Sinal de alerta
Qui, 10 de Novembro de 2011
Grave, muito grave, a reação do público diante da agressão policial aos estudantes da USP.
Por haverem ocupado o prédio da reitoria da USP, foram acusados, absurdamente, de vários crimes, entre os quais o de “formação de quadrilha”.
Sessenta e seis jovens foram trancafiados, durante horas, em um ônibus cercado por 400 policiais. A Polícia exigiu uma fiança no valor de um salário mínimo para pô-los em liberdade.
Quem for ao twitter verificará o grande número de mensagens que justificam a truculência policial.
Esta conduta é de suma gravidade, porque denuncia, por um lado, uma grande ignorância e, por outro, uma verdadeira escalada do reacionarismo da direita entre a juventude universitária.
Os indignados com a ação dos universitários desconhecem que, em toda sociedade democrática, a liberdade e a autonomia fazem parte da natureza da instituição. Qualquer intervenção externa, seja de governo, de igrejas, do poder econômico, perturba o ambiente necessário para que haja produção intelectual de qualidade. Por isso mesmo, o policiamento do “campus” deve ser feito unicamente por seguranças contratados pela própria universidade.
A ignorância é grave. Porém, ainda mais grave é a indisposição de tantos jovens contra os universitários presos, pois revela um desprezo pela democracia. Em algumas mensagens, podem se identificar até laivos de fascismo.
Chega-se ao ponto de justificar um tipo de detenção que atenta contra os direitos humanos, pois, como se sabe, os detidos foram trancados em um ônibus, sem alimentação, sem facilidades sanitárias e expostos a um calor insuportável.
Independentemente de ter havido um ou outro exagero – o que deverá ser apurado e devidamente punido -, a ocupação foi a única forma encontrada pelos jovens para denunciar à opinião pública irregularidades que estão sendo cometidas pelo reitor.
Desconhecem os indignados que, nesta democracia capenga, a imprensa não divulga nada que os poderosos não querem que seja do conhecimento da plebe ignara?
$?$!$?$!$?
O episódio é um alerta aos partidos democráticos: urge realizar uma grande campanha de politização da juventude universitária, a fim de evitar desencontros como o que a ocupação do campus da USP provocou.
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Pela volta da Idade
Média à USP
Escrito por Mário Maestri*
Segunda, 07 de Novembro de 2011
Na
Idade Média, era uma enorme conquista quando uma cidade obtinha uma
universidade. Comumente, com ela, vinha o direito a uma ampla autonomia quanto à
autocracia do príncipe. Tratava-se de liberdade considerada indispensável para
o novo templo do saber. Devido a isso, o campus
universitário medieval possuía sua polícia própria e julgava seus alunos,
funcionários, professores.
Aprendi isso no curso de História da UCL, na Bélgica, onde fui recebido de braços
abertos, em 1974, fugido das ditaduras brasileira e chilena. No Brasil de então,
não tinha nada daquilo. A polícia e o exército entravam, revistavam,
espancavam, prendiam, torturavam e até matavam professores, funcionários e
sobretudo alunos que não se rendiam ao tacão da ditadura cívico-militar.
Uma aluna sul-rio-grandense, mestranda em História da USP, escreveu-me um longo
e-mail, pedindo-me quase desesperada solidariedade para com ela e seus colegas
daquela universidade.
A carta da estudante registra a angústia de jovens que se assustam com a
regressão dos espaços de liberdade conquistados quando da versão de redemocratização
brasileira, onde os criminosos civis e militares de 1964-1985 seguiram em seus
postos ou com suas pensões e aposentadorias, homenageados com nomes de praças,
avenidas, ruas, ao morrerem. A aluna relata a degradação das condições de
convivência, de trabalho e de estudo naquela instituição, a mais destacada do
Brasil.
Lembra que há muito se instauram processos administrativos contra alunos,
funcionários e professores, eventuais motivos de demissão e de expulsão, por
expressarem em manifestos, panfletos, ocupações, suas idéias contra a política
universitária dos governadores de São Paulo e dos dirigentes máximos daquela
instituição.
Há cerca de dois meses, lembra a jovem, o senhor reitor lançou pelo retrete a
autonomia universitária e escancarou o campus
à Polícia Militar, sob a justificativa de reprimir a criminalidade.
Desde então, a Polícia Militar reina no campus
– abordando, inquirindo, revistando funcionários, professores e sobretudo
alunos. Certamente os principais objetos desses atos de intimidação foram os
alunos e alunas mais agitados ou de cabelo, roupas, adereços e comportamentos
tidos como estranhos!
Conhecemos o resultado da política liberticida do senhor reitor – em 27 de
outubro, alunos foram revistados por policiais militares, como sempre, na
frente da Biblioteca da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, onde
se reúnem, tradicionalmente, os universitários suspeitos de pensarem em
demasia!
A revista deu resultado. Três
estudantes de Geografia foram encontrados com alguns baseados, motivos de
pronta prisão e imediata resposta dos seus colegas, todos pertinentemente
surrados, pois universitárias e universitários comumente magricelos, armados
com canetas, livros e laptops pouco
podem contra os parrudos PMs, com os seus tradicionais instrumento de trabalho –
cassetetes, revólveres, escopetas, bombas dissuasivas...
