quinta-feira, 25 de março de 2010

A música dos valores perdidos

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A música dos valores perdidos

Por José Teles*

“Tem rapariga aí? Se tem levante a mão!”. A maioria, as moças, levanta a mão.

Diante de uma platéia de milhares de pessoas, quase todas muito jovens, pelo menos um terço de adolescentes, o vocalista da banda que se diz de forró utiliza uma de suas palavras prediletas (dele só não, de todas bandas do gênero). As outras são “gaia”, “cabaré”, e bebida em geral, com ênfase na cachaça. Esta cena aconteceu no ano passado, numa das cidades de destaque do agreste (mas se repete em qualquer uma onde estas bandas se apresentam). Nos anos 70, e provavelmente ainda nos anos 80, o vocalista teria dificuldades em deixar a cidade.

O secretário de cultura Ariano Suassuna foi bastante criticado, numa aula-espetáculo, no ano passado, por ter malhando uma música da banda Calipso, que ele achava (deve continuar achando, claro) de mau gosto. Vai daí que mostraram a ele algumas letras das bandas de “forró”, e Ariano exclamou: “Eita que é pior do que eu pensava”. Do que ele, e muito mais gente jamais imaginou.

Pruma matéria que escrevi no São João passado baixei algumas músicas bem representativas destas bandas. Não vou nem citar letras, porque este jornal é visto por leitores virtuais de família. Mas me arrisco a dizer alguns títulos, vamos lá: Calcinha no chão (Caviar com Rapadura), Zé Priquito (Duquinha), Fiel à putaria (Felipão Forró Moral), Chefe do puteiro (Aviões do forró), Mulher roleira (Saia Rodada), Mulher roleira a resposta (Forró Real), Chico Rola (Bonde do Forró), Banho de língua (Solteirões do Forró), Vou dá-lhe de cano de ferro (Forró Chacal), Dinheiro na mão, calcinha no chão (Saia Rodada), Sou viciado em putaria (Ferro na Boneca), Abre as pernas e dê uma sentadinha (Gaviões do forró), Tapa na cara, puxão no cabelo (Swing do forró). Esta é uma pequeníssima lista do repertório das bandas.

Porém o culpado desta “desculhambação” não é culpa exatamente das bandas, ou dos empresários que as financiam, já que na grande parte delas, cantores, músicos e bailarinos são meros empregados do cara que investe no grupo. O buraco é mais embaixo. E aí faço um paralelo com o turbo folk, um subgênero musical que surgiu na antiga Iugoslávia, quando o país estava esfacelando-se. Dilacerado por guerras étnicas, em pleno governo do tresloucado Slobodan Milosevic surgiu o turbo folk, mistura de pop, com música regional sérvia e oriental. As estrelas da turbo folk vestiam-se como se vestem as vocalistas das bandas de “forró”, parafraseando Luiz Gonzaga, as blusas terminavam muito cedo, as saias e shortes começavam muito tarde. Numa entrevista ao jornal inglês The Guardian, o diretor do Centro de Estudos alternativos de Belgrado. Milan Nikolic, afirmou, em 2003, que o regime Milosevic incentivou uma música que destruiu o bom-gosto e relevou o primitivismo estético,. Pior, o glamur, a facilidade estética, pegou em cheio uma juventude que perdeu a crença nos políticos, nos valores morais de uma sociedade dominada pela máfia, que, por sua vez, dominava o governo.

A cantora Ceca foi uma espécie de Ivete Sangalo do turbo folk (ainda está na estrada, porém com menor sucesso). Foram comprados 100 mil vídeos do seu casamento com Arkan, mafioso e líder de grupo para-militares na Croácia e Bósnia. Arkan foi assassinado em 2000. Ceca presa em 2003. Ela não foi a única envolvida com a polícia, depois da queda de Milosevic, muitos dos ídolos do turbo folk envolveram-se com a justa pelo envolvimento com a poderosa máfia de Belgrado.

