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quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O que torna a distribuição digital tão cara


Roubalheira? O que torna a distribuição digital tão cara

Por Wikerson Landim / Quarta-Feira 29 de Agosto de 2012

Entenda quais são os custos envolvidos na produção de uma obra digital e entenda por que nem sempre elas podem ser mais baratas do que a versão física.

É possível que um livro digital custe mais caro do que um livro impresso? Sim, é possível e, se você já deu uma olhada nos preços desse tipo de produto nas lojas, certamente já percebeu que essa situação é mais comum do que você imaginava. Mas qual é o mistério por trás dos altos preços do formato digital?

O processo de criação

Para entender um pouco mais sobre esse processo, vamos levar em consideração a criação de um livro. Nessa primeira parte, ainda não há muita diferença entre um produto digital e uma obra física. O autor da obra escreve o seu texto e, caso tenha como objetivo a venda do livro, sua obra pode ir parar nas mãos de uma editora.

A editora pode remunerar o autor por um valor fixo pela obra, no caso dos livros feitos sob encomenda, ou fazer um acordo com o dono do texto no que diz respeito ao percentual do lucro que será repassado para ele pelo trabalho. Ele pode receber, por exemplo, 30% do valor de cada obra vendida, ficando o restante para a editora.


A editoração

Transformar o texto do autor em um livro de verdade requer ainda outros dois processos fundamentais que geralmente ficam sob a responsabilidade da editora. O primeiro deles é a revisão do conteúdo, que fica a cargo de um profissional específico para isso. Já a outra peça fundamental do processo é o designer gráfico, que ficará responsável pela criação da capa e pela diagramação do material.

Caso estejamos falamos de um livro digital com elementos interativos, pode haver ainda custos com relação à programação de alguns itens. Diferente do que acontece nas obras de produção independente, em que o autor se encarrega de todo esse processo ou, ainda, remunera do próprio bolso os profissionais envolvidos, na editora há também os custos trabalhistas do funcionário em questão, o que encarece o processo.

A disponibilização do produto

Se até aqui as diferenças são pequenas entre as obras físicas e digitais, é nesse ponto que começam as grandes mudanças. A obra física vai para a gráfica e, nesse caso, há todo o custo com a impressão do material e, posteriormente, com a distribuição do produto. Afinal, enviar livros via transportadora para diversos pontos do país não é algo barato.

Contudo, se você imagina que nesse ponto a distribuição digital não tem custo algum, é justamente aí que você se engana. Um dos custos, por exemplo, diz respeito aos softwares de DRM, responsáveis pela proteção dos direitos autorais do autor e que impedem, por exemplo, que um livro seja copiado aleatoriamente por qualquer pessoa.

O investimento em um software do gênero criado pela Adobe, por exemplo, pode chegar a R$ 80 mil, valor que obviamente entra nos custos de investimento de uma editora. Outro aspecto fundamental diz respeito à contratação de servidores e disponibilização de banda para tráfego de dados.

A palavra do consumidor: a demanda

Segundo as editoras, esse ainda é um dos maiores problemas que fazem com que a distribuição digital seja tão cara quando a venda do livro impresso. A biografia de Steve Jobs é hoje um dos livros digitais mais vendidos no país. Apesar disso, a obra vendeu pouco mais de 5 mil unidades, ou seja, um número pouco significativo.

Se você levar em consideração o valor hipotético de R$ 100 mil de investimento para o lançamento de um livro impresso ou digital e dividir esse valor pelo número de cópias vendidas, por exemplo, perceberá o quanto uma obra digital pode ser mais cara.

Com R$ 100 mil de investimento, o custo unitário ao final do processo de um livro que venda mil unidades seria de R$ 10. O mesmo livro em versão impressa, caso venda 100 mil unidades, teria um custo final de R$ 1 por livro. Os valores, é claro, são hipotéticos e as editoras trabalham com uma previsão de vendas antes do lançamento para estipular um valor final.

No caso dos livros digitais, a maioria deles não chega a vender nem 100 unidades no Brasil, o que aumenta o risco do investimento e, visando minimizar possíveis prejuízos, os preços acabam indo lá pra cima.

E no caso dos jogos?

No caso de um jogo, os processos de criação e editoração não sofrem alteração alguma de acordo com o tipo de distribuição. Entretanto, o tipo de distribuição impacta diretamente no custo final. É mais barato, por exemplo, enviar jogos em mídia física para as lojas, incluindo-se aí os custos de autoração de DVDs e Blu-rays, do que manter servidores de grande capacidade e que suportem altas taxas de tráfego.

Pense no seguinte comparativo: em uma caixa cabem 20 DVDs, que são enviados de uma só vez para um determinado ponto do país. Para mandar os mesmos 20 jogos via distribuição digital, para a mesma cidade, é necessário disponibilizar tráfego de banda suficiente para esses 20 downloads, muitas vezes de forma simultânea. É o investimento nessa estrutura que acaba encarecendo o preço do conteúdo digital.

Então é só esse o problema? Há solução para baixar os custos?

O que apresentamos acima são apenas características do mercado e isso não representa, necessariamente, que esse seja o modelo mais adequado ou mais inteligente de comercializar produtos do gênero. Entretanto, no que diz respeito à demanda dos produtos, a chave das mudanças está nas mãos dos consumidores.

Quanto maior for a procura por um produto (e por procura leia-se expectativa real de venda, excluindo-se as versões pirata), maiores são as chances de, em longo prazo, o custo unitário de cada obra diminuir. Não podemos nos esquecer também dos impostos, que sempre acabam encarecendo qualquer produto em pelo menos 15% ao longo do caminho.

As editoras e distribuidoras, sempre que possível, deveriam ainda fazer a sua parte, mantendo margens de lucro realistas sobre os seus produtos, o que é justo. Entretanto, sabemos que em muitos casos há abuso e compensação, fazendo com que em alguns produtos os custos aumentem de forma considerável sem necessidade alguma.

Por fim, embora não possa ser apontada como o fator determinante para os preços mais altos, ainda há a questão da pirataria, que contribui para que as editoras se sintam intimidadas e prevejam um risco maior na hora de investir na disseminação das plataformas digitais. É possível mudar o cenário? Certamente que sim. Isso vai acontecer tão cedo? Infelizmente, não.

Fonte: TecMundo

segunda-feira, 19 de março de 2012

Os robôs vão substituir os jornalistas?


Os robôs vão substituir os jornalistas?

19/03/2012 - 07h00
por Evgeny Morozov*

Será que a tecnologia pode ser autônoma? Será que pode ter vida própria e operar independentemente da orientação humana? Do teólogo francês Jacques Ellul ao Unabomber, essa era uma visão amplamente aceita. Mas hoje a maioria dos historiadores e sociólogos da tecnologia descarta a ideia, classificando-a como ingênua e imprecisa.

Mas considere por um momento o mundo das finanças modernas, cada vez mais dependente de operações automatizadas, com sofisticados algoritmos que encontram e exploram irregularidades nos preços invisíveis para os operadores comuns.

A revista "Forbes", uma das mais veneráveis instituições do jornalismo financeiro, agora utiliza os serviços de uma companhia chamada Narrative Science para gerar artigos on-line automaticamente sobre o que esperar dos anúncios trimestrais de resultados de empresas. Basta inserir algumas estatísticas, e o software inteligente produz artigos altamente legíveis em questão de segundos. Ou, como define a "Forbes", "a Narrative Science, por meio de sua plataforma exclusiva de inteligência artificial, transforma dados em histórias e percepções".

Fonte da imagem: link na foto
Não deixe a ironia passar despercebida: plataformas automatizadas agora "escrevem" reportagens sobre empresas que ganham dinheiro com transações automatizadas. Essas reportagens terminam influenciando o sistema financeiro e ajudam os algoritmos a identificar transações ainda mais lucrativas. Em termos práticos, o que temos é jornalismo produzido por robôs e para robôs. O único lado positivo da história é que o dinheiro todo fica para os seres humanos.

A Narrative Science é uma das diversas companhias que estão desenvolvendo software automatizado para jornalismo. Essas empresas iniciantes trabalham primordialmente em nichos de mercado --esportes, finanças, imóveis-- nos quais as reportagens tendem a seguir padrões parecidos e giram em torno de estatísticas. Agora, começam a operar também no segmento de jornalismo político. A Narrative Service passou a oferecer artigos sobre como a campanha eleitoral norte-americana aparece nas mídias sociais e que questões e candidatos são mais e menos discutidos em um determinado Estado ou região. O sistema pode até incorporar ao artigo final citações dos tuítes mais populares e mais interessantes. Nada melhor que robôs para cobrir o Twitter.

É fácil perceber por que os clientes da Narrative Science --a companhia diz contar com 30 deles-- consideram seus serviços úteis. Primeiro, ela é muito mais barata do que pagar jornalistas humanos, que de vez em quando adoecem e sempre exigem respeito. Como o "New York Times" reportou em setembro passado, um dos parceiros da Narrative Science no setor de construção paga menos de US$ 10 por um artigo de 500 palavras, e não há funcionários para reclamar de péssimas condições de trabalho. Além disso, o artigo é "redigido" em apenas um segundo. Nem mesmo ChristoperHitchens conseguiria fechar nesse prazo.

Segundo, a Narrative Science promete ser mais abrangente --e objetiva-- que qualquer repórter humano. Poucos jornalistas têm tempo para encontrar, processar e analisar milhões de tuítes, mas a Narrative Science é capaz de fazê-lo com facilidade e, o mais importante, de forma instantânea. O objetivo não é apenas reportar estatísticas sofisticadas mas também compreender o que esses números significam e informar sua importância ao leitor. A Narrative Science teria sido capaz de desvendar o caso Watergate? Provavelmente não. Mas a maioria das reportagens tem tramas bem menos complexas a desenvolver.

