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sábado, 13 de agosto de 2011

SEAF - chamada para publicação 2012


A Revista de Filosofia SEAF é uma publicação da SEAF, em co-edição com a Editora Uapê e está aberta à colaboração de todos os associados, estudiosos de Filosofia.
  • A próxima Revista a ser lançada é a de nº 10/2010 e é um desmembramento da chamada anterior que rendeu os nºs 09 e 10 da Revista com o tema: "Marxismo".
  • A Revista 09 já foi lançada e pode ser conhecida e adquirida AQUI. E o lançamento da nº 10 está previsto para a 2ª quinzena de setembro/2011.  A confirmação da data, você pode solicitar pelo e-mail editorauape@terra.com.br ou falando com a SEAF.

    Esta chamada para a Revista SEAF 2012 se refere à de nº 11 e o tema é livre.  A data limite para o recebimento dos trabalhos é dia 10 de dezembro de 2011

    Serão aceitos artigos de natureza crítica ou informativa, resenhas / divulgação de lançamentos, pesquisas e outras comunicações que sejam considerados de relevância filosófica.


    A redação (que já deve ser encaminhada com a revisão do autor) deve ser apresentada:

    a – em espaço simples
    b - processador de textos Microsoft Word for Windows – ou similar Linux ou Mac
    c - fonte Times New Roman 12
    d – de 8 a 10 laudas
    e - as citações deverão remeter às referências bibliográficas ao final do texto, assim como a bibliografia utilizada, devendo obedecer às normas da ABNT (conforme abaixo).
    f – contendo “Resumo” de até 5 linhas, em português e em uma língua estrangeira (a critério do/a autor/a).

    Os trabalhos devem ser encaminhamos para os endereços de e-mail seaf_filosofia@yahoo.com.br, com cópia para
    editorauape@terra.com.br até o dia 10 de dezembro de 2011.

    Recebimento: Para cada artigo recebido, será encaminhada uma resposta, para o endereço de e-mail emissor, confirmando o recebimento. Caso não receba confirmação em até 72 horas, solicitamos encaminhar o artigo novamente.

    Previsão da publicação: 1º semestre 2012

    Os trabalhos serão submetidos ao Comitê Editorial e, uma vez aprovados, serão publicados na Revista, de acordo com as normas da ABNT. Solicitamos atualizar o texto em conformidade com o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

    Seja associado da SEAF

    Como é de seu conhecimento, a SEAF – Associação de Estudos e Atividades Filosóficos – é uma instituição sem fins lucrativos e mantida pelos/as sócios/as. A Revista é uma das respostas ao empenho de participação que requer uma contribuição financeira de cada associado/a. A contribuição é anual e o valor de cento e vinte Reais (R$ 120,00). Entre em contato para a Ficha de Filiação e orientações sobre depósito - seaf_filosofia@yahoo.com.br

    AQUI  Para conhecer/pedir a Revista SEAF

    ABNT

    Como fazer referências: bibliográficas, eletrônicas e demais formas de documentos - Maria Bernardete Martins Alves e Susana Margareth Arruda - Atualizada em fev. de 2007, conforme NBR-6023/2002
    http://bu.ufsc.br/framerefer.html

    Guia de Normalização ABNT para Referências e Citações - Biblioteca Central Cesar Lattes, UNICAMP. 2008
    http://www.bibli.fae.unicamp.br/download/apostila_abnt.pdf

    Mecanismo online para referências – Gerador automático de Referências
    http://more.rexlab.ufsc.br/ 

    Informações Técnicas em Documentação - Referências em Documentos Eletrônicos
    http://bibliotecafaecsenarce.wordpress.com 

    Citações e referências a documentos eletrônicos
    http://www.quatrocantos.com/tec_web/refere/1CONSID.HTM inclui diferentes línguas

    Ou no Domínio Público

    Apresentação de trabalhos acadêmicos de acordo com as normas de documentação da ABNT: informações básicas - Patrícia de Oliveira Portela – última atualização 2005
    http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=14025

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    Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa

    Consulta palavras Michaelis UOL
    http://michaelis.uol.com.br/novaortografia.html

    Texto do Acordo – Completo – [18 páginas quando salvo em PDF]
    http://www.necco.ca/faq_acordo_ortografico.htm#base_XIV

    Conversor rápido 1. Coloque a palavra e clique para verificar
    http://www.flip.pt/FLiPOnline/ConversorparaoAcordoOrtográfico/tabid/566/Default.aspx

    Conversor rápido 2. Coloque a palavra ou parágrafo e clique para verificar
    http://ramonpage.com/ortografa/
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    Todos os links foram acessados neste dia de postagem - 13/08/2011 - 13h47m - hora do Brasil.
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    sábado, 22 de janeiro de 2011

    Filosofia e Meio Ambiente

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    Conferência "Filosofia e Meio Ambiente",
    com Raimundo Nonato Damasceno,
    no XIV Encontro Estadual de Professores/as de Filosofia,
    promovido pela SEAF.


    Este XIV Encontro Estadual de Professores/as de Filosofia
    SEAF 2010 teve o patrocínio de

    Gravado em 23 de setembro de 2010, na UERJ.





    • Raimundo Nonato Damasceno é Doutor em Química pela PUC-RJ; Coordenador do Núcleo de Estudos em Biomassa e Gerenciamento de Águas da Universidade Federal Fluminense (NAB/UFF)
    • Gravação e edição - pela gentileza e compromisso com o conhecimento - de Diego Felipe de Souza Queiroz; Professor de Filosofia na Rede Estadual de Ensino - RJ e parceiro da SEAF; a quem muito agradecemos. Partes de 1 a 5.
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    sábado, 31 de julho de 2010

    SEAF - chamada para publicação 2010

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    A Revista de Filosofia SEAF é uma publicação da SEAF, em co-edição com a Editora Uapê e está aberta à colaboração de todos os associados, estudiosos de Filosofia.

    A próxima Revista a ser editada é a de nº 9/2010 e tem como tema: "Marxismo".

    Serão aceitos artigos de natureza crítica ou informativa, resenhas / divulgação de lançamentos, pesquisas e outras comunicações que sejam considerados de relevância filosófica.


    Revista SEAF 8
    - Clique para ampliar
    e visualizar textos e autores

    A redação (que já deve ser encaminhada com a revisão do autor) deve ser apresentada:

    a – em espaço simples
    b - processador de textos Microsoft Word for Windows – ou similar Linux ou Mac
    c - fonte Times New Roman 12
    d – de 8 a 10 laudas
    e - as citações deverão remeter às referências bibliográficas ao final do texto, assim como a bibliografia utilizada, devendo obedecer às normas da ABNT (veja abaixo).
    f – contendo “Resumo” de até 5 linhas, em português e em uma língua estrangeira (a critério do/a autor/a).

    Os trabalhos devem ser encaminhamos para os endereços de e-mail seaf_filosofia@yahoo.com.br, com cópia para
    editorauape@terra.com.br até o dia 30 de setembro de 2010.

    Recebimento: Para cada artigo recebido, será encaminhada uma resposta, para o endereço de e-mail emissor, confirmando o recebimento. Caso não receba confirmação em até 72 horas, solicitamos encaminhar o artigo novamente.

    Previsão da publicação: final de 2010

    Os trabalhos serão submetidos ao Comitê Editorial e, uma vez aprovados, serão publicados na Revista, de acordo com as normas da ABNT. Solicitamos atualizar o texto em conformidade com o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

    Seja associado da SEAF

    Como é de seu conhecimento, a SEAF – Sociedade de Estudos e Atividades Filosóficos – é uma instituição sem fins lucrativos e mantida pelos/as sócios/as. A Revista é uma das respostas ao empenho de participação que requer uma contribuição financeira de cada associado/a. A contribuição é anual e permanece com o valor de cem Reais (R$ 100,00). Entre em contato para a Ficha de Filiação e orientações sobre depósito - seaf_filosofia@yahoo.com.br

    Para conhecer/pedir as Revistas já publicadas:

    Revista de Filosofia SEAF nº 1 - número ESGOTADO
    Revista de Filosofia SEAF nº 2 - número ESGOTADO
    Revista de Filosofia SEAF nº 3
    Revista de Filosofia SEAF nº 4
    Revista de Filosofia SEAF nº 5
    Revista de Filosoifa SEAF nº 6
    Revista de Filosofia SEAF nº 7
    Revista de Filosofia SEAF nº 8
    [Link de editoras para aquisição, sem oferta de volume. Constatado em 13/08/2011. Para adquirir, acesse a Editora UAPÊ ou pelo E-Mail]

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    Como fazer referências: bibliográficas, eletrônicas e demais formas de documentos - Maria Bernardete Martins Alves e Susana Margareth Arruda - Atualizada em fev. de 2007, conforme NBR-6023/2002
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    Guia de Normalização ABNT para Referências e Citações - Biblioteca Central Cesar Lattes, UNICAMP. 2008
    http://www.bibli.fae.unicamp.br/download/apostila_abnt.pdf

    Mecanismo online para referências – Gerador automático de Referências
    http://more.rexlab.ufsc.br/

    Normas para citações de referências bibliográficas de fontes oriundas da Internet
    http://www.agricultura.gov.br/portal/page?_pageid=33,959169&_dad=portal&_schema=PORTAL
    [Link fora do ar. Constatado em 13/08/2011]

    Citações e referências a documentos eletrônicos
    http://www.quatrocantos.com/tec_web/refere/1CONSID.HTM inclui diferentes línguas

    Ou no Domínio Público

    Apresentação de trabalhos acadêmicos de acordo com as normas de documentação da ABNT: informações básicas - Patrícia de Oliveira Portela – última atualização 2005
    http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=14025

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    Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa

    Consulta palavras Michaelis UOL
    http://michaelis.uol.com.br/novaortografia.html

    Texto do Acordo – Completo – [18 páginas quando salvo em PDF]
    http://www.necco.ca/faq_acordo_ortografico.htm#base_XIV

    Conversor rápido 1. Coloque a palavra e clique para verificar
    http://www.flip.pt/FLiPOnline/ConversorparaoAcordoOrtográfico/tabid/566/Default.aspx

    Conversor rápido 2. Coloque a palavra ou parágrafo e clique para verificar
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    Todos os links foram acessados no dia desta postagem.

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    domingo, 6 de junho de 2010

    Prêmio Dardos

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    Com muita satisfação, o Blog da SEAF recebeu, na quarta-feira, 12 de maio de 2010, o selo do Prêmio Dardos.

