processos como os movimentos populares na América Latina, na guerrilha alemã ou na coordenação das enfermeiras na França;
Danièle Senotier é engenheira de estudos no Centre National de La Recherche Scientifique (CNRS), secretária de redação dos Cahiers du Genre e membro do GTM.

Título: Dicionário crítico do feminismo
Organizadoras: Helena Hirata, Françoise Laborie, Hélène Le Doaré, Danièle Senotier
Páginas: 342
Formato: 16 x 23 cm
Preço: R$ 55
ISBN: 978-85-7139-987-7
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Ensinar a Condição Humana, com Edgar Morin

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Ensinar a Condição Humana


A educação do futuro deverá ser o ensino primeiro e universal, centrado na condição humana. Estamos na era planetária; uma aventura comum conduz os seres humanos, onde quer que se encontrem. Estes devem reconhecer-se em sua humanidade comum e ao mesmo tempo reconhecer a diversidade cultural inerente a tudo que é humano.

Conhecer o humano é, antes de mais nada, situá-lo no universo, e não separá-lo dele. Todo conhecimento deve contextualizar seu objeto, para ser pertinente. “Quem somos?” é inseparável de “Onde estamos?”, “De onde viemos?”, “Para onde vamos?

Interrogar nossa condição humana implica questionar primeiro nossa posição no mundo. O fluxo de conhecimentos, no final do século XX, traz nova luz sobre a situação do ser humano no universo. Os progressos concomitantes da cosmologia, das ciências da Terra, da ecologia, da biologia, da pré-história, nos anos 1960-1970, modificaram as idéias sobre o Universo, a Terra, a Vida e sobre o próprio Homem. Mas estas contribuições permanecem ainda desunidas. O humano continua esquartejado, partido como pedaços de um quebra-cabeça ao qual falta uma peça.

Aqui se apresenta um problema epistemológico: é impossível conceber a unidade complexa do ser humano pelo pensamento disjuntivo, que concebe nossa humanidade de maneira insular, fora do cosmos que a rodeia, da matéria física e do espírito do qual somos constituídos, bem como pelo pensamento redutor, que restringe a unidade humana a um substrato puramente bioanatômico.

As ciências humanas são elas próprias fragmentadas e compartimentadas. Assim, a complexidade humana torna-se invisível e o homem desvanece “como um rastro na areia”. Além disso, o novo saber, por não ter sido religado, não é assimilado nem integrado. Paradoxalmente assiste-se ao agravamento da ignorância do todo, enquanto avança o conhecimento das partes.

Disso decorre que, para a educação do futuro, é necessário promover grande remembramento dos conhecimentos oriundos das ciências naturais, a fim de situar a condição humana no mundo, dos conhecimentos derivados das ciências humanas para colocar em evidência a multidimensionalidade e a complexidade humanas, bem como integrar (na educação do futuro) a contribuição inestimável das humanidades, não somente a filosofia e a história, mas também a literatura, a poesia, as artes...


Enraizamento / Desenraizamento do Ser Humano

Devemos reconhecer nosso duplo enraizamento no cosmos físico e na esfera viva e, ao mesmo tempo, nosso desenraizamento propriamente humano. Estamos simultaneamente dentro e fora da natureza.


A condição cósmica

Abandonamos recentemente a idéia do Universo ordenado, perfeito, eterno pelo universo nascido da irradiação, em devenir disperso, onde atuam, de modo complementar, concorrente e antagônico, a ordem, a desordem e a organização.

Encontramo-nos no gigantesco cosmos em expansão, constituído de bilhões de galáxias e de bilhões e bilhões de estrelas.

Aprendemos que nossa Terra era um minúsculo pião que gira em torno de um astro errante na periferia de pequena galáxia de subúrbio. As partículas de nossos organismos teriam aparecido desde os primeiros segundos de existência de nosso cosmo há (talvez?) quinze bilhões de anos; nossos átomos de carbono formaram- se em um ou vários sóis anteriores ao nosso; nossas moléculas agruparam-se nos primeiros tempos convulsivos da Terra; estas macromoléculas associaram-se em turbilhões dos quais um, cada vez mais rico em diversidade molecular, se metamorfoseou em organização de novo tipo, em relação à organização estritamente química: uma auto-organização viva.

