terça-feira, 31 de agosto de 2010

O factóide como método

-
CREDIBILIDADE
O factóide como método

Por Muniz Sodré*
em 31/8/2010

Sinal de coisa nova: no final do aviso, o alto-falante do aeroporto agradece pela atenção. Talvez não seja novidade importante, mas de qualquer forma é sintoma do valor crescente dessa mercadoria pela qual hoje se trabalha ou se briga na esfera pública: a atenção. Era ela o pano de fundo do programa do Observatório da Imprensa (TV Brasil) sobre um factóide do qual participamos semanas atrás (ver "A construção da mentira". Há, entretanto, algo mais a se dizer sobre o assunto, que parece ter uma incidência mais ampla na sociedade contemporânea.

Para quem não assistiu ou não se lembra, vale recordar detalhes do fato. Como roteiro de seu filme sobre a apuração insuficiente dos acontecimentos por parte da mídia jornalística, um profissional de imprensa inventa uma organização não-governamental inglesa destinada a abraçar pessoas. Um representante dessa imaginária "ONG do abraço" posta-se no centro de São Paulo, abraçando passantes. A mídia acorre em peso à novidade, sem que um repórter sequer se dignasse a apurar a veracidade do fato, isto é, a real existência da ONG.

No programa comandado pelo mestre Alberto Dines, nós levantamos, de forma muito breve, duas hipóteses. A primeira, inspirada no livro da professora da UFRJ Raquel Paiva (Histeria na Mídia, Editora Mauad), aponta, como característica principal da mídia contemporânea, a histeria, que é uma doença da representação. Evidentemente, não são diretamente aplicáveis as categorias nosográficas do funcionamento mental do indivíduo a instituições ou organizações. Mas, além da psiquiatria, é possível trabalhar a analogia entre a disfunção individual e o excesso discursivo típico do falatório midiático, que voa nervosamente como mosca sobre grandes e pequenas fontes de excitação.

Repórter fisicamente agredida

A segunda hipótese tem terminologia inglesa. Trata-se do flash-mob (mob como diminutivo de mobilization), designação do fenômeno midiático de produção de fatos, reais ou imaginários, capazes de mobilizar instantaneamente, ainda que por um instante (flash) a atenção do público. Acontece com frequência na internet, em especial nas chamadas redes sociais (twitters, blogs etc.), mas pode se dar em qualquer faixa do longo espectro comunicativo hoje coberto pela mídia. A "ONG do abraço" era dessa natureza.

Mas era um flash-mob metódico. Em outras palavras, um recurso para dissertar mais longamente sobre a falta de cuidado investigativo para com os acontecimentos noticiáveis, mas também a excitação (histérica?) por eventos de escasso interesse social, embora exóticos ou insólitos. Em meio à massa de fatos graves e de conhecimento importante para a boa formação da cidadania, é penoso aceitar a enorme atenção da mídia para algo tão banal quanto abraçar pessoas.

O factóide foi, portanto, revelador.

O mesmo se dá com uma "pegadinha" recente do programa televisivo CQC. Em pé na porta de entrada do Congresso Nacional, com uma tabuleta na mão, uma moça pedia a deputados e a senadores que assinassem a folha de apoio a uma suposta "PEC" (proposta de emenda constitucional) relativa à importação de produtos básicos para jovens brasileiros. Um desses produtos era a cachaça. Todos os parlamentares abordados (menos um, a bem da verdade) apuseram as suas firmas ao documento, que não ou mal leram. Ato contínuo, uma repórter do programa interpelava o parlamentar, perguntando-lhe o que exatamente havia apoiado. O constrangimento era geral. De fato, ninguém conhecia o teor do documento e aquele que sabia ao menos o nome da PEC não tinha se inteirado do item "cachaça". Um deles, antes mesmo de ouvir a pergunta da repórter, agrediu-a fisicamente, quebrando o microfone e vociferando insultos grosseiros.

Uma vez mais, o factóide como método resultou muito informativo.

O querelante contumaz

No primeiro caso, ficamos informados sobre o déficit de credibilidade do noticiário jornalístico, cada vez mais acionado por uma pressa avessa à apuração da veracidade dos fatos e pela insignificância exótica, cujo espectro editorial vai desde os pormenores da vida pessoal de celebridades (ao modo do reality show), até os acontecimentos miúdos ou insólitos do cotidiano, como a "ONG do abraço". No segundo caso, não se põe em questão o velho "quarto poder", e sim, um dos poderes reais da república, que é o Legislativo. O déficit de credibilidade dos parlamentares pode ser aferido pela inequívoca demonstração de atenção deficiente. Assina-se sem saber o que se está assinando.

Em ambos os casos, a mídia comparece seja como objeto, seja como sujeito da investigação. Mas o que propomos chamar de "síndrome social da desatenção" vai muito além da dimensão técnica da mídia, pois parece indicar uma contaminação de determinadas instituições pelos efeitos perversos do dispositivo informacional.

Por exemplo, um episódio recente que acompanhamos de perto. Um querelante contumaz (a Polícia, o Ministério Público, o Judiciário, os gabinetes de vereadores e deputados vivem assediados por esse tipo de personagem, que oscila entre o hospital-dia psiquiátrico e agremiações sindicais paranóides) denuncia junto a uma ONG uma autoridade que supostamente "violou um direito civil".