    O selo foi oferecido por Célio Roberto Pereira, um “Professor aprendendo a apreender”, nascido na periferia (e ainda morando nela! - Porto União, SC) autor do Blog Outra História [e que havia sido reconhecido pela Artista Plástica, poeta, fotógrafa e autora do blog Extremamente Tênue].

    É um selo importante pois é reconhecimento a blogueiros/as que levam a vida a sério, também na blogosfera.

    Apesar de Célio Roberto, informar que o “selo foi uma criação do Junior Vilanova, do blogue “Contatos Imediatos”, e da Olga, do blogue “Pensamentos, Ideias e Sonhos”, a SEAF visitou o “Contatos Imediatos – da poesia ao caos” e o próprio Junior Vilanova também ganhou o Prêmio Dardos de uma amiga blogueira.

    Nosso “gênio” da pesquisa nos levou a “Prêmio Dardos…. e um mistério!” e também a Tracing the Premio Dardo.

    Talvez o Prêmio Dardos possa ser um indemonstrável, como os axiomas ou os dogmas; ou mesmo regras de jogos. O fato é que é uma maneira de DEMONSTRAR nossa admiração e confraternizar com amigos e amigas, blogueiras e blogueiros que perseveram na transmissão de valores estéticos, culturais, éticos, libertários, de direitos, em uma palavra: de verdade; e que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto em suas letras, palavras, postagens.

    E seguindo algumas regras, após o recebimento deste selo, devemos:

    a) exibir a imagem do selo em seu blog;
    b) postar um link para o blog que o/a escolheu;
    c) escolher outros quinze blogs a quem entregar o prêmio;
    d) avisar aos escolhidos.

    Os escolhidos de SEAF - como forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agrega valor à Web e, especialmente, eleva cada leitor/a, visitante, seguidor/a; e ainda considerando que a Filosofia é busca do sentido da realidade - da diversidade da realidade - são, por ordem alfabética, e não sem deixar outros blogs admirados para próxima oportunidade:


    terça-feira, 6 de abril de 2010

    A História da SEAF ou a SEAF na História - 2

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    Os filósofos e a sua preocupação

    Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 09 de agosto de 1980

    Qual é o papel da filosofia nos dias de hoje?

    A julgar pelo grupo de professores que em fins do ano passado criou a regional do Paraná da Sociedade de estudos e Atividades Filosóficas, deve ser importante a participação dos profissionais da área na discussão dos problemas contemporâneos. Tanto é que o grupo de professores reuniu-se para editar uma revista de estudos, intitulada "Textos" (100 páginas, composta na Editora Litero-Técnica), que terá lançamento oficial segunda-feira, às 17h30 min, na Livraria Nova Ordem, de Aramis Chaim, o mais estimado (e bem relacionado) livreiro da cidade. Os professores Emmanuel José Appel e Suzana Munhoz da Rocha Guimarães são os coordenadores de "Textos SEAF", que neste primeiro número traz estudos de Beatriz Cunali ("o lugar do progresso na pedagogia kantiana e a aufklarung"), Emmanuel Appel ("notas para uma teoria da educação"), Inês Lacerda Araújo ("Alguns aspectos da semântica situacional de Ducrot"), Marilena de Sousa Chaui ("Sartre ou da liberdade"), Maria José Justino ("O saber e a dominação"), Suzana Munhoz da Rocha Guimarães ("A educação na perspectiva da ideologia liberal") e César Augusto Ramos ("Autoritarismo e repressão sexual segundo Wilhelm Reich").
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    Se a revista, pelo seu próprio conteúdo, se destina a uma faixa específica de leitores e interessados, a apresentação da SEAF Sociedade de Estudos e Atividades Filosóficos, se posiciona de forma franca e positiva. O editorial diz que a entidade "constitui-se em resposta à necessidade e questionamentos próprios do que fazem e pensam a filosofia, sua validade e sua função social. Fundada no Rio de Janeiro, em 1976, obteve imediata ressonância em vários Estados, que criaram suas regionais. No Paraná, ela é nova. Surge em fins de 1979, da urgência em conquistar para a filosofia um ambiente onde possa mover-se sem amarras, livre dos burocratas que asfixiam o lugar acadêmico, das interferências nocivas, das vigilâncias.

    Surge a SEAF no Paraná como alternativa para repensar a filosofia, que vimos quase abatida, relegada ao trato de miudezas, reduzida a um saber ornamental, suprimida do ensino secundário e subsistindo como apêndice em algumas escolas superiores, por obra e graça daqueles que promovem sua agonia e se ocupam de cochichar aos ouvidos do principe".

    No editorial, queixam-se ainda os filósofos paranaenses: "Além disso, vemos muitas vezes os conceitos teóricos com os quais trabalhos serem revestidos de uma falsa universalidade que os distancia da realidade por nós vivida, desviando-se do objeto que apontam e esvaziando-os de todo o conteúdo. Entendemos que se deve tocar o real para poder apreendê-lo, surpreendendo as relações sociais que o atravessam. É sobre o real e suas contradições que nos devemos nos debruçar, procurando decifrar-lhe as entranhas e o sentido, contribuindo para sua transformação".
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    A quem interessar possa, maiores detalhes podem ser obtidos com a SEAF, caixa postal 21, Curitiba, Paraná.
    Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
    Veiculo: Estado do Paraná
    Caderno ou Suplemento: Nenhum
    Coluna ou Seção: Tablóide
    Página: 8
    Data: 09/08/1980

    Extraído de Tabloide Digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch, em 06 de abril de 2010, a quem agradecemos.


    sexta-feira, 4 de setembro de 2009

    A História da SEAF ou a SEAF na História - 1

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    Um pouco das referências à importância da SEAF: no período de seu aparecimento; como provocadora do retorno da Filosofia ao ensino médio; em articulação nacional e... continuando hoje...

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    ... Aqui chegou a Sociedade de Estudos e Atividades Filosóficas (SEAF), aportando na Paraíba, em 1979, trazida pelo professor Antônio Rufino Vieira.

    ... Sociedade de Estudos e Atividades Filosóficos (SEAF): com sede no Rio de Janeiro. A SEAF já teve expressão nacional e desempenhou importante papel nos debates pela volta da filosofia ao ensino médio, no final dos anos de 1970 e início dos anos de 1980. Depois do retorno opcional, naquela época, sua atuação enfraqueceu-se significativamente, mas vem sendo retomada nos últimos anos. Em 2001 e 2002 promoveu encontros estaduais de professores de filosofia.

    ... No final de 2001, a diretoria da SEAF - Sociedade de Estudos e Atividades Filosóficas do RJ, esteve presente por duas vezes ao Café Filosófico e propôs a instalação junto a esse grupo de uma representação da SEAF, prevista para 2002. (UBM)

    ... No meio deste processo de abertura e democratização política, em 1975, quando a Lei 5692/71 começa a cair no descrédito, funda-se o Centro de Atividades Filosóficas que depois passou a denominar-se de Sociedade de Estudos e Atividades Filosóficos (SEAF). O SEAF teve uma ação decisiva no movimento pela reintrodução da filosofia no ensino do 2° grau se engajando na discussão, tendo como objeto de ação e reflexão o retorno da Filosofia no 2° grau.

    O SEAF, segundo Gasparello (1986: 77-89) e Simon (1984: 8-10), promoveu amplos debates, cursos; elaborou documentos, visando sensibilizar as autoridades da necessidade de se reestruturar o 2° grau e da importância da filosofia nesse grau de ensino. No período que vai de 1977 a 1985, o SEAF, junto a outras entidades filosóficas, organizou o I, II e o III Encontro Nacional dos Chefes dos Departamentos de Filosofia que ocorreram no Rio de Janeiro (1981), Goiânia (1982) e Santos (1983). O I Encontro formou uma Coordenação Nacional do Departamento de Filosofia e elaborou um documento sobre a Filosofia no 2° grau que ficou conhecido como o “Documento do Rio de Janeiro”. O II Encontro aprovou o documento sobre “Reintegração da Filosofia no Currículo do 2° grau” entregue à Ministra da Educação Esther de Figueiredo Ferraz, que garante a recomendação da Filosofia junto às Secretarias Estaduais e aos Conselhos de Cultura.

    Outros grupos e associações filosóficas como Convivium, AFB, IBF, CONPEFIL - Conjunto de Pesquisa Filosófica - também se empenharam nesta luta, mas é o SEAF que desenvolveu um trabalho mais intenso, inclusive junto as Secretarias de Educação Estaduais ...


    ... Ainda na década de 1970, começam a surgir movimentos que al¬mejavam o retorno da Filosofia no nível médio. Em 1976, por exemplo, foi fundada a Sociedade de Estudos e Atividades Filosóficos – Seaf –, que congregava professores e estudantes de filosofia e organizou, nas esferas re¬gional e nacional, encontros, simpósios e ciclos de conferências de filosofia (Cadernos Seaf, 1978). ...


    ... O quarto e último momento é chamado de “presença controlada”, que vai desde a redemocratização política pós 1980 até a publicação da nova LDB em 1996. É nesse período que é criada a Sociedade de Estudos e Atividades Filosóficas (SEAF), em 1975, como resposta à retirada da filosofia do currículo secundário (Lei 5.692/71).

    O SEAF nasceu devido à crase necessidade de se criar um espaço alternativo para a discussão de idéias, compartilhar estudos, etc, atividades inviabilizadas nos cursos e departamentos de filosofia das universidades por causa da grande vigilância imposta pelo regime militar. O SEAF fazia parte de um movimento de protesto contra a exclusão da filosofia, movimento que reivindicava a volta da disciplina ao currículo escolar. Esse movimento contou também com outras importantes referências nacionais, tais como a CONVÍVIO (Sociedade Brasileira de Cultura); o CONPEFIL (Conjunto de Pesquisa Filosófica); a ABFC (Associação Brasileira de Filósofos Católicos); o IBF (Instituto Brasileiro de Filosofia), etc.

    A filosofia voltou ao currículo no Rio de Janeiro, como “noções de filosofia”, pelo Parecer CEE nº 49, de 21 de janeiro de 1980.

    A desarticulação da SEAF em âmbito nacional – restando apenas a SEAF-RJ – repercute até hoje, pois com a obrigatoriedade da filosofia no ensino médio, faltam ainda – como já foi dito acima – diretrizes de como será esse ensino, suas características e objetivos. Essas perguntas seriam mais bem respondidas, ou melhor, discutidas se houvesse um sindicato – ou uma sociedade, no caso a SEAF – que assumisse essa responsabilidade junto ao Ministério da Educação trazendo propostas e objetivos para um ensino de qualidade.

    E para que não aconteça, insistimos, é necessário ou a reestruturação do SEAF em âmbito nacional ou a criação de um novo organismo que possa juntamente com as secretarias de educação de cada estado estabelecer diretrizes para o ensino de filosofia no Brasil...