Os fundadores da Narrative Science afirmam que desejam simplesmente ajudar --e não exterminar-- o jornalismo. Pode bem ser que sejam sinceros. Os repórteres provavelmente odiarão a companhia, mas algumas editoras sempre preocupadas com custos certamente aceitarão sua colaboração de braços abertos. Em longo prazo, porém, o impacto cívico dessas tecnologias --que estão apenas em sua infância-- pode se provar mais problemático.

Acima de tudo, existe uma tendência clara na forma de desenvolvimento que a internet vem seguindo hoje --o esforço por personalizar as experiências on-line dos usuários. Tudo que clicamos, lemos, buscamos e assistimos on-line resulta, cada vez mais, de um esforço delicado de otimização, pelo qual nossos cliques, buscas, indicações, compras e interações anteriores determinam aquilo que surge nas telas de nossos navegadores e apps.

Até recentemente, muitos críticos da internet temiam que essa personalização da rede gerasse um mundo no qual leríamos apenas artigos que refletem nosso interesses existentes, sem que jamais tivéssemos de abandonar aquilo com que nos sentimos confortáveis. A mídia social, com sua sequência ininterrupta de links e minidebates, tornou obsoletas algumas dessaspreocupações. Mas a ascensão do "jornalismo automatizado" pode um dia apresentar um desafio novo e diferente, que os excelentes mecanismos de descoberta da mídia social ainda não são capazes de resolver: e se clicarmos no mesmo link, que em teoria conduz ao mesmo artigo, mas terminarmos lendo textos muito diferentes?

Como isso funcionaria? Imagine que meu histórico on-line sugira que eu tenho um diploma avançado e que passo muito tempo nos sites da "Economist" ou da "New York Review of Books"; como resultado, verei uma versão mais sofisticada, desafiadora e informativa da história, enquanto meu vizinho, leitor do "USA Today", recebe uma versão simplificada. Se for possível inferir que também estou interessado em notícias internacionais e em Justiça mundial, um artigo computadorizado sobre Angelina Jolie pode terminar mencionando seu novo filme sobre a guerra na Bósnia. Já o meu vizinho, obcecado por celebridades, poderia ler a mesma reportagem, mas acrescida de uma fofoca suculenta sobre Brad Pitt.

Produzir e alterar histórias instantaneamente, personalizadas de maneira a se enquadrar aos interesses e hábitos intelectuais de um dado leitor, é exatamente o que o jornalismo automatizado permite. E esse é o motivo para que nos preocupemos com a questão. Os anunciantes e as editoras adoram essa personalização, que pode convencer os usuários a passar mais tempo em seus sites. Mas as implicações sociais são bastante dúbias. No mínimo, existe o perigo de que algumas pessoas fiquem aprisionadas em um círculo vicioso de notícias, consumindo apenas junk food informativa e tendo pouca indicação de que existe um mundo diferente, e mais inteligente, ao seu alcance. E a natureza comunal da mídia social confirmaria a essas pessoas que na verdade não estão perdendo coisa alguma de importante. Naturalmente, isso também poderia ser o próximo passo na evolução das muito odiadas "fazendas deconteúdo", exemplificadas pela Demand Media.

Considerem o que pode acontecer se, como parece provável, grandes empresas de tecnologia ingressarem nesse segmento e começarem a ocupar o espaço aberto por pequenas empresas como a Narrative Science. A Amazon serve de exemplo. Seu leitor eletrônico Kindle permite que usuários procurem palavras desconhecidas em um dicionário eletrônico e que marquem suas frases favoritas em um texto. Isso poderia ser útil quando a Amazon decidir criar um serviço de notícias personalizadas completamente automático. Afinal, a Amazon já sabe que jornais leio, de que tipo de frase gosto, que palavras eu considero difíceis. E eu já tenho o aparelho deles, no qual poderia ler essas notícias --de graça!

Ou pense no Google. Não só a companhia conhece meus hábitos de consumo de informação melhor que ninguém --ainda mais depois da unificação de suas normas de privacidade--, como opera o Google News, um serviço sofisticado para agregar notícias, o que permite que a empresa acumule um conhecimento amplo sobre os assuntos correntes. E graças ao altamente popular serviço Google Translate, ela também sabe como montar sentenças legíveis.

Considerando tudo isso, a ideia de que uma maior automação poderia salvar o jornalismo parece míope. No entanto, inovadores como a Narrative Science não são culpados; se usadas de maneira estreita, suas tecnologias podem economizar custos e talvez permitir que alguns jornalistas --desde que mantenham seus empregos!-- desenvolvam projetos analíticos mais interessantes, em lugar de reescreverem a mesma matéria a cada semana.

A verdadeira ameaça vem de nossa recusa em investigar as consequências sociais e políticas de viver em um mundo no qual ler anonimamente se torna quase impossível. É um mundo que os anunciantes --e empresas como Google, Amazon e Facebook-- mal podem esperar que surja, mas também um mundo no qual o pensamento crítico, erudito e heterodoxo pode se tornar mais difícil de promover e preservar.


* Evgeny Morozov é pesquisador-visitante da Universidade Stanford e analista da New America Foundation. É autor de "The Net Delusion: The Dark Side of Internet Freedom" (a ilusão da rede: o lado sombrio da liberdade na internet). Tem artigos publicados em jornais e revistas como "The New York Times", "The Wall Street Journal", " Financial Times" e "The Economist". Lançará em 2012 o livro "Silicon Democracy" (a democracia do silício). Escreve [na FSP] às segundas-feiras, a cada quatro semanas.

Tradução de Paulo Migliacci

Extraído de FSP

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Maça a menos em nosso pomar...


Adeus, Steve Jobs!

24 de fevereiro de 1955 a 05 de outubro de 2011


Steve Jobs - fundador da Apple
Foto: Moshe Brakha/AP




sábado, 22 de janeiro de 2011

Filosofia e Meio Ambiente

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Conferência "Filosofia e Meio Ambiente",
com Raimundo Nonato Damasceno,
no XIV Encontro Estadual de Professores/as de Filosofia,
promovido pela SEAF.


Este XIV Encontro Estadual de Professores/as de Filosofia
SEAF 2010 teve o patrocínio de

Gravado em 23 de setembro de 2010, na UERJ.





  • Raimundo Nonato Damasceno é Doutor em Química pela PUC-RJ; Coordenador do Núcleo de Estudos em Biomassa e Gerenciamento de Águas da Universidade Federal Fluminense (NAB/UFF)
  • Gravação e edição - pela gentileza e compromisso com o conhecimento - de Diego Felipe de Souza Queiroz; Professor de Filosofia na Rede Estadual de Ensino - RJ e parceiro da SEAF; a quem muito agradecemos. Partes de 1 a 5.
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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Como desligar e viver

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Incapacidade de "desligar" encurta fins de semana


Por Paula Torres de Carvalho

Estudo
28.11.2010 - 20:45


Os fins de semana acabam por ser muito mais curtos do que o previsto, pela incapacidade de grande maioria das pessoas “desligar” dos compromissos de trabalho, revela um inquérito britânico.

Realizado por uma cadeia de hotéis inglesa junto de um universo de 4000 trabalhadores com idades compreendidas entre os 18 e os 60 anos, este estudo conclui que seis em dez empregados interrompem o fim de semana para realizar alguma tarefa relacionada com o emprego, como ler os emails ou mesmo algum trabalho. Um quarto dos inquiridos revelou que tinha este comportamento, em consequência de pressões por parte do chefe ou porque os colegas também o faziam.

Para a maioria das pessoas, revela o estudo, o fim de semana não tem início na sexta-feira à noite porque só a partir das 12h38 de sábado é que conseguem “desligar-se” do ritmo de trabalho. A ansiedade regressa às 15h55 do dia seguinte, domingo, o que impossibilita que os trabalhadores gozem o fim de semana até ao fim. Contas feitas, acabam por aproveitar apenas 27 horas e 17 minutos ao longo do sábado e do domingo, menos de metade do tempo em que estão fora do emprego, conclui o mesmo inquérito.

Metade das pessoas que respondeu ao inquérito britânico salientou que o trabalho acaba por prejudicar o tempo passado em família e mais de metade afirmaram que as tarefas domésticas os deixavam demasiado cansados para aproveitar o fim de semana de forma mais descontraída.

Extraído de Publico.pt

sábado, 25 de setembro de 2010

Educação: de Gutenberg à era dos computadores

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Desde a revolução de Gutenberg, não ocorria nada igual à internet
O futuro é a educação

Por Paulo Guedes
Publicado no jornal O Globo em 06/09/2010

Um engenheiro construiu aquedutos e catapultas na antiga Roma, castelos e catedrais na Idade Média, como constrói nos dias de hoje foguetes espaciais e plataformas marítimas para exploração de petróleo. Um exemplo de como o conhecimento transforma as profissões através dos séculos.

De carroças puxadas por bois às ferrovias, de caminhões a diesel aos aviões de carga, mesmo o passado recente registra o extraordinário impacto das inovações sobre os meios de transporte. Um exemplo de como o conhecimento também transforma de modo radical nossas atividades produtivas.

A verdade é que a educação, ao possibilitar a evolução e a transmissão do conhecimento ao longo da história humana, modificou profissões, trouxe novas tecnologias e transformou atividades produtivas, mas recebeu relativamente pouco em troca. Seus métodos de transmissão permaneceram os mesmos por milênios.