A temática da turbo folk era sexo, nacionalismo e drogas. Lukas, o maior ídolo masculino do turbo folk pregava em sua música o uso da cocaína. Um dos seus maiores hits chama-se White (a cor do pó, se é que alguém ignora), e ele, segundo o Guardian, costumava afirmar: “Se cocaína é uma droga, pode me chamar de viciado”. Esteticamente, além da pouca roupa, a sanfona é o instrumento que se destaca tanto no turbo folk quanto no chamado forró eletrônico, instrumento decorativo, ali muito mais para lembrar das raízes da música tradicional. Ressaltando-se que não se tem notícia de ligação entre bandas de “forró” e crime organizado. No que elas são iguaizinhas é que proliferaram em meio a débâcle de valores estéticos, morais, e éticos, e despolitização da juventude. Com a volta da governabilidade nas repúblicas da antiga Iugoslávia, o turbo folk perdeu a força, vende ainda porém muito menos do que no passado, hoje é apenas uma música popular para se dançar, e não a trilha sonora de um regime condenado por, entre outras lástimas, genocídio.

Aqui o que se autodenomina “forró estilizado” continua de vento em popa. Tomou o lugar do forró autêntico nos principais arraiais juninos do Nordeste. Sem falso moralismo, nem elitismo, um fenômeno lamentável, e merecedor de maior atenção. Quando um vocalista de uma banda de música popular, em plena praça pública, de uma grande cidade, com presença de autoridades competentes (e suas respectivas patroas) pergunta se tem “rapariga na platéia”, alguma coisa está fora de ordem. Quando canta uma canção (canção ?!!!) que tem como tema uma transa de uma moça com dois rapazes (ao mesmo tempo), e o refrão é “É vou dá-lhe de cano de ferro/e toma cano de ferro!”, alguma coisa está muito doente. Sem esquecer que uma juventude cuja cabeça é feita por tal tipo de música é a que vai tomar as rédeas do poder daqui a alguns poucos anos.


* JOSÉ TELES é escritor e crítico musical do Jornal do Commercio, do Recife, Pernambuco.
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“Tem rapariga aí? Se tem levante a mão!”

Durante esta semana recebi de várias pessoas PARTE de um texto atribuido a Ariano Suassuna.Obrigada, mas como sei que a informação não procede, é meu dever fazer a correção da autoria, não só por justiça ao autor mas, por entender que o tema é interessante e oportuno.Partilho o texto também porque sei que como eu, muitos comungam da opinião do Teles sobre a praga que é o "forró estilizado", difundido à larga nas pseudo festas populares de muitos municípios alagoanos e de outros estados.Contratados pelas prefeituras, esses ditos "artistas" promovem espetáculos de extremo mau gosto com dinheiro público (nosso dinheiro, portanto). Mas se a regra é pão e circo...

Enquanto se discute/aprova a obrigatoriedade do ensino da música nas escolas, tremo só em pensar na mão (e na cabeça) de quem estará o projeto de musicalização de cada escola.Jamais esquecerei o desconforto de presenciar, numa apresentação escolar, meninos e meninas de 07 a 12 anos cantando "Tô fazendo amor / Com outra pessoa / Mas meu coração / Vai ser prá sempre teu..."

O ato educativo deve ser responsável...que tipo de valores perpassam as ações realizadas no espaço escolar?E quem me garante que já não há "coreografias" de NORMINHAS por aí, protagonizadas por meninas impúberes?

E, creiam-me, sem falso moralismo, porque cada um e cada uma é responsável por suas performances na alcova, reflito se na discussão e ação pública não é a hora oportuna para cada um e cada uma rever seus conceitos, suas posições diante de situações de tamanha inversão de valores, de tamanha deseducação para a vida.Lembro de "velho" slogan que bem se aplicaria aqui:"Quem promove a Baixaria é Contra a Cidadania".

Ps:
Nos falares do povo o que significa o adjetivo RAPARIGA*:


No norte e nordeste do Brasil, significa cocumbina, mulher sustentada por homem geralmente casado. É a tal teúda e manteúda.Note que ela é de um só...A prostituta de zona é chamada simplesmente de PUTA. No sudeste e centro-oeste o termo tem o significado de prostituta, mas rarissimamente é utilizado.No sul significa moça jovem e de boa família, tanto faz ser do campo ou da cidade.

Em Portugal é uma menina ainda não "casadoira", ou seja, jovem demais para casar.Em Cabo Verde é uma moça bonita na idade de casar.No Timor e em Goa também significa prostituta de zona.

* adaptado do "Yahoorespostas"
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EDNA LOPES
Publicado no Recanto das Letras em 29/09/2009
Código do texto: T1839223

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terça-feira, 23 de março de 2010

Livraria como lugar de terapia

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Livraria como lugar de terapia

Escrito por Gabriel Perissé *
22-Mar-2010

Entrar numa livraria é, em si mesmo, um ato terapêutico. Tudo ali converge para a cura do tédio e outras doenças: livros que querem gente e gente que gosta de livros, gente que trabalha com livros e gente buscando livros, cheiro de livro, livros em exposição, suas capas, a sensação incontestável de que o mundo é feito de papel e palavras.