    A Constituinte em debate: colóquio realizado de 12 a 16/05/1986, por iniciativa do Depto. de Filosofia da USP, sob a coordenação dos Prof. Luis Roberto Salinas Fortes e Milton Meira do Nascimento. São Paulo. Sofia editora SEAF. 1987.

    ... A filosofia no Brasil não conseguiu se popularizar, apesar de esforços consideráveis de pessoas como os professores Henrique Nielsen Neto (1988) e Antônio Joaquim Severino (1992) e de instituições como a SEAF (Sociedade de Estudos e Atividades Filosóficas). ...
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    CARMINATI, Celso João. O Ensino de Filosofia no II grau: do seu afastamento ao movimento pela sua reintrodução (A Sociedade de Estudos e Atividades Filosóficas – SEAF).

    1997. 195 f. Dissertação (Mestrado em Educação). Centro de Ciências da Educação – UFSC, Florianópolis.
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    ... Esse processo de luta culminou com a criação da Sociedade de Estudos e Atividades Filosóficas (SEAF) que, como frisa PEGORARO (1980, p.1)

    Surgiu da preocupação que vivíamos em 1975-76. A censura e o burocratismo cego dominavam também o meio universitário. Isto gerava profundo desânimo entre os professores e alunos. Todo projeto aberto esbarrava em entraves intransponíveis. O silêncio e o isolamento tiveram como consequência principal a improdutividade e a queda de nível, notadamente no âmbito dos Departamentos de Filosofia que sofreram censura mais forte. Enquanto que a Sociologia política, graças ao amparo recebidos até de organismos internacionais, fazia excelentes progressos no análise crítica do subdesenvolvimento e do processo de dependência dos países periféricos; enquanto a Teologia articulava os discurso da libertação, a Filosofia perdia altura e caia nas mãos de chefes departamentais fiéis ao regime ou acabava controlada por sociedades cujos líderes eram também auxiliares de ministros fascistas ou organizadores de cursos nas escolas da estratégia militar.

    A SEAF tornou-se um espaço alternativo para denunciar e criticar as medidas impositivas do Estado em relação à educação de maneira geral e à disciplina de filosofia, em particular. Além disso, possibilitou, por meio de publicações dos “Cadernos SEAF” e dos “Debates Filosóficos”, a veiculação nacional de textos e debates sobre o tema contando com a contribuição de filósofos brasileiros preocupados com a formação dos alunos do segundo grau.

    Ainda segundo PEGORARO (1980, p.3) a SEAF deve ser entendida como “...um movimento intelectual que visa a criatividade e a produtividade filosófica que interprete a situação do homem na contemporaneidade. O movimento da inteligênica atenta ao processo, exige estruturas leves e sempre em adaptação. Isso não poderia ocorrer se a SEAF fosse uma empresa de congressos com donos estabelecidos”. Foi dentro dessa perspectiva de entendimento que a SEAF consolidou-se em 1978 e em 1980 já estava organizada com núcleos estruturados em 17 estados, entre os quais o Paraná.

    A SEAF- Regional Paraná , criada, basicamente, por uma significativa parcela de professores de filosofia do curso de Bacharelado/Licenciatura em Filosofia da UFPR, concentrou suas atividades, principalmente, em três frentes: a) promovendo encontros e seminários junto aos núcleos regionais de ensino da Secretaria da Educação, para sensibilizar professores, diretores e inspetores de escolas sobre a importância e as vantagens da inclusão da filosofia na grade curricular; b) contribuindo com a organização e articulação do movimento pela volta da filosofia em âmbito nacional; c) divulgando artigos e resenhas sobre o tema, publicados na revista “Textos SEAF”, editados pela própria SEAF-Regional Paraná entre os anos de 1980 e 1985.

    Em julho de 1984, alguns professores do Departamento de Filosofia da UFPR e alunos do curso, participaram da reunião da SBPC, realizada em São Paulo, na qual apresentaram um relatório das atividades desenvolvidas pela SEAF-Regional Paraná em relação a reinclusão da filosofia no ensino de segundo grau. De acordo com a nota publicada em 17 de julho de 1984 pelo jornal Gazeta do Povo “Em seu relatório foi destacado que com a criação da Seaf no Paraná... em 79, o movimento pelo retorno da filosofia, que já vinha se esboçando desde praticamente a reforma de 71, ganhou novo impulso e profundidade, saindo dos contatos a nível meramente político para procurar colocar toda a comunidade a par da situação.”

    O relatório também enfatiza, segundo a nota, que foi enviado um ofício ao Conselho Estadual de Educação solicitando o seu parecer sobre a possibilidade de reinclusão da filosofia nos cursos de segundo grau. A resposta do Conselho foi negativa sob a alegação da falta de estudos específicos que justifiquem tal decisão. Pode-se concluir daí que esse argumento é mais político que, propriamente, técnico-administrativo, pois as forças representadas nos Conselhos, via de regra, não tinham interesse em aprovar essa disciplina como integrante do currículo.

    O relatório aponta ainda que: - em 1980 um grupo de professores de filosofia apresentou, no IV Simpósio Nacional da SEAF, um texto intitulado “O ensino da filosofia no Paraná”, o qual destaca os principais problemas dos cursos de filosofia da UFPR e da PUC-Pr; - foram realizadas, aproximadamente, 15 reuniões com alunos e professores sobre o tema; - em 1983 o Departamento de Filosofia da UFPR e o SEAF participaram do I Encontro Paranaense de História e Educação; - ainda em 83 finalizou-se um projeto para a disciplina de filosofia com programa e sugestões de conteúdos, que foi encaminhado ao Conselho Estadual de Educação (mesmo com o apoio do Departamento de Segundo Grau da Secretaria da Educação, o projeto não foi atendido); - ao lado desse trabalho de pressão junto aos órgãos oficiais, iniciou-se um trabalho com a comunidade dos professores e alunos (nesse sentido, membros do SEAF participaram do encontro realizado pelo Núcleo Regional de Curitiba, com diretores e inspetores de ensino, evidenciando-se um consenso entre a proposta de filosofia da SEAF e a questão da reestruturação do ensino médio proposta pela Secretaria da Educação); - em Curitiba foram feitas visitas a 30 colégios levando informações e esclarecimentos, bem como, buscando apoio da comunidade escolar, que na sua grande maioria mostrou-se favorável à reintrodução da filosofia na grade; - realizou-se uma pesquisa em cinco colégios de Curitiba para verificar a posição dos estudantes em relação à disciplina de filosofia (em julho de 84 essa pesquisa ainda não tinha sido concluída, por isso seus resultados não foram incluídos no relatório apresentado na SBPC); - entre 24 a 29 de junho de 1984, em Curitiba, alunos e professores ligados ao SEAF participaram do seminário sobre “Reestruturação do 2º Grau”, realizado pela Secretaria da Educação, que debateu as propostas apresentadas pelos núcleos regionais de ensino do Estado (GAZETA DO POVO, 18/07/84, p.10).
    Geraldo Balduino Horn – DTPEN/UFPR para visualizar

    ... Esse processo de luta culminou com a criação, em 1975-76, da Sociedade de Estudos e Atividades Filosóficas (SEAF).

    No final do período de repressão, com o início da abertura política, a Lei 5.692/1971 recebeu uma emenda, por meio da Lei Nº. 7.044/1982. A partir daí, a Filosofia poderia fazer parte do currículo, mas era concebida em todos os cursos de 2º. Grau como disciplina complementar, ou mesmo atribuindo-lhe caráter de optativo. Isso limitou bastante o espaço para o ensino de Filosofia, com ações de inclusão isoladas, atendendo a interesses nem sempre muito claros ou compatíveis com o que se poderia esperar da Filosofia. Em alguns casos, a maneira como foi incluída e o que foi feito com a Filosofia em sala de aula, serviu para reforçar os argumentos daqueles que são contrários ao ensino de Filosofia, afirmando que a Filosofia na escola será apenas um espaço de atuação para padres e pastores conservadores exerceram sua doutrinação. ...
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    A filosofia é obrigatória, mas isto é pouco!

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    A filosofia é obrigatória, mas isto é pouco!

    Jan-Fev/2009

    Por Celso João Carminati*

    Durante a ditadura militar brasileira (1964-1985), boa parte da formação escolar brasileira, foi direcionada para a profissionalização. Com este intuito, e tendo como pressuposto a formação aligeirada para o mercado de trabalho, disciplinas humanísticas foram excluídas do currículo de ensino médio.

    Assim, boa parte da juventude, ao menos aquela que tinha acesso aos bancos escolares, perdeu parte significativa de sua formação, submetendo-se aos modelos de formação apressados impostos às escolas pela reforma educacional nº 5.692, de 1971.

    A reação de professores, alunos e intelectuais em geral a esta realidade foi imediata. Em meados da década de 1970, no Rio de Janeiro, foi fundada a Sociedade de Estudos e Atividades Filosóficas – SEAF. Rapidamente esta entidade agregou professores de outras áreas, e se tornou um importante espaço de encontro, discussão e preparação de textos e publicações para dar fôlego às investidas dos militares contra a liberdade de expressão, sobretudo de cátedra. Lembro que alguns professores universitários de filosofia mais críticos foram aposentados compulsoriamente, outros foram vigiados em suas atividades de ensino e pesquisa.

    Com o arrefecimento da ditadura, e a abertura política lenta e gradual, após a aprovação da anistia, supostamente ampla e irrestrita, o debate em torno das conseqüências da profissionalização avançou e culminou com mudanças na lei nº 7.044 de 1982, que alterou dispositivos referentes à profissionalização e permitiu a presença de Filosofia no currículo enquanto disciplina optativa.

    A presença da Filosofia no ensino médio foi pouco alterada, pois algumas escolas a re-introduziram nos currículos, e apenas alguns Estados se dispunham a legislar sobre o assunto.

    Com a redemocratização e um inevitável esvaziamento dos espaços de lutas dos professores, o movimento pelo retorno da filosofia só conseguiu se rearticular na segunda metade dos anos de 1990.

    Algumas iniciativas, como a do Estado de Santa Catarina, a tornou obrigatória no currículo no ano de 1998. Ainda assim, ocorreram outras iniciativas sem sucesso na Câmara dos Deputados, mas sua obrigatoriedade só se tornou lei, a de nº 11.684/2008 em 02 de junho de 2008, quando foi sancionada pelo Vice-Presidente da República. Isto foi possível devido a alteração do artigo 36 da LDB nº 9.394/1996. A lei estabelece no seu inciso IV: ”serão incluídas a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias em todas as séries do ensino médio”.