Não me refiro evidentemente ao conteúdo educacional ou à qualidade dos métodos científicos modernos em comparação às investigações filosóficas dos antigos. E sim à "tecnologia de transmissão", com alguns tutores e muita saliva. Os ensinamentos de Aristóteles para o jovem Alexandre da Macedônia foram transmitidos por aulas expositivas, diálogos e estímulo à leitura, técnicas que em pouco diferiam das atuais.

É com essa perspectiva que avaliamos o impacto das novas tecnologias sobre a educação. Desde a revolução de Gutenberg, não ocorria nada igual à chegada da internet, a globalização efetiva da informação.

A onda de inovações aplicáveis à transmissão do conhecimento está causando uma revolução no setor. Há uma convergência de novas tecnologias que permitirá a superação do maior de todos os desafios: a universalização do ensino de qualidade.

A oportunidade de criação de valor na moderna sociedade do conhecimento por meio dessa universalização de um conteúdo antes acessível a poucos, com uma dramática redução de custos pela aplicação das novas tecnologias, está produzindo, por sua vez, uma onda de fusões, aquisições e associações entre empresas de internet, da indústria de telecomunicações, da mídia convencional e do setor de educação propriamente dito.

A convergência das novas tecnologias está derrubando as muralhas antes existentes entre esses diversos setores, redefinindo fronteiras e criando novas oportunidades de investimento. E, pela primeira vez, o maior beneficiário será a educação.


* Paulo Guedes é sócio – fundador e CEO do grupo financeiro BR Investimentos. Economista com Ph.D. pela Universidade de Chicago, foi um dos sócios - fundadores e diretor do Banco Pactual. Foi Sócio e CEO do IBMEC, uma das principais escolas de negócios do país, que veio a ser um marco no ensino de negócios do Brasil. É colunista semanal do jornal O Globo e escreve a cada duas semanas para a revista Época.

7/9/2010

Extraído de A Voz do Cidadão
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terça-feira, 7 de setembro de 2010

Fim do livro? Nem pensar!

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Eletrônicos duram 10 anos; livros, 5 séculos, diz Umberto Eco

Ensaísta e escritor italiano fala em entrevista exclusiva de seu novo trabalho, 'Não Contem com o Fim do Livro'

13 de março de 2010 | 9h 33
jornal
O Estado de São Paulo - Estadão



O bom humor parece ser a principal característica do semiólogo, ensaísta e escritor italiano Umberto Eco. Se não, é a mais evidente. Ao pasmado visitante, boquiaberto diante de sua coleção de 30 mil volumes guardados em seu escritório/residência em Milão, ele tem duas respostas prontas quando é indagado se leu toda aquela vastidão de papel. "Não. Esses livros são apenas os que devo ler na semana que vem. Os que já li estão na universidade" - é a sua preferida. "Não li nenhum", começa a segunda. "Se não, por que os guardaria?"



Na verdade, a coleção é maior, beira os 50 mil volumes, pois os demais estão em outra casa, no interior da Itália. E é justamente tal paixão pela obra em papel que convenceu Eco a aceitar o convite de um colega francês, Jean-Phillippe de Tonac, para, ao lado de outro incorrigível bibliófilo, o escritor e roteirista Jean-Claude Carrière, discutir a perenidade do livro tradicional. Foram esses encontros ("muito informais, à beira da piscina e regados com bons uísques", informa Umberto Eco) que resultaram em Não Contem Com o Fim do Livro, que a editora Record lançou na segunda quinzena de abril 2010.

A conclusão é óbvia: tal qual a roda, o livro é uma invenção consolidada, a ponto de as revoluções tecnológicas, anunciadas ou temidas, não terem como detê-lo. Qualquer dúvida é sanada ao se visitar o recanto milanês de Eco, como fez o Estado (Estadão) na última quarta-feira. Localizado diante do Castelo Sforzesco, o apartamento - naquele dia soprado por temperaturas baixíssimas, a neve pesada insistindo em embranquecer a formidável paisagem que se avista de sua sacada - encontra-se em um andar onde antes fora um pequeno hotel. "Se eram pouco funcionais para os hóspedes, os longos corredores são ótimos para mim pois estendo aí minhas estantes", comenta o escritor, com indisfarçável prazer, ao apontar uma linha reta de prateleiras repletas que não parecem ter fim. Os antigos quartos? Transformaram-se em escritórios, dormitórios, sala de jantar, etc. O mais desejado, no entanto, é fechado a chave, climatizado e com uma janela que veda a luz solar: lá estão as raridades, obras produzidas há séculos, verdadeiros tesouros. Isso mesmo: tesouros de papel.

Conhecido tanto pela obra acadêmica (é professor aposentado de semiótica, mas ainda permanece na ativa na Faculdade de Bolonha) como pelos romances (O Nome da Rosa, publicado em 1980, tornou-se um best-seller mundial), Eco é um colecionador nato; além de livros, gosta também de selos, cartões-postais, rolhas de champanhe. Na sala de seu apartamento, estantes de vidro expõem tantos os livros raros - que, no momento, lideram sua preferência - como conchas, pedras, pedaços de madeira. As paredes expõem quadros que Eco arrematou nas visitas que fez a vários países ou que simplesmente ganhou de amigos - caso de Mário Schenberg (1914-1990), físico, político e crítico de arte brasileiro, de quem o escritor guarda as melhores recordações.

Aos 78 anos, Eco - que tem relançado no País Arte e Beleza na Estética Medieval (Record, 368 págs., R$ 47,90, tradução de Mario Sabino) - exibe uma impressionante vitalidade. Diverte-se com todo tipo de cinema (ao lado de seu aparelho de DVD repousa uma cópia da animação Ratatouille), mantém contato com seus alunos em Bolonha, escreve artigos para jornais e revistas e aceita convites para organizar exposições, como a que o transformou, no ano passado, em curador, no Museu do Louvre, em Paris. Lá, o autor teve o privilégio de passear sozinho pelos corredores do antigo palácio real francês nos dias em que o museu está fechado. E, como um moleque levado, aproveitou para alisar o bumbum da Vênus de Milo. Foi com esse mesmo espírito bem-humorado que Eco - envergando um elegante terno azul-marinho, que uma revolta gravata da mesma cor tratava de desalinhar; o rosto sem a característica barba grisalha (raspada religiosamente a cada 20 anos e, da última vez, em 2009, também porque o resistente bigode preto o fazia parecer Gengis Khan nas fotos) - conversou com a reportagem do Sabático.

O livro não está condenado, como apregoam os adoradores das novas tecnologias?

O desaparecimento do livro é uma obsessão de jornalistas, que me perguntam isso há 15 anos. Mesmo eu tendo escrito um artigo sobre o tema, continua o questionamento. O livro, para mim, é como uma colher, um machado, uma tesoura, esse tipo de objeto que, uma vez inventado, não muda jamais. Continua o mesmo e é difícil de ser substituído. O livro ainda é o meio mais fácil de transportar informação. Os eletrônicos chegaram, mas percebemos que sua vida útil não passa de dez anos. Afinal, ciência significa fazer novas experiências. Assim, quem poderia afirmar, anos atrás, que não teríamos hoje computadores capazes de ler os antigos disquetes? E que, ao contrário, temos livros que sobrevivem há mais de cinco séculos? Conversei recentemente com o diretor da Biblioteca Nacional de Paris, que me disse ter escaneado praticamente todo o seu acervo, mas manteve o original em papel, como medida de segurança.

Qual a diferença entre o conteúdo disponível na internet e o de uma enorme biblioteca?


A diferença básica é que uma biblioteca é como a memória humana, cuja função não é apenas a de conservar, mas também a de filtrar - muito embora Jorge Luis Borges, em seu livro Ficções, tenha criado um personagem, Funes, cuja capacidade de memória era infinita. Já a internet é como esse personagem do escritor argentino, incapaz de selecionar o que interessa - é possível encontrar lá tanto a Bíblia como Mein Kampf, de Hitler. Esse é o problema básico da internet: depende da capacidade de quem a consulta. Sou capaz de distinguir os sites confiáveis de filosofia, mas não os de física. Imagine então um estudante fazendo uma pesquisa sobre a 2.ª Guerra Mundial: será ele capaz de escolher o site correto? É trágico, um problema para o futuro, pois não existe ainda uma ciência para resolver isso. Depende apenas da vivência pessoal. Esse será o problema crucial da educação nos próximos anos.


Não é possível prever o futuro da internet?


Não para mim. Quando comecei a usá-la, nos anos 1980, eu era obrigado a colocar disquetes, rodar programas. Hoje, basta apertar um botão. Eu não imaginava isso naquela época. Talvez, no futuro, o homem não precise escrever no computador, apenas falar e seu comando de voz será reconhecido. Ou seja, trocará o teclado pela voz. Mas realmente não sei.

Como a crescente velocidade de processar dados de um computador poderá influenciar a forma como absorvemos informação?


O cérebro humano é adaptável às necessidades. Eu me sinto bem em um carro em alta velocidade, mas meu avô ficava apavorado. Já meu neto consegue informações com mais facilidade no computador do que eu. Não podemos prever até que ponto nosso cérebro terá capacidade para entender e absorver novas informações. Até porque uma evolução física também é necessária. Atualmente, poucos conseguem viajar longas distâncias - de Paris a Nova York, por exemplo - sem sentir o desconforto do jet lag. Mas quem sabe meu neto não poderá fazer esse trajeto no futuro em meia hora e se sentir bem?


É possível existir contracultura na internet?


