domingo, 27 de dezembro de 2009

Castoriadis e as "Reflexões sobre o Racismo"

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Reflexões sobre o Racismo – Racismo e Mestiçagem



Por: Cornelius Castoriadis



“Encontramos-nos aqui(*), é evidente, porque queremos combater o racismo, a xenofobia, o chauvinismo e tudo o que se relacione a eles. E fazemos isso em nome de uma posição primordial: reconhecemos todos os seres humanos como tendo valor igual como seres humanos, e afirmamos o dever da coletividade de conceder as mesmas possibilidades efetivas, no que se refere ao desenvolvimento de suas faculdades. Longe de poder estar comodamente fundada em uma suposta evidência ou necessidade transcendental dos “direitos humanos”, essa afirmação engendra paradoxos de primeira magnitude e, em particular, uma antinomia que muitas vezes já sublinhei, e que pode ser definida em abstrato como a antinomia entre o universalismo que concerne aos seres humanos e o universalismo que concerne às “culturas” (as instituições imaginárias da sociedade) dos seres humanos”. Acesso ao artigo AQUI


(*) No Colóquio “Inconsciente e mudança social” da Association pour La Recherche ET l´Intervention Psichosociologiques, em março de 1985.

Texto original em www.debatefeminista.com

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Cornelius Castoriadis


(1922-1997). Crítico social y editor de la revista Socialismo o barbarie (1949-1967), que se publicaba en Francia. Economista de la OCRE hasta 1970, Castoriadis se convirtió en psicoanalista practicante en 1974 y es director de estudios en la Escuela de Altos Estudios en Ciencias Sociales (1979). Escribió, entre otros, Los dominios del hombre: las encrucijadas del laberinto (1978), La institución imaginaria de la sociedad (1975) y Filosofía, política, autonomía (1991) .


Textos sobre
Cornelius Castoriadis

Cornelius Castoriadis Agora International Website

Escritos de Cornelius Castoriadis en Español
Spanish-Language Writings by Cornelius Castoriadis
Écrits de Cornelius Castoriadis en espagnol

Textos sobre Castoriadis o el imaginário


The Problem of Democracy Today

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A referência do texto desta postagem foi recebido de
http://www.unifem.org.br
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quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Algum conceito de tecnologia

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... parecem pequenos detalhes da vida mas, com o poder multiplicador das corporações, atinge tanta gente.

A imagem abaixo veio na capa de uma revista que me deram no avião.


Repare que a menina idiota e frustrada está lendo um livro
com inveja dos que ostentam gadgets eletrônicos...
A FNAC já teve outra vocação...

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Um abraço e um excelente 2010 a todos.

Ladislau Dowbor
contatoladislau@gmail.com
http://dowbor.org
Twitter: ldowbor

PARA MAIS
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domingo, 20 de dezembro de 2009

MERCOSUL - Professor estrangeiro terá seu título reconhecido no Brasil

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Professor estrangeiro terá seu título reconhecido no Brasil

Os professores estrangeiros que vierem a lecionar no Brasil, em sistema de intercâmbio, terão o benefício da admissão (reconhecimento) de títulos e graus acadêmicos obtidos em países do Mercosul. A decisão foi tomada em reunião do Conselho Mercado Comum (CMC), realizada em Montevidéu.

Durante o encontro, foi aprovada a Decisão nº 29, deste ano (2009), que regulamenta o Acordo de Admissão de Títulos e Graus Acadêmicos para o Exercício de Atividades Acadêmicas nos Estados do Mercosul.Justificar


Com a regulamentação, o acordo vale apenas para estrangeiros provenientes dos demais países do bloco que venham a lecionar no Brasil. Portanto, não beneficia professores brasileiros. “A admissão de títulos e graus acadêmicos, para os fins do acordo, não se aplica aos nacionais do país onde sejam realizadas as atividades de docência e de pesquisa”, diz o artigo 2º do documento.

fonte Em Questão - BR-gov.

Para o Acordo, em arquivo PDF, com data de 07-dez-2009 - www.capes.gov.br
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segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Lévi-Strauss: homenagem de "Estudos Avançados" - IEA/USP

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Tristes trópicos

10/12/2009 Por Alex Sander Alcântara


Agência FAPESP – A chamada “crise do Congresso” brasileiro é o tema central do número 67 da revista Estudos Avançados. Publicada pelo Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA/USP), a edição, que lançada nesta quinta-feira (10/12), traz um dossiê sobre a crise institucional vista por acadêmicos, parlamentares e juristas.
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Em seu conjunto, a revista traz artigos, entrevistas, ensaios e resenhas. Abriga ainda mais dois blocos temáticos. O segundo dossiê é dedicado ao antropólogo Claude Lévi-Strauss, morto em novembro, e o terceiro, intitulado Vozes do Nordeste, reúne artigos sobre Graciliano Ramos, João Cabral de Melo e Gilberto Freyre.

O dossiê Lévi-Strauss traz textos publicados em 2008 na edição especial da revista La Lettre Du Collège de France (clique para baixar a revista integralmente, em francês) produzida em homenagem ao centenário do antropólogo francês.

De acordo com o editor da revista, Alfredo Bosi, professor titular de literatura brasileira da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, a edição já estava pronta quando souberam da morte de Lévi-Strauss.

“Estive em Paris e tive o privilégio de receber autorização para publicar vários artigos que saíram na revista La Lettre Du Collège de France. É especialmente importante para nós fazer essa homenagem porque dentro do IEA temos a Cátedra Lévi-Strauss, criada graças a um convênio com o Collège de France”, disse à Agência FAPESP.

Além de textos do próprio Lévi-Strauss, a edição de Estudos Avançados traz artigos e ensaios de colaboradores e discípulos, além de entrevistas recentes. Dentre os artigos destacam-se os de Maurice Merleau-Ponty, Jean-Claude Pecker e Philippe Descola, além de entrevistas sobre Lévi-Strauss com Descola, Françoise Héritier e Eduardo Viveiros de Castro, que foram publicadas originalmente em francês.

Segundo Bosi, que também é coordenador da Cátedra Lévi Strauss, o dossiê sobre o antropólogo fala de um outro país, o “Brasil indígena”, que aparece como fonte direta de estudo de um dos maiores antropólogos do século 20.

“O estruturalismo do autor de Tristes Trópicos não teria sido possível sem os seus anos de observação empática junto a tribos sobreviventes no território brasileiro. As relações entre Lévi-Strauss e a USP, onde lecionou na juventude, foram estreitas e profundas, e os textos que agora publicamos no Brasil provam-no de modo cabal”, disse Bosi.

Para homenagear Lévi-Strauss, a cantora, compositora e pesquisadora Marlui Miranda interpretou músicas dos Suruí, Nambikwara e Bororo, povos indígenas visitados pelo francês na década de 1930, quando lecionava sociologia na recém-criada USP. “É pena porque gostaríamos que ele viesse. Ele lia bem o português. Mas fica a homenagem”, disse Bosi.

Velho Senado

Segundo o crítico literário e membro da Academia Brasileira de Letras, há muitos números a revista se caracteriza por apresentar um dossiê que “deve tratar de um tema oportuno, atual, importante e de preferência que tenha a ver com a realidade brasileira”.

“Para o dossiê – que ocupa um terço e às vezes a metade da edição – convidamos professores, pesquisadores e pensadores. Já a segunda parte é mais aberta. Aproveitamos os ensaios que chegam de várias partes do Brasil e os submetemos aos pareceristas e consultores que sigilosamente nos fazem um diagnóstico sobre os textos”, explicou Bosi, acrescentando que, nas últimas edições, a revista abriu uma nova seção de resenhas de livros.

Os três blocos temáticos apresentam unidade e todos os textos são atuais, com exceção da crônica de Machado de Assis intitulada “Velho Senado”, publicada quando o autor de Dom Casmurro escrevia para o jornal Diário do Rio de Janeiro, nos idos de 1860. De acordo com Bosi, a intenção foi mostrar a “diferença de tom”.

“Naqueles tempos o Senado [“cujos cargos eram vitalícios”] talvez não fosse nem melhor nem pior do que é hoje. Sempre deve ter havido escândalos, só que eram mais decorosos. Eles tinham um comportamento que, infelizmente parece, que se perdeu”, indicou Bosi.

No dossiê sobre o Congresso, há uma diversidade de visões e posições. Segundo o professor da USP, a grande discussão não é só mostrar o que está acontecendo, mas “por que está acontecendo”.

“De maneira geral, as análises mostram que a democracia formal em que vivemos é necessária, mas insuficiente. É preciso não só uma democracia representativa, mas participativa”, analisa Bosi.

Participam do primeiro dossiê Fábio Konder Comparato com o artigo O Direito e o Avesso” Marco Aurélio Nogueira, com Uma crise de Longa Duração, e Francisco Weffort, que questiona a ausência de reforma política em Qual reforma política?.