    Depois de 37 anos ausentes dos currículos de ensino médio, a filosofia volta a ser obrigatória nas escolas brasileiras. Isto, porém, não é suficiente, pois um texto de lei não garante que a filosofia de fato volte a ser parte obrigatória dos currículos, pois se sabe que o currículo é um campo em disputa e que a presença de novas disciplinas significa a redução de carga horária de outras já existentes. Mesmo assim, os sistemas de ensino terão um prazo de um ano para se ajustarem a nova realidade e apresentarem a filosofia como parte obrigatória do ensino médio.

    Mesmo com essas dificuldades encontradas, sobretudo, por se tratar de uma lei que poucas pessoas estarão vigilantes para saber se a mesma foi cumprida ou não, temos ai um importante instrumento de formação mais crítica para os estudantes do ensino médio.

    * Professor na UDESC e autor do livro: “Professores de Filosofia: Crise e Perspectiva”. (Editora UNIVALI, 2006).

    Extraído de Jornal da Educação
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    segunda-feira, 24 de agosto de 2009

    A Revista SEAF e a associação à SEAF

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    domingo, 26 de abril de 2009

    O Sonho Transdisciplinar

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    Os alunos presentes na aula inaugura Pós-Graduação em Filosofia - UBM
    por Hilton Japiassu *
    • Palestra proferida na aula inaugural do Curso de Pós-graduação em Filosofia, na UBM - Centro Universitário Barra Mansa.


    O grande desafio lançado à educação neste início de século é a contradição entre, de um lado, os problemas cada vez mais globais, interdependentes e planetários, do outro, a persistência de um modo de conhecimento privilegiando os saberes fragmentados, parcelados e compartimentados. Donde a urgência, para uma reforma da educação, de valorizarmos os conhecimentos interdisciplinares ou, pelo menos, promovermos o desenvolvimento, no ensino e na pesquisa, de um espírito ou mentalidade propriamente transdisciplinar. Creio que pode ser aplicado à Educação o que dizia Péguy da poesia: “quando a poesia está em crise, a solução não consiste em decapitar os poetas, mas em renovar as fontes de inspiração”. O que podemos fazer quando tomamos consciência de nossos conhecimentos atuais revelam uma tremenda incapacidade de pensar o mundo globalmente e em suas partes? O que devemos fazer quando constatamos que nosso pensamento se encontra preso às cegueiras e miopias que caracterizam nossas universidades divididas em departamentos sem comunicação? Já no século XVII, Pascal dava-nos uma orientação: “considero impossível conhecer as partes se não conheço o todo e se não conheço particularmente as partes”. Queria dizer: se quisermos dominar um objeto, não podemos confiar no conhecimento fragmentado nem na apreensão holística. Porque o conhecimento deve efetuar, não só um movimento dialético entre o nível local e o global, mas de retroação do global sobre o particular. Ao mesmo tempo que precisamos contextualizar o singular, devemos concretizar o global: relacioná-lo com suas partes.

    Hoje há um interesse crescente pela interdisciplinaridade. Motivado por diversas razões. A mais importante: a que se vincula a análise pedagógica e à redefinição de uma política educacional. Paradoxalmente, nunca se recusou tanto e de boa fé as exigências interdisciplinares. Muita gente toma consciência de que os objetos de pesquisa são tão complexos que só podem ser tratados por uma abordagem interdisciplinar. Não basta mais o simples encontro ou justaposição das disciplinas. Torna-se imprescindível eliminar as fronteiras entre as problemáticas e os modos de expressão para que se instaure uma comunicação fecunda. Tem-se tornado preocupante o estado lamentável de esfacelamento do saber. Por toda parte surge a exigência de se instaurar pelo menos um diálogo ecumênico entre as disciplinas. Porque ninguém mais parece entender ninguém. Mas essa exigência apenas revela a situação patológica em que se encontra nosso saber. A especialização sem limites culminou numa fragmentação crescente do horizonte epistemológico. Chegamos a um ponto em que o especialista se reduziu ao indivíduo que, à custa de saber cada vez mais sobre cada vez menos, terminou por saber tudo (ou quase tudo) sobre o nada, em reação ao generalista que sabe quase nada sobre tudo. Ora, um saber em migalhas revela uma inteligência esfacelada. O desenvolvimento da especialização, com todos os seus inegáveis méritos, dividiu ao infinito o território do saber. Cada especialista ocupou, como proprietário privado, seu minifúndio de saber onde passou a exercer, ciumenta e autoritariamente, seu mini-poder.

    Ao destruir a cegueira do especialista, o conhecimento interdisciplinar recusa o caráter territorial do poder pelo saber. Substitui a concepção do poder mesquinho e ciumento do especialista pela concepção de um poder partilhado. O espírito interdisciplinar pressupõe que reconheçamos: "o coração tem razões que a Razão desconhece". Porque possuímos qualidades de coração, entusiasmo e maravilhamento que representam as raízes da inteligência. E devemos renunciar, se não ao desejo de dominação pelo saber, pelo menos à manipulação totalitária do discurso da disciplina. Não podemos dialogar com quem erige em absoluto a causa ou a verdade que defende. Em geral, o especialista tenta impor a causa de sua especialidade como se fosse a resposta a todo por quê; ou identificar seu discurso com a origem de tudo. Este instinto teológico é muito celebrado nas capelas da ciência: colóquios, simpósios, congressos ou confrarias patenteadas (quermesses com vaidades intelectuais). De um modo geral repete-se que o futuro pertence às pesquisas interdisciplinares. De fato, são muito difíceis de ser organizadas. Por causa de ignorâncias recíprocas por vezes sistemáticas. Em nosso sistema escolar, encontram-se ainda relegadas ao ostracismo. Os arraigados preconceitos positivistas cultivam uma epistemologia da dissociação do saber. Sob esse aspeto, ensina-se um saber bastante alienado e em processo de cancerização galopante. Seus horizontes cognitivos são demasiado reduzidos. Ensina-se um saber fragmentado que constitui um fator de cegueira intelectual. As escolas estão mais preocupadas com a distribuição de suas fatias de saber, de uma ração intelectual a alunos que nem mesmo parecem ter fome. Este saber mais ou menos mofado, armazenado nessas "penitenciárias centrais" da cultura (as instituições de ensino), além de ser indigesto e nocivo à saúde espiritual, passa a ser propriedade de pequenos mandarinos dominados pelo espírito de concorrência e carreirismo. É por isso que o interdisciplinar provoca atitudes de medo e recusa. Porque constitui uma inovação. Como todo novo, incomoda. Porque questiona o já adquirido, o já instituído, fixado e aceito. Se não questionar, não é novo, mas novidade. O conservadorismo acadêmico tem um medo pânico do novo que põe em questão as estruturas mentais, as representações coletivas estabelecidas, as idéias sobre o mundo, a educação e a boa ordem das coisas. O que se encontra em jogo, no fundo, é certa concepção do saber: o modo de se conceber sua repartição e o processo de seu ensino.

    Lamentamos que em nosso atual sistema educacional seja praticamente inexistente a prática interdisciplinar. O que existe são encontros multidisciplinares: frutos mais da imaginação criadora e combinatória de alguns sabendo manejar conceitos e métodos diversos que algo propriamente instituído e institucionalizado. Mesmo assim, realizam-se como práticas de indivíduos abertos e curiosos, com o sentido da aventura e não tendo medo de errar; de indivíduos que não buscam nenhum porto seguro, mas se afirmam e se definem por um solene anti-autoritarismo e um contundente anti-dogmatismo. Vejo no dogmatismo de um saber definitivo, acobertado pela etiqueta "objetivo" ou pelo rótulo "verdadeiro" o sintoma de uma ciência agônica. A este respeito, faço minhas as palavras de F. Jacob: "Não é somente o interesse que leva os homens a se matarem. Também é o dogmatismo. Nada é tão perigoso quanto a certeza de ter razão. Nada causa tanta destruição quanto a obsessão de uma verdade considerada como absoluta. Todos os crimes da história são conseqüência de algum fanatismo. Todos os massacres foram realizados por virtude: em nome da religião verdadeira, do racionalismo legítimo, da política idônea, da ideologia justa; em suma, em nome do combate contra a verdade do outro, do combate contra Satã".

    O espírito interdisciplinar nos permite tomar consciência de que uma verdade acabada e dogmática impede o exercício cotidiano da liberdade de pensar. Corresponde a uma sociedade sem vida onde somos livres para fazer tudo, mas onde não há mais nada para se fazer. Somos livres para pensar, mas não há nada sobre o quê pensar. É infindável o processo de estabelecimento de uma verdade. Neste domínio, a evidência só pode ser engano ou dogma. E a certeza, credulidade ou cegueira. Apoiar-se numa verdade como em um absoluto é realizar uma censura injustificável. É aceitar um superego opressor e castrador vendo em todo erro uma heresia e não uma força criadora, uma condição sine qua non de uma verdade sempre provisória. Toda verdade humana é feita de verdades verificadas. Uma verdade congelada torna-se uma anestesia intelectual. Seu efeito paralisante gera inúmeras doenças do espírito, inclusive a paralisia adulta da inteligência. Ora, um saber que não se questiona constitui um obstáculo ao avanço dos saberes. A pretensa maturidade intelectual, orgulho de tantos sistemas de ensino, constitui um obstáculo entre outros. A famosa cabeça bem-feita, bem arrumada, bem estruturada, bem organizada e objetiva, não passa de uma cabeça mal-feita, fechada, produto de escola, modelagem e manipulação. Trata-se de uma cabeça que precisa urgentemente ser re-feita. O espírito interdisciplinar ajuda a se refazer essas cabeças bem-feitas, quer dizer, mal-feitas. Pois cultiva o desejo do enriquecimento por enfoques novos e o gosto pela combinação das perspetivas; ademais, alimenta a vontade de ultrapassar os caminhos batidos e os saberes adquiridos. Não nascemos com cabeças "desocupadas", mas inacabadas. A escola e a sociedade pretendem ocupá-las pela instrução e pela linguagem. Donde a necessidade de se psicanalisar os educadores a fim de que possam ser agentes que despertem, provoquem, questionem e se questionem, e não se reduzam ao papel de disciplinadores intelectuais, capatazes da inteligência ou revendedores de um saber-mercadoria sem as técnicas do marketing. O professor que não cresce, não estuda, não se questiona e não pesquisa deveria ter a dignidade de aposentar-se, mesmo no início de carreira: já é portador de uma paralisia intelectual ou de uma esclerose precoce. Deveria também aposentar-se o que prefere as respostas às questões ou ensinar a pesquisar.