Sim, com certeza, e ela pode se manifestar tanto de forma revolucionária como conservadora. Veja o que acontece na China, onde a internet é um meio pelo qual é possível se manifestar e reagir contra a censura política. Enquanto aqui as pessoas gastam horas batendo papo, na China é a única forma de se manter contato com o restante do mundo.

Em um determinado trecho de 'Não Contem Com o Fim do Livro', o senhor e Jean-Claude Carrière discutem a função e preservação da memória - que, como se fosse um músculo, precisa ser exercitada para não atrofiar.


De fato, é importantíssimo esse tipo de exercício, pois estamos perdendo a memória histórica. Minha geração sabia tudo sobre o passado. Eu posso detalhar sobre o que se passava na Itália 20 anos antes do meu nascimento. Se você perguntar hoje para um aluno, ele certamente não saberá nada sobre como era o país duas décadas antes de seu nascimento, pois basta dar um clique no computador para obter essa informação. Lembro que, na escola, eu era obrigado a decorar dez versos por dia. Naquele tempo, eu achava uma inutilidade, mas hoje reconheço sua importância. A cultura alfabética cedeu espaço para as fontes visuais, para os computadores que exigem leitura em alta velocidade. Assim, ao mesmo tempo que aprimora uma habilidade, a evolução põe em risco outra, como a memória. Lembro-me de uma maravilhosa história de ficção científica escrita por Isaac Asimov, nos anos 1950. É sobre uma civilização do futuro em que as máquinas fazem tudo, inclusive as mais simples contas de multiplicar. De repente, o mundo entra em guerra, acontece um tremendo blecaute e nenhuma máquina funciona mais. Instala-se o caos até que se descobre um homem do Tennessee que ainda sabe fazer contas de cabeça. Mas, em vez de representar uma salvação, ele se torna uma arma poderosa e é disputado por todos os governos - até ser capturado pelo Pentágono por causa do perigo que representa (risos). Não é maravilhoso?


No livro, o senhor e Carrière comentam sobre como a falta de leitura de alguns líderes influenciou suas errôneas decisões.


Sim, escrevi muito sobre informação cultural, algo que vem marcando a atual cultura americana que parece questionar a validade de se conhecer o passado. Veja um exemplo: se você ler a história sobre as guerras da Rússia contra o Afeganistão no século 19, vai descobrir que já era difícil combater uma civilização que conhece todos os segredos de se esconder nas montanhas. Bem, o presidente George Bush, o pai, provavelmente não leu nenhuma obra dessa natureza antes de iniciar a guerra nos anos 1990. Da mesma forma que Hitler devia desconhecer os relatos de Napoleão sobre a impossibilidade de se viajar para Moscou por terra, vindo da Europa Ocidental, antes da chegada do inverno. Por outro lado, o também presidente americano Roosevelt, durante a 2.ª Guerra, encomendou um detalhado estudo sobre o comportamento dos japoneses para Ruth Benedict, que escreveu um brilhante livro de antropologia cultural, "
O Crisântemo e a Espada". De uma certa forma, esse livro ajudou os americanos a evitar erros imperdoáveis de conduta com os japoneses, antes e depois da guerra. Conhecer o passado é importante para traçar o futuro.

Diversos historiadores apontam os ataques terroristas contra os americanos em 11 de setembro de 2001 como definidores de um novo curso para a humanidade. O senhor pensa da mesma forma?


Foi algo realmente modificador. Na primeira guerra americana contra o Iraque, sob o governo de Bush pai, havia um confronto direto: a imprensa estava lá e presenciava os combates, as perdas humanas, as conquistas de território. Depois, em setembro de 2001, se percebeu que a guerra perdera a essência de confronto humano direto - o inimigo transformara-se no terrorismo, que podia se personificar em uma nação ou mesmo nos vizinhos do apartamento ao lado. Deixou de ser uma guerra travada por soldados e passou para as mãos dos agentes secretos. Ao mesmo tempo, a guerra globalizou-se; todos podem acompanhá-la pela televisão, pela internet. Há discussões generalizadas sobre o assunto.


Falando agora sobre sua biblioteca, é verdade que ela conta com 50 mil volumes?


Sim, de uma forma geral. Nesse apartamento em Milão, estão apenas 30 mil - o restante está no interior da Itália, onde tenho outra casa. Mas sempre me desfaço de algumas centenas, pois, como disse antes, é preciso fazer uma filtragem.


Por que o senhor impediu sua secretária de catalogá-los?


Porque a forma como você organiza seus livros depende da sua necessidade atual. Tenho um amigo que mantém os seus em ordem alfabética de autores, o que é absolutamente estúpido, pois a obra de um historiador francês vai estar em uma estante e a de outro em um lugar diferente. Eu tenho aqui literatura contemporânea separada por ordem alfabética de países. Já a não contemporânea está dividida por séculos e pelo tipo de arte. Mas, às vezes, um determinado livro pode tanto ser considerado por mim como filosófico ou de estética da arte; depende do motivo da minha pesquisa. Assim, reorganizo minha biblioteca segundo meus critérios e somente eu, e não uma secretária, pode fazer isso. Claro que, com um acervo desse tamanho, não é fácil saber onde está cada livro. Meu método facilita, eu tenho boa memória, mas, se algum idiota da família retira alguma obra de um lugar e a coloca em outro, esse livro está perdido para sempre. É melhor comprar outro exemplar (risos).


Um estudioso que também é seu amigo, Marshall Blonsky, escreveu certa vez que existe de um lado Umberto, o famoso romancista, e de outro Eco, professor de semiótica.


E ambos sou eu (risos). Quando escrevo romances, procuro não pensar em minhas pesquisas acadêmicas - por isso, tiro férias. Mesmo assim, leitores e críticos traçam diversas conexões, o que não discuto. Lembro de que, quando escrevia "
O Pêndulo de Foucault", fiz diversas pesquisas sobre ciência oculta até que, em um determinado momento, elas atingiram tal envergadura que temi uma teorização exagerada no romance. Então, transformei todo o material em um curso sobre ciência oculta, o que foi muito bem-feito.

Por falar em 'O Pêndulo de Foucault', comenta-se que o senhor antecipou em muito tempo O Código de Da Vinci, de Dan Brown.


Quem leu meu livro sabe que é verdade. Mas, enquanto são os meus personagens que levam a sério esse ocultismo barato, Dan Brown é quem leva isso a sério e tenta convencer os leitores de que realmente é um assunto a ser considerado. Ou seja, fez uma bela maquiagem. Fomos apresentados neste ano em uma première do Teatro Scala e ele assim se apresentou: "
O senhor não me admira, mas eu gosto de seus livros." Respondi: "Não é que eu não goste de você - afinal, eu criei você" (risos).

Em seu mais conhecido romance, O Nome da Rosa, há um momento em que se discute se Jesus chegou a sorrir. É possível pensar em senso de humor quando se trata de Deus?


De acordo com Baudelaire, é o Diabo quem tem mais senso de humor (risos). E, se Deus realmente é bem-humorado, é possível entender por que certos homens poderosos agem de determinada maneira. E se ainda a vida é como uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria, como Shakespeare apregoa em Macbeth, é preciso ainda mais senso de humor para entender a trajetória da humanidade.


Como foi a exposição no Museu do Louvre, em Paris, da qual o senhor foi curador, no ano passado?


Há quatro anos, o museu reserva um mês para um convidado (Toni Morrison foi escolhida certa vez) organizar o que bem entender. Então, me convidaram e eu respondi que queria fazer algo sobre listas. "
Por quê?", perguntaram. Ora, sempre usei muitas listas em meus romances - até pensei em escrever um ensaio sobre esse hábito. Bem, quando se fala em listas na cultura, normalmente se pensa em literatura. Mas, como se trata de um museu, decidi elaborar uma lista visual e musical, essa sugerida pela direção do Louvre. Assim, tive o privilégio (que não foi oferecido a Dan Brown) de visitar o museu vazio, às terças-feiras, quando está fechado. E pude tocar a bunda da Vênus de Milo (risos) e admirar a Mona Lisa a apenas 20 centímetros de distância.

O senhor esteve duas vezes no Brasil, em 1966 e 1979. Que recordações guarda dessas visitas?


Muitas. A primeira, em São Paulo, onde dei algumas aulas na Faculdade de Arquitetura (da USP), que originaram o livro "
A Estrutura Ausente". Já na segunda fui acompanhado da família e viajamos de Manaus a Curitiba. Foi maravilhoso. Lembro-me de meu editor na época pedindo para eu ficar para o carnaval e assistir ao desfile das escolas de samba de camarote, o que não pude atender. E também me recordo de imagens fortes, como a da moça que cai em transe em um terreiro (para o qual fui levado por Mario Schenberg) e que reproduzo em "O Pêndulo de Foucault."

Extraído de Estadão


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domingo, 6 de junho de 2010

Prêmio Dardos

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Com muita satisfação, o Blog da SEAF recebeu, na quarta-feira, 12 de maio de 2010, o selo do Prêmio Dardos.

O selo foi oferecido por Célio Roberto Pereira, um “Professor aprendendo a apreender”, nascido na periferia (e ainda morando nela! - Porto União, SC) autor do Blog Outra História [e que havia sido reconhecido pela Artista Plástica, poeta, fotógrafa e autora do blog Extremamente Tênue].

É um selo importante pois é reconhecimento a blogueiros/as que levam a vida a sério, também na blogosfera.

Apesar de Célio Roberto, informar que o “selo foi uma criação do Junior Vilanova, do blogue “Contatos Imediatos”, e da Olga, do blogue “Pensamentos, Ideias e Sonhos”, a SEAF visitou o “Contatos Imediatos – da poesia ao caos” e o próprio Junior Vilanova também ganhou o Prêmio Dardos de uma amiga blogueira.