A segunda parte do dossiê é de entrevistas com alguns políticos representativos, como Cristovam Buarque, Arnaldo Madeira, Fernando Gabeira, e com representantes do Judiciário, como o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Do outro lado, o jornalista e professor da Escola de Comunicações e Artes da USP Eugênio Bucci analisa o papel da imprensa na cobertura da crise, ente outros.

“Acho que a crise, superficialmente, passou, porque a política continua a sua rotina, mas o dossiê fica como um momento de reflexão”, disse Bosi.

A última parte da revista é dedicada a resenhas de livros lançados recentemente e ao dossiê Vozes do Nordeste, além da análise de Aziz Nacib Ab’ Sáber, professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, sobre os eventos climatológicos que atingiram Santa Catarina em 2008.

A versão eletrônica da nova edição de Estudos Avançados poderá ser lida em breve na biblioteca on-line SciELO (Bireme/FAPESP), em

A revista impressa custa R$ 30.
Mais informações: http://www.iea.usp.br/revista/rev67.html
e 55 - 11 - 3091-1675

Fonte: Agência FAPESP
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quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Paulo Freire é anistiado 45 anos após exílio

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Paulo Freire é anistiado 45 anos após exílio

Em Brasília, 3 mil professores e educadores de todas as regiões do Brasil e de outros 22 países acompanharam a cerimônia

27/11/2009 - da Redação

A Comissão de Anistia do Ministério da Justiça concedeu, no dia 26 de novembro, a anistia política post mortem ao educador Paulo Freire, falecido em 1997. A cerimônia ocorreu durante o Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica que conta com 3 mil professores e educadores de todas as regiões do Brasil e de outros 22 países, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília.

Presente na cerimônia, a viúva, Ana Maria Araújo Freire, se emocionou ao falar do marido. “Hoje, Paulo, você pode descansar em paz. Sua cidadania plena, sem vazios e sem lacunas, foi restaurada, como você queria, e proclamada, como você merece”, disse. A homenagem ao pernambucano que revolucionou as técnicas de ensino em todo o mundo foi marcada pela emoção.

O presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão, disse que o pedido de desculpas em nome do Estado brasileiro também era direcionado aos milhões de brasileiros e brasileiras que deixaram de ser alfabetizados e emancipados por Freire. A extinção do Plano Nacional de Alfabetização, que levaria o “método Paulo Freire” a todo o país, foi um dos primeiros atos do regime autoritário, após o golpe de 1964.

O educador pernambucano foi afastado da coordenação do Plano Nacional, instituído meses antes pelo MEC, e aposentado compulsoriamente da cadeira de professor de História e Filosofia da Universidade Federal de Pernambuco. Após ser preso por 70 dias em uma cadeia de Olinda (PE), partiu para o exílio, retornando ao Brasil somente em 1980.

Em razão da perseguição política que resultou em 16 anos de exílio, a Comissão de Anistia concedeu indenização de R$ 100 mil – teto da prestação única, que prevê 30 salários mínimos para cada ano de perseguição comprovada.

Fonte: Brasil de Fato

Para ver Paulo Freire na lista dos Teóricos e Pensadores das Relações Internacionais, na página da ANU - Universidade Nacional da Austrália

Livros de Paulo Freire prontos para serem baixados, na Biblioteca da Floresta, por iniciativa do Governo do Acre.
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Conceitos sociais do feminismo

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Guia discute detalhadamente os conceitos sociais do feminismo

25/11/2009

No ensejo das comemorações do Ano da França no Brasil, a Editora Unesp lança a tradução do Dicionário crítico do feminismo. Trata-se da primeira obra do gênero publicada no país europeu que visa discutir, ao longo de 48 verbetes, não só o significado de conceitos relacionados ao movimento feminista mas o contexto em que se inserem enquanto atitudes sociais e políticas públicas adotadas em relação à hierarquia dos sexos em diferentes culturas.

Cada rubrica, organizada por um grupo de pesquisadores dedicados ao estudo das diferenças sociais relativas ao sexo, traz uma ou mais definições da noção trabalhada, traça as etapas de seu desenvolvimento histórico, expõe embates e controvérsias que ela já suscitou ou suscita e apresenta sua posição social e científica na atualidade. Como é o caso do conceito de Aborto, apresentado como “o reconhecimento do direito de dispor do seu próprio corpo (...) É um ponto decisivo, pois se trata da autonomia das mulheres”.

O Dicionário faz um questionamento sistematizado sobre o androcentrismo presente tanto na representação de objetos, como também na produção de palavras, ideias e sistemas de pensamento. É, portanto, uma obra feminista porque “coloca como central a problemática da dominação entre os sexos e suas consequências”.

A versão brasileira do guia se apresenta como uma ferramenta eficaz para os estudos de gênero, já que traz um repertório de conceitos elaborados pelas teorias feministas a esse respeito. Além disso, abre uma via de comunicação para comparações e diferenciações entre culturas distintas, como o Brasil e a França, bem como possibilita uma visão mais ampla do feminismo na Europa e no mundo.

Sobre as organizadoras:

Helena Hirata é diretora de pesquisa em sociologia no Genre, Travail et Mobilités (GTM) e estuda as divisões sexuais e internacionais do trabalho;
Françoise Laborie é socióloga e ex-membro do Genre et Rapport Sociaux (GERS) com pesquisas sobre “os desafios sociais ligados ao desenvolvimento das tecnologias de reprodução humana” e “técnicas e gêneros”;
Hélène Le Doaré é ex-membro do GERS e investiga as diversas relações sociais em processos como os movimentos populares na América Latina, na guerrilha alemã ou na coordenação das enfermeiras na França;
Danièle Senotier é engenheira de estudos no Centre National de La Recherche Scientifique (CNRS), secretária de redação dos Cahiers du Genre e membro do GTM.

Título: Dicionário crítico do feminismo
Organizadoras: Helena Hirata, Françoise Laborie, Hélène Le Doaré, Danièle Senotier
Páginas: 342
Formato: 16 x 23 cm
Preço: R$ 55
ISBN: 978-85-7139-987-7
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Ensinar a Condição Humana, com Edgar Morin

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Ensinar a Condição Humana


A educação do futuro deverá ser o ensino primeiro e universal, centrado na condição humana. Estamos na era planetária; uma aventura comum conduz os seres humanos, onde quer que se encontrem. Estes devem reconhecer-se em sua humanidade comum e ao mesmo tempo reconhecer a diversidade cultural inerente a tudo que é humano.

Conhecer o humano é, antes de mais nada, situá-lo no universo, e não separá-lo dele. Todo conhecimento deve contextualizar seu objeto, para ser pertinente. “Quem somos?” é inseparável de “Onde estamos?”, “De onde viemos?”, “Para onde vamos?

Interrogar nossa condição humana implica questionar primeiro nossa posição no mundo. O fluxo de conhecimentos, no final do século XX, traz nova luz sobre a situação do ser humano no universo. Os progressos concomitantes da cosmologia, das ciências da Terra, da ecologia, da biologia, da pré-história, nos anos 1960-1970, modificaram as idéias sobre o Universo, a Terra, a Vida e sobre o próprio Homem. Mas estas contribuições permanecem ainda desunidas. O humano continua esquartejado, partido como pedaços de um quebra-cabeça ao qual falta uma peça.

Aqui se apresenta um problema epistemológico: é impossível conceber a unidade complexa do ser humano pelo pensamento disjuntivo, que concebe nossa humanidade de maneira insular, fora do cosmos que a rodeia, da matéria física e do espírito do qual somos constituídos, bem como pelo pensamento redutor, que restringe a unidade humana a um substrato puramente bioanatômico.

As ciências humanas são elas próprias fragmentadas e compartimentadas. Assim, a complexidade humana torna-se invisível e o homem desvanece “como um rastro na areia”. Além disso, o novo saber, por não ter sido religado, não é assimilado nem integrado. Paradoxalmente assiste-se ao agravamento da ignorância do todo, enquanto avança o conhecimento das partes.

Disso decorre que, para a educação do futuro, é necessário promover grande remembramento dos conhecimentos oriundos das ciências naturais, a fim de situar a condição humana no mundo, dos conhecimentos derivados das ciências humanas para colocar em evidência a multidimensionalidade e a complexidade humanas, bem como integrar (na educação do futuro) a contribuição inestimável das humanidades, não somente a filosofia e a história, mas também a literatura, a poesia, as artes...


Enraizamento / Desenraizamento do Ser Humano

Devemos reconhecer nosso duplo enraizamento no cosmos físico e na esfera viva e, ao mesmo tempo, nosso desenraizamento propriamente humano. Estamos simultaneamente dentro e fora da natureza.