    Ao questionar os conhecimentos adquiridos e os métodos aplicados, não só o interdisciplinar promove a união do ensino e da pesquisa, mas transforma as escolas: de um lugar de simples transmissão ou reprodução de um saber pré-fabricado, num lugar onde se produz coletiva e criticamente um saber novo. Contrariamente ao sistema clássico de ensino, que se instala num esplêndido isolamento e institui um saber pasteurizado, com um sistema hierárquico mais ou menos monárquico e autoritário, o sistema interdisciplinar viria superar o corte escola/sociedade, escola/vida, saber/realidade. Sem falarmos da instauração de uma nova relação entre educadores e educandos. Mas é ilusório pensar que uma lei ou um conjunto de medidas administrativas possam colocar um paradeiro a hábitos tão arraigados, a rotinas e estruturas mentais solidamente estabelecidas. Donde a necessidade de se criar instituições dotadas de estruturas flexíveis, capazes de absorver conteúdos novos e integrar-se em função dos verdadeiros problemas. E de adotar métodos fundados, não em táticas e estratégias de distribuição dos conhecimentos estocados, mas no exercício de aptidões intelectuais e de faculdades psicológicas voltadas para a busca do novo. Mas nada será feito de durável se não estiver fundado na adesão profunda e apaixonada de alguns e em experiências inovadoras desempenhando o papel de catalisadores e de núcleos de inovação. O interdisciplinar constitui um fator de transformação capaz de restituir vida às nossas mais ou menos esclerosadas instituições de ensino. Mil obstáculos precisam ser ultrapassados: 1) a situação adquirida dos "mandarinatos" no ensino e na pesquisa (inclusive na administração, onde os cargos são ocupados pelos mais medíocres); 2) o peso da rotina e a rigidez das estruturas mentais; 3) a inveja dos conformismos e conservadorismos em relação às idéias novas que seduzem (ódio fraterno);; 4) o positivismo anacrônico que, preso a um ensino bastante dogmático, encontra-se à míngua de fundamentação teórica; 5) a mentalidade esclerosada de um aprendizado por acumulação ou entesouramento; 6) o enfeudamento das instituições ("departamentalização"); 7) o carreirismo buscado sem competência; 8) a ausência de crítica dos saberes adquiridos, etc.

    Todavia, o interdisciplinar não pode ser praticado sem o cumprimento de certas exigências. Por exemplo, a criação de uma nova inteligência e de uma razão aberta capazes de formar uma nova espécie de cientistas e educadores, utilizando uma nova pedagogia e ousando pensar de outra. forma. Por isso, o candidato a ingressar nessa aventura deveria preencher (entre outros) os seguintes pré-requisitos:

    · ter a coragem de fazer a seguinte prece: "Fome nossa de cada dia nos daí hoje"
    · ter a coragem de devolver, à sua razão, sua função turbulenta e agressiva
    · ter a coragem de, no domínio do pensamento, fazer da imprudência um método
    · saber colocar questões (não só buscar respostas) e não ousar "pensar antes de estudar"
    · estar consciente de que ninguém se educa (como não cria) com idéias alheias
    · ter a coragem de sempre fornecer à sua razão razões (e motivos) para mudar
    · não cultivar o gosto pelo "porto seguro" ou pela certeza do sistema, porque nosso conhecimento nasce da dúvida e se alimenta de incertezas
    · não fazer concessões ao Saber, etc.

    Numa época de conservadorismo como a nossa, precisamos ter a coragem de opor-nos a ela. Só um espírito conservador prefere repetir a ter que refletir. Precisamos abandonar essa monotonia espiritual e fazer da Razão uma realidade incompleta jamais devendo repousar na tradição. É desta maneira que se torna jovem e incisiva, passando a aceitar e viver o princípio segundo o qual "nada é fixo para aquele que alternadamente pensa e sonha": precisamos de pensadores que saibam sonhar e de sonhadores que saibam pensar. Porque nosso conhecimento deve aparecer como a reforma de uma ilusão e uma retificação continuada. Claro que navegar é preciso. E viver, muito mais preciso ainda. Mas se não navegarmos com uma bússola na mão e um sonho na cabeça, ficaremos condenados à rotina do sexo, da droga e do credit card. E o ideal de vida proposto à juventude (viciada em divertimento) passa a ser apresentado como o mais compulsivo consumismo perfumado de hedonismo Donde estarmos assistindo à instalação de uma insidiosa e intimidante violência fazendo imperar o mais generalizado conformismo. Os projetos de autonomia individual sofrem um eclipse quase total. Em grande parte, causado pela onda crescente de privatização, despolitização e "individualismo". Um grave sintoma concomitante: a total atrofia da imaginação política e o empobrecimento intelectual de nossas lideranças. Cada vez mais a liberdade funciona como simples complemento instrumental do dispositivo maximizador dos "gozos" individuais, o único valor exaltado sendo o dinheiro conferindo poder ou notoriedade midiática. A sociedade atual adquiriu uma tremenda capacidade de abafar toda verdadeira divergência, seja silenciando-a, seja convertendo-a num fenômeno comercializado como os outros. As vozes discordantes e dissidentes são comercializadas. Donde a importância de continuarmos pensando uma sociedade onde:

    · os valores econômicos não se imponham como centrais ou únicos
    · a cultura não seja identificada com o mero entretenimento (com o que se vende), mas com tudo o que ultrapassa o simples funcional e o instrumental, humanizando nosso espírito e nossa consciência
    · o crescimento máximo seja considerado um meio, não o fim das ações humanas
    · o intelectual possa afirmar-se e definir-se por sua liberdade em relação aos poderes, pela crítica das idéias recebidas e a denúncia das alternativas simplistas.

    _____________________________

    • Na ocasião, foi oficializada a SEAF Sul Fluminense




    Professor Alcino Camatta,
    Coordenador do Curso de Pós-Graduação em Filosofia da UBM
    e Professor Olinto Pegoraro, convidado do evento.


    * Hilton Japiassu nasceu em Carolina, Maranhão, em 26 de março. Formado em Filosofia e Teologia no Studium Generale Santo Tomás de Aquino de São Paulo, completou a licenciatura em Filosofia na PUC do Rio de Janeiro, ingressando posteriormente em seu Corpo Docente (1975 a 1986). Fez Doutorado em Filosofia em Grenoble (França), na Université des Ciences Sociales (1974) defendendo tese sobre Les Relations Interdisciplinares dans les Sciences Humaines. Em 1984/85, fez pós-doutorado na Université des Sciences Humaines de Strasbourg (França) com um trabalho de pesquisa sobre Le Statut Epistemologic des Sciences Humaines. Desde 1978, ensinou no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro – IFCS-UFRJ, onde integrou o Departamento de Filosofia. Dedica suas atividades docentes e de pesquisa ao domínio da Epistemologia e História das Ciências Humanas. Tem vários artigos e dezenas de livros.

    Para acessar outros materiais de Hilton Japiassu
    http://www.editoraeletronica.net/

    Buscar textos: http://br.monografias.com/

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    Carta da Transdisciplinaridade
    referida por Hilton Japiassu, no debate

    (adotada no Primeiro Congresso Mundial da Transdisciplinaridade, Convento de Arrábida, Portugal, 2-7 novembro 1994)

    Preâmbulo

    Considerando que a proliferação atual das disciplinas acadêmicas conduz a um crescimento exponencial do saber que torna impossível qualquer olhar global do ser humano;

    Considerando que somente uma inteligência que se dá conta da dimensão planetária dos conflitos atuais poderá fazer frente à complexidade de nosso mundo e ao desafio contemporâneo de autodestruição material e espiritual de nossa espécie;

    Considerando que a vida está fortemente ameaçada por uma tecnociência triunfante que obedece apenas à lógica assustadora da eficácia pela eficácia;

    Considerando que a ruptura contemporânea entre um saber cada vez mais acumulativo e um ser interior cada vez mais empobrecido leva à ascensão de um novo obscurantismo, cujas conseqüências sobre o plano individual e social são incalculáveis;

    Considerando que o crescimento do saber, sem precedentes na história , aumenta a desigualdade entre seus detentores e os que são desprovidos dele, engendrando assim desigualdades crescentes no seio dos povos e entre as nações do planeta;

    Considerando simultaneamente que todos os desafios enunciados possuem sua contrapartida de esperança e que o crescimento extraordinário do saber pode conduzir a uma mutação comparável à evolução dos humanóides à espécie humana;

    Considerando o que precede, os participantes do Primeiro Congresso Mundial de Transdisciplinaridade (Convento de Arrábida, Portugal 2 -7 de novembro de 1994) adotaram o presente Protocolo entendido como um conjunto de princípios fundamentais da comunidade de espíritos transdisciplinares, constituindo um contrato moral que todo signatário deste Protocolo faz consigo mesmo, sem qualquer pressão jurídica e institucional.

    Artigo 1:
    Qualquer tentativa de reduzir o ser humano a uma mera definição e de dissolvê-lo nas estrutura formais, sejam elas quais forem, é incompatível com a visão transdisciplinar.

    Artigo 2:
    O reconhecimento da existência de diferentes níveis de realidade, regidos por lógicas diferentes é inerente à atitude transdisciplinar. Qualquer tentativa de reduzir a realidade a um único nível regido por uma única lógica não se situa no campo da transdisciplinaridade.

    Artigo 3:
    A transdisciplinaridade é complementar à aproximação disciplinar: faz emergir da confrontação das disciplinas dados novos que as articulam entre si; oferece-nos uma nova visão da natureza e da realidade. A transdisciplinaridade não procura o domínio sobre as várias outras disciplinas, mas a abertura de todas elas àquilo que as atravessa e as ultrapassa.

    Artigo 4:
    O ponto de sustentação da transdisciplinaridade reside na unificação semântica e operativa das acepções através e além das disciplinas. Ela pressupõe uma racionalidade aberta por um novo olhar, sobre a relatividade definição e das noções de "definição"e "objetividade". O formalismo excessivo, a rigidez das definições e o absolutismo da objetividade comportando a exclusão do sujeito levam ao empobrecimento.

    Artigo 5:
    A visão transdisciplinar está resolutamente aberta na medida em que ela ultrapassa o domínio das ciências exatas por seu diálogo e sua reconciliação não somente com as ciências humanas mas também com a arte, a literatura, a poesia e a experiência espiritual.

    Artigo 6:
    Com a relação à interdisciplinaridade e à multidisciplinaridade, a transdisciplinaridade é multidimensional. Levando em conta as concepções do tempo e da história, a transdisciplinaridade não exclui a existência de um horizonte trans-histórico.