A mercadoria mais cara da sociedade midiática

Como preliminar, é preciso ter em mente um fenômeno novo na paisagem urbana brasileira: há ONGs cujo sentido social caducou, dispostas a qualquer coisa para não desaparecerem do mapa. Pois bem, a denúncia do querelante é infundada, delirante, mas a ONG a acolhe num primeiro momento, sem sequer consultar ou avisar a parte denunciada.

Até aí, se pode pensar em erro, engano e alvitrar uma retificação. Mas de repente se descobre que ninguém leu atentamente, ou não soube ler os termos da denúncia ou não prestou a devida atenção ao discurso delirante do personagem. Em outras palavras, patrocinou-se um factoide sem se saber direito o que estava fazendo. O déficit de atenção equivale aqui à mesma leviandade institucional da mídia ou dos parlamentares interpelados pelo CQC.

E de repente, não mais que de repente, um sério e competente magistrado revela-nos alarmado que, em seu meio profissional, "ninguém parece estar lendo mais nada" – a desatenção é a regra. É como se, submersas na enxurrada dos signos – que provêm tanto da mídia quanto da liberdade democrática do questionamento e da demanda – as instituições estivessem, elas próprias, à beira de se tornarem factóides institucionais, se é que o termo tem validade.

Disso tudo, não há o que concluir de modo definitivo. Há, por um lado, o sintoma de uma crescente liquefação da responsabilidade social. Por outro, o contágio virótico da imagem-sensação, que leva ao trânsito fácil do factóide em toda a sua gama de significações – da notícia sem apuração até a denúncia delirante.

No centro está a luta pela atenção, a mercadoria mais cara da sociedade midiática, onde tudo o que nos parecia sólido de fato tende a se desmanchar no ar.


* Muniz Sodré é professor da Escola de Comunicação (ECO) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) é o atual presidente da Fundação Biblioteca Nacional (FBN).

Extraído de Observatório da Imprensa
-

domingo, 29 de agosto de 2010

SP: Ensino mútuo na Educação

-
- - - - - - - - - - - -
-
Ensino mútuo na Educação

Marcos Francisco Martins*


Matérias veiculadas recentemente em jornais de grande circulação afirmam que as autoridades educacionais do Estado de São Paulo pretendem implantar o “ensino mútuo” na rede de ensino, um método há muito conhecido e difundido mundo afora, e agora apresentado como a mais nova alternativa ao péssimo desempenho dos alunos das escolas estaduais aferido por sucessivos métodos de avaliação.

A recente proposta de ensino mútuo anunciada para melhorar a qualidade do ensino paulista almeja, segundo as informações, utilizar alunos do ensino médio para auxiliar estudantes dos 6º e 7º anos do ensino fundamental em duas sessões semanais de “tira-dúvidas”, o que se constitui, na verdade, em um projeto de reforço escolar. Cada aluno-monitor receberá pelo trabalho R$ 115,00 a título de bolsa auxílio, financiada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento e por ONG´s, segundo um modelo elaborado pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).

A proposta de ensino mútuo não é nenhuma novidade na história da educação. Pelo contrário, ela foi desenvolvida principalmente por Joseph Lancaster (1778-1838), um protestante que pregava o ensino mútuo, a repetição para a memorização e a disciplina corpo-mente com objetivos morais, por exemplo: o combate à ociosidade e à preguiça. O método Lancaster consistia numa proposta segundo a qual um único mestre ensinasse, com a ajuda de outros alunos-monitores, até mil alunos a ler, escrever e contar em cerca de oito meses. Tendo como origem a Inglaterra, foi aplicado em várias partes do mundo. No Brasil, sob a vigência de Dom João VI, o ensino mútuo esteve presente nas províncias de Minas Gerais e Mato Grosso, por exemplo. Além disso, a Primeira Lei Geral da Educação Pública no Brasil independente, aprovada em 15 de outubro de 1827, instituiu como obrigatório o ensino mútuo, sobretudo pela falta de professores e pelos almejados resultados prometidos em relação à massificação da educação.

Pelo que se vê, pode-se dizer que as autoridades da área da Educação em São Paulo não superaram ainda a visão educacional romântica de um ex e recente Secretário Estadual que resumia os problemas educacionais a uma simples questão de afeto. Tanto assim que até mesmo o atual Governador, chamado a falar sobre a proposta de ensino mútuo, destacou o fato de que o “rendimento” dos alunos poderá melhorar com o ensino mediado pela relação aluno-aluno.

Contudo, não é apenas o fato de essa proposta anunciada remontar ao século XIX que estimula a ponderação crítica sobre ela, mas também outras questões de maior relevância. Por exemplo: se o Governo Paulista pretende realmente melhorar a qualidade do ensino, não seria melhor investir os recursos destinados aos futuros alunos-monitores na qualificação de seus próprios professores? Ou mesmo utilizar o dinheiro para contratar novos profissionais da educação para se dedicar a essa importante tarefa?