A condição cósmica

Abandonamos recentemente a idéia do Universo ordenado, perfeito, eterno pelo universo nascido da irradiação, em devenir disperso, onde atuam, de modo complementar, concorrente e antagônico, a ordem, a desordem e a organização.

Encontramo-nos no gigantesco cosmos em expansão, constituído de bilhões de galáxias e de bilhões e bilhões de estrelas.

Aprendemos que nossa Terra era um minúsculo pião que gira em torno de um astro errante na periferia de pequena galáxia de subúrbio. As partículas de nossos organismos teriam aparecido desde os primeiros segundos de existência de nosso cosmo há (talvez?) quinze bilhões de anos; nossos átomos de carbono formaram- se em um ou vários sóis anteriores ao nosso; nossas moléculas agruparam-se nos primeiros tempos convulsivos da Terra; estas macromoléculas associaram-se em turbilhões dos quais um, cada vez mais rico em diversidade molecular, se metamorfoseou em organização de novo tipo, em relação à organização estritamente química: uma auto-organização viva.

A epopéia cósmica da organização, continuamente sujeita às forças da desorganização e da dispersão, é também a epopéia da religação que, sozinha, impediu que o cosmos se dispersasse ou se desvanecesse ao nascer. No seio da aventura cósmica, no ápice do desenvolvimento prodigioso de um ramo singular da auto-organização viva, prosseguimos a aventura à nossa maneira.


A condição física

Uma porção de substância física organizou-se de maneira termodinâmica sobre a Terra; por meio de imersão marinha, de banhos químicos, de descargas elétricas, adquiriu Vida. A vida é solar: todos os seus elementos foram forjados em um sol e reunidos em um planeta cuspido pelo Sol: ela é a transformação de uma torrente fotônica resultante de resplandecentes turbilhões solares. Nós, os seres vivos, somos um elemento da diáspora cósmica, algumas migalhas da existência solar, um diminuto broto da existência terrena.


A condição terrestre

Pertencemos ao destino cósmico, porém estamos marginalizados: nossa Terra é o terceiro satélite de um sol destronado de seu posto central, convertido em astro pigmeu errante entre bilhões de estrelas em uma galáxia periférica de um universo em expansão...

Nosso planeta agregou-se há cinco bilhões de anos, a partir, provavelmente, de detritos cósmicos resultantes da explosão de um sol anterior, e há quatro bilhões de anos a organização viva emergiu de um turbilhão macromolecular em meio a tormentas e convulsões telúricas. A Terra autoproduziu-se e auto-organizou-se na dependência do Sol; constituiu-se em complexo biofísico a partir do momento em que se desenvolveu a biosfera. Somos a um só tempo seres cósmicos e terrestres. A vida nasceu de convulsões telúricas, e sua aventura correu perigo de extinção ao menos por duas vezes (no fim da era primária e durante a secundária). Desenvolveu-se não apenas em diversas espécies, mas também em ecossistemas em que as predações e devorações constituíram a cadeia trófica de dupla face: a da vida e a da morte. Nosso planeta erra no cosmo. Devemos assumir as conseqüências da situação marginal, periférica que é a nossa.

Como seres vivos deste planeta, dependemos vitalmente da biosfera terrestre; devemos reconhecer nossa identidade terrena física e biológica.


1.4 A condição humana

A importância da hominização é primordial à educação voltada para a condição humana, porque nos mostra como a animalidade e a humanidade constituem, juntas, nossa condição humana.

A antropologia pré-histórica mostra-nos como a hominização é uma aventura de milhões de anos, ao mesmo tempo descontínua — surgimento de novas espécies: habilis, erectus, neanderthal, sapiens, e desaparecimento das precedentes, aparecimento da linguagem e da cultura — e contínua, no sentido de que prossegue em um processo de bipedização, manualização, erguimento do corpo, cerebralização, juvenescimento (o adulto que conserva os caracteres não-especializados do embrião e os caracteres psicológicos da juventude), de complexificação social, processo durante o qual aparece a linguagem propriamente humana, ao mesmo tempo que se constitui a cultura, capital adquirido de saberes, de fazeres, de crenças e mitos transmitidos de geração em geração...

A hominização conduz a novo início. O hominídeo humaniza-se. Doravante, o conceito de homem tem duplo princípio; um princípio biofísico e um psico-sócio-cultural, um remetendo ao outro. Somos originários do cosmos, da natureza, da vida, mas, devido à própria humanidade, à nossa cultura, à nossa mente, à nossa consciência, tornamo-nos estranhos a este cosmos, que nos parece secretamente íntimo. Nosso pensamento e nossa consciência fazem-nos conhecer o mundo físico e distanciam-nos dele. O próprio fato de considerar racional e cientificamente o universo separa-nos dele. Desenvolvemo-nos além do mundo físico e vivo. É neste “além” que tem lugar a plenitude da humanidade. À maneira de ponto do holograma, trazemos no seio de nossa singularidade não somente toda a humanidade e toda a vida, mas também quase todo o cosmos, incluindo seu mistério que, sem dúvida, jaz no fundo da natureza humana. Mas não somos seres que poderiam ser conhecidos e compreendidos unicamente a partir da cosmologia, da física, da biologia, da psicologia...


in Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro
Edgar Morin



Tema de reflexão do Café Filosófico de novembro de 2009, da Regional SEAF Sul-Fluminense

Jerônimo da Silva - UBM








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SC: é proibido discriminar EAD

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Discriminação contra cidadãos com formação no ensino a distância será punida

Foi aprovado o Projeto de Lei nº 122/09, do deputado Professor Sérgio Grando (PPS), que tem como propósito punir qualquer empresa, órgão ou entidade que discrimine cidadãos que disponham de formação superior ou vida acadêmica nas modalidades de Ensino a Distância.

Mais de 20 mil cidadãos residentes no Estado estudam atualmente nestas modalidades de ensino superior.

Juntamente com a matéria, os parlamentares aprovaram duas emendas modificativas de autoria do deputado Pedro Uczai (PT). Elas estabelecem que compete ao poder público estadual o recebimento e análise das reclamações quanto à discriminação de pessoas com formação superior ou vida acadêmica nas modalidades de ensino a distância, que deverão ser encaminhadas aos órgãos competentes para que tomem as medidas cabíveis.

Rubens Vargas/Divulgação Alesc

Fonte: Assembléia Legislativa de SC

Para ler o Projeto de lei na íntegra.

recebido de Annye Tessaro - Florianópolis/SC




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60 anos de "O Segundo Sexo", de Simone de Beauvoir

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O Feminismo e as ligações França-Brasil - Os 60 anos de O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoirmesa de debate com

  1. Nilcéa Freire - ministra, Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres
  2. Maria Betânia Ávila – socióloga, feminista e diretora do SOS Corpo - Instituto Feminista para a Democracia
  3. Maria Luiza Heilborn - antropóloga, feminista e diretora do Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM)
  4. Brigitte Lhomond – socióloga, pesquisadora do Centro Nacional de Pesquisa Científica, Laboratório Triangle (École Normale Supérieure Lettres et Sciences Humaines, Universités de Lyon, CNRS)
do evento:
Seminário Nacional A Mulher e a Mídia 6

Realização:
  1. Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM)
  2. Instituto Patrícia Galvão – Comunicação e Mídia
  3. Fundo das Nações Unidas para o Desenvolvimento da Mulher (UNIFEM)
  4. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)

Frases

  1. “Precisamos pensar em como alargar as fronteiras do feminismo, estabelecer alianças e projetos em comum” - Brigitte Lhomond
  2. “Simone não se interessava por saber do Brasil do carnaval. Queria saber da condição da mulher no Brasil” - Maria Betânia Ávila
  3. “Precisamos nos opor à Simone sombreada, divulgada apenas como ensaísta e não como a verdadeira filósofa que foi, com um importante papel de transformação social” - Maria Luiza Heilborn
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Quais serão as lutas das novas gerações de jovens feministas?
O jogo está ganho?
A provocação é da socióloga francesa Brigitte Lhomond,
pesquisadora do Centro Nacional de Pesquisa Científica, em Lyon,
e convidada para o evento especial
“O Feminismo e as ligações França-Brasil -
Os 60 anos de O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir”,
realizado na abertura do 6º Seminário A Mulher e a Mídia.
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Brigitte estuda a trajetória dos movimentos de liberação das mulheres e a influência do pensamento de Simone de Beauvoir na luta feminista. Nesta perspectiva, ela acredita que o feminismo continua sendo um importante instrumento de luta, mas com a missão de repensar e discutir de maneira contínua temas como aborto, participação política, prostituição e religiosidade.