    Artigo 7:
    A transdisciplinaridade não constitui uma nova religião, uma nova filosofia, uma nova metafísica ou uma ciência das ciências.

    Artigo 8:
    A dignidade do ser humano é também de ordem cósmica e planetária. O surgimento do ser humano sobre a Terra é uma das etapas da história do Universo. O reconhecimento da Terra como pátria é um dos imperativos da transdisciplinaridade. Todo ser humano tem direito a uma nacionalidade, mas, a título de habitante da Terra, é ao mesmo tempo um ser transnacional. O reconhecimento pelo direito internacional de um pertencer duplo - a uma nação e à Terra - constitui uma das metas da pesquisa transdisciplinar.

    Artigo 9:
    A transdisciplinaridade conduz a uma atitude aberta com respeito aos mitos, às religiões e àqueles que os respeitam em um espírito transdisciplinar.

    Artigo 10:
    Não existe um lugar cultural privilegiado de onde se possam julgar as outras culturas. O movimento transdisciplinar é em si transcultural.

    Artigo 11:
    Uma educação autêntica não pode privilegiar a abstração no conhecimento. Deve ensinar a contextualizar, concretizar e globalizar. A educação transdisciplinar reavalia o papel da intuição, da imaginação, da sensibilidade e do corpo na
    transmissão dos conhecimentos.

    Artigo 12:
    A elaboração de uma economia transdisciplinar é fundada sobre o postulado de que a economia deve estar a serviço do ser humano e não o inverso.

    Artigo 13:
    A ética transdisciplinar recusa toda atitude que recusa o diálogo e a discussão, seja qual for sua origem - de ordem ideológica, científica, religiosa, econômica, política ou filosófica. O saber compartilhado deverá conduzir a uma compreensão compartilhada baseada no respeito absoluto das diferenças entre os seres, unidos pela vida comum sobre uma única e mesma Terra.

    Artigo 14:
    Rigor, abertura e tolerância são características fundamentais da atitude e da visão transdisciplinar. O rigor na argumentação, que leva em conta todos os dados, é a barreira às possíveis distorções. A abertura comporta a aceitação do desconhecido, do inesperado e do imprevisível. A tolerância é o reconhecimento do direito às idéias e verdades contrárias às nossas.

    Artigo final:
    A presente Carta Transdisciplinar foi adotada pelos participantes do Primeiro Congresso Mundial de Transdisciplinaridade, que visam apenas à autoridade de seu trabalho e de sua atividade.

    Segundo os processos a serem definidos de acordo com os espíritos transdisciplinares de todos os países, o Protocolo permanecerá aberto à assinatura de todo ser humano interessado em medidas progressistas de ordem nacional, internacional para aplicação de seus artigos na vida.

    Convento de Arrábida,
    6 de novembro de 1994
    Comitê de Redação
    Lima de Freitas
    Edgar Morin
    Basarab Nicolescu
    _______________________________
    Para mais:

    “Congressos internacionais sobre transdisciplinaridade: reflexões sobre emergências e convergências de idéias e ideais na direção de uma nova ciência moderna”, por Augusta Thereza de Alvarenga, Américo Sommerman; Aparecida Magali de Souza Alvarez, em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-12902005000300003&script=sci_arttext#back6 Acesso em: 26 abr. 2009.


    Ver Documentos da Transdisciplinaridade, em Centro de Educação Transdisciplinar – CETRANS - http://www.cetrans.com.br/internaCetranscba9.html?iPageId=114
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    terça-feira, 7 de abril de 2009

    Chamada para publicação 2009

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    A Revista de Filosofia SEAF é uma publicação da SEAF, em co-edição com a Editora Uapê e está aberta à colaboração de todos os associados, estudiosos de Filosofia.

    A próxima Revista a ser editado no 2º semestre/2009 está com tema aberto: livre.

    Serão aceitos artigos de natureza crítica ou informativa, resenhas / divulgação de lançamentos, pesquisas e outras comunicações que sejam considerados de relevância filosófica.

    A redação (que já deve ser encaminhada com a revisão do autor) deve ser apresentada:


    a – em espaço simples
    b - processador de textos Microsoft Word for Windows – ou similar Linux ou Mac
    c - fonte Times New Roman 12
    d – de 8 a 10 laudas
    e - as citações deverão remeter às referências bibliográficas ao final do texto, assim como a bibliografia utilizada, devendo obedecer às normas da ABNT (veja abaixo).
    f – contendo “Resumo” de até 5 linhas, em português e em uma língua estrangeira (a critério do/a autor/a).

    Os trabalhos devem ser encaminhamos para os endereços de e-mail seaf_filosofia@yahoo.com.br, com cópia para
    editorauape@terra.com.br até o dia 30 de julho de 2009.

    Recebimento: Para cada artigo recebido, será encaminhada uma resposta, para o endereço de e-mail emissor, confirmando o recebimento. Caso não receba confirmação em até 72 horas, solicitamos encaminhar o artigo novamente.

    Previsão da publicação: final de 2009

    Os trabalhos serão submetidos ao Conselho Editorial e, uma vez aprovados, serão publicados na revista, de acordo com as normas da ABNT. Solicitamos atualizar o texto em conformidade com o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

    Seja associado da SEAF

    Como é de seu conhecimento, a SEAF – Sociedade de Estudos e Atividades Filosóficos – é uma instituição sem fins lucrativos e mantida pelos/as sócios/as. A Revista é uma das respostas ao empenho de participação que requer uma contribuição financeira de cada associado/a. A contribuição pode ser feita de modo semestral (R$ 60,00) ou anual (R$ 100,00). Entre em contato para a Ficha de Filiação e preenchimento do depósito - seaf_filosofia@yahoo.com.br

    Veja as revistas já publicadas:
    http://www.uape.com.br/seaf_indice.htm

    ____________________

    Como fazer referências: bibliográficas, eletrônicas e demais formas de documentos - Maria Bernardete Martins Alves e Susana Margareth Arruda - Atualizada em fev. de 2007, conforme NBR-6023/2002
    http://bu.ufsc.br/framerefer.html

    Guia de Normalização ABNT para Referências e Citações - Biblioteca Central Cesar Lattes, UNICAMP. 2008
    http://www.bibli.fae.unicamp.br/download/apostila_abnt.pdf

    Mecanismo online para referências – Gerador automático de Referências
    http://more.rexlab.ufsc.br/

    Normas para citações de referências bibliográficas de fontes oriundas da Internet
    http://www.agricultura.gov.br/portal/page?_pageid=33,959169&_dad=portal&_schema=PORTAL
    [Link fora do ar. Constatado em 13/08/2011]

    Citações e referências a documentos eletrônicos
    http://www.quatrocantos.com/tec_web/refere/1CONSID.HTM inclui diferentes línguas

    Ou no Domínio Público

    Apresentação de trabalhos acadêmicos de acordo com as normas de documentação da ABNT: informações básicas - Patrícia de Oliveira Portela – última atualização 2005
    http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=14025

    ____________________


    Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa

    Consulta palavras Michaelis UOL
    http://michaelis.uol.com.br/novaortografia.html

    Texto do Acordo – Completo – [18 páginas quando salvo em PDF]
    http://www.necco.ca/faq_acordo_ortografico.htm#base_XIV

    Conversor rápido 1. Coloque a palavra e clique para verificar
    http://www.flip.pt/FLiPOnline/ConversorparaoAcordoOrtográfico/tabid/566/Default.aspx

    Conversor rápido 2. Coloque a palavra e clique para verificar
    http://ramonpage.com/ortografa/
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    sábado, 4 de outubro de 2008

    Tributo a Maria Célia Marcondes de Moraes

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    Maria Célia Marcondes de Moraes
    (16 de junho de 1943 - 10 de abril de 2008)

    Amiga, mãe, avó, esposa, intelectual, guerreira,
    fundadora da SEAF

    Extratos de Entrevista com gosto de "quero mais":

    Quando defendi minha tese, eu trabalhava no Departamento de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF), que naquele momento acabara de abrir seu curso de mestrado. Foi lá que iniciei minha trajetória na pós-graduação, com a disciplina filosofia da ciência econômica. A rigor, vim trabalhar na pós-graduação na área de educação aqui na UFSC, em anos muito recentes, a partir de 1996. No doutorado, só a partir de 1998, quando abrimos a linha de pesquisa "Educação, história e política". Assim, minha história na pós-graduação, apesar de intensíssima, é muito curta. Talvez por isso seja tão intensa, por ser tão condensada no tempo. Não vem ao caso mencionar aqui por que fui parar em um curso de economia...
    ..............................
    Eu tive o privilégio de estudar com um professor de filosofia, uma pessoa maravilhosa, o José Américo Pessanha, que dizia: em filosofia tudo parece muito difícil; mas é só até obter a chave do código lingüístico. Uma vez que se tem a chave do código lingüístico, entende-se.
    ..............................
    Lembro que os alunos me olhavam completamente atônitos, porque eles também não tinham a chave do código lingüístico do texto. E eu pensava: mas como não entendem Derrida? Mais ainda, perguntavam - aliás, esta é a pergunta que eu mais ouvi aqui -: o que isso tem a ver com a educação? No começo eu tentava explicar, mas hoje eu digo logo que não tem nada a ver. Hoje eu respondo: nada! Aliás, sempre digo que minhas disciplinas não servem para nada, só para pensar. E como pensar hoje em dia caiu em desuso, elas são de uma total inutilidade, não é uma disciplina utilitarista; portanto, é totalmente inútil. E aí essa pergunta, o que tem a ver com a educação? Eu tentava explicar, e as pessoas, claro, não viam porque não tinham o código. Mas com o tempo conseguiam a chave e destrinchavam o texto; e era aquela satisfação enorme.


    BIANCHETTI, Lucídio e MACHADO, Ana Maria Netto. Entrevista Maria Célia Marcondes de Moraes. Rev. Bras. Educ., maio/ago. 2008, vol.13, no.38, p.369-386. ISSN 1413-2478.

    íntegra em:
    http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v13n38/13.pdf

    ou em:
    http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-24782008000200013&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt

    para conhecer toda a Revista
    http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_issuetoc&pid=1413-247820080002&lng=pt&nrm=iso

    para saber mais sobre a ANPEd e conhecer os outros números da Revista:
    http://www.anped.org.br/inicio.htmhttp:/www.anped.org.br/inicio.htm
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    quinta-feira, 2 de outubro de 2008

    Pressupostos do ensino de filosofia no segundo grau: alguns aspectos históricos

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    Celso João Carminati

    Professor de Filosofia da Educação na
    Universidade do Vale do Itajaí e Doutor em Educação na
    Universidade Federal de Santa Catarina.