A resposta previsível dos estudantes foi uma festa para a grande mídia
conservadora, sobretudo televisiva. A ocupação do prédio da FFLCH e depois da
Reitoria por estudantes encapuzados – ninguém quer ser objeto de processo e
eventual expulsão – foi mostrada como a ação de bárbaros desordeiros no templo
do conhecimento!
Isolada, sob o silêncio dos grandes e pequenos partidos, a garotada está sendo
obrigada a retroceder. Até esta segunda-feira, tinham de entregar o prédio. Se
não, vai conhecer pancadaria grande, prisões e os pertinentes processos. Não
conseguem, nem mesmo, apresentar suas mais do que justas reivindicações: fins
dos processos contra estudantes e servidores e a interdição do campus à Polícia
Militar.
Por razões óbvias não registro o nome da autora da carta. Com minha total
solidariedade ao movimento, faço uma derradeira reflexão. Se, na Idade Média,
um senhor reitor atirasse pela janela do seu palácio a valiosa autonomia
conquistada pela cidade, chamando a polícia para atuar livremente no campus, certamente seria destituído por
seus pares e, possivelmente, mandado para a masmorra da Universidade, para
refletir melhor sobre a subserviência ao príncipe! Coisas da Idade Média!
* Mário Maestri é doutor em Ciências Históricas
pela UCL, Bélgica, e professor do programa de pós-graduação em História da Univesidade de Passo Fundo - UPF,
RS.
E-mail: maestri(0)via-rs.net
Última atualização em Sexta, 11 de Novembro de 2011
Extraído de Correio da Cidadania
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Vagabundos,
baderneiros, maconheiros, irresponsáveis... incompetentes?
Enviado por luisnassif, seg, 07/11/2011 - 21:08
Autor: Daniel Gorte-Dalmoro
Richard Dawkins questiona algures o que não seria da física e da ciência se
Newton tivesse se dedicado integralmente a ela, ao invés de ter perdido tempo
com discussões estéreis, como as sobre religião. Não lembro se ele faz a mesma
pergunta sobre Einstein, Heisenberg e outros físicos e cientistas da primeira
metade do século XX. De qualquer forma, chuto uma resposta à sua pergunta: se
Newton tivesse se abstido das atividades extra-científicas, assim como os
grandes cientistas da primeira metade do século XX, em geral bastante engajados
politicamente, teria sido tão medíocre quanto a grande maioria dos
pesquisadores da atualidade.
A intelligentsia acadêmica brasileira (para ficar na parte tida por pensante da
sociedade) não é nenhum Richard Dawkins, mas bem gostaria de sê-lo: ter panca
de inteligente e intelectual, morar na Inglaterra, dando aula para ou tendo
como colegas pessoas com boa formação, convivendo com gente “civilizada”, enfim
(salvo eventuais hordas bárbaras, como a de agosto). Claro, não precisa ser
ateu – apenas pró-ciência e anti-comunista.
Novo protesto na USP, e lá vemos novamente as mesmas manifestações
dos bons cientistas da universidade e dos homens de bem de nação, criticando os
baderneiros que não querem estudar e atrapalham o bom andamento da ciência
[tupiniquim].
Afinal, conforme ranqueamentos internacionais, da TopUniversities, para ser
mais exato, a USP é a melhor universidade latino-americana, e a 169º do mundo.
Não que eu ache que esses rankings sirvam para muita coisa, mas nossa
intelligentsia certamente se guia por ela – publicações, prazos, congressos,
papérs, bolsas, tudo é feito em função do que os gringos dizem que é bom.
É de se questionar, portanto, onde não estaria a USP, não tivesse todos os incômodos
causados por esses alunos que fazem protestos, greves, ocupam prédios.
Bem... talvez estivesse fora do ranking das 200 melhores: dos nove cursos que
aparecem entre os 200 melhores, nas diversas áreas, seis – filosofia,
sociologia, história, lingüística, ciência política e geografia – são da FFLCH.
E se esses alunos estavam fumando maconha e fazendo greve, é de se questionar,
então, o que estavam fazendo os demais dos 198 programas de pós da USP.
Assistindo tevê, lendo Folha e Veja?
Surpresa? Não deveria ser. A ciência pura pode até existir (não vou entrar
nesta questão), mas o cientista puro, certamente não. Não por acaso, quando a
Science publicou reportagem sobre a ciência no Brasil, quem ganhou destaque não
foi a Fapesp e seus quase 800 milhões de reais – que não mereceu uma mísera
linha –, e sim um cientista que faz bastante alarde político – ainda que questão
de política científica, mas com uma visão bem menos tacanha de ciência que Brito
Cruz, ou demais coronéis da ciência paulista –, Miguel Nicolelis.
Esta ocupação de prédios na USP poderia ser uma ótima oportunidade para esses
pesquisadores fazerem uma auto-crítica (proposta ingênua, eu sei): ao invés de
desqualificarem o outro, entrarem realmente no debate – não é obrigado a
concordar com a atitude, contudo, é radicalmente diferente negar a política,
exigindo logo a ordem e a autoridade –, e admitirem: pessoas, mesmo as
diferentes, as chatas, as que usam vermelho, as que fedem, eventualmente podem
ter mais assuntos e ser mais interessantes do que ratos e átomos.
Campinas, 06 de novembro de 2011.
Extraído de Luis Nassif Online
Original de Comportamento Geral
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