Para enfrentar os novos desafios, Brigitte retoma a trajetória das diversas correntes feministas, que começaram a ter visibilidade a partir do final da década de 60, como uma continuação das mobilizações de maio de 68. Ela considera a abundância de grupos, os encontros e enfrentamentos dessas correntes como fundamentais para a construção do feminismo transformador da sociedade.

“A perspectiva do feminismo radical é muito importante. Resultou em uma série de publicações e movimentos. Entre eles o movimento pró-aborto, que se reunia em vários estados para apoiar as mulheres na realização de abortos, e a mobilização de combate à violência contra a mulher, a partir da década de 70”, lembra a pesquisadora francesa.

Em 2010, a legalização do aborto na França completa 35 anos, mas segue desafiando o movimento de mulheres francesas. Segundo Brigitte, ainda é preciso lutar para que a lei seja aplicada até o prazo limite – 12 semanas de gestação. A resistência dos médicos, que recorrem à cláusula de consciência da profissão, e a falta de estrutura nos hospitais públicos franceses atrasam o atendimento das mulheres e muitas vezes fazem com que o prazo limite seja vencido, impossibilitando a interrupção legal da gestação.

A luta pelo direito ao aborto, no entanto, não causa tantas divergências entre as feministas européias quanto temas como paridade política, prostituição e porte de véu pelas mulheres mulçumanas. Existem grupos, como As panteras rosas, que exigem a indiferenciação dos sexos. Elas avaliam que a lei de paridade política, que tem como objetivo uma melhor representação das mulheres, aprofundaria essa diferenciação, contrária ao naturalismo e universalismo, que caracterizam a França.

“Uma análise que divide as feministas na França hoje é a análise da prostituição. Para alguns grupos, trata-se de uma forma de exploração da mulher. Para outros, é uma atividade profissional livre. Apesar dessa divergência, há consenso de que esse tema exige política pública”, ressalta a socióloga do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França.

Segundo ela, outro tema que causa discordância entre as feministas é a lei do véu. Sob a justificativa do Estado laico, a França proibiu que as estudantes mulçumanas utilizem véu nas escolas. Algumas correntes feministas consideram que a as jovens mulçumanas estão sendo discriminadas.

Foi aberta uma CPI sobre o porte do véu integral, cada vez mais presente nas ruas francesas por conta da migração. Nestes debates, o feminismo como vontade de igualdade e de transformação acaba sendo instrumentalizado por correntes que antes não lutavam contra a dominação masculina.

“O movimento de liberação das mulheres provocou verdadeiras mudanças na sociedade, mas com o custo de uma certa pausterização desse movimento, com o custo da perda do radicalismo”, destaca a socióloga, que tem se dedicado a pesquisas sobre sexualidade.

“As jovens feministas precisam dar novas respostas a novos desafios. A realidade não é simples e as lutas das antecessoras não foram tão bem sucedidas. Precisamos pensar em como alargar as fronteiras do feminismo, estabelecer alianças e projetos em comum.”


Atualidade de Beauvoir

Para a socióloga e diretora do SOS Corpo - Instituto Feminista para a Democracia, Maria Betânia Ávila, novas questões surgiram, mas o pensamento de Simone de Beauvoir permanece com referência e inspiração.

“Não é um mito, mas é a referência para a construção de um pensamento e uma análise crítica, materialista e histórica, como uma pessoa que foi posicionada politicamente no mundo”, ressalta Betânia. “Simone não se interessava por saber do Brasil de carnaval. Queria saber da condição da mulher no Brasil.”

A socióloga conta que Simone de Beauvoir entrou na militância feminista com mais de 60 anos, quando passou a participar ativamente de atos e a testemunhar em defesa do direito da mulher ao corpo, declarando publicamente já ter abortado.

“Ela ainda tinha crença no socialismo como possibilidade de superar as desigualdades entre homens e mulheres. Suas formulações ainda são atuais, apesar das críticas à abordagem sobre lesbiandade, subestimação e distanciamento dessas questões.”

Lançado em 1949, o livro O Segundo Sexo só foi publicado em 1963 em português. O título chegou a constar no índex da Igreja Católica como leitura proibida. A antropóloga e diretora do Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM), Maria Luiza Heilborn, lembra que ele derrubou o mito do cuidar como virtude e destino feminino.

“O Segundo Sexo reúne duas frases fundamentais para o pensamento feminista: Não se nasce mulher, torna-se mulher e A biologia não é um destino. A leitura é atual e necessária. Precisamos nos opor à Simone sombreada, considerada apenas como ensaísta e não com a verdadeira filósofa que foi, com um importante papel de transformação social."

extraído de Instituto Patricia Galvão
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sábado, 14 de novembro de 2009

Helene Stöcker, primeira alemã doutora em Filosofia

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1869: Nasce a primeira filósofa alemã

No dia 13 de novembro de 1869, nasceu a feminista Helene Stöcker, primeira alemã a se doutorar em Filosofia. Mais tarde, ela defendeu o direito das mulheres ao voto e destacou-se como pacifista.


Depois que Helene Stöcker apresentou em 1897 uma palestra sobre Nietzsche e as mulheres num seminário na Universidade Frederico Guilherme (agora Universidade Humboldt) em Berlim, o professor Wilhelm Diltey a contratou como sua assistente. Possibilitou-lhe assim começar um estudo de Filosofia na universidade, o que até então não era permitido às mulheres.

A pioneira foi em frente, tornando-se em 1901 a primeira alemã a obter o título de doutorado, em Berna, na Suíça. Em seguida, ela foi trabalhar como docente na Escola Superior Lessing, uma faculdade particular em Berlim, na qual até Albert Einstein lecionou.

Ao mesmo tempo, ajudou a fundar várias organizações, entre as quais a Associação para o Direito de Voto da Mulher e a União para a Proteção da Maternidade e a Reforma da Sexualidade. Esta última entidade foi criada por ela com outras sufragistas em 1905, com o objetivo de diminuir o preconceito contra as mães solteiras e seus filhos.

Em 1903, Stöcker assumiu a responsabilidade pela revista Frauenrundschau, que tratava de questões relativas às mulheres. Segunda a feminista alemã, a base legítima da relação sexual não era o casamento, e sim o amor. Na revista Proteção da Maternidade, lançada pela União, a filósofa divulgava a sua ideia de uma "nova ética", com direitos de voto extensivos às mulheres.

Stöcker se torna pacifista

Em palestra pronunciada num congresso realizado em Haia, na Holanda, em 1910, Stöcker defendeu o direito da mulher às práticas contraceptivas. Durante a Primeira Guerra Mundial, ela se tornou pacifista radical. Outra vez em Haia, em 1915, participou do Congresso Internacional da Mulher para a Paz Permanente e, em 1921, fundou com outros a Internacional dos Adversários do Serviço Militar. Nos anos seguintes, entrou para diversas organizações pacifistas e publicou seu único romance, Liebe (Amor, 1922).

A reformadora da sexualidade nunca se casou, por convicção, mesmo namorando o advogado Bruno Springer desde 1905 até a morte deste, em 1931. Com a ascensão dos nazistas ao poder, Helene Stöcker emigrou, passando várias temporadas em Zurique, na Suécia e na Rússia e indo finalmente para Nova York, onde morreu em 23 de fevereiro de 1943.

Segundo instituto berlinense, Stöcker seria racista

A atuação da filósofa é, contudo, controversa. Segundo Peter Kratz, do Instituto Berlinense de Pesquisa do Fascismo e de Ação Antifascista, ela teria se tornado nacionalista radical e trabalhado na Sociedade para a Higiene das Raças, fundada pelo antissemita e fanático ariano Alfred Ploetz. Stöcker teria ainda fundado a União para a Proteção da Maternidade juntamente com Ploetz e outros alemães ligados ao partido nazista NSDAP.

Além disso, ela teria se juntado ao médico Magnus Hirschfeld, a quem se atribuem castrações e experimentos com homossexuais. Kratz afirma que Stöcker queria reservar a emancipação da sexualidade para a elite, evitando que surgisse uma nova geração medíocre.

Martin Helbich

Fonte www.dw-world.de - Deutsche Welle

agradecimento a Vilma Piedade, pelo envio da notícia
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sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Segundo Sexo fez 60 anos, em 2009

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O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir

O Segundo Sexo é um clássico publicado por Simone de Beauvoir em 1949. São dois livros sobre a situação da mulher. O primeiro volume recebeu o subtítulo de “Fatos e Mitos”, e o segundo volume foi denominado “A experiência vivida”. Como outros clássicos feministas, encontra-se esgotado no Brasil.