Nosso “gênio” da pesquisa nos levou a “Prêmio Dardos…. e um mistério!” e também a Tracing the Premio Dardo.

Talvez o Prêmio Dardos possa ser um indemonstrável, como os axiomas ou os dogmas; ou mesmo regras de jogos. O fato é que é uma maneira de DEMONSTRAR nossa admiração e confraternizar com amigos e amigas, blogueiras e blogueiros que perseveram na transmissão de valores estéticos, culturais, éticos, libertários, de direitos, em uma palavra: de verdade; e que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto em suas letras, palavras, postagens.

E seguindo algumas regras, após o recebimento deste selo, devemos:

a) exibir a imagem do selo em seu blog;
b) postar um link para o blog que o/a escolheu;
c) escolher outros quinze blogs a quem entregar o prêmio;
d) avisar aos escolhidos.

Os escolhidos de SEAF - como forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agrega valor à Web e, especialmente, eleva cada leitor/a, visitante, seguidor/a; e ainda considerando que a Filosofia é busca do sentido da realidade - da diversidade da realidade - são, por ordem alfabética, e não sem deixar outros blogs admirados para próxima oportunidade:


quarta-feira, 28 de abril de 2010

De tecnologia e comunicação

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A tecnologia avança mais rápido do que a comunicação

Bolívar Torres

A internet é mesmo a grande revolução prevista por certos teóricos? Em seu novo livro, Informar não comunicar o sociólogo francês Dominique Wolton joga um balde de água fria nas utopias digitais, que cravaram que as novas tecnologias iriam resolver todos os problemas da comunicação.

Para o prestigiado pesquisador do CNRS (Centro Nacional de Pesquisas Científicas, na sigla em português), fundador e diretor da revista Hermès, confundiu-se os – indiscutíveis – avanços técnicos de transmissão da informação com a nossa capacidade de absorvê-los e nos adaptarmos às mudanças.

O resultado é paradoxal: mais rápido avançam as tecnologias, mais lento é o nosso progresso na comunicação. Wolton não nega a importância das novas ferramentas, mas desconstrói a ilusão de que a internet possibilitará um conhecimento sem intermediários.

Ao contrário do espaço de integração e pluralidade idealizado por alguns, vê um sério risco de segmentação: usuários isolados em suas ilhas, ou limitados a seus grupos de afinidades, incapazes de dialogar com valores diferentes dos seus.

Antes que o acusem de conservadorismo, vale lembrar que o pensador defende, na verdade, uma visão mais humanista da comunicação, que coloque o indivíduo acima das tecnologias. Pede com urgência que a comunicação seja vista como um projeto político e cultural, para que possa enfim produzir um melhor entendimento entre os homens num mundo cada vez mais multipolar.

Os avanços da comunicação deflagraram a nossa dificuldade de se comunicar?

– Há um descompasso entre a velocidade e o volume de informações aos quais temos acesso todos os dias e nossa capacidade de se comunicar. As informações avançam rápido, já a comunicação, muito devagar. Identificamos erroneamente as técnicas de comunicação ao progresso, e esquecemos da complexidade do homem. A comunicação é uma das apostas científicas do século 21: precisamos gerar nossas diferenças, coabitar, muito mais do que dividir o que temos em comum. O desafio é tomar consciência que a comunicação deve conviver pacificamente com as novas tecnologias da mesma maneira que a ecologia.

O mundo finalmente deu atenção à ecologia, agora é preciso também ficar atento às ciências sociais da comunicação.

Quais são os maiores perigos da visão tecnicista da comunicação?

– É uma visão que contém riscos porque cria uma confusão entre o que é informação e o que é comunicação. Não apenas releva a capacidade crítica do receptor exposto à mensagem, mas também a sua resistência a uma visão diferente do mundo. É preciso aceitar a ideia de que a comunicação também possui uma dimensão política e cultural. Se aceitamos que a ecologia deve ser um assunto político, por que não a comunicação?

Os ideólogos da revolução digital defendem que a internet pode produzir uma democracia mais direta, emancipada das instituições, e que se autorregulamentaria sem a necessidade de intermediários. É uma ideia populista?

– É uma ideia democrática apenas na aparência. A internet ressuscitou a utopia da democracia direta. É ingênuo, porque se você não tem intermediários, é o dinheiro e as minorias que dominam. Não existe democracia sem intermediários: políticos, jornalistas, professores, médicos... A televisão comunitária existe há pelo menos 20 anos e não resultou na democracia direta. A mídia está cada vez mais interativa, mas não melhorou em nada. Para que haja democracia, é preciso haver eleições. Aliás, eleições servem para eliminar aquilo com o que não concordamos.

A internet é defendida como um agente do pluralismo. Mas o senhor vê um risco de conformismo, submissão ao receptor e às modas. Até agora, o digital contribuiu mais para uma homogeneização da mídia?

– A internet pode se transformar em um espaço onde todo mundo pensa a mesma coisa, pois cada um se fecha em sua comunidade. Mas se for regulamentada, poderá refletir o pluralismo da sociedade. Aconteceu o mesmo na história da política, da ciência ou da arte. A comunicação é um projeto político. Com a internet, corremos o risco de entrar no comunitarismo: as comunidades se prendem em suas próprias afinidades, sem dar atenção a outras possibilidades. A comunicação é uma ida e volta, é preciso negociar as diferenças.

Em resposta à utopia de integração, o senhor aponta as “solidões interativas”...

– Não podemos negar que a internet trouxe uma abertura formidável. Mas depois de um tempo, pode virar prisões individuais: as pessoas se trancam e não se comunicam com valores diferentes dos seus. A web é um sistema de informação baseado na demanda, enquanto as mídias clássicas se baseiam na oferta. A web não ultrapassa a demanda, e com isso produz uma segmentação. Por outro lado, as mídias clássicas enriquecem a demanda com a oferta.

Qual foi a verdadeira influência da internet nas últimas eleições presidenciais americanas?

– Já se disse muita besteira sobre a campanha de Obama. Na verdade, ele percebeu a importância das redes sociais e se serviu delas. Mas era algo que já existia muito antes, pelos meios clássicos. Não foi a internet que deu a largada para o militantismo, ela simplesmente acelerou um sentimento que já existia na população.

O senhor afirma que o jornalismo é uma profissão, exige formação. Como vê a decisão da Justiça brasileira de anular a necessidade de diploma para praticar o jornalismo no país?

– O jornalismo é uma profissão que exige responsabilidade, uma maneira de ver o mundo. É importante que ela mantenha as portas abertas para os mais jovens. Mas acreditar que ela pode acolher todo mundo, mesmo aqueles que não conhecem as dificuldades do métier, é uma visão demagógica, que pode vulgarizar o ofício. Quanto mais surgem novas mídias, mais é preciso reafirmar a importância dos intermediários e de seu profissionalismo.

Os jornalismo impresso vai acabar?

– Cada um tem seu lugar. A internet tem como aspecto positivo a sua capacidade de ser um instrumento de contrapoder e, como negativo, a sua segmentação. Já as mídias clássicas são positivas por se abrir a todos, mas negativas por serem generalistas demais. Precisamos de cada um dos dois em suas visões positivas. Cada mídia tem sua cultura e competência.

Terça-feira, 27 de Abril de 2010
Fonte JB Online
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quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Unicamp totalmente digital

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Unicamp 100% digital

14/10/2009

Agência FAPESP – Com o total de 30.871 teses e dissertações em sua Biblioteca Digital, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) se tornou a primeira universidade brasileira a ter 100% dessa produção em formato eletrônico e com acesso livre pela internet.

Desde 2004, quem quiser baixar uma cópia dos trabalhos precisa se cadastrar, o que tem permitido um controle detalhado dos acessos.

“Até o momento foram 4,3 milhões de downloads. A maior média é da área de humanidades e artes, com 1,6 milhão de downloads e 7.705 teses, média de 217 cópias por pesquisa. A média geral, considerando todas as áreas, é de 143 downloads por tese”, disse Luiz Atílio Vicentini, coordenador da Biblioteca Central Cesar Lattes e do Sistema de Bibliotecas da Unicamp.

A Biblioteca Digital da Unicamp passou dos 20 milhões de visitas, com um grande salto ocorrido a partir de 2005, quando o acervo foi indexado ao Google. “De 1 milhão naquele ano, a quantidade de visitas foi para mais de 3 milhões em 2006; em 2008 foram 6,5 milhões de acessos e, este ano, já temos mais de 5 milhões. Registramos picos de 30 mil visitas por dia”, disse Vicentini ao portal da universidade.

De acordo com o coordenador, há mais de 800 mil usuários cadastrados. O último levantamento apontou quase 24 mil downloads por usuários de 73 países, com destaque para Espanha e Portugal.

O estudo mais acessado, intitulado O conhecimento matemático e o uso de jogos na sala de aula, foi apresentado por Regina Célia Grando na Faculdade de Educação e teve até o dia 13 de outubro 8.485 downloads e 43.784 visitas.

Mais informações: http://libdigi.unicamp.br

Estraído de Agencia FAPESP
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domingo, 23 de agosto de 2009

O Twitter é de direita

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Por que o Twitter é de direita

Mauro Carrara*

Esta é uma bela reflexão que, pessoalmente, gostaria de levar para as ferramentas, conforme proposta do autor, ao final, quando compara o Twitter e o Orkut. Mas o brilhante Mauro Carrara chega a essa reflexão a partir de episódios da política brasileira atual. Bem, ele tinha de partir de algum lugar. Vale acompanhar o texto, apesar de que meu foco aqui, neste Blog de Filosofia é pela reflexão, como escrito acima, sobre as ferramentas.