A epopéia cósmica da organização, continuamente sujeita às forças da desorganização e da dispersão, é também a epopéia da religação que, sozinha, impediu que o cosmos se dispersasse ou se desvanecesse ao nascer. No seio da aventura cósmica, no ápice do desenvolvimento prodigioso de um ramo singular da auto-organização viva, prosseguimos a aventura à nossa maneira.


A condição física

Uma porção de substância física organizou-se de maneira termodinâmica sobre a Terra; por meio de imersão marinha, de banhos químicos, de descargas elétricas, adquiriu Vida. A vida é solar: todos os seus elementos foram forjados em um sol e reunidos em um planeta cuspido pelo Sol: ela é a transformação de uma torrente fotônica resultante de resplandecentes turbilhões solares. Nós, os seres vivos, somos um elemento da diáspora cósmica, algumas migalhas da existência solar, um diminuto broto da existência terrena.


A condição terrestre

Pertencemos ao destino cósmico, porém estamos marginalizados: nossa Terra é o terceiro satélite de um sol destronado de seu posto central, convertido em astro pigmeu errante entre bilhões de estrelas em uma galáxia periférica de um universo em expansão...

Nosso planeta agregou-se há cinco bilhões de anos, a partir, provavelmente, de detritos cósmicos resultantes da explosão de um sol anterior, e há quatro bilhões de anos a organização viva emergiu de um turbilhão macromolecular em meio a tormentas e convulsões telúricas. A Terra autoproduziu-se e auto-organizou-se na dependência do Sol; constituiu-se em complexo biofísico a partir do momento em que se desenvolveu a biosfera. Somos a um só tempo seres cósmicos e terrestres. A vida nasceu de convulsões telúricas, e sua aventura correu perigo de extinção ao menos por duas vezes (no fim da era primária e durante a secundária). Desenvolveu-se não apenas em diversas espécies, mas também em ecossistemas em que as predações e devorações constituíram a cadeia trófica de dupla face: a da vida e a da morte. Nosso planeta erra no cosmo. Devemos assumir as conseqüências da situação marginal, periférica que é a nossa.

Como seres vivos deste planeta, dependemos vitalmente da biosfera terrestre; devemos reconhecer nossa identidade terrena física e biológica.


1.4 A condição humana

A importância da hominização é primordial à educação voltada para a condição humana, porque nos mostra como a animalidade e a humanidade constituem, juntas, nossa condição humana.

A antropologia pré-histórica mostra-nos como a hominização é uma aventura de milhões de anos, ao mesmo tempo descontínua — surgimento de novas espécies: habilis, erectus, neanderthal, sapiens, e desaparecimento das precedentes, aparecimento da linguagem e da cultura — e contínua, no sentido de que prossegue em um processo de bipedização, manualização, erguimento do corpo, cerebralização, juvenescimento (o adulto que conserva os caracteres não-especializados do embrião e os caracteres psicológicos da juventude), de complexificação social, processo durante o qual aparece a linguagem propriamente humana, ao mesmo tempo que se constitui a cultura, capital adquirido de saberes, de fazeres, de crenças e mitos transmitidos de geração em geração...

A hominização conduz a novo início. O hominídeo humaniza-se. Doravante, o conceito de homem tem duplo princípio; um princípio biofísico e um psico-sócio-cultural, um remetendo ao outro. Somos originários do cosmos, da natureza, da vida, mas, devido à própria humanidade, à nossa cultura, à nossa mente, à nossa consciência, tornamo-nos estranhos a este cosmos, que nos parece secretamente íntimo. Nosso pensamento e nossa consciência fazem-nos conhecer o mundo físico e distanciam-nos dele. O próprio fato de considerar racional e cientificamente o universo separa-nos dele. Desenvolvemo-nos além do mundo físico e vivo. É neste “além” que tem lugar a plenitude da humanidade. À maneira de ponto do holograma, trazemos no seio de nossa singularidade não somente toda a humanidade e toda a vida, mas também quase todo o cosmos, incluindo seu mistério que, sem dúvida, jaz no fundo da natureza humana. Mas não somos seres que poderiam ser conhecidos e compreendidos unicamente a partir da cosmologia, da física, da biologia, da psicologia...


in Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro
Edgar Morin



Tema de reflexão do Café Filosófico de novembro de 2009, da Regional SEAF Sul-Fluminense

Jerônimo da Silva - UBM








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SC: é proibido discriminar EAD

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Discriminação contra cidadãos com formação no ensino a distância será punida

Foi aprovado o Projeto de Lei nº 122/09, do deputado Professor Sérgio Grando (PPS), que tem como propósito punir qualquer empresa, órgão ou entidade que discrimine cidadãos que disponham de formação superior ou vida acadêmica nas modalidades de Ensino a Distância.

Mais de 20 mil cidadãos residentes no Estado estudam atualmente nestas modalidades de ensino superior.

Juntamente com a matéria, os parlamentares aprovaram duas emendas modificativas de autoria do deputado Pedro Uczai (PT). Elas estabelecem que compete ao poder público estadual o recebimento e análise das reclamações quanto à discriminação de pessoas com formação superior ou vida acadêmica nas modalidades de ensino a distância, que deverão ser encaminhadas aos órgãos competentes para que tomem as medidas cabíveis.

Rubens Vargas/Divulgação Alesc

Fonte: Assembléia Legislativa de SC

Para ler o Projeto de lei na íntegra.

recebido de Annye Tessaro - Florianópolis/SC




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60 anos de "O Segundo Sexo", de Simone de Beauvoir

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O Feminismo e as ligações França-Brasil - Os 60 anos de O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoirmesa de debate com

  1. Nilcéa Freire - ministra, Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres
  2. Maria Betânia Ávila – socióloga, feminista e diretora do SOS Corpo - Instituto Feminista para a Democracia
  3. Maria Luiza Heilborn - antropóloga, feminista e diretora do Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM)
  4. Brigitte Lhomond – socióloga, pesquisadora do Centro Nacional de Pesquisa Científica, Laboratório Triangle (École Normale Supérieure Lettres et Sciences Humaines, Universités de Lyon, CNRS)
do evento:
Seminário Nacional A Mulher e a Mídia 6

Realização:
  1. Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM)
  2. Instituto Patrícia Galvão – Comunicação e Mídia
  3. Fundo das Nações Unidas para o Desenvolvimento da Mulher (UNIFEM)
  4. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)

Frases

  1. “Precisamos pensar em como alargar as fronteiras do feminismo, estabelecer alianças e projetos em comum” - Brigitte Lhomond
  2. “Simone não se interessava por saber do Brasil do carnaval. Queria saber da condição da mulher no Brasil” - Maria Betânia Ávila
  3. “Precisamos nos opor à Simone sombreada, divulgada apenas como ensaísta e não como a verdadeira filósofa que foi, com um importante papel de transformação social” - Maria Luiza Heilborn
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Quais serão as lutas das novas gerações de jovens feministas?
O jogo está ganho?
A provocação é da socióloga francesa Brigitte Lhomond,
pesquisadora do Centro Nacional de Pesquisa Científica, em Lyon,
e convidada para o evento especial
“O Feminismo e as ligações França-Brasil -
Os 60 anos de O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir”,
realizado na abertura do 6º Seminário A Mulher e a Mídia.
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Brigitte estuda a trajetória dos movimentos de liberação das mulheres e a influência do pensamento de Simone de Beauvoir na luta feminista. Nesta perspectiva, ela acredita que o feminismo continua sendo um importante instrumento de luta, mas com a missão de repensar e discutir de maneira contínua temas como aborto, participação política, prostituição e religiosidade.

Para enfrentar os novos desafios, Brigitte retoma a trajetória das diversas correntes feministas, que começaram a ter visibilidade a partir do final da década de 60, como uma continuação das mobilizações de maio de 68. Ela considera a abundância de grupos, os encontros e enfrentamentos dessas correntes como fundamentais para a construção do feminismo transformador da sociedade.

“A perspectiva do feminismo radical é muito importante. Resultou em uma série de publicações e movimentos. Entre eles o movimento pró-aborto, que se reunia em vários estados para apoiar as mulheres na realização de abortos, e a mobilização de combate à violência contra a mulher, a partir da década de 70”, lembra a pesquisadora francesa.