Para fazer o download, em formato PDF, você pode acessar Mídia Independente:
link no midia independente para o volume 1: Fatos e Mitos
link no midia independente para o volume 2: a experiência vivida

Índice dos livros:

O Segundo Sexo, vol.1: Fatos e Mitos

Primeira Parte
Capítulo I — Os dados da biologia
Capítulo II — O ponto de vista psicanalítico
Capítulo III — O ponto de vista do materialismo histórico

Segunda Parte
História
I
II
III
IV
V

Terceira Parte
Os Mitos
Capítulo I
Capítulo II
I — Montherlant ou o pão do nojo
II — D. H. Lawrence ou o orgulho fálico
I I I — Claudel e a serva do Senhor
IV — Breton ou a poesia
V — Stendhal ou o romanesco do verdadeiro
VI —
Capítulo III

O Segundo Sexo, vol.2: A Experiência vivida

Introdução

Primeira Parte
Formação
Capítulo I — Infância
Capítulo II — A Moça
Capítulo III — A Iniciação Sexual
Capítulo IV — A Lésbica

Segunda Parte
Situação
Capítulo I — A Mulher Casada
Capítulo II — A Mãe
Capítulo III — A Vida Social
Capítulo IV — Prostitutas e Hetairas
Capítulo V — Da Maturidade à Velhice
Capítulo VI — Situação e Caráter da Mulher

Terceira Parte
Justificações
Capítulo I — A Narcisista
Capítulo II — A Amorosa
Capítulo III — A Mística

Quarta Parte
A Caminho da Libertação
Capítulo Único — A Mulher Independente

Conclusão


Foto de Simone de Beauvoir extraída de The Avant Guardian
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sábado, 7 de novembro de 2009

Dia Mundial da Filosofia 2009 - 19 de novembro

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Dia Mundial da Filosofia no Brasil 2009

Esta é a segunda edição do evento realizado pela UFRJ (IFCS) no País, em parceria com a representação da UNESCO no Brasil e com o patrocínio do Banco do Brasil.

A comemoração ocorre no dia 19 de novembro (quinta-feira), das 10h às 18h, na Casa da Ciência da UFRJ - Rua Lauro Müller 3, Botafogo - Rio de Janeiro - RJ

As atividades contemplam

# a realização do ciclo de diálogos intitulado "Novas perspectivas filosóficas para o Brasil" com a presença de professores e especialistas em Filosofia reconhecidos no cenário nacional,

# e a disponibilização de um espaço multimídia de Filosofia, cujo objetivo principal é ampliar as possibilidades de compreensão da mesma através de diferentes mídias.Neste espaço multimídia, o público poderá assistir a vídeos e experimentar áudios especialmente produzidos para a mostra, com trechos de textos e biografias de vários filósofos, tudo isso a partir de um painel expositivo criado para despertar a curiosidade e estimular a interação.

E mais:

# exposição de cartazes cedidos pela UNESCO,
# montagem de uma linha cronológica da Filosofia
# transmissão ao vivo das atividades do auditório para o salão de exposição da Casa.

Programação

# Auditório - Ciclo de diálogos: “Novas Perspectivas Filosóficas para o Brasil”

# Mesa I – 9h 30min às 12h

Coordenador: Profº André Martins
Mediador: Conrado Cavalcante

Alexandre Mendonça (UFRJ) - Confirmado
Filipe Ceppas (UGF) - Confirmado
Rafael Haddock Lobo (UFRJ) - Confirmado

# Mesa II – 13:30 às 16h

Coordenador e mediador: Gabriel Cid

Guilherme Castelo Branco (UFRJ) – Confirmado
Jorge Vasconcellos (UGF) – Confirmado
Walter Kohan (UERJ) – Confirmado

# Salão de Exposições - Montagem do Espaço Multimídia de Filosofia

Visitação: das 10h às 18h

# Painel expositivo de áudios e vídeos
# Transmissão simultânea dos diálogos ocorridos no auditório
# Transmissão do evento ao vivo pela internet
# Exposição de Cartazes cedidos pela UNESCO
# Montagem de uma linha cronológica da Filosofia com imagens impressas
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Mais Informações


Este evento é idealizado e produzido por alunos de Filosofia, que também atuam na área da produção cultural, sob a curadoria e coordenação acadêmica do Prof. Dr. André Martins (UFRJ).

site: http://www.diamundialdafilosofia.com.br
e-mail: contato@diamundialdafilosofia.com.br

Produção 21-2507-3714
Tiago Gomes - tiago@diamundialdafilosofia.com.br
Djalma Lopes - djalma@diamundialdafilosofia.com.br
Coordenação
Conrado Cavalcante - conrado@diamundialdafilosofia.com.br
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Clique sobre os títulos para saber sobre:

> Algumas celebrações no mundo - link em francês

> Algumas celebrações no mundo - link em inglês

O que pensa a UNESCO sobre a Filosofia. Com a palavra Pierre Sané, Sub-Diretor Geral para as Ciências Sociais e Humanas

> Il n'y a pas d'UNESCO sans philosophie

> Philosophy at UNESCO
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Clique AQUI para saber sobre a instituição do Dia Mundial da Filosofia

Em 2008, 0 Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ se uniu às comemorações mundiais e as atividades reuniram um público diversificado que mostrou grande interesse pela Filosofia.

Veja AQUI como foi o Dia Mundial da Filosofia no mundo, em 2008, e a participação da UFRJ (IFCS) inscrevendo o Brasil no cenário mundial.
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quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Claude Lévi-Strauss morre aos 100 anos

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4/11/2009

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – O antropólogo Claude Lévi-Strauss morreu, aos 100 anos, na madrugada do último domingo (1/11). O anúncio foi feito apenas nesta terça-feira (3/11) pela Escola de Estudos Avançados em Ciências Sociais de Paris (França).

Conhecido como o fundador da antropologia estruturalista, Lévi-Strauss participou, na década de 1930, da missão francesa que organizou alguns dos cursos da Universidade de São Paulo (USP) pouco após sua fundação, em 1934.

De acordo com Fernanda Arêas Peixoto, professora do Departamento de Antropologia da USP, a influência intelectual de Lévi-Strauss – que realizou no Brasil seus primeiros estudos de etnologia entre populações indígenas – transcende a antropologia.

“Ele foi sem dúvida um dos maiores antropólogos da história e, a partir de seus trabalhos ligados ao âmbito do parentesco e dos mitos, influenciou todos os ramos da antropologia. Mas, especialmente a partir de 1962, com a publicação de Pensamento selvagem, sua obra passou a dialogar com a filosofia. Daí em diante, o estruturalismo adquiriu uma importância enorme, com impacto na filosofia, na psicanálise, na crítica literária e nas ciências humanas de modo geral”, disse à Agência FAPESP.

Segundo Fernanda, que em 1991 defendeu na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) a dissertação de mestrado Estrangeiros no Brasil: a missão francesa na USP, o inegável impacto do pensamento de Lévi-Strauss sobre a antropologia brasileira se deu por meio de sua obra posterior à estadia no país.

“Na época da missão francesa, entre 1935 e 1938, ele era um jovem etnógrafo em período de formação. No Brasil, fez suas primeiras pesquisas de campo e trabalhos etnográficos. Publicou aqui seus primeiros trabalhos. Durante a Segunda Guerra Mundial, fixou-se nos Estados Unidos, onde completou sua formação”, contou.

A leitura de Lévi-Strauss feita pelo norte-americano David Mabury-Lewis, na década de 1960, exerceu forte influência na antropologia brasileira, reintroduzindo no país a obra do antropólogo nascido em Bruxelas, de acordo com Fernanda. Segundo ela, Mabury-Lewis participou naquele período do projeto Harvard-Brasil Central, realizado pelo Museu Nacional em parceria com a Universidade de Harvard (Estados Unidos).

Sob orientação de Fernanda, a mestranda Luiza Valentini está atualmente realizando uma pesquisa – com apoio da FAPESP – sobre a interação entre Lévi-Strauss, Dina Dreyfuss (sua esposa na época da missão francesa) e o escritor Mário de Andrade, que na década de 1930 empreendeu um amplo trabalho de campo sobre manifestações da cultura popular brasileira.

O trabalho tem base em documentação inédita da Sociedade de Cultura e Folclore dirigida por Andrade na época. “Mário de Andrade foi muito marcado por essa colaboração”, disse Fernanda.

Tristes trópicos

“Estudou na Universidade de Paris e demonstrou verdadeira paixão pelo Brasil, conforme registrado em sua obra de sucesso Tristes Trópicos, em que conta como sua vocação de antropólogo nasceu durante as viagens ao interior do país. Lévi-Strauss completaria 101 anos no fim deste mês”, divulgou a reitoria da USP em nota oficial.

Trajetória

Em 1927, Lévi-Strauss iniciou seus estudos em filosofia. Começou a lecionar em 1932. Em 1935, levado pelo “desejo da experiência vivida das sociedades indígenas”, como contou, aceitou lecionar na USP durante três anos. Nesse período, empreendeu diversas missões de estudo entre os índios Bororo e Nhambiquara, em companhia de sua esposa. O casal se separou em 1939, ao retornar à França. O antropólogo se casou novamente em 1945 e em 1954.