Esquecem-se as autoridades da educação do fato de que quem prepara o aluno-monitor também é o professor, o que nos leva a reiterar a tese de que não haverá alternativa à educação paulista sem um sistema adequado de formação dos profissionais da educação e seu reconhecimento social e profissional por meio, inclusive e principalmente, de melhores salários.

Infelizmente, em cada uma das muitas propostas anunciadas pela Secretaria Estadual de Educação em período recente, o professor não tem tido status digno de respeito pelos sucessivos governos paulistas. Denunciada a péssima qualidade do ensino, inclusive pelos mecanismos estaduais de avaliação, corre-se a culpar o professor. Quando ele reprovava o aluno, a culpa recaía sobre ele por ser autoritário e desatualizado em relação aos novos métodos de ensino e de avaliação. Quando ele é obrigado à aprovação automaticamente, a culpa também recaí sobre ele pela qualidade do ensino ter atingido níveis risíveis, não fossem trágicos. Agora, como ele continua sendo culpado, troca-se o professor pelo aluno. Será que se mais esse projeto não der certo vão culpar os alunos-monitores pelo não aprendizado dos demais e pela continuidade do fracasso escolar em São Paulo?


* Marcos Francisco Martins – pesquisador do CNPq e professor da UFSCar-Campus Sorocaba -

Matéria recebida do autor e publicada em “Correio Popular”, 04.08.2010, Coluna Opinião, p. A3 (Campinas-SP)


 -

sábado, 28 de agosto de 2010

Marx tem mega projeto MEGA

-


Marx voltou e ameaça ficar


O projeto MEGA é um dos maiores empreendimentos editoriais da atualidade e, possivelmente, um dos mais destacados de todos os tempos: a nova edição crítica das obras completas de Karl Marx e Friedrich Engels (Marx-Engels Gesamtausgabe). Segundo Michael Krätke, o projeto começou a ser desenhado em 1960 e reúne hoje o trabalho de 80 colaboradores de 8 países e 3 continentes. O plano original prevê a publicação de aproximadamente 164 volumes. Os princípios que orientam a edição são o respeito e a fidelidade com o texto original, além da certificação de sua autenticidade e sua preparação para serem editados de forma completa e integral. O artigo é de Carlos Abel Suárez.

Carlos Abel Suárez

Por ocasião dos primeiros sinais da atual crise econômica mundial, antes ainda do estouro da bolha das hipotecas norteamericanas, iniciou um movimento que muitos denominaram o “retorno” de Marx. Revistas de atualidade e de ampla circulação internacional publicaram sua inconfundível imagem em suas edições. O destaque de capa era Marx.

Em algumas pesquisas relevantes, Marx foi eleito como um dos pensadores mais destacados de todos os tempos. Quando das operações de resgate financeiro, nos principais jornais norteamericanos se alternavam como insulto ou como elogio a retomada das idéias daquele personagem tão querido quanto odiado, nascido em Tréveris, em 1818. Não faz muitos anos, sua memória estava sepultada e sua obra engavetada e degradada por pseudoexegetas, interpretadores falsários e filisteus de toda pelagem, processo vitaminado pela direitização da social-democracia e pela implosão da União Soviética.

Mas o Marx original, sua obra – despojada das versões de tantos “marxistas” que tanto ele como Engels desprezavam já em vida – apenas começa a se projetar nos círculos acadêmicos, nas tertúlias da esquerda e nos debates políticos coerentes. No entanto, segundo o atual retrato do mundo, na economia, na política e na cultura, parece que as idéias de Marx e Engels poderão seguir ilustrando grande parte do século XXI.

  • Uma Conferência para explicar o Projeto

Muito se perguntarão: o que é o projeto MEGA? Não se trata de um dispositivo eletrônico para espionar comunicações ou do desenho de uma nova represa gigantesca? Trata-se, na verdade, de um dos maiores empreendimentos editoriais da atualidade e, possivelmente, um dos mais destacados de todos os tempos: a nova edição crítica das obras completas de Karl Marx e Friedrich Engels (Marx-Engels Gesamtausgabe). O professor Michael Krätke, coeditor da nova MEGA, explicou durante quase duas horas as características desta espetacular iniciativa, em uma conferência realizada na Universidade de Barcelona, às vésperas do encontro internacional de Sin Permiso, realizado em Madri, em dezembro último.

O auditório da conferência – majoritariamente formado por acadêmicos e estudantes conhecedores da obra de Marx – foi surpreendido por alguns trechos da minuciosa e apaixonada exposição de Krätke, tanto por sua qualidade acadêmica, rigor conceitual, contextualização histórica e domínio dos temas sobre os quais trabalharam Marx e Engels, como pelas descobertas que virão a público com a nova MEGA.

  • As mexidas nos textos de Marx e de Engels

É conhecido que os textos de Marx e de Engels sofreram múltiplas manipulações. Krätke assegurou que não há um só dos livros publicados que tenha respeitado a versão original, seja por questões políticas ou pela caprichosa tesoura dos editores. Krätke lembrou que a primeira iniciativa de reunir e publicar toda a obra de Marx e Engels iniciou em 1911, dirigida pela socialdemocracia alemã, com a participação de Karl Kautsky, Augusto Bebel e Eduardo Bernstein. Em seguida, o projeto passou para as mãos da União Soviética, em 1922, sob a direção de David Riazanov, até este ser destituído por Stálin, em 1931, e fuzilado anos mais tarde, em 1938, juntamente com seus companheiros da velha guarda bolchevique.

