domingo, 5 de julho de 2009

Crises da Crise

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A volta das camisas negras
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por Michelle Amaral da Silva última modificação 30/06/2009 11:15
Colaboradores: Kostis Damianakis


Crise e o aumento do fascismo Europa

23/06/2009

Kostis Damianakis*

Analistas apontam no último ano, que a atual crise sistêmico-econômica que veio numa conjuntura de crise generalizada (ambiental, alimentar, energética) é uma reflexão do período que precedeu a segunda guerra mundial. A incerteza político-financeira na Europa nas décadas 1920-1930 culminou com o aparecimento de ideologias que saíram do mesmo molde de proteção da identidade nacional e cristã dos estados, pela ameaça de uma nova teoria de emancipação da classe trabalhadora que nesta época surgia com o estabelecimento do comunismo na União Soviética. O fascismo e o nacional-socialismo (nazismo) na Itália e Alemanha, o falangismo na Espanha, entre outros “muros” ideológicos, foram erguidos e deram o exemplo para a construção literal deles mais adiante como em Berlim e ainda hoje na sa(n)grada terra de Palestina onde o estado Sionista constrói o muro da vergonha.

Algumas das políticas propostas e já adotadas para sair da crise atual também são reflexões do ambiente sombrio antes da Segunda Guerra Mundial. Como por exemplo, o aumento do corporativismo econômico e do protecionismo estatal, que hoje parece uma farsa sendo praticados por países como os EUA que há décadas pregaram e impuseram o neoliberalismo e o livre comércio como a evolução natural de um mundo dito democrático e igualitário. Ao mesmo tempo aumenta hipocritamente o controle do estado no setor financeiro e de comunicação, fato que não seria necessariamente negativo se não visasse apenas na garantia dos lucros para as elites e o controle da informação que chega à sociedade.

Os estados europeus especificamente, hoje utilizam este poder de controle para convencer as partes da sociedade ainda cientes, que uma das soluções de curto prazo para amenizar os impactos da crise é “devolver” os imigrantes, ou seja, o “excedente” da classe trabalhadora para sua terra originária. Os governos nacionais e a União Européia estão elaborando as medidas para implementar este “grande êxodo” inverso há muito tempo. A crise chegou num momento oportuno e já dezenas de aviões estão sendo fretados com destino ao oriente e à África, cheios pela metade de imigrantes e a outra metade de policiais. A mão-de-obra “de programa” que vem de países destruídos pela guerra ou pelas políticas neoliberais impostas pelos EUA e União Européia através do Banco Mundial e do FMI, recebe até mil euros “de brinde” supostamente para começar uma vida nova na sua terra natal, mesmo que tenham que pagar até dez vezes a mais aos traficantes de pessoas para chegar na Europa.

Esta campanha conta também com a maioria dos garotos-de-ouro do jornalismo, que com reportagens e artigos sensacionalistas elevam o Goebelismo em outros patamares. As palavras nos Jornais Nacionais das nove, desde Madri até Atenas, perdem seu sentido individual e formam duplas inseparáveis no subconsciente da sociedade: crise-crime (uma que fomenta o outro), luta-lucros (necessária para voltar a ter), iminente-imigrantes (a perda do caráter nacional por causa deles), segregação-segurança (uma como condição para a outra), amenizar-ameaça (através de perseguição, mouros e cercas), oriundos-oriente (os problemas sempre dali), emprego-empobrecimento (o primeiro hoje não exclui a possibilidade do outro), policiamento-política (o único jeito de fazer).

Não é de surpreender então que um mês antes das eleições do Parlamento Europeu no começo de Junho, pesquisas de opinião pública em vários países apontaram que entre 50% e 70% da população desejam a redução nos números de imigrantes trabalhadores. A reflexão disso nas urnas, fomentada, dizem alguns, pelo maior índice de abstenção (57%) desde a primeira eleição em 1979, foi o reforço da direita (Partido dos Povos +8%) e a disparada da extrema direita (+14%) em quase todos os 27 países da União Européia. Ao mesmo tempo os ditos socialistas da espécie do partido trabalhista da Inglaterra, perderam 18% das suas cadeiras no parlamento.

É uma situação constrangedora para o velho continente que traz a reflexão se isto é um vestido xenofóbico e racista da sociedade européia ou é sua pele mesmo. A mesma, envergonhada, defende a primeira hipótese no caso da forçada expulsão em meados de junho de 100 imigrantes Romenos de Belfast da Irlanda do Norte, após ataques com pedras e tijolos por jovens desempregados e desiludidos com as políticas implementadas após a reconciliação de protestantes e católicos. O mesmo defende no caso do espancamento e amarramento atrás de uma moto em movimento de dois imigrantes de Bangladesh suspeitos de roubo de comida também neste mês de junho, na Grécia, a antiga terra do conceito do estrangeiro sagrado. O mesmo defende a sociedade européia no caso do Partido Nacional da República Checa que na propaganda eleitoral neste Junho também, exigiu uma “solução final” para o problema dos ciganos como se não fossem suficientes os mais de meio milhão de mortos ciganos nos campos de concentração nazistas.

O que talvez alerta que tudo isto não é apenas um vestido, mas sim uma velha e conhecida pele, é o caso da Itália do corrupto magnata e hoje Primeiro Ministro Berlusconi, que conseguiu a absorção dos fascistas da Itália, liderados por Gianfranco Fini na Casa das Liberdades, o seu partido. O Fini, líder da fascista Aliança Nacional, atual Presidente da Câmara dos Deputados e herdeiro político do Mussolini, está prestes a herdar mais uma dinastia após a aposentadoria do seu novo padrinho, do Berlusconi. Este que fez a caça de imigrantes uma política central do seu governo, e teve ganhos consideráveis nas eleições européias mesmo mergulhado ate o pescoço em escândalos financeiros e pessoais. Tudo isto acontece ao mesmo período que o governo prepara uma medida provisória que permitiria o patrulhamento de grupos de voluntários como da Guarda Nacional Italiana nas ruas de cidades e vilarejos, para ajudar na detenção de imigrantes ilegais. O fato que os uniformes da Guarda Nacional lembram muito as fascistas Camisas Negras do Mussolini, a sociedade européia envergonhada, afirma que é uma mera coincidência.

**Camisas Negras: Grupo voluntário paramilitar de segurança nacional formado na década de 1920 pelos fascistas Italianos.

* Kostis Damianakis é membro do Movimento de Atingidos por Barragens.

Fonte: Brasil de Fato

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