Pelo menos uma vez por semana, saia da cama com a idéia fixa: entrar numa livraria. Fique ali durante meia hora, ou mais. Toque os livros e se deixe observar por eles.

Escolha um, leia algumas páginas ao acaso. Visite autores conhecidos. Conheça novos autores. Não pisque, não hesite, arrisque, molhe os pés nas águas frias de algum livro.

Não é preciso comprar nenhum livro no dia em que estiver na livraria. Basta ficar ali dentro, experimentando o clima livral, como se o mundo fosse aquilo só, aquela fosse a paisagem em que nos coube viver.

Escolha um dia qualquer, entre na livraria, para ouvir a respiração dos livros, seus sussurros, seus chamados silenciosos, sentir no ar a aflição dos livros — porque eles querem sair dali para conhecer a realidade aqui fora.

imagem recebida em ppt, com impossibilidade
de identificar a criação artística


Se algum livro conquistar você, compre-o então, tire-o dali, daquela prisão, daquela redoma, daquele orfanato, daquele abismo. Leve-o para fora, prometa-lhe a leitura mais intensa, as descobertas mais empolgantes, os delírios de quem lê. Leve-o para fora dali. Para dentro da sua vida.

O livro comprado e levado é mais do que uma nova companhia. É compromisso para sempre, na euforia e na depressão, na miséria e na abundância, sem possibilidade de empréstimos, pois bem sabemos que livro não se empresta... Nem se devolve.

Ao chegar em casa, deixe o livro descansar um pouco, não tenha pressa. Deixe que ele se sinta à vontade. Mais tarde, quando enfim vocês dois estiverem juntos e puderem conversar em paz, esqueça-se de tudo, para lembrar o essencial.

Contudo, muitos outros livros estão ainda na livraria, sem destino, correndo o risco do encalhe, abandonados à própria sorte, ameaçados pelo esquecimento, pela morte. É preciso, portanto, voltar até lá, mergulhar outra vez na livraria.

Entre na livraria qualquer dia desses. Lá estão eles, os livros. Não queira saber se são caros ou baratos, famosos ou modestos, compreensíveis ou obscuros. Entre lá. Eles estão esperando por você, ansiosamente.

* Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor.

Website de Gabriel Perissé

Extraído de Correio da Cidadania
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quinta-feira, 18 de março de 2010

Revista de História (USP): novo site; todo o material disponível

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Revista de História lança novo site

18/3/2010

Agência FAPESP – Acaba de ser lançado o novo site da Revista de História, do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP).

Além de continuar disponibilizando gratuitamente todos os artigos publicados na revista desde 1995, o novo site agrega algumas inovações relacionadas à facilidade de consulta e pesquisa. Uma das novidades é a possibilidade de fazer buscas por autores e palavras-chave nos índices dos artigos.

Os editores da publicação estão, atualmente, digitalizando todo o antigo acervo da revista, desde seu primeiro número, lançado em 1950. Em breve, todo o material estará disponível no site e, também, no Portal de Periódicos da USP, onde é possível realizar buscas e pesquisa mais completas, que abarcam os textos integrais dos artigos e não apenas os índices da revista.

Fundada em 1950 pelo professor Eurípedes Simões de Paula, a Revista de História é um dos mais antigos periódicos acadêmicos do Brasil especializado nessa disciplina. Sua missão é divulgar artigos em português e espanhol, originais inéditos ou traduzidos, resenhas e edições críticas de fontes na área de história e afins.

O principal objetivo da publicação é contribuir para o debate acadêmico nas áreas de história e nas ciências humanas em geral, além de servir como meio de divulgação da produção acadêmica a um público mais amplo.

Sua periodicidade é semestral e sua publicação conta com o apoio financeiro dos programas de pós-graduação de História Social e História Econômica da FFLCH, além Programa de Apoio às Publicações Periódicas Científicas da USP.

Site direto e mais informações: Revista de História

Extraído de Agência FAPESP
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quinta-feira, 11 de março de 2010

Livros digitais da Unesp

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Livros digitais da Unesp

Por Fábio de Castro
11/3/2010

Agência FAPESP – A Universidade Estadual Paulista (Unesp) encontrou uma solução inovadora para oferecer acesso universal ao conhecimento produzido em sua pós-graduação: o Programa de Publicações Digitais, que lança nesta quinta-feira (11/3) sua primeira coleção, com 44 títulos inéditos.