Raras vezes o revés se exibiu tão instrutivo. E o senador Mercadante, do partido mudo, merece gratidão por nos oferecer incrível lição de como torrar a própria imagem diante da opinião pública.

Depois da tarde das garrafadas invisíveis, em que a bancada do partido mudo quis converter-se em madame girondina, Mercadante utilizou-se do microblog Twitter para anunciar, em caráter irrevogável, sua renúncia à liderança do PM na Câmara Alta.

O sol deitou, voltou, deitou e Mercadante resolveu pisar atrás, anunciando, pelo mesmo Twitter, sua desistência de desistir.

E uma onda de indignação hipócrita e seletiva passou como tsunami sobre a praia governista. Foram muitas as vítimas. Estava posta a carniça aos abutres. Folha de S. Paulo e Estadão, por exemplo, lambuzaram-se das tripas do bigodudo parlamentar.

Do episódio neodantesco, ficaram três lições: 1) O partido mudo não sabe o que é o Twitter; 2) Os parlamentares do partido mudo utilizam essa e outras ferramentas de maneira imprópria e irresponsável; 3) A direita nada de braçada nessa lagoa da comunicação interativa.

Deu pena do incauto Mercadante. O tal perfil da Juventude do DEM, a mesma que utilizou o Twitter para engrossar o coro de “Fora Sarney”, divertiu-se à vontade em cantigas de maldizer, levantando hordas de playboys para espezinhar o pobre líder mudista.

O meio é a mensagem

Assisti a uma palestra de Marshall McLuhan há uns 5 mil anos, na Universidade de Wisconsin, numa época em que meu Inglês não era lá essas coisas.

Mas peguei o básico, sem grandes problemas.

Neste momento, vem à memória o trecho da preleção em que o canadense falava sobre sua teoria de que “o meio é a mensagem”, conceito que na época eu não compreendia muito bem, e continuei sem compreender.

Agora, contudo, tudo faz muito sentido.

Mercadante e o partido mudo nem desconfiam do impacto sensorial das novas mídias. Presos à ideologia e ao conteudismo, não percebem que os meios de comunicação se constituem em extensões humanas, nas tais próteses técnicas capazes de determinar padrões de comportamento e reconstruir discursos.

O Twitter é exemplo claro da importância do meio na conformação da conduta do usuário.

Mais do que o Orkut, por exemplo, que é sucesso entre os brasileiros de todas as classes sociais, o Twitter tem em sua engenharia interna a inspiração do modelo personalista.

Serve, portanto, de modo perfeito, à construção de púlpitos para gurus. É da pessoa e não do tema, estabelece uma hierarquização no tráfego de informação e copia os modelos verticais de gestão corporativa.


O Orkut, por exemplo, é campo aberto de batalha e debate. Ali, os famosos e poderosos têm medo de se expor. Equivale a se apresentarem no meio da multidão, em praça pública.

Por conta das características do meio orkutiano, as pequenas legiões leonídeas da esquerda organizada destroçam facilmente as gordas falanges do mainardismo virtual.

O Twitter, ao contrário, enfatiza o emissor e exclui o intercâmbio dinâmico de ideias. Não há corpo a corpo e, por conta das condições do campo de batalha, a quantidade pode vencer a qualidade.

Vale dizer que o Twitter funciona no campo da comunicação declaratória. Não trabalha com base na argumentação e na exposição racional do pensamento.

No Twitter, as personalidades têm o que o sistema chama de “seguidores”, característica que fortalece um padrão de falsa interação.

Um tema dromológico


Cada tweet (mensagem) tem que se limitar a 140 caracteres. Assim é a coisa.

É fácil pedir “Fora Sarney” nessa tecladas mínimas. Mas é difícil explicar que o presidente do Senado está por aí há 45 anos, que a bronca tucana é oportunista, que Arthur Virgílio é um bandalho e que o movimento midiático faz parte de um projeto de desestabilização do governo Lula.

O Twitter é ótimo para gritar e exigir cabeças. É péssima ferramenta para qualquer advogado.

Curiosamente, o Twitter no Brasil é utilizado majoritariamente por homens paulistas e cariocas, na faixa de 20 a 30 anos, a maior parte deles com ensino superior. A agência Bullet, que coletou os dados, mostra que 60% dos twitteiros são considerados formadores de opinião.

No total, 51% dos usuários valorizam os tais perfis corporativos.

Cabe destacar que o Twittter se casa perfeitamente com o modelo de comunicação veloz da juventude. É um SMS da Internet.

A informação é rala e muitas vezes codificada. O importante é estar “em contato”, integrado, saber um pouco, talvez quase nada, mas de muitos. Também é preciso mostrar-se vivo, disparando a mensagem, mesmo que irrefletida.

O Twitter faz parte do arsenal das bombas informáticas, às quais faz referência o filósofo Paul Virílio, pessimista mas sabido.

Como instrumento de controle e alienação, a ferramenta já se converteu em arma poderosa do que se convencionou chamar de “direita”, considerado aí o termo conforme a brilhante conceituação de Norberto Bobbio.

Em seus estudos, Virílio alerta para a supervalorização da velocidade na sociedade tecnológica contemporânea. Segundo ele, perdemos o valor mediador da ação em benefício da interação imediata.

O pensador, que bem avaliou os elementos simbólicos da guerra, afirma que a velocidade divinizada reduz drasticamente o poder de atuação racional e estabelece uma conduta de reação, muitas vezes automatizada.

Por isso, o Twitter tem menos interesse no pensamento estruturado que no jogo rápido das reações. Assim, vem sendo utilizado com sucesso no fortalecimento de marcas, agregando “seguidores” por categorias definidas pelos profissionais de marketing.

Razões éticas ou morais podem afastar as esquerdas do Twitter. A esquerda não se contenta (e não sabe se contentar) com 140 caracteres e historicamente não tem gosto pela velocidade.

Os esquerdistas de raiz libertária, em especial, valorizam a dialética e a comunicação multidirecional, em que a igualdade de direitos faz emissores e receptores trocarem de lugar a cada passo da valsa.

O partido mudo e alguns setores decrépitos da esquerda são casos à parte. Praticam, há tempos, certo neoludismo fanático e tolo. Noutras ocasiões, a inépcia marca o uso das novas armas-meio.

Como já estive por aqueles lados, posso assegurar que os vietnamitas não se valeram apenas de zarabatanas e armadilhas de caça para vencer a maior potência bélica do mundo.

O Twitter é de direita, hoje. Mas não precisa ser para sempre.

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* Mauro Carrara é jornalista, nascido em 1939, no Brás, em São Paulo. É o segundo filho de Giuseppe Carrara, professor de Filosofia em Bologna, e de Grazia Benedetti, uma operária e militante comunista de Nápoli. O casal chegou ao Brasil em 1934, fugindo da perseguição fascista. Mauro foi para a Itália em 1959, por sugestão do amigo dramaturgo G. Guarnieri. Em Firenze, estudou arte, ciências sociais e comunicação. De volta ao Brasil, passou dois anos na Amazônia. Ao atuar na defesa dos povos indígenas, foi preso pelo regime militar. Libertado, voltou à Itália. Como free-lancer, produziu reportagens para jornais como L?Unita e Il Manifesto. Com o primo Antonino, esteve no Vietnã, no início da década de 70. Em 1973, no Chile, juntou-se à resistência ao golpe contra Allende. No Brasil, como clandestino, aproximou-se do cartunista Henfil, cujos trabalhos traduziu para uma revista alternativa italiana. Na década de 80, prestou serviços para a ONU em países como China, Iraque e Marrocos. Nos anos 90, assessorou ONGs brasileiras, especialmente na área de Direitos Humanos. Ainda atua na área de comunicação e relações internacionais.

Fonte da matéria: NovaE
recebida de "Novae Informa" - revista.novae@gmail.com
em Domingo, 23 de agosto de 2009 23:06


Conhecendo NovaE: Novae: uma história de amor ao copyleft

Esta é a mensagem de rodapé nos textos em NovaE: Fortaleça a imprensa independente do Brasil e a Livre Expressão ao disseminar este artigo para sua rede de relacionamento. Imprima ou envie por e-mail.

foto "Redes Neurais" extraída de "cerebromente"
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sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Imre Simon (USP), pioneiro da computação no Brasil

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Professor titular aposentado da USP e um dos idealizadores do Programa Tidia foi um dos mais importantes líderes da ciência da computação no país (foto: arq.pessoal)

Morre Imre Simon, pioneiro da computação


14/8/2009
Por Thiago Romero

Agência FAPESP – Imre Simon, professor titular aposentado do Departamento de Ciência da Computação do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da Universidade de São Paulo (USP), morreu na noite de quarta-feira (12/8), em sua residência na capital paulista, em decorrência de um câncer de pulmão.

Simon foi um dos pioneiros e um dos mais importantes líderes na área de ciência da computação no país, com enorme contribuição científica. Era membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e foi um dos idealizadores do Programa Tecnologia da Informação no Desenvolvimento da Internet Avançada (Tidia) da FAPESP.

... O professor completaria 66 anos nesta sexta-feira (14/8)....

“O professor Imre deu insubstituível contribuição para o desenvolvimento científico no Brasil. Sua participação foi fundamental no estabelecimento da ciência da computação. Ele sempre colaborou intensamente com a FAPESP e suas ideias moldaram programas da Fundação. Sentiremos sua falta”, disse Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP.