Banido do ensino em seu país, em decorrência das leis antissemitas da França ocupada do regime de Vichy (1940-1944), partiu para Nova York, onde teve contato com os surrealistas e se aproximou de Roman Jakobson, linguista que teve influência decisiva na construção de sua obra.

O pós-guerra foi um período instável para Lévi-Strauss, que publicou então suas primeiras obras de peso, ainda não reconhecidas. Foi adido cultural em Nova York e participou de missões da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) na Índia e no Paquistão. Em 1950, foi nomeado professor da Escola Prática de Altos Estudos da França.

Em 1955, publicou Tristes trópicos, um relato de suas viagens que se tornou ao mesmo tempo um sucesso literário e uma referência científica. Publicou Antropologia estrutural em 1958 e em 1959 assumiu o Departamento de Antropologia Social do Collège de France, passando a desenvolver atividade intensa como autor e organizador, que lhe valeram crescente reconhecimento internacional. Depois de O Pensamento selvagem (1962) e os quatro volumes de Mitologias, passou a ser reconhecido com um dos grandes autores do século 20.

Em 1973, foi eleito para a Academia Francesa. Em 1985, acompanhou o presidente francês François Mitterrand ao Brasil. Suas coleções de objetos foram expostas no Museu do Homem, em Paris, em 1989. Suas fotografias do Brasil foram editadas em 1994.

Fonte Agencia FAPESP
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terça-feira, 27 de outubro de 2009

105 anos do jornal L´Humanité, França - PCF

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L´HUMANITÉ
Novo look aos 105 anos

Por Leneide Duarte-Plon, de Paris em 27/10/2009

Ele vende em torno de 50 mil exemplares por dia, não é encontrado em todas as bancas de Paris, chega apenas às maiores cidades francesas mas tem um público fiel – comunistas ou simpatizantes, na grande maioria – que garante sua existência cada vez mais ameaçada.

Aos 105 anos, o jornal L´Humanité fez uma reforma gráfica e editorial para continuar brigando por seu lugar nas bancas. A última grande reforma do diário foi em 2003, poucos meses antes das comemorações do centenário, em 2004 [ver, neste Observatório, "L´Humanité: cem anos de engajamento"].

Este ano, o diário fundado por Jean Jaurès, em 18 de abril de 1904, resolveu consultar o leitorado antes de passar por uma reforma para se adaptar às exigências do leitor da era internet. Mas apesar de não ter mais a foice e o martelo no logotipo nem ser mais o "órgão oficial do Partido Comunista Francês", o L´Humanité não pretende ser um jornal neutro.

Na edição de 13 de outubro, quando estreava a nova diagramação, o ex-diretor da Redação Patrick Le Hyaric, eleito este ano deputado para o Parlamento Europeu pelo Partido Comunista, defendeu os partis pris do jornal. Entre eles estão a defesa da causa palestina, dos estrangeiros em situação irregular na França, ameaçados de expulsão, muitos deles para países em guerra (como os afegãos e os iraquianos, entre outros), a denúncia dos favores do governo aos bancos e a ameaça que a ideologia sarkozysta representa para o serviço público francês.

Trunfo maior


Como interatividade é a palavra-chave da comunicação da era da internet, o jornal ouviu os leitores, que responderam a um questionário opinando sobre o que deveria ser mantido e o que deveria mudar. Segundo a direção, essa consulta democrática ao leitorado é inédita entre os jornais diários. Há leitores que manifestaram o desejo de ver o jornal tão eclético e aberto que possa se tornar o jornal de leitores não-comunistas. Alguns pediram que o jornal não sacrifique o espaço concedido à cultura, que fale mais de desenvolvimento sustentável não-capitalista, e que tenha matérias mais curtas, em linguagem tão direta e clara quanto possível, para explicar os eufemismos e as manipulações do poder. E que faça mais matérias investigativas exclusivas.

O L´Huma nunca vendeu a falsa idéia de que faz jornalismo objetivo. Foi o "órgão oficial do Partido Comunista Francês" de 1920 a 1994 e, apesar de continuar sendo próximo do PCF, está aberto a todas as lutas da esquerda francesa, com oposição sistemática ao governo Sarkozy. A diagramação mudou, o jornal tem cores em todas as páginas, mas o espírito combativo do jornalismo de esquerda se manteve inalterado.

Em cada nova mudança, o L´Humanité foi se adaptando aos novos tempos. Em 1994, a menção "órgão central do PCF" foi substituída por "jornal do PCF". Em 1999, esse laço com o partido foi eliminado do jornal. O Partido Comunista continua sendo o editor, mas não dita a linha editorial. E os militantes do PCF vão para as ruas distribuir ou vender o jornal em frequentes campanhas de assinaturas. Outros contribuem financeiramente sempre que a situação financeira do diário é periclitante e que ele resolve lançar um apelo a subscrições.

Essa mobilização militante é o grande trunfo do jornal que tem nos eleitores comunistas o suporte para levar adiante a utopia de Jean Jaurès de um jornal "feito para transformar a sociedade" ou "trabalhar pela realização da humanidade".

Relação singular

No ano passado, o L´Humanité teve que se render aos fatos e colocou à venda a sede histórica do jornal, em Saint-Denis, ao norte de Paris, um belo projeto de Oscar Niemeyer, autor também do projeto da sede do Partido Comunista Francês.

Em maio de 2008, a redação abandonou o prédio de Niemeyer em que se instalara desde 1989 e passou a ocupar um imóvel situado perto do Stade de France.

Colocada à venda por 15 milhões de euros, a sede do jornal ainda não encontrou comprador, o que obrigou o diário a recorrer aos leitores para pagar dívidas, já que o jornal não tem anunciantes e conta como única fonte de renda a venda nas bancas e as doações dos leitores reunidos em uma "associação de amigos do L´Humanité".

Em menos de um mês, o jornal angariou mais de 1 milhão de euros doados por leitores engajados que mantêm com o cotidiano uma relação singular. Ser leitor do L´Huma é antes de tudo um ato militante. E nenhum desses leitores quer ver o jornal desaparecer do cenário da mídia francesa.

Extraído de Observatório da Imprensa - versão para impressão

ou página original da Web do Observatório da Imprensa
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segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Maurice Bazin, pioneiro na divulgação científica

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Morre o físico e educador francês Maurice Bazin, pioneiro na divulgação científica

22/10/2009

O intelectual trabalhou para criar formas de aproximar ciência e a comunidade, por meio de experiências pedagógicas de sucesso. Como consultor do Instituto Socioambiental (ISA), assessorou os povos indígenas do Alto Rio Negro no reencontro de suas etnomatemáticas.

Maurice Jacques Bazin (1934 -2009) nasceu na França e se formou na Escola Politécnica de Paris. Era Ph.D. em física nuclear experimental de altas energias pela Universidade Stanford, nos Estados Unidos; doutor em ciências pela Universidade de Paris; e doutor honorário da Open University, na Inglaterra.

Ele foi consultor do ISA, colaborando com o Programa Rio Negro. Com os Tuyuka, ajudou a produzir o "Guia para Continuar Pesquisando Nossa Maneira de Medir e Contar", na língua indígena, abordando conceitos matemáticos próprios da etnia.

Dono de interesses múltiplos, Bazin interagiu e participou de diversos projetos socioeducativos bem-sucedidos, a partir de iniciativas participativas, que buscam a distribuição do saber científico usando como ponto de partida situações da vida cotidiana, ao ar livre e em lugares públicos.

Até 1975, foi professor das Universidades de Princeton e Rutgers, nos Estados Unidos. Na décade de 1980 foi para o Rio de Janeiro, depois de dois anos como professor em Portugal, e trabalhou no Departamento de Física da Universidade Católica do Rio de Janeiro, dedicando-se à melhoria do sistema de ensino de física básica.

Foi pioneiro na divulgação científica, sendo um dos idealizadores e fundadores do primeiro museu interativo de Ciências do Rio de Janeiro, Espaço Ciência Viva, em 1983. No mesmo ano, em Campinas (SP), ajudou a tornar realidade o Museu História Viva. Membro do Instituto de Politica Linguistica (IPOL) assessorou o programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA) do município de Florianópolis (SC).

Faleceu na tarde da última segunda-feira, 19 de outubro, no Rio de Janeiro, em decorrência de complicações de uma cirurgia cardíaca. Deixa três filhos e uma filha adolescente.