  • MEGA em processo

Na MEGA contemporânea, que começou a ser desenhada em 1960 e, estima-se, deve estar concluída em 25 ou 30 anos, trabalham 80 colaboradores de 8 países e 3 continentes. O plano original, explicou Krätke, contempla a publicação de aproximadamente 164 volumes, compreendendo os textos original, mais todos os anexos.

Os princípios acordados para o imenso reordenamento e revisão de manuscritos, vários deles inéditos, livros e artigos publicados, mais toda a correspondência Marx-Engels – e a destes como amigos, colaboradores e editores – são o respeito e a fidelidade com o original, além da certificação de sua autenticidade e sua preparação para serem editados de forma completa e integral. A equipe multidisciplinar que trabalha no MEGA realiza um acompanhamento da evolução dos textos, discute exaustivamente os mesmos, evitando ao mesmo tempo os comentários políticos.

Com a perícia de um arqueólogo que vai limpando com cuidado as peças de um achado para não danificá-lo, Krätke expôs as vicissitudes pelas quais passaram os trabalhos de Marx mais difundidos. Todos têm sua história, suas polêmicas, as marcas da manipulação, do silenciamento. Há “montanhas” de papéis: fichas, apontamentos, cartas, cadernos com cálculos matemáticos, que os entusiastas da MEGA ordenam e classificam.

No plano da nova MEGA, O Capital e todos os textos preparatórios e manuscritos, somam 15 volumes, a maior parte deles já publicados em alemão. A correspondência completa entre Marx e Engels e a destes com terceiros, compreende 35 volumes. A coleção de extratos, fichas bibliográficas e anotações marginais dos amigos inseparáveis, tomará outros 32, segundo o programa editorial.

  • Marx inédito

É notável que, a 127 anos da morte de Marx, ainda existam trabalhos inéditos do autor, observou Krätke. Um deles sobre a crise financeira de 1857-1858 será publicado em breve. Segundo o pesquisador alemão, que possui uma contundente trajetória como economista e historiador, à qual se agrega seus conhecimentos da obra de Marx, o trabalho sobre a crise de 1857 lança luz para entender melhor a crise financeira e econômica atual. Aquela, como a atual, começou nos Estados Unidos (1).

Krätke se encarregou de refutar, à luz das investigações até agora realizadas, as especulações sobre as diferenças entre Marx e Engels e as diligências deste em procurar ordenar a publicar a obra inconclusa de seu amigo. Pode ter cometido alguns erros, mas o trabalho de Engels foi cuidadoso e respeitoso, assegurou.

A Espanha na obra de Marx

Mas se algo ilustra a erudição e, cabe dizer também, a coragem de Krätke, é falar da história da Espanha, em Barcelona, e diante de acadêmicos bem conhecedores dessa história. Um só dado mostra bem a importância dos trabalhos de Marx e Engels sobre a Espanha: do total da nova MEGA, uns 12 volumes contém seus ensaios, artigos e estudos vinculados ao tema. Marx nunca visitou a Espanha, mas começou a estudar espanhol em 1850 e, desde então, encontram-se em seus escritos citações de clássicos como Cervantes e Lope de Vega.

Várias vezes em sua trajetória intelectual, Marx realizou estudos sistemáticos sobre a história da Espanha. Particularmente entre os anos 1847 e 1848, e depois durante os anos 1850 e 1851, 1854 e 1855 e, por último, entre 1878 e 1882m quase ao final de sua vida. Em uma oportunidade, no período que vai de 1854 a 1855, Marx se pôs a escrever uma história crítica das mudanças revolucionárias na Espanha, precisou Krätke.

Por algum tempo, a partir de 1854, Marx escreveu sobre a situação política espanhola para o New York Daily Tribune. Vários desses artigos tiveram a participação de Engels – e fazem parte da seção da MEGA denominada “Espanha Revolucionária” (2). Sobre os motivos que levaram Marx a estudar a história e a política espanhola, Krätke assinalou que encontrou aí algumas chaves importantes do que seria sua teoria política, ou, dito de outro modo, a acumulação de conhecimentos e papéis para elaborar uma teoria política.

“Marx não começa com as “leis” da história”, afirmou, “ele constata e discute os fenômenos e as aparências, regularidades e irregularidades, e busca então as explicações históricas. Marx estudou em profundidade, no caso espanhol, a relação entre a formação das classes, a sociedade burguesa e o Estado Moderno. Segundo Krätke, o modelo de um primeiro Império colonial global, a forma curiosa que assumiu o absolutismo, o conceito de um liberalismo avançado e o desenvolvimento revolucionário tão particular é o que fazia da Espanha um campo de análise muito valioso para Marx. Entre outras coisas, para entender a transição do feudalismo para o capitalismo. Transição para a formação do Estado moderno, que, lembrou Krätke seguindo Marx, assumiu formas muito diversas.