Simon nasceu em 14 de agosto de 1943, em Budapeste, na Hungria, região na qual passou os 13 primeiros anos de sua vida, quando a grave situação política no país levou sua família a emigrar para o Brasil.

Em 1962, ingressou na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), onde teve sua primeira experiência com computadores, um IBM 1620, e, juntamente com outros estudantes de sua geração, entre eles Tomasz Kowaltowski e Claudio Lucchesi, atuou no Centro de Computação da USP.

“Somos amigos há quase 50 anos, fomos colegas de faculdade, estudamos e trabalhamos juntos durante todo esse tempo. Fizemos parte da primeira turma de estagiários do Centro de Computação da USP”, disse Tomasz Kowaltowski, professor aposentado do Instituto de Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

“O professor Simon foi um dos primeiros cientistas da computação no Brasil e talvez tenha sido a pessoa que mais contribuiu para o estabelecimento dos programas de graduação e pós-graduação da USP. Ele é muito conhecido internacionalmente por suas contribuições científicas em teoria algébrica dos autômatos finitos, com resultados pioneiros e importantes até hoje. Foi um pesquisador brilhante”, destacou Kowaltowski.

Simon e colegas desenvolveram, em 1965, o primeiro exame vestibular computadorizado do país para o ingresso nas escolas médicas do Estado de São Paulo. Em 1967 foi convidado por Delfim Netto, então ministro da Fazenda, para escrever um programa de computador que estimasse a taxa de inflação do Brasil.

Depois de ter se formado em engenharia eletrônica em 1966 na Poli-USP, em 1969 Simon ganhou uma bolsa da FAPESP para fazer doutoramento na Universidade de Waterloo, no Canadá. Em 1972, completou sua tese, intitulada Hierarchies of Events with Dot-Depth One, com orientação do professor Janusz Brzozowski.

Após o doutoramento, retornou ao Brasil para se tornar professor do IME-USP, onde permaneceu até recentemente. Em 2005, foi homenageado em edição especial da revista Rairo – Theoretical Informatics and Applications (vol.39 – nº1), publicada com apoio do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), da França, que destacou a importante contribuição científica do pesquisador.

Com o título Imre Simon, o cientista da computação tropical, a publicação apresentou diversos artigos escritos por colegas e ex-alunos do professor e prestou um tributo a um dos maiores nomes da ciência da computação mundial.

Yoshiko Wakabayashi, professora titular do Departamento de Ciência da Computação do IME-USP que assina o prefácio da publicação, lamentou profundamente a perda, lembrando que a influência de Simon na área de ciência da computação tem destaque mundial.

“Além de um grande pesquisador, foi um professor excepcional. Aqueles que tiveram o privilégio de assistir suas aulas puderam não só aprender o que ele expunha, mas também aprender como expor”, disse.

Segundo ela, Simon teve um papel fundamental no estabelecimento de uma escola forte na área de ciência da computação no país, na criação do curso de bacharelado de Ciência da Computação e também na formação do Departamento de Ciência da Computação do IME-USP.

Yoshiko lembra um episódio ocorrido em julho, durante a conferência “Developments in Language Theory”, em Stuttgart, Alemanha, quando um dos palestrantes convidados, o polonês Mikolaj Bojanczyk, proferiu palestra intitulada “Factorization Forests”, um dos objetos de pesquisa do professor Imre que teve grande impacto na teoria dos autômatos.

“Essa palestra foi um dos pontos altos da conferência e nela ficou novamente evidenciado quão profundas e de impacto foram as contribuições do professor Simon. É com muita honra e orgulho que faço esse relato. Mais recentemente, ele passou a se dedicar à tecnologia da informação, tendo várias contribuições marcantes nessa área”, disse.

Pioneiro da computação

Claudia Bauzer Medeiros, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Computação (SBC), conheceu o professor Simon ao ser contratada na Unicamp, em meados dos anos 1980. “Desde então, a cada novo encontro ele me encantava. Uma pessoa maravilhosa, uma voz imponente, alguém que fará muita falta a todos nós”, disse.

Claudia também ressalta que Simon foi um dos pioneiros da computação no Brasil, ajudando a criar e consolidar linhas de pesquisa, cursos e departamentos da área.

“Sua personalidade e forma de trabalho lhe angariou admiradores e seguidores por todo o país. Pesquisador dedicado, educador apaixonado e uma figura humana fantástica. Um batalhador incansável pelas causas que abraçava”, disse.

A também professora do Instituto de Computação da Unicamp e membro da coordenação da área de Ciência e Engenharia da Computação da FAPESP lembra-se de um dos inúmeros prêmios recebidos por Simon, o Mérito Científico da SBC, em 2006.

“Eu coordenei a comissão que avaliou as indicações para concessão daquele prêmio e os depoimentos apoiando o seu nome vieram de todo o Brasil, dando testemunho da variedade de atividades do professor e de como seu trabalho atingia a comunidade de pesquisa brasileira das formas mais diversas”, disse.

Além de suas atividades científicas, Simon ocupou vários cargos administrativos, tendo sido, entre outros, presidente da comissão central sobre informática da USP, membro da comissão de coordenação do Programa Tidia e presidente da Sociedade Brasileira de Matemática, além de ter recebido inúmeros prêmios e distinções.

Em 1979, recebeu o Prêmio Jabuti de Ciências Exatas e, em 1989, foi premiado pela Union des Assurances de Paris (UAP), na França. Em 1996 foi honrado com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, na seção de Ciências.

Em 1980 tornou-se membro da Academia de Ciências do Estado de São Paulo e, em 1981, membro titular da Academia Brasileira de Ciências na área de Ciências Matemáticas.

A edição especial da Rairo em homenagem a Imre Simon pode ser lida em www.edpsciences.org/ita.

Estraído de
http://www.agencia.fapesp.br/materia/10916/morre-imre-simon-pioneiro-da-computacao.htm


foto da matéria da FAPESP - arquivo pessoal
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quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Ideias não envelhecem

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Ideias não envelhecem

Em 2001 a NovaE publicava a entrevista com o filósofo finlandês Pekka Himanen que apresenta no Brasil tese sobre a ética de trabalho e a vida dos hackers, que tanto a midia de massa combateu nestes primórdios e hoje, mesmo a contragosto, se curva perante a realidade deste ativismo e criatividade digital. (Nas fotos, Pekka, em 2001 e hoje)

Por Sheila Grecco


Transformar a monotonia da sexta-feira em um ensolarado domingo, democratizar a informação, romper a jaula de ferro da disciplina e burocracia, criar arte e beleza através do computador. Esses são os valores de um verdadeiro hacker, expressos pelo filósofo finlandês Pekka Himanen, no polêmico livro "The Hacker Ethic. And The Spirit of The Information Age", recentemente publicado pela Random House (232 págs., US$ 25).

A obra de Himanen, professor das Universidades de Helsinque, Finlândia, e Califórnia, Berkeley (EUA), vai na contramão do senso comum sobre revolução digital. "O termo hacker vem sendo empregado incorretamente. Na origem, nos anos 60, e é isso o que enfatizo, significava apenas uma pessoa para quem programar era uma paixão. O hacker não é jamais um criminoso de computador", definiu Himanen, em entrevista ao Valor, concedida de Helsinque, cidade onde mora e leciona nos "verões".

Violar segredos de empresas, roubar números de cartão de crédito são ações de crackers; os hackers lutam pela liberdade de expressão e tiveram vital atuação na crise de Kosovo

A tese, que já foi tachada de extremamente original a puro romantismo por críticos americanos, está dando o que falar também na Europa, onde foi lançada nesta semana. Contra fatos, Himanen contrapõe argumentos filosóficos, sociológicos e históricos para sustentar a formação de uma ética dos hackers via "comunismo a cabo". Para ele, a criação do Linux, em 1991, é um dos melhores exemplos dos valores desses programadores, pois revela paixão pelo trabalho e extrema capacidade de abertura. O programa desenvolvido por Linus Torvalds, que inclusive prefacia o livro de Himanen, é um sistema gratuito, com código-fonte aberto e vários aplicativos compatíveis, que podem ser igualmente obtidos pela internet.

Himanen cita também o padrão MP3 - fruto de ação de hackers - que conquistou os ouvidos dos internautas do mundo inteiro e fez do Napster, que permite a troca de arquivos musicais na rede, um sucesso tão grande que chegou a forçar a biliardária indústria fonográfica a buscar um acordo para acabar com o que considerava pirataria. "Trata-se de extraordinários avanços na área de softwares abertos e que representaram movimentos reais contra a quebra do monopólio da Microsoft. Por isso, é preciso sublinhar a idéia de 'software aberto' ou 'plataforma aberta'. Sua ênfase não é o dinheiro, mas sim na liberdade e na abertura. Como diz um pensador mais radical, Richard Stallman, devemos ver o processo de abertura no sentido de 'liberdade de expressão', e não como o mero ato de dar uma 'cerveja grátis'", lembra o filósofo.

Outros exemplos da "socialização do conhecimento" são o modo como driblam a censura em diversos países, atuando mesmo de forma efetiva na crise de Kosovo, em 1999, e a formação de invasores do bem - os hackers que seriam pagos para entrar no sistema de empresas e testar suas vulnerabilidades. "Eles funcionariam como psicólogos para saber o que se passa na cabeça dos 'crackers', esses sim, os criminosos", aponta.