Em 2010, a legalização do aborto na França completa 35 anos, mas segue desafiando o movimento de mulheres francesas. Segundo Brigitte, ainda é preciso lutar para que a lei seja aplicada até o prazo limite – 12 semanas de gestação. A resistência dos médicos, que recorrem à cláusula de consciência da profissão, e a falta de estrutura nos hospitais públicos franceses atrasam o atendimento das mulheres e muitas vezes fazem com que o prazo limite seja vencido, impossibilitando a interrupção legal da gestação.

A luta pelo direito ao aborto, no entanto, não causa tantas divergências entre as feministas européias quanto temas como paridade política, prostituição e porte de véu pelas mulheres mulçumanas. Existem grupos, como As panteras rosas, que exigem a indiferenciação dos sexos. Elas avaliam que a lei de paridade política, que tem como objetivo uma melhor representação das mulheres, aprofundaria essa diferenciação, contrária ao naturalismo e universalismo, que caracterizam a França.

“Uma análise que divide as feministas na França hoje é a análise da prostituição. Para alguns grupos, trata-se de uma forma de exploração da mulher. Para outros, é uma atividade profissional livre. Apesar dessa divergência, há consenso de que esse tema exige política pública”, ressalta a socióloga do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França.

Segundo ela, outro tema que causa discordância entre as feministas é a lei do véu. Sob a justificativa do Estado laico, a França proibiu que as estudantes mulçumanas utilizem véu nas escolas. Algumas correntes feministas consideram que a as jovens mulçumanas estão sendo discriminadas.

Foi aberta uma CPI sobre o porte do véu integral, cada vez mais presente nas ruas francesas por conta da migração. Nestes debates, o feminismo como vontade de igualdade e de transformação acaba sendo instrumentalizado por correntes que antes não lutavam contra a dominação masculina.

“O movimento de liberação das mulheres provocou verdadeiras mudanças na sociedade, mas com o custo de uma certa pausterização desse movimento, com o custo da perda do radicalismo”, destaca a socióloga, que tem se dedicado a pesquisas sobre sexualidade.

“As jovens feministas precisam dar novas respostas a novos desafios. A realidade não é simples e as lutas das antecessoras não foram tão bem sucedidas. Precisamos pensar em como alargar as fronteiras do feminismo, estabelecer alianças e projetos em comum.”


Atualidade de Beauvoir

Para a socióloga e diretora do SOS Corpo - Instituto Feminista para a Democracia, Maria Betânia Ávila, novas questões surgiram, mas o pensamento de Simone de Beauvoir permanece com referência e inspiração.

“Não é um mito, mas é a referência para a construção de um pensamento e uma análise crítica, materialista e histórica, como uma pessoa que foi posicionada politicamente no mundo”, ressalta Betânia. “Simone não se interessava por saber do Brasil de carnaval. Queria saber da condição da mulher no Brasil.”

A socióloga conta que Simone de Beauvoir entrou na militância feminista com mais de 60 anos, quando passou a participar ativamente de atos e a testemunhar em defesa do direito da mulher ao corpo, declarando publicamente já ter abortado.

“Ela ainda tinha crença no socialismo como possibilidade de superar as desigualdades entre homens e mulheres. Suas formulações ainda são atuais, apesar das críticas à abordagem sobre lesbiandade, subestimação e distanciamento dessas questões.”

Lançado em 1949, o livro O Segundo Sexo só foi publicado em 1963 em português. O título chegou a constar no índex da Igreja Católica como leitura proibida. A antropóloga e diretora do Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM), Maria Luiza Heilborn, lembra que ele derrubou o mito do cuidar como virtude e destino feminino.

“O Segundo Sexo reúne duas frases fundamentais para o pensamento feminista: Não se nasce mulher, torna-se mulher e A biologia não é um destino. A leitura é atual e necessária. Precisamos nos opor à Simone sombreada, considerada apenas como ensaísta e não com a verdadeira filósofa que foi, com um importante papel de transformação social."

extraído de Instituto Patricia Galvão
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