Um capítulo relevante na seção da nova MEGA dedicada a Espanha trará os trabalhos de Marx sobre a Constituição de Cádiz de 1812. Frequentemente se esquece a sólida e inicial formação de Marx como jurista. A propósito da Espanha, volta a esses temas de seu interesse com a crítica às interpretações contemporâneas da Constituição de 1812, a qual valorizava por sua originalidade e pela situação política que dá origem a ela. Trabalho, por sua vez, que desperta a preocupação de Marx para uma releitura da Constituição francesa de 1791 e para a análise da Constituição espanhola de 1820. Nestes ensaios, observa Krätke, Marx reflete sobre a natureza das constituições revolucionárias, sempre “impraticáveis” e “impossíveis”.

Ao retornar a suas investigações espanholas, 20 anos depois, Marx revisa outra vez os vínculos entre Espanha e a história política mundial, a formação do Estado moderno na Europa, depois do ano 1000, a Conquista e a Reconquista e o papel da Espanha como poder militar e imperialista, observou ainda o coordenador da nova MEGA.


Uma vez terminado este grande empenho da nova MEGA, seguramente as idéias de Marx e de Engels poderão seguir ecoando na segunda metade do século XXI. Esta injeção de otimismo nos animou após escutar as palavras de Krätke. Uma maior dose de otimismo exigiria pensar que, na metade deste século, se terá liberado o mundo e o marxismo da “leitura dogmática e clerical” de Marx e Engels, como desejava Manuel Sacristán, ou da “clerigalla marxista”, como reclamava Franz Mehring em 1918.

NOTAS

(1) Ver Michael R. Krätke, Marx, periodista económico, en Sin Permiso Nº 6, Barcelona, 2010.

[2] Com tradução e prefácio de Manuel Sacristán, en 1960, a editorial Ariel de Barcelona publicou con o título de “Revolução na Espanha” os artigos jornalísticos de Marx e Engels sobre a Espanha que se conheciam então.

(*) Carlos Abel Suárez é integrante do Comitê de Redação de SINPERMISO. Publicado em "Bitácora" do Uruguay.

Tradução: Katarina Peixoto

Carta Maior - Economia| 11/08/2010 | Copyleft

Os títulos com marcadores são nossos.
-

sábado, 7 de agosto de 2010

A parceria SEAF - METTLER TOLEDO

-
A parceria SEAF - METTLER TOLEDO


Relações institucionais e multidisciplinares, muito além do que podemos ver



Nos dias atuais, quando vamos deixando aos computadores de mão (Palm top; lap top); aos smartphones; até mesmo aos simples celulares e aos programas de contatos vCard, em nossos computadores de mesa, os dados que até bem pouco tempo sabíamos de cor e sem pestanejar, constatamos que alguma coisa está realmente mudando à nossa volta e em nossas vidas.

Não precisamos deixar passar a história para constatar, pelo distanciamento! Estamos, como o telescópio Hubble correndo em direção ao infinito, desde agora (digo, desde 1990), de volta ao início para encontrar, no fundo, a nós mesmos/as.

E tudo acontece num mundo nanotécnico onde megabyte já é medida antiga e ultrapassada. Megabyte já é um “infinitamente pequeno”, como descobriu Leibniz, o alemão de Leipzig, do século XVII (Gottfried Wilhelm Leibniz - 1646-1716). Bem, Leibniz não descobriu que o megabyte é infinitamente pequeno; ele concebeu a idéia do infinitamente pequeno, o que levou ao cálculo infinitesimal, apesar de Newton ter, igualmente concebido um novo método de cálculos nessa mesma direção.

O gigabyte já está perdendo força em nossos computadores, pois os “gigas” estão deixando lentos nossos desktops, depois da instalação de tanto flash; ActiveX; add-in; extensões dll e Java, sem falar de anti-vírus, anti-spyware e muito mais. E se não instalamos o “muito mais”, o programa não roda. E se não roda fico fora do tempo, da agilidade e da modernidade (ou seria pós-modernidade? Acho que é nano-modernidade. Será?)

Bem esta não é a bem a lógica de nosso mestre Hilton Japiassu. Ele faz questão de dizer: saí de uma máquina de escrever portátil para “este” laptop. E mostra com orgulho o laptop onde continua com sagacidade e rara finura teórica a escrever e escrever inovações de compreensão e interpretação dos tempos atuais que nos fazem cada vez mais críticos/as e, junto com ele, inteligentes. E o nosso professor não entende nada de mega, giga ou terabyte. Ele quer escrever os textos e falar com as pessoas por e-mail, quando estritamente necessário; porque ele gosta mesmo é de encontrar as pessoas e quando isso não é possível, gosta de ouvir a voz do outro lado da linha telefônica.

Há algumas noções que alcancei, por força da necessidade, que meu professor dispensa por absoluta superação de limites.

De minha parte, eu e a grande maioria de nós, mesmo estando na área das “humanas e sociais”, temos dispensado atenção a alguns “conhecimentos” tecnológicos porque, apesar de nossa capacidade reflexiva, aprendemos o uso e as facilidades que certos instrumentos oferecem e o quanto facilitam (alguns) aspectos de nossas vidas. Ao menos essa vida que nos foi colocada para viver, apesar de todas as éticas!