Fonte: ISA, Instituto Socioambiental
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quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Da propriedade intelectual à economia do conhecimento

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Caros amigos,

O eixo central de geração de valor desloca-se do conteúdo material para o conteúdo de conhecimento incorporado aos processos produtivos. Com isso criou-se uma batalha ideológica e econômica em torno do direito de acesso ao conhecimento. O acesso livre e praticamente gratuito ao conhecimento e à cultura que as novas tecnologias permitem é uma benção e não uma ameaça. Constituem um vetor fundamental de redução dos desequilíbrios sociais e da generalização das tecnologias necessárias à proteção ambiental do planeta. Tentar travar o avanço deste processo, restringir o acesso a conhecimento e criminalizar os que dele fazem uso não faz o mínimo sentido. Faz sentido sim estudar novas regras do jogo capazes de assegurar um lugar ao sol aos diversos participantes do processo.

Publiquei recentemente no site (16.10), em Artigos Online, um artigo de 30 páginas sobre esse tema, Da propriedade intelectual à economia do conhecimento. O texto constitui antes de tudo uma sistematização dos argumentos, revisando alguns dos principais autores sobre o assunto.

Um abraço,
Ladislau


Recebido do Eminente Professor Economista Ladislau Dowbor* - contatoladislau@gmail.com
Em segunda-feira, 19 de outubro de 2009 09:40


Uma visita ao site do Professor é viagem de lucidez e comprometimento. Axé!

* Economista político graduado na Universidade de Lausanne, Suiça; Doutor em Ciências Econômicas pela Escola Central de Planejamento e Estatística de Varsóvia, Polônia (1976). Atualmente, é professor titular da pós-graduação da PUC-SP e presta consultoria para agências da ONU, governos e instituições.

Clique para ver seus artigos em Le Monde Diplomatique.

Você pode fazer seu cadastro para receber as novas produções do Professor. Envie um e-mail para contatoladislau@gmail.com

O Professor Ladislau Dowbor tem intensa produção editada, mas por questão de princípio disponibiliza tudo "livre para baixar" em seu site http://www.dowbor.org... Quem quiser publicar com ele, já sabe sobre isso, de antemão.

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Desemprego por desalento

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Desalento paulistano

19/10/2009 - Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Pessoas desempregadas há mais de um ano e que nos últimos 30 dias desistiram de procurar trabalho são enquadradas na situação de “desemprego por desalento”. Na Região Metropolitana de São Paulo, por exemplo, cerca de 121 mil indivíduos se encontravam nessa situação em agosto de 2009, segundo dados da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade).

Por que razões esses indivíduos tomam a decisão de interromper a busca pelo emprego? O que significa sociologicamente o desemprego por desalento? O que essa condição acarreta? Essas são questões que a socióloga Fabiana Jardim procura responder no livro Entre desalento e invenção: experiências de desemprego em São Paulo, que acaba de ser lançado.

O livro, que teve apoio da FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Publicações, é resultado do trabalho de mestrado de Fabiana, realizado entre 2002 e 2004 no Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP). O estudo, orientado pela professora Heloisa Helena de Souza Martins, foi feito com Bolsa da FAPESP.

De acordo com Fabiana, o estudo, cujo eixo central são entrevistas com pessoas que haviam passado pelo desemprego por desalento, concluiu que o significado sociológico dessa condição está ligado às dificuldades experimentadas para interpretar o significado e o sentido das rápidas mudanças ocorridas no mundo do trabalho nas últimas décadas.

“A pesquisa teve origem em um certo desconcerto com essa categoria. Eu queria compreender como se dá essa interrupção pela busca do emprego. E entender seu significado não apenas do ponto de vista estatístico, em relação ao dinamismo do mercado de trabalho, mas da perspectiva dos efeitos sobre as pessoas e sobre sua adesão aos valores do trabalho”, disse à Agência FAPESP.

Segundo Fabiana, o desemprego por desalento é uma categoria estatística utilizada pela Fundação Seade e pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) desde 1984. O objetivo principal de sua adoção era incluir nas estatísticas de desemprego pessoas que, ao interromper a busca por emprego, não eram consideradas desempregadas pelos critérios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por exemplo.

“Em um mercado de trabalho tão heterogêneo como o nosso, o desemprego aberto é uma categoria que acaba não retratando todas as situações de privação de trabalho. O desemprego por desalento foi, então, uma tentativa de contabilizar formas de desemprego oculto. Assim como as pessoas que estão trabalhando por horas insuficientes e com rendimentos insuficientes passaram a ser classificadas como casos de desemprego oculto por trabalho precário”, explicou.

Fabiana realizou o trabalho de campo entre 2002 e 2004, no Centro de Solidariedade de Osasco (SP), onde entrevistou pessoas que, em algum momento de suas trajetórias, haviam passado pela condição de desemprego oculto pelo desalento.

“Como as informações são sigilosas, não seria possível identificar as pessoas classificadas pelo Seade nessa categoria naquele momento preciso. Fui, então, a esse local de procura de emprego e ali, conversando, pude identificar quem estava desempregado há mais de um ano”, contou.

A categoria de desemprego oculto por desalento, segundo Fabiana, é bastante específica: são desempregados há mais de 12 meses que interromperam a busca no período de referência de 30 dias – mas que procuraram emprego em algum momento do período de um ano.

“Ao todo, fiz a análise de sete histórias de vida: um homem adulto, duas mulheres e quatro jovens, sendo uma mulher e três homens. O desemprego por desalento acaba incluindo nas estatísticas aqueles que estão nas fronteiras da categoria do desemprego – e por isso incide particularmente em mulheres e jovens”, disse.

Desemprego recorrente

Em um dos capítulos, intitulado Uma vida de trabalho, a autora se detém sobre a história de “José”, que, segundo ela, tem características que tornam possível a discussão dos aspectos mais típicos de trajetórias de trabalho iniciadas em meados da década de 1970 e resultaram, no início do século 21, em casos de desalento.

“Como a maior parte dos homens que entrou no mercado de trabalho nos anos 1970, José sempre conseguiu circular no mercado de trabalho formal sem muita dificuldade, mesmo não tendo profissão definida. Mas, desempregado em 2002, ele toma a decisão de desistir de procurar emprego. O motivo é que não consegue entender a nova dinâmica de busca pelo trabalho”, disse a socióloga.

Segundo Fabiana, a história corrobora estudos realizados por autores como Nadya Guimarães – pesquisadora do Centro de Estudos da Metrópole (CEM), um dos Centros de Pesquisa Inovação e Difusão (Cepids) da FAPESP – que revelaram uma mudança de padrões no mundo do trabalho: do emprego recorrente, passa-se para um padrão de desemprego recorrente.

“José não consegue mais entender como procurar emprego. Em décadas anteriores, ele passava pelas fábricas, tinha contato direto com os empregadores e conseguia uma vaga ao mostrar disposição para trabalhar. Mas atualmente o funcionamento desse mercado é diferente. É preciso ir às agências de emprego – o que, para homens desempregados e com mais de 40 anos, é uma grande angústia. Vários entrevistados diziam ir às agências apenas porque era preciso fazer algo. Mas, ao preencher a ficha, já percebiam que estavam fora do perfil do trabalhador ideal”, disse.

No caso de José, segundo Fabiana, o desalento traduz sociologicamente uma dificuldade específica de um momento de transição do mercado de trabalho, da reestruturação produtiva e da emergência das novas formas de intermediação.

“A pessoa acaba desistindo do jogo, porque não conhece suas novas regras. Essa mudança na lógica do trabalho e do emprego ocorreu especialmente em meados da década de 1990, com a proliferação das agências de emprego. Isso de alguma forma também está ligado ao processo de privatização”, disse.

Entre os jovens, segundo Fabiana, o desalento já tem outro significado: alguns desistem por cansaço e revolta. “Eles reclamam que têm escolaridade, têm segundo grau completo, têm cursos de qualificação. Mas manifestam desânimo ou raiva porque, mesmo com essa qualificação, não conseguem trabalho. É como se seguissem à risca as regras do jogo, mas fossem trapaceados por um sistema irracional, aleatório, dependente da sorte”, sugeriu.


Entre desalento e invenção: experiências de desemprego em São Paulo
Autora: Fabiana Jardim / 2009 / R$ 30 ; Páginas.: 238
Mais informações: www.annablume.com

extraído de Agencia FAPESP
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quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Trabalho morto: Marx e Lênin mereceriam Nobel de Economia

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Trabalho morto: Marx e Lênin mereceriam Nobel de Economia

13/10/2009 - Copyleft

Marx previu a miséria crescente dos trabalhadores e Lênin previu a subordinação da produção de bens à acumulação de lucros do capital financeiro com a compra e venda de instrumentos de papel. As suas previsões são de longe superiores aos "modelos de risco" aos quais tem sido atribuído o Prêmio Nobel e estão mais próximos da moeda do que as previsões do presidente do Federal Reserve, de secretários do Tesouro dos EUA e de economistas nobelizados tais como Paul Krugman, o qual acredita que mais crédito e mais dívida são a solução para a crise econômica. A análise é de Paul Craig Roberts.