    Resumo

    O presente texto apresenta uma discussão contextualizada dos desafios que o ensino de Filosofia no segundo grau está enfrentando. A lei 9.394/96 redimensionou o papel da filosofia nos currículos escolares. Diante disto, proponho que as práticas dos professores devam se fundamentar em pressupostos teóricos, cujo movimento intelectual possa transformar a experiência imediata numa experiência compreendida.

    A "atual" LDB e o ensino de filosofia

    Estas reflexões fazem parte do quarto capítulo da minha dissertação de Mestrado, intitulada "O ensino de Filosofia no Segundo grau: do seu afastamento ao movimento pela sua reintrodução. A Sociedade de Estudos e Atividades Filosóficos - SEAF". Florianópolis, 1997.


    Um movimento de educadores, principalmente entre aqueles ligados à área da Educação, durante e após a ditadura militar brasileira, vem realizando importantes discussões sobre a realidade política em geral, educacional e cultural no Brasil, sobretudo a partir da desatenção de muitos deputados constituintes para com a educação, quando da elaboração da atual Constituição.

    As discussões realizadas na cidade de Porto Alegre - RS em 1988, pela Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação - ANPED, foram importantes para se pensar um projeto de LDB para a educação nacional. Tais discussões impulsionaram o início dos trabalhos para uma 'nova' LDB. O projeto 1258 - c/88, teve origem na Câmara dos Deputados, e foi uma iniciativa conjunta do Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública, dos deputados de oposição, além de um acordo suprapartidário entre diversos deputados federais.

    Porém, desde aquele ano, entre muitas discussões, redações, negociações, emendas, com vários avanços e também retrocessos, a esperada 'nova' LDB somente foi votada e aprovada na Câmara dos Deputados no ano de 1993. No referido projeto, em seu artigo 48, inciso IV, o texto aprovado contemplava a inclusão das disciplinas Filosofia e Sociologia como obrigatórias, aos currículos de segundo grau.

    Depois de muitos debates, a inclusão da disciplina filosofia no segundo grau, então aprovada na Câmara dos Deputados parecia consensual. Porém, derrotado, o governo não tardou em se articular e alterar o projeto no Senado Federal. Outro projeto de lei foi apresentado pelo Senador Darci Ribeiro - Partido Democrático Trabalhista - PDT - RJ em substituição, para não dizer imposto, àquele aprovado na Câmara dos Deputados. Esse seu projeto, nº 1258 - d/95, nem sequer fez menção à disciplina de filosofia e, uma vez aprovado no Senado, retornou à Câmara dos Deputados, tendo como relator o Deputado Federal José Jorge do Partido da Frente Liberal - PFL - PE. Na Câmara, diante da pressão de vários setores, inclusive do Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública, o projeto passou por algumas emendas.

    Sem garantias de sua obrigatoriedade nos currículos desde 1971, o texto da atual lei que rege as diretrizes e bases da educação nacional, lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996, também se isenta dessa responsabilidade. O artigo 36, parágrafo 1º , inciso III da lei apenas afirma que, "os conteúdos, as metodologias e as formas de avaliação serão organizados de tal forma que ao final do ensino médio o educando demonstre: o domínio dos conhecimentos de Filosofia e de Sociologia necessários ao exercício da cidadania".

    Desse fato, pode-se (re) afirmar pelo menos dois aspectos: o primeiro, de que o sistema de ensino brasileiro continua desarticulado nos diversos níveis e que a inclusão da disciplina de filosofia como obrigatória nos currículos de segundo grau parece estar cada vez mais distante, embora o texto diga que uma formação filosófica seja um dos objetivos a ser alcançado pelo aluno de segundo grau; o segundo, diz respeito ao aspecto político da lei: a não inclusão da filosofia parece atender os princípios gerais que hoje norteiam o processo de aproximação do setor educacional ao mercado. Assim, deduz-se que se houver redução do mercado de trabalho para os formados em filosofia, terá pouco sentido o investimento ou a manutenção desta área de saber a nível superior, o que poderá representar, na prática, o fechamento de muitos deles.

    Pode-se entender também, de acordo com a redação do texto da lei, que a filosofia não tem mais sentido como disciplina específica no currículo, mas que, a partir disso, seja possibilitado àqueles professores que irão lecionar no segundo grau (insinua que todos os graduados tenham alguma formação filosófica) conteúdos filosóficos e sociológicos capazes de ajudá-los na formação dos estudantes secundaristas. Ou seja: a formação filosófica passa a ser papel e dever de todos os professores e não de um profissional específico.

    Além disso, a formação dos alunos de segundo grau poderá também se restringir à conteúdos mais técnicos em detrimento dos políticos e culturais, além de não se investir em capacitação dos professores que lecionam a disciplina.

    Assim, parece-me que a sua ausência nos currículos escolares permite a seguinte dedução: se os cursos de filosofia não têm demanda e pouco produzem, se justifica o não investimento na formação desses profissionais. Além disso, diante da aparente valorização de outras áreas, sobretudo as técnicas, há uma tendência à diminuição dos cursos da área humanística oferecidos no nível superior. Mas, será isto mesmo?

    Sem desmerecer ou simplificar este debate, penso que ainda é cedo para uma avaliação definitiva dos rumos da questão aqui discutida, por isso fico na expectativa de poder observar em que medida essa lei contribuirá para que se repense o segundo grau e o lugar da filosofia nos currículos escolares, mesmo onde ela existe como disciplina obrigatória, como é o caso da rede de ensino pública do Estado de Minas Gerais.

    Vale lembrar que a sorte dos cursos universitários de filosofia depende em parte dos cursos de filosofia no segundo grau. Assim, esquecer a importância da formação filosófica nesse nível de ensino, seria tão indefensável quanto, no sentido inverso, exagerar essa importância a ponto de supor que um segundo grau forte em filosofia possa justificar a supressão dos cursos de graduação em filosofia.

    Por que filosofia no segundo grau?!

    Diante das discussões levantadas acima, e dos pré-conceitos que rodeiam a filosofia e sobre ela se propagam, vale a pena perguntar se de fato tem sentido defender a presença do seu ensino nos currículos escolares de segundo grau. Se levarmos em conta a posição de grande maioria dos participantes das entidades, sociedades e grupos de filosofia que se mobilizaram pelo seu retorno nas últimas décadas, a resposta será positiva. Salvo uma ou outra postura contrária, houve e ainda parece haver uma certa unanimidade em defendê-la enquanto disciplina obrigatória nas escolas de segundo grau.

    No discurso governamental, principalmente a partir do fórum de debates realizado em outubro e novembro de 1968 (auge da ditadura militar), denominado "A Educação que nos convém" (Fórum organizado pelo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais com patrocínio da PUC/RJ.) , o então Ministro Roberto Campos falou sobre "Educação e Desenvolvimento Econômico", em cuja exposição ficaram claras as intenções de reorganizar o ensino médio a fim de que ele cumpra mais eficazmente a função de discriminação social. Segundo Warde (1979:79), ao longo da conferência ficou evidente o sentido político e econômico de um ensino que se articula com o mercado de trabalho: um ensino para a segurança e para o desenvolvimento econômico. Assim, foi-se percebendo, aos poucos, que os ditos excedentes profissionais eram filhos da escola humanista e percebeu-se também que a educação secundária de tipo humanista devia ser modificada, através da inserção de elementos tecnológicos e práticos. A partir disso, não é difícil deduzir qual seria o futuro da filosofia e das demais disciplinas da área de ciências humanas.

    No aspecto das resistências a esse processo, desde a lei 5.692/71 que afastou o ensino de Filosofia do segundo grau, pode-se dizer que elas tem acontecido por parte daqueles envolvidos diretamente, quais sejam, os professores de filosofia que tiveram seu campo de trabalho restringido e principalmente pelos membros e participantes da Sociedade de Estudos e Atividades Filosóficos - SEAF.

    Mas, não somente os professores participantes do movimento defenderam a disciplina de filosofia como obrigatória no Segundo grau; alguns órgãos de imprensa no início da década de 80, por pressão dos grupos organizados, foram obrigados a ceder espaço e divulgar alguns artigos ou pequenas notas sobre as discussões que ocorriam em torno da temática. Esse foi o caso do Jornal do Brasil, aliás, um dos fortes críticos da SEAF que publicou em 28 de dezembro de 1981, um editorial comentando as deficiências do ensino de segundo grau. Segundo o referido jornal, essas deficiências se davam principalmente pelo processo de múltipla escolha do vestibular, que desprezava o cultivo do raciocínio. Assim dizia o artigo: "é essa deformação pedagógica que o estudo da filosofia pode ajudar a corrigir. Eis um estudo que não tem finalidades imediatas e nem chega a resultados quantificáveis. Também não é capaz de propor soluções instantâneas para os problemas do nosso tempo." (Jornal do Brasil, 1981:2)

    Porém, sua intenção em defesa da filosofia tropeça no momento em que apenas a apresentava como uma disciplina na condição de "motivação profunda das ações humanas". Além disso, é interessante estar atento para o fato de que esse editorial foi publicado logo após a divulgação do "Documento de Brasília" (Documento elaborado por um grupo importante de filósofos brasileiros e que pelo seu caráter crítico repercutiu muito nas universidades, escolas de Segundo grau e também nas diretrizes e objetivos do ensino de filosofia a partir de 1981.), configurando-se como uma oposição às propostas do seu texto final, no qual se enfocou a necessidade de uma filosofia crítica, engajada e preocupada em fazer dos problemas do cotidiano dos alunos um importante objeto de análise.

    Diante dessas discussões, é afirmativa a resposta à questão levantada acima. Acredito que a filosofia tem um lugar no ensino de segundo grau. O processo educacional humano é mediado pelas diversas relações sociais e é fruto de um conjunto de contradições e conflitos que constituem as mesmas relações concretas. Assim, a forma que o processo educativo assume em cada momento histórico será sempre o resultado provisório de relações conflituosas. O ensino de filosofia não foge dessa realidade e os seus professores não podem ficar indiferentes a ela, uma vez que se encontram envolvidos nos limites e possibilidades da ação exercida pelo sistema institucionalizado do ensino. A tensão do contraditório e a necessidade da reflexão desafiam-nos a intervir nessa realidade.

    E essa atuação não pode ser entendida no sentido de recuperar o ensino em geral, para que se dê uma tintura de "humanidades" no segundo grau e, tampouco, no sentido de que a filosofia seja a salvação para a educação, pois a responsabilidade por um bom sistema de ensino diz respeito a todos os que estão envolvidos no processo educacional. Ora, o que significa então? Um dos elementos importantes é a diversidade de temas com que lida a filosofia. Isto fará com que o aluno possa, diante de um problema, ter uma visão muito mais enriquecida do seu próprio universo para resolvê-lo.