Assim, é preciso confiar numa tecnologia que se apresenta como necessidade nos tempos que se estabeleceram. Neste Blog há pensadores/as importantes que refletem sobre as necessidades e a realidade dos tempos atuais: Chomsky, Galiano, Marilena Chaui, o próprio Japiassu, já citado acima, dentre outros/as com quem temos aguçado mais ainda nossa reflexão.

Como filósofos/as e pensadores/as que refletem e discutem a respeito da multidisciplinaridade, sabemos que “multi” não nos leva a uma fórmula aritmética, mas a um cálculo geométrico onde cada um pensa o seu pedaço não na perspectiva de dividir (para reinar), mas na perspectiva de compreender (mais e sempre melhor) para agregar.

E é assim que estamos nos dias que correm. Quando eu era menina se dizia “corre como avião a jato”. Mas essa tecnologia também já se tornou superada. E de superação em superação, vamos vivendo com instrumentos cujo fundamento não fazemos a menor idéia. E é assim que, pensadores/as filósofos/as, acabamos retornando a um período quase medieval onde a tecnologia faz com que acontecimentos pareçam fenômenos de magia! Depois de tudo o que fizemos para este planeta chegar aonde chegou, nas condições que estão oferecidas à natureza e à humanidade (também como natureza, sim...), precisamos de muita mágica: a degradação do planeta, das águas, dos ares, das relações humanas e dos interesses políticos que fazem com que o noticiário diga a cada momento sobre o vazamento de óleo no golfo do México, mas que durante 50 anos de vazamento no Delta do Níger (Nigéria) não tem falado absolutamente nada!

O conhecimento hoje não tem mais fronteiras, nem limite. Na verdade, nunca teve! Assim também as relações humanas e as relações institucionais. É interessante que ao se aproximar o XIV Encontro Estadual de Professores de Filosofia, promovido pela SEAF e que acontecerá na UERJ, nos dias 23 e 24 de setembro, tenhamos despertado a atenção de uma empresa de instrumentos de precisão. A atenção que METTLER TOLEDO - Divisão Laboratório deu a nosso evento, envolvendo professores do Ensino Médio e do nível Superior, identifica que o tema “Filosofia e Meio Ambiente”, abrangendo as reflexões sobre “Natureza, Tecnologia e Filosofia”, além de ser tema do conhecimento mais antigo do planeta (a Filosofia) também é um tema refinado que está nos laboratórios de pesquisas, científicos e de controle de qualidade. E o tema não é novo! Ao menos desde 1972, a partir da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (na Suécia), foi firmada a Declaração de Estocolmo que institucionalizou o tema “meio ambiente” e introduziu na agenda política internacional a dimensão ambiental como condicionadora e limitadora do modelo tradicional de crescimento econômico e do uso dos recursos naturais. É guiada por esse fundamento inicial que METTLER TOLEDO pode dar atenção à nossa proposta e trabalho, fazendo com que nossa relação tenha a perspectiva da “política” no sentido de “ação que acontece na polis”, na cidade.

De nossa parte, a SEAF persevera desde 1976. Como humanidade, perseveramos desde que ficamos “de pé” para nos tornarmos “sapiens”. As degradações por lapso de valores, por não compreensão de que os espaços do - e no - planeta são espaços limitados, fez com que degradássemos e perdêssemos. E isso, ainda, provoca em nós uma ausência da possibilidade de transformação. Já não é o que nos ensinam os ambientalistas. Na matéria citada sobre o Níger, os ambientalistas dizem que ainda podemos fazer algo: “com um intenso esforço de restauração, o Delta do Níger poderia voltar a ser o que era”.

É essa atitude de atenção que percebemos nas propostas de “inovação” e “sustentabilidade”, presentes no modo de ser e nos valores da empresa que apoia nosso movimento filosófico, nesse XIV Encontro.


METTLER TOLEDO no Laboratório

Os instrumentos da METTLER TOLEDO são utilizados em laboratórios de pesquisas, científicos e de controle de qualidade, entre muitos outros, na indústria farmacêutica, química, de alimentos e cosméticos. São líderes de mercado global com os três grupos de instrumentos utilizados com mais frequência no laboratório, como balanças, pipetas, e pHmetros, além de serem pioneiros no campo da Química Automatizada. (in "Descrição da Empresa - Divisões de Negócios")

A USP como cliente

É devido à conformidade com normas globais que a USP é cliente, pois as balanças oferecem impressões configuráveis e proteção por senha para garantir a rastreabilidade e a confiabilidade dos resultados de pesagem. Por exemplo, o MinWeigh, um aplicativo de peso mínimo especial, oferece suporte ao trabalho no cumprimento das exigências rigorosas da USP. O software LabX ajuda a alcançar um elevado nível de qualidade e conformidade normativa através da manutenção, aquisição de dados seguros e gerenciamento de aplicação. (in "Qualidade")