O programa, decorrente de uma parceria entre a Fundação Editora Unesp (FEU) e a Pró-Reitoria de Pós-Graduação (PROPG) da universidade, publica em formato digital livros exclusivamente produzidos para esse fim, com foco nas áreas de ciências humanas, ciências sociais e aplicadas e linguística, letras e artes.

De acordo com o assessor da PROPG, Cláudio José de França e Silva, os títulos iniciais foram selecionados pelos Conselhos de Programas de Pós-Graduação da universidade.

“No mesmo momento em que estamos lançando esses títulos, publicamos a chamada para a edição 2010 do programa, que editará mais 58 livros. O objetivo do programa, lançado em 2009, é editar 600 livros digitais em dez anos”, disse França e Silva à Agência FAPESP.

Segundo ele, cada programa de pós-graduação da Unesp pode indicar até dois livros para publicação no âmbito do Programa de Publicações Digitais. “É uma maneira inovadora para dar vazão à grande produção acadêmica da Unesp nessas áreas do conhecimento. Todos os livros editados são derivados de pesquisas realizadas em nossos programas de pós-graduação, incluindo muitas teses e dissertações, além de trabalhos de docentes e egressos da universidade na última década”, explicou.

O objetivo principal é universalizar o conhecimento produzido pelos pesquisadores da Unesp em grande escala. “Boa parte da pesquisa fica restrita ao público acadêmico. Por outro lado, a publicação em papel de um volume tão grande de obras levaria anos e teria grandes custos. Com o programa, encontramos uma maneira viável para que esse conhecimento possa atingir um público amplo”, disse.

Como as obras passaram pelo crivo dos conselhos, o conjunto de 44 títulos é um reflexo dos próprios programas de pós-graduação da Unesp. “A seleção das obras leva de três a quatro meses para ser feita. No total, contando com todo o processo de edição e revisão, levamos cerca de um ano entre o início da seleção e a publicação dos livros”, disse França e Silva.

Segundo o assessor, existem outras iniciativas, em outras instituições, de disponibilização de conteúdos de livros na internet. Mas, pela primeira vez, uma universidade realiza um programa que publica obras projetadas, em sua origem, para o lançamento em formato digital.

“Esse é o caráter pioneiro do programa. A proposta é que esses livros permaneçam disponíveis em formato exclusivamente digital, sem qualquer custo para o leitor, democratizando a produção acadêmica da universidade”, afirmou.

As diretrizes do programa vetam a produção de obras derivadas a partir dos livros digitais lançados, a fim de garantir a integridade das obras. Também não é permitida a comercialização.

“Os livros têm um conceito muito bem claro, com um padrão de capas e de editoração definidos. Com isso, bastaria imprimi-los, da maneira que estão apresentados na internet, para termos essas obras em papel. Mas a ideia é que sejam mantidos como livros digitais apenas”, afirmou.

Para baixar os livros, segundo França e Silva, o leitor deve apenas preencher um cadastro sumário no site da Editora da Unesp e gerar uma senha que dá acesso às obras.

“O projeto é de grande importância para os autores. Suas obras, com a chancela da Unesp, serão acessadas por um público universal, que nunca seria atingido se a publicação fosse em papel. Iremos, ainda, ter o controle da quantidade e localidade dos downloads, o que nos permitirá aperfeiçoar as estratégias de publicação no futuro”, afirmou.

Para França e Silva, o público não deverá oferecer resistência ao novo formato. “Quando se começou a digitalizar os periódicos houve uma resistência inicial, mas hoje a maior parte das publicações é feita nesse formato. No entanto, não acreditamos que o livro de papel esteja desaparecendo. Trata-se apenas de uma nova forma de divulgar a ciência”, disse.

Segundo ele, os livros digitais serão cada vez mais importantes, em particular para as áreas de humanidades e artes – por isso o programa tem foco nessas áreas.

“Em geral, os pesquisadores das áreas de exatas e biológicas querem encaminhar suas pesquisas para periódicos o mais rápido possível. Mas nas áreas de humanas o livro tem um peso todo especial”, disse.

Mais informações: www.culturaacademica.com.br

Estraído de Agência FAPESP
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