Paul Craig Roberts (*) - Counterpunch

Data: 13/10/2009

"O capital é trabalho morto, o qual, como um vampiro, vive apenas para sugar o trabalho vivo, e quanto mais sobreviver, mais trabalho sugará". (Karl Marx)

Se Karl Marx e V. I. Lênin hoje estivessem vivos, seriam os principais candidatos ao Prêmio Nobel de Ciência Econômica.

Marx previu a miséria crescente dos trabalhadores e Lênin previu a subordinação da produção de bens à acumulação de lucros do capital financeiro com a compra e venda de instrumentos de papel. As suas previsões são de longe superiores aos "modelos de risco" aos quais tem sido atribuído o Prêmio Nobel e estão mais próximos da moeda do que as previsões do presidente do Federal Reserve, de secretários do Tesouro dos EUA e de economistas nobelizados tais como Paul Krugman, o qual acredita que mais crédito e mais dívida são a solução para a crise econômica.

Na primeira década do século XXI não houve qualquer aumento no rendimento real dos trabalhadores americanos. Houve sim um declínio agudo na sua riqueza. No século XXI os americanos sofreram dois grandes crashes no mercado de acções e a destruição da sua riqueza imobiliária.

Alguns estudos concluíram que os rendimentos reais dos americanos, excepto para a oligarquia financeira dos super ricos, são menores hoje do que na década de 1980 e mesmo da de 1970. Não examinei estes estudos de rendimento familiar para determinar se eles foram enviesados pelo aumento nos divórcios e pela percentagem de famílias monoparentais. Contudo, durante a última década é claro que o salário líquido real declinou.

A causa principal deste declínio é a deslocalização (offshoring) de empregos americanos de alto valor acrescentado. Tanto empregos na manufatura como em serviços profissionais, tais como engenharia de software e trabalho com tecnologia de informação, foram relocalizados em países com forças de trabalho grandes e baratas.

A aniquilação de empregos classe média foi disfarçada pelo crescimento na dívida do consumidor. Quando os rendimentos dos norteamericanos cessaram de crescer, a dívida do consumidor expandiu-se para substituir o crescimento do rendimento e manter a procura do consumir em ascensão. Ao contrário de aumentos nos rendimentos do consumidor devidos ao crescimento da produtividade, há um limite para a expansão do endividamento. Quando aquele limite é atingido, a economia cessa de crescer.

A pauperização dos trabalhadores não resultou do agravamento de crises de super-produção de bens e serviços mas sim do poder do capital financeiro para forçar a relocalização da produção para mercados internos em terras estrangeiras. As pressões da Wall Street, incluindo pressões de tomadas de controle (takeovers), forçaram firmas manufatureiras americanas a "aumentar os rendimentos dos acionistas". Isto foi feito pela substituição de trabalho americano por trabalho barato estrangeiro.

Corporações deslocalizadas ou que passam a encomendar fora a sua produção manufactureira, divorciando portanto os rendimentos dos americanos da produção dos bens que eles consomem. O passo seguinte no processo aproveitou-se da alta velocidade da Internet para mover empregos em serviços profissionais, tais como engenharia, para fora. O terceiro passo foi substituir o resto da força de trabalho interna por estrangeiros trazidos para cá a um terço do salário com o H-1B [1] , L-1 [2] e outros vistos de trabalho.

Este processo pelo qual o capital financeiro destruiu as perspectivas de emprego de norteamericanos foi endossado pelo economistas do "livre mercado", os quais receberam privilégios pela deslocalização de firmas em troca da propaganda de que os americanos beneficiar-se-ia com uma "Nova Economia" baseada em serviços financeiros, e pelos seus sócios no negócio da educação, os quais justificavam vistos de trabalho para estrangeiros com base na mentira de que a América produz poucos engenheiros e cientistas.

Nos dias de Marx, a religião era o ópio das massas. Hoje são os media. Basta ver a informação dos media que facilita a capacidade da oligarquia financeira de iludir o povo.

A oligarquia financeira está a anunciar uma recuperação enquanto o desemprego nos EUA e os arrestos de lares estão em aumento. Este anúncio deve a sua credibilidade às altas posições de onde vêem, aos problemas de informação sobre folhas de pagamento que exageram o emprego e à eliminação para dentro do buraco da memória de qualquer americano desempregado durante mais de um ano.

Em 2 de Outubro o estatístico John William do www.shadowstats.com informou que o Bureau of Labor Statistics havia anunciado uma revisão da sua estimativa preliminar do indicador anual do emprego em 2009. O BLS descobriu que o emprego em 2009 fora super-declarado em cerca de um 1 milhão de postos de trabalho. John Williams acredita que a diferença foi realmente de dois milhões de postos de trabalho. Ele informa que "o modelo nascimento-morte actualmente acrescenta [um ilusório] ganho líquido de cerca de 900 mil empregos por ano à informação sobre emprego".

O número de empregos nas folhas de pagamentos não agrícolas é sempre a manchete da informação. Contudo, Williams acredita que o inquérito às famílias de desempregados é estatisticamente mais correcto do que o inquérito às folhas de pagamento. O BLS nunca foi capaz de reconciliar a diferença nos números nos dois inquéritos ao emprego. Na sexta-feira passada, o número de empregos perdidos apresentado nas manchetes era de 263 mil para o mês de Setembro. Contudo, o número no inquérito às famílias era de 785 mil empregos perdidos no mês de Setembro.

A manchete da taxa de desemprego de 9,8% é uma medida reduzida ao essencial que em grande medida subdeclara o desemprego. As agências de informação do governo sabem disto e relatam outro número de desempregados, conhecido como U-6. Esta medida do desemprego nos EUA fixava-se nos 17% em Setembro de 2009.

Quando os trabalhadores desencorajados pelo desemprego a longo prazo são acrescentados outra vez ao total dos desempregados, a taxa de desemprego em Setembro de 2009 eleva-se a 21,4%.

O desemprego de cidadãos americanos poderia realmente ser ainda mais alto. Quando a Microsoft ou alguma outra firma substitui milhares de trabalhadores americanos por estrangeiros com vistos H-1B, a Microsoft não relata um declínio de empregados na folha de pagamento. No entanto, vários milhares de americanos ficam então sem empregos. Multiplique isto pelo número de firmas dos EUA que estão apoiar-se em companhias estrangeiras fornecedoras de mão-de-obra para tecnologia de informação ("body shops") para substituir a sua força de trabalho americana com trabalho barato estrangeiro ano após ano e o resultado são centenas de milhares de desempregados americanos não relatados.

Obviamente, com mais de um quinto da força de trabalho americana desempregada e os remanescentes enterrados em hipotecas e dívidas de cartões de crédito, a recuperação económica não está no quadro.

O que está acontecendo é que as centenas de milhares de milhões de dólares de dinheiro do TARP dado aos grandes bancos e os milhões de milhões (trillions) de dólares que foram acrescentados ao balanço da Reserva Federal foram despejados no mercado de acções, produzindo uma outra bolha, e na aquisição de bancos mais pequenos por bancos "demasiado grandes para falir". O resultado é mais concentração financeira.

A expansão da dívida subjacente a esta bolha corroeu novamente a credibilidade do dólar como divisa de reserva. Quando o dólar começar a ir, tomadores de decisão em pânico elevarão as taxas de juros a fim de proteger a capacidade de contração de empréstimos do Tesouro. Quando as taxas de juros ascendem, o que resta da economia dos EUA afundará.

Se o governo não pode contrair empréstimos, ele imprimirá dinheiro para pagar as suas contas. A hiper-inflação atingirá a população norteamericana. O desemprego maciço e a inflação maciça infligirão ao povo norteamericano uma miséria que nem mesmo Marx e Lênin poderiam conceber.

Enquanto isso, economistas da América continuam fingindo que estão lidando com uma recessão normal do pós-guerra que requer meramente uma expansão da moeda e do crédito a fim de restaurar o crescimento econômico. 07/Outubro/2009

[1] H-1B: categoria de visto para não imigrantes que permite ao patronato dos EUA procurar ajuda temporária de estrangeiros qualificados que tenham bacharelado.

[2] L-1: documento de visto para entrar nos EUA como não imigrante e válido por períodos de tempo de até três anos. São geralmente concedidos para empregados de companhias internacionais com escritórios nos EUA.

[*] Ex-secretário assistente do Tesouro na administração Reagan, co-autor de The Tyranny of Good Intentions. (PaulCraigRoberts@yahoo.com)

O original encontra-se em http://www.counterpunch.org/roberts10072009.html

Este artigo (em português) encontra-se em http://resistir.info/.

Extraído de Carta Maior - versão impressão

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