Os Produtos e Soluções para laboratório são:
  1. Microbalanças & Ultramicrobalanças
  2. Balanças analíticas
  3. Balanças de precisão
  4. One Click™ Weighing Solutions
  5. Balanças para fins especiais
  6. Comparadores de massa
  7. Módulos de pesagem: soluções OEM
  8. Analisador de umidade de halogênio
  9. Estação de trabalho para calibração de pipeta
  10. Soluções de Pesagem de Filtros
  11. Quantos Dosing Systems
  12. Software
  13. Weights
  14. Acessórios

Além desses produtos e Soluções que têm a USP como cliente, em função, dentre outros aspectos, de conformidade com normas globais, vale saber que METTLER TOLEDO participa de nosso dia-a-dia muito mais do que podemos imaginar: pesando, contando, embalando, etiquetando, para que nosso discernimento se faça, apesar da inflexão da falta de tempo que faz com que estejamos muito distraídos/as diante das Frutas e Vegetais, das Carnes; dos Peixes e Mariscos; dos Doces, Queijos, Café e Chá, além da Padaria, dos Restaurantes e das Caixas registradora nas Delicatéssen, diante das quais, muitas vezes, estamos ao celular ou consultando um Palm top.

E os produtos estão grafados com maiúsculas no parágrafo anterior para indicar que, para cada um, METTLER TOLEDO tem uma solução.


Ana Maria Felippe
Presidente da SEAF
Gestão atual
-

domingo, 1 de agosto de 2010

Novas regras para funcionamento de Fundações de Pesquisa

-
Medida Provisória resolve impasse de fundações

Governo federal oferece solução para as restrições ao funcionamento das fundações de apoio à pesquisa das ICTs, impostas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) desde 2008

A MP 495/2010 foi assinada nesta segunda-feira, dia 19 de julho, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em cerimônia após reunião com representantes da Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). O texto, com força de lei, está publicado no Diário Oficial da União desta terça-feira, dia 20

Conforme adiantado pelo "JC e-mail" em 25 de junho, as alterações na Lei 8.958/1994 - que dispõe sobre as relações entre as instituições federais de ensino superior (Ifes) e de pesquisa científica e tecnológica e as fundações de apoio - valerão para todas as instituições científicas e tecnológicas (ICTs) públicas, de qualquer esfera de governo. A MP foi elaborada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), em diálogo com outras pastas.

A nova legislação, no entanto, não possui a abrangência do anteprojeto de MP elaborado pela SBPC e pela Academia Brasileira de Ciências (ABC), apresentado ao presidente Lula antes da abertura solene da 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CNCTI), no fim de maio, em Brasília.

Segundo a MP 495, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e as demais "agências financeiras oficiais de fomento" estão autorizadas a firmar convênios e contratos com as fundações das Ifes e ICTs. Aí estão incluídos o apoio à pesquisa científica e tecnológica, e a gestão administrativa e financeira dos projetos.

Além de alterar a Lei 8.958/1994, a MP 495 muda a redação da Lei de Inovação (10.973/2004), para esclarecer as definições de "ICT" e de "instituição de apoio".

Também foram incluídos na MP mecanismos para aumentar a transparência na atuação das fundações. A Lei 8.958/1994 foi acrescida do Artigo 4º-A, segundo o qual as fundações estão obrigadas a publicar na internet uma série de informações, como relatórios semestrais da execução dos contratos.

Com a inclusão do Artigo 4º-B na mesma lei, também está autorizada a concessão de bolsas por parte das fundações, para alunos de graduação e pós-graduação vinculados a projetos de pesquisa apoiados. Servidores das Ifes e ICTs também poderão receber bolsas de ensino, pesquisa e extensão nos projetos.

Restrições

Em sua Sessão Plenária de 26 de maio passado, o TCU fixou até 31 de dezembro o prazo para cumprimento do subitem 9.4.1 do Acórdão 2.731/2008, que determina a proibição a repasses de verbas federais "com objetivos de fomento à pesquisa científica ou tecnológica, diretamente para fundações de apoio a Ifes (instituições federais de ensino superior)".

O acórdão de 2008, relatado pelo ministro Aroldo Cedraz, analisa a atuação das fundações de apoio à pesquisa das universidades federais à luz Lei 8.958/1994. Segundo a interpretação do TCU, a lei de 1994 não autorizaria as fundações a administrarem recursos repassados por agências de fomento.

Apesar das restrições, em março do ano passado, por solicitação do MCT e do MEC, o TCU havia concedido 360 dias para início do cumprimento da determinação do item 9.4.1 do Acórdão 2.731/2008. O prazo, dado para que as Ifes pudessem se adequar às novas regras, terminou em 26 de março último.

Nesse mesmo dia, foi publicado no Diário Oficial da União o Acórdão 1.255/2010 do TCU, que analisa contas do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e estende as restrições impostas pela norma de 2008 a todas as ICTs públicas, em todas as esferas de governo, e não apenas às Ifes. Em maio, conforme o Acórdão 2.035/2010, o TCU também daria prazo de 360 dias para o cumprimento do Acórdão 1.255/2010.

Ou seja, até a edição da MP 495/2010, nesta terça-feira, dia 20, as restrições impostas pelos Acórdãos 2.731/2008 e 1.255/2010 estavam suspensas, mas apenas temporariamente. Ao fazer mudanças na Lei 8.958/1994, a MP resolve as restrições a todas as ICTs, em todas as esferas.