Na última semana, o FBI anunciou dados oficiais do maior ataque hacker criminoso da história: só nos Estados Unidos, mais de 1 milhão de números de cartões de crédito foram violados por grupos que exploraram as vulnerabilidades do sistema Microsoft, em 2000. Dados secretos de grandes empresas foram burlados. Essas seriam ações dignas dos Robin Hoods do espaço ou estariam mais para um Robinson Crusoé, símbolo da literatura burguesa? "Eles não passam de crackers. Ser um hacker é ter um título de honra, significa ter uma ética própria, na qual o dinheiro é mera conseqüência e não a causa do trabalho", argumenta.

Para um hacker, disciplina representa autopunição. Dinheiro é para ser gasto, trabalho deve ser prazer e não obrigação. No novo capitalismo, a estrutura burocrática que racionaliza o uso do tempo seria totalmente dispensável. O filósofo vai contrapondo, um a um, os estatutos da ética dos hackers à protestante, à essência do próprio capitalismo preconizado por Max Weber (1864-1920).

"Hackers crêem que a revolução digital deve ser traduzida em um tempo lúdico para a humanidade; a sexta-feira deve virar um domingo"

Himanen, autor de diversos livros de filosofia da tecnologia e uma espécie de guru de CEOs, acadêmicos e artistas, se define como um "humilde filósofo". Embora admita já ter feito suas ações como hacker e passar dias inteiros navegando pela rede, explica que suas paixões hoje são escrever e lecionar. Ele já está preparando um novo livro, em parceria com o sociólogo Manuel Castells, sobre revolução digital e, é claro, os hackers. Tema preferido, porque, "se os hackers são aqueles que não têm medo do prazer, então, nos sonhos de todos, há um desejo secreto de ser apenas um bom hacker". Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

  • Em seu livro, os hackers aparecem de maneira bastante idealizada. Contrariando o sendo comum, ciberpunks, piratas virtuais, criadores de vírus, crackers e hackers não seriam, então, "farinha do mesmo saco"?

Pekka Himanen: Não, embora essas definições se mesclem no imaginário das pessoas comuns, e sejam utilizadas, muitas vezes, indistintamente pela imprensa. O que procuro ressaltar no livro é a origem do termo: hackers são somente programadores apaixonados que trocam suas descobertas livremente com os seus parceiros. Nos anos 80, começou um movimento de deturpação desse sentido, associando-se hackers a criminosos de computador. Mas o seu sentido permanece através da ação de hackers como Steve Wozniak (criador do primeiro computador pessoal, o PC) ou Linus Torvalds (inventor da plataforma Linux). Quanto mais se tornar conhecido que foi através da ação e paixão individual dos hackers (e jamais das corporações) que a base tecnológica do que é a internet hoje foi disseminada, mais os hackers voltarão a ganhar a credibilidade na opinião pública.

  • Autodisciplina e automodelação vinham juntas na ética do trabalho proposta por Max Weber. Segundo a sua tese, os hackers preferem o lema "esta é a minha vida", em vez do "time is money". Como se constrói e se propaga, na prática, essa nova filosofia virtual?

Himanen: A ética protestante incluiu a idéia do "time is money". Governada por essa ética, muito de nossa economia se tornou mais e mais veloz. Nosso tempo de lazer está diminuindo e se tornando apenas obrigação, um processo que poderia ser chamado de "Fridayzation of Sunday". Pessoas estão constantemente correndo de um compromisso a outro, tentando sobreviver dentro dos prazos, do "deadline", expressão que é significativa do nível de emergência e exaustão a que se chegou. Da perspectiva de um hacker, esse é um resultado estranho do progresso tecnológico. O aspecto mais interessante da ética dos hackers é se opor frontalmente à velha ética protestante. Os hackers crêem que a revolução digital deve ser traduzida também em um tempo lúdico para a humanidade. Trata-se de reverter o processo, transformar a sexta-feira no domingo ("The Sundayization of Friday"). Uma relação mais livre é também necessária na economia informal cuja base principal é a criatividade: você precisa permitir a formação de estilos individuais se deseja que se criem coisas interessantes. Na ética protestante, a idéia do dinheiro era um valor em si mesmo. Isso não significa que os hackers sejam ingênuos ou anticapitalistas. Na nova economia, a idéia de propriedade se estendeu para a noção de informação em uma escala jamais vista anteriormente. A própria história do hardware dos computadores é um reflexo disso. A Apple perdeu para o IBM PC sobretudo porque esta apresentava uma arquitetura mais flexível. Os padrões da internet venceram porque eles foram desenvolvidos contra as regras oficiais de padronização. Os protocolos da rede bateram os do Gopher devido a rumores de que o Gopher poderia se tornar, digamos, propriedade privada. Há muitos outros casos semelhantes, cuja lição permanece: se você quer vencer na competição, a melhor estratégia é a abertura e não rigidez. Mas, claro, como argumento em meu livro, as principais razões para tais abertura são éticas, e não comerciais.

Para um hacker, disciplina representa autopunição, dinheiro é para ser gasto, trabalho deve ser puro prazer e não uma obrigação

  • Muitos argumentam que essa flexibilidade e a proeminência do agora geram angústia, incerteza e corrosão de caráter, certa incapacidade de se relacionar com algo/alguém além do computador. O sr. concorda?

Himanen: Essas são posições alarmistas e, em certo sentido, saudosistas. Devido à ligação fundamental entre criatividade e economia da informação, a relação do hacker com o tempo está aos poucos se espalhando para profissionais de outros ramos da informação. E a tendência é aumentar cada vez mais. É um erro achar que o hacker está isolado do mundo e das pessoas, relacionando-se apenas com o computador. Hackers de computador têm enfatizado ultimamente que ser um hacker não significa necessariamente ter de trabalhar com computadores. Há algum tempo, conheci uma pessoa que era um hacker de tratores, outros tipos surgirão em breve.

  • O sr. escreve que a crise de Kosovo em 1999 foi um exemplo modular da ação democrática dos hackers, que espalharam pela rede notícias que se opunham à versão oficial dos fatos. Dessa forma, os hackers seriam politizados?

Himanen: No livro, enfatizo que a liberdade de expressão tem sido um valor vital dos hackers. Não se pode dizer que eles foram sempre passivos e que somente na crise de Kosovo deixaram claro o seu potencial contra o militarismo. Na China, além de ser importante ferramenta para os negócios, a internet tem sido muito usada para contornar a censura. Em Kosovo, os hackers ajudaram os dissidentes a usar a internet com o objetivo de espalhar informação e enviar reportagens para fora de seu país. O governo de Slobodan Milosevic praticamente fechou toda a mídia de oposição, incluindo a mais proeminente, a Rádio B-92. Entretanto, os hackers ajudaram a estação de rádio a continuar a sua transmissão pela internet. Rádios estrangeiras pegavam os sinais da rede e iam retransmitindo-os dentro da própria Iugoslávia, o que tornou os censores não só ridículos, como também ineficientes. Essa é ação dos hackers em um de seus melhores momentos.

  • 78% dos cerca de 130 milhões de usuários da Web no mundo (dodos de 2001) se limitam aos EUA e à Europa. Com um acesso tão restrito e sabendo que milhões de pessoas no mundo são privadas ainda de direitos básicos, como a educação, não seria um enorme exagero considerar a internet uma mídia de massa?

Himanen: De fato, é precoce dizer que a internet já é uma mídia de massa porque, segundo as últimas estatísticas, apenas 5% da população mundial tem acesso à rede. Há mais pessoas morando no Vale do Silício do que conectadas à rede na África e no Oriente Médio somados. De forma que a revolução digital é desigual e ainda há muito a ser feito. Alguns grupos de hackers como o Internet Society e o Net Day tentam lutar contra a exclusão digital, ensinando princípios de conexão e navegação, o que é importante simbolicamente. Mas isso deve ser um esforço que precisa partir dos governos e que deve considerar um investimento maciço em educação. Os governos precisam entender que em nossa economia global e digital o acesso das nações à internet e à alfabetização - também digital - é fator preponderante para o sucesso. Devemos muito o que ocorre aqui (Finlândia) a uma ação efetiva do Estado.

  • Como a revolução nas tecnologias de comunicação está mudando o próprio conceito de informação na sociedade?

Himanen: No passado, associávamos informação a conhecimento, mas o que em grande parte se encontra na rede hoje não é conhecimento, mas um complexo de trocas de emoção e experiência. Sem dúvida, pode-se ter acesso mais rápido e fácil a livros, enciclopédias, dicionários, dados, estatísticas. Mas, por outro lado, a internet deixou claro que a informação não é tudo. O que se requer, agora, é a habilidade para criar um filtro pessoal, selecionando questões e problemas, e se posicionando frente a eles. E é essa a filosofia educativa dos hackers: fazer com que as pessoas aprendam a aprender.

  • O que um historiador no ano de 2020 vai escrever quando analisar os hackers do nosso tempo? Quem vai prevalecer no tempo: os hackers do bem ou os do mal?

Himanen: Eu me atrevo a dizer que em 2020 a internet já será uma mídia universal, entretanto, isso requer trabalho consciente e a formação de novos heróis. Via de regra, tendemos a celebrar os feitos de CEOs e outros que basicamente só se movem pautados pelos interesses de suas companhias. Mas a rede não pode existir sem a ação individual e, por vezes, anônima, dos bons hackers, nomes como os de programadores, verdadeiros "heróis da generosidade", porque dividiram seus conhecimentos com os colegas - como fizeram Vinton Cerf e Tim Berners-Lee, os pais da internet na rede, entre outros. Os nomes de criminosos e dos piratas virtuais vão simplesmente se perder na poeira da história.

Entrevista publicada na NovaE originalmente em 2001, de autoria e com autorização de Sheila Grecco, jornalista, então editora-assistente de Opinião do jornal Valor Econômico.

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