    Não poderá a filosofia ser apenas mais uma disciplina na grade curricular para "atrapalhar" a vida do aluno, como afirmam alguns intelectuais de plantão, mas deverá contribuir para aumentar sua concepção de mundo, para que possa melhor situar-se no seu contexto político, social e histórico. É na mediação do processo educacional, no trabalho conjunto com as demais disciplinas, que alunos e professores podem perceber a importância da filosofia como disciplina do currículo de segundo grau. Não poderá prescindir do ensino de filosofia a realização de um projeto educacional que tenha por base a formação ampla dos estudantes, considerando-se que a presença da filosofia pode contribuir efetivamente para a vida cultural e política das pessoas.

    Um elemento importante a ser tomado em conta para fundamentar o significado de sua presença nos currículos de segundo grau é a dimensão crítica atribuída à filosofia. Embora muitos textos e documentos oficiais apelem para essa tão decantada função crítica da filosofia, na maioria das vezes entendida como espírito lógico, em oposição ao pensamento mecânico, preferimos tomar a perspectiva da filosofia crítica, apresentada por Marilena Chauí, segundo a qual o pensamento crítico não é apenas privilégio da filosofia, mas, sem dúvida, é uma das suas tarefas específicas.

    Em seu artigo intitulado "Filosofia e Cultura" (Referenciado por Simon, 1984:19) Chauí apresenta, a partir de uma leitura de Maurice Merleau-Ponty, a filosofia como trabalho do pensamento, trabalho para transformar uma experiência imediatamente vivida numa experiência compreendida, quer dizer, num saber a respeito dessa experiência. A filosofia é trabalho, isto é, negação interna da experiência imediata, negação do caráter abstrato da experiência, em busca da gênese e da produção daquilo que apenas está dado.

    A idéia de que, de um lado, existam as experiências e, de outro, a reflexão/trabalho do pensamento, que de fora converteria uma experiência qualquer em verdadeira, é veementemente recusada por Chauí. Ao contrário, a filosofia é a capacidade de fazer com que a reflexão sobre a experiência seja, ela própria, enquanto reflexão, uma experiência. Não algo que vem de fora como uma consciência que se deposita sobre uma experiência inconsciente, mas como uma experiência, ela própria, de se tornar mais significativa.

    A partir dessas considerações, a autora mostra o movimento da filosofia como sendo realizado de duas maneiras. Em primeiro lugar, ao negar dialeticamente a experiência imediata, o trabalho do pensamento revela que esta experiência está carregada de sentido. E em segundo lugar, a filosofia é um trabalho com gêneses, isto é, com a busca pelo conhecimento da origem de uma experiência e do sentido que essa experiência tem a partir de sua origem.

    Assim, partindo da concepção apresentada entendo que a perspectiva crítica da filosofia é aquela em que as coisas não são dadas, e sim aquela que indica para uma necessidade dos indivíduos decidirem por si mesmos, para aquilo que se deve fazer, e que os seres humanos são responsáveis pelos acontecimentos em seu meio. Por conseguinte, a crítica deve ser entendida enquanto trabalho do pensamento, e não como um conjunto de conteúdos verdadeiros e acabados. A crítica enquanto contradiscurso deve fazer falar o silêncio contido nos discursos. Desse modo, podemos compreender por que interessa aos discursos oficiais o esvaziamento do sentido da palavra "crítica" e também da presença e importância da filosofia no ensino de segundo grau. Ao mesmo tempo - e isso é importante que seja ressaltado - procura-se afastar a idéia de "crítica" como mera negação do discurso dominante.

    Para reforçar as reflexões acima expostas, Gramsci (1989), afirma que a verdadeira crítica é aquela mediante a qual o intelectual destrói em si mesmo a velha concepção de mundo, que inclui, em geral, o preconceito segundo o qual devemos preferir um compromisso passivo com a situação dada ao incômodo de nos responsabilizarmos mais por aquilo que somos e fazemos; é aquela mediante a qual se busca reduzir a distância entre teoria e prática, promovendo a unidade entre ciência e vida, entre o filósofo e o seu espaço de atuação na medida em que é daí que ele retira os problemas que se propõe solucionar.

    Apontando algumas perspectivas

    Antes de prosseguir nas discussões em torno das perspectivas para o ensino de filosofia, gostaria de ressaltar algumas considerações sobre o exposto acima. A primeira diz respeito à uma posição em favor da introdução da disciplina de filosofia como obrigatória no segundo grau. Talvez não seja tão fácil justificá-la, mas acreditamos que há algo maior que a simples abertura de mercado de trabalho. Há algo maior que a preocupação com a possibilidade de os alunos terem capacidade de opinar. Há algo maior que o seu papel na interdisciplinaridade. Há algo maior que a contribuição para uma pretensa nova educação. Não se trata apenas de formar o homem enquanto homus faber mas sim do homem como "conjunto de relações sociais", como "síntese das múltiplas determinações", ou seja, o sujeito da história.

    Talvez um exemplo como o da França, onde o ensino de filosofia é obrigatório desde o século passado, e que ajuda a entender a formação cultural daquele povo, possa servir para enfatizar nossa convicção de sua presença no segundo grau. De acordo com a reportagem de André Lahós, no jornal Folha de São Paulo, de 1º de maio de 1994, os franceses estudam um ano de filosofia, o correspondente ao terceiro colegial, com uma carga horária semanal que varia de oito a duas horas, dependendo do curso. Os alunos fazem a opção no ano terminal, de acordo com a faculdade que querem cursar. No curso A, chamado de literário, a filosofia é a matéria mais importante, com oito horas semanais. No curso B, no qual a matéria é a economia, a carga horária é de cinco horas. Nos cursos científicos, a carga é de três horas semanais e nos cursos técnicos, de duas horas. Ainda segundo a mesma reportagem, o programa do Ministério da Educação é traçado em linhas bem gerais, cada professor desenvolve como desejar e é dividido em três partes: a) o homem e o mundo; b) o conhecimento e a razão e, c) a prática e os fins. Tudo isso, aliás, indica que a filosofia foi devidamente reconhecida, ao lado de outros conhecimentos importantes, como a história, a geografia, entre outros, etc.

    A segunda consideração, que desejo retomar, diz respeito a uma concepção crítica de filosofia, tanto nos trabalhos escritos por Gramsci, quanto por Chauí. Nas concepções defendidas por esses autores, o ensino de filosofia não deve ser neutro, mas deve apontar para um compromisso político-social. A filosofia deve ser entendida como formadora de consciência crítica e, embora não seja seu privilégio exclusivo, sem dúvida esta é uma de suas tarefas específicas. Nessa perspectiva, a crítica deve ter elementos de "radicalidade", na medida em que procura alcançar a "raiz" dos problemas; ser rigorosa, porque deve ter um método, o qual deve propiciar uma superação do senso comum, mesmo daquele que vulgarmente é entendido como senso crítico e que apenas se confunde com o "ser contra"; ter princípios de globalidade, para que a filosofia não se perca nas particularidades dos conhecimentos, que restringem o horizonte de compreensão do mundo e do homem. Mesmo que não se possa aspirar a uma filosofia como sistema, como construção de um todo auto-compreensivo, parece que se trata ainda de insistir ao encalço de uma melhor compreensão do todo. Como afirma Assmann, ao discutir o tema, "é preciso não desistir da busca da compreensão do todo, mesmo que se saiba que esta compreensão do todo nunca vai poder ser definitiva".

    A terceira e última é a de que o ensino de filosofia deve estar articulado com o conjunto de disciplinas das ciências humanas e com as demais disciplinas, para que possam dar sentido às discussões sobre a interdisciplinaridade. De acordo com Severino (1995:6), se aceitarmos que a educação é mediação das mediações histórico-sociais da existência real dos homens, e que o currículo é uma mediação de nível simbólico, da educação, impõe-se que, no caso do segundo grau, as mediações curriculares assegurem elementos que subsidiem a formação dos adolescentes de modo que eles possam entender e vivenciar sua inserção na realidade histórico-existencial.


    Referências Bibliográficas

    CARMINATI, Celso João. O ensino de filosofia no segundo grau: do seu afastamento ao movimento pela sua reintrodução. (A Sociedade de Estudos e Atividades Filosóficos).Florianópolis (SC): Universidade Federal de Santa Catarina. 1997. Dissertação de Mestrado.

    2. SEVERINO, Antônio Joaquim. Filosofia e Ciências Humanas no ensino de grau: uma abordagem antropológica dos adolescentes. São Paulo: 1995 (mimeo).

    3. HEGEL, Georg W. Friedrich. Escritos Pedagógicos. México: Fondo de Cultura Econômica, 1991.

    4. MACHADO, Renato. Filosofia no segundo grau. Florianópolis, 1995 (mimeo).

    5. MONTEIRO, João Paulo. Razões e ações da Filosofia. 1983 (mimeo).

    6. FAVARETTO, Celso J. Notas sobre ensino de filosofia. In: ARANTES, Paulo E. et alii. A Filosofia e seu ensino. São Paulo: Vozes/EDUC, 1995.

    7. SILVA, Franklin Leopoldo e. Por que filosofia no segundo grau? Estudos Avançados. São Paulo: 1992.

    8. CHAUÍ, Marilena. O regresso da razão. Folha de São Paulo, 01 de maio de 1994.

    9. DOCUMENTO DE BRASÍLIA. Sugestões de roteiro alternativos do ensino da Filosofia no segundo grau. Brasília: 18 novembro de 1981 (mimeo).

    10. SIMON, Maria Célia. A política da filosofia no segundo grau. Rio de Janeiro: 1984, mimeo.

    11. NUNES, César A. A Construção de uma nova identidade para filosofia no segundo grau: contradições e perspectivas. São Paulo: Universidade Estadual de Campinas (SP), 1990. Dissertação de Mestrado.

    12. WARDE, Mirian J. Educação e estrutura social. A profissionalização em questão. São Paulo: Cortez & Moraes, 1979.

    13. JORNAL DO BRASIL. Rio de Janeiro: 24 outubro de 1994.

    14. GRAMSCI, Concepção Dialética da História. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1989.

    15. ---------- . Os Intelectuais e a Organização da Cultura. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1988.

    16. FOLHA DE SÃO PAULO. São Paulo: 01 de maio de 1994.


    extraído de:
    http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/educacao/0014.html

    para mais, de Celso João Carminati,
    Professores de Filosofia: Crise e Perspectivas
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