Proposta

No mesmo dia em que o TCU ofereceu mais prazo para as Ifes cumprirem o acórdão de 2008, durante a 4ª CNCTI, os presidentes da SBPC, Marco Antonio Raupp, e da ABC, Jacob Palis Jr., entregaram ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva um anteprojeto de MP para criar um regime jurídico especial para a realização de licitações e estabelecimento de contratos por ICTs e agências de fomento. Em 8 de junho, Raupp teve uma audiência com o presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, para tratar do anteprojeto.

A proposta buscava autorizar as instituições a efetuar suas compras e contratações com base em regulamento próprio, elaborado de acordo com as normas da administração pública, e não mais pela Lei 8.666/93 (Lei Geral de Licitações e Contratos Administrativos), considerada um entrave à pesquisa no Brasil. Dessa forma, ela resolveria as restrições impostas pelo TCU e daria um passo além na desburocratização das atividades científicas.

Presente à reunião entre Raupp, Palis Jr. e o presidente Lula, o ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, reconheceu que o anteprojeto das duas entidades seria uma solução mais abrangente. Segundo Rezende, o presidente Lula entregou ao MCT a tarefa de trabalhar no anteprojeto.

"Passei para o meu chefe de gabinete e pedi para examinar com cuidado", disse o ministro, em entrevista ao "JC" durante a 4ª CNCTI. "Temos que ver se realmente [a proposta] é factível, se tudo o que está lá pode ser feito, se não contraria outros preceitos maiores", completou Rezende, cerca de dois meses atrás.

  1. Fontes:
  2. Jornal da Ciência (extraído de)
  3. D. O. - MEDIDA PROVISÓRIA N o - 495, DE 19 DE JULHO DE 2010
  4. Fundações deixam de ser 'caixa' de universidades e buscam setor privado
  5. As novas regras das fundações de pesquisa


-

Projeto regulariza atividade extra de professor federal

-
Projeto regulariza atividade extra de professor federal

Minuta de texto elaborado pelo governo define as atividades remuneradas permitidas a docentes de instituições federais

31 de julho de 2010 | 0h 00 - Lígia Formenti/BRASÍ LIA - O Estado de S.Paulo


Professores universitários que trabalham em regime de dedicação exclusiva poderão participar - e receber - de conselhos, além de ganhar cachês por palestras, conferências e atividades artísticas. As propostas integram uma minuta de projeto de lei apresentada pelo governo para regulamentar a carreira docente nas instituições federais.

Preparado ao longo dos últimos dois anos, o texto, com 46 artigos, traz regras mais precisas para essa prática comum, mas que há tempos era condenada pelo Tribunal de Contas da União. "Normas mais claras eram indispensáveis", afirmou o ministro do TCU, Aroldo Cedraz.

As mudanças propostas não são mais rígidas ou mais flexíveis do que a situação atual. Pelas regras das universidades hoje, a liberdade para professores em dedicação exclusiva exercer outras atividades é praticamente inexistente. Mas, na prática, essas restrições quase nunca funcionavam. Usando recurso das fundações, professores conseguiam exercer uma série de atividades, como consultorias por longos períodos em horários muitas vezes incompatíveis com sua jornada nas faculdades.


A proposta, apresentada semana passada para a diretoria do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes), prevê mudanças na carreira, como a criação do professor sênior. "Ele ficaria no mesmo patamar que o professor titular", afirma o secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Duvanier Paiva Ferreira. A medida, segundo ele, pretende ampliar o incentivo para progresso na carreira.

O secretário executivo da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Gustavo Balduíno, disse ser favorável à regulamentação das atividades realizadas fora das universidades. "Por que não ter direito de participar e receber, por exemplo, de um conselho da Petrobrás? Professores têm contribuição para sociedade, que pode ser feita não apenas por meio das aulas na universidade."

Além de tornar mais claras as formas de participação de professores, a proposta prevê que todo pagamento extra tem de ser feito por meio do sistema oficial da União, como forma de evitar que profissionais ganhem além do teto constitucional. Algo que poderia ocorrer quando profissionais recebiam, por exemplo, via fundações de amparo à pesquisa - cujas regras de funcionamento foram alteradas em medida provisória, editada semana passada. (para postagem sobre "Novas regras para fundações de pesquisa")

A minuta viria para completar a mudança, que integra o pacote para ampliar a autonomia universitária. Entre as regras previstas, estão mecanismos para pagamento de projetos de pesquisa e extensão - algo que antes era feito nas fundações.

Discórdia. A ideia do governo é apresentar o projeto de lei depois das eleições. Antes, deverão ser feitos debates com setores interessados. A primeira reunião está marcada para o fim de agosto. Muita polêmica ainda está por vir. "É um texto que prejudica aposentados e provoca uma corrida de docentes para financiamento de pesquisas", resume o primeiro-vice- presidente da Andes, Luiz Henrique Schuch.

Para ele, a saída para melhor remuneração de professores não é a participação em atividades extra. "Não é essa a nossa missão. O que o governo precisa definir é qual é o projeto de universidade que ele quer."

Recebido de Marcos Francisco Martins, a quem agradecemos.
-