quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O que torna a distribuição digital tão cara


Roubalheira? O que torna a distribuição digital tão cara

Por Wikerson Landim / Quarta-Feira 29 de Agosto de 2012

Entenda quais são os custos envolvidos na produção de uma obra digital e entenda por que nem sempre elas podem ser mais baratas do que a versão física.

É possível que um livro digital custe mais caro do que um livro impresso? Sim, é possível e, se você já deu uma olhada nos preços desse tipo de produto nas lojas, certamente já percebeu que essa situação é mais comum do que você imaginava. Mas qual é o mistério por trás dos altos preços do formato digital?

O processo de criação

Para entender um pouco mais sobre esse processo, vamos levar em consideração a criação de um livro. Nessa primeira parte, ainda não há muita diferença entre um produto digital e uma obra física. O autor da obra escreve o seu texto e, caso tenha como objetivo a venda do livro, sua obra pode ir parar nas mãos de uma editora.

A editora pode remunerar o autor por um valor fixo pela obra, no caso dos livros feitos sob encomenda, ou fazer um acordo com o dono do texto no que diz respeito ao percentual do lucro que será repassado para ele pelo trabalho. Ele pode receber, por exemplo, 30% do valor de cada obra vendida, ficando o restante para a editora.


A editoração

Transformar o texto do autor em um livro de verdade requer ainda outros dois processos fundamentais que geralmente ficam sob a responsabilidade da editora. O primeiro deles é a revisão do conteúdo, que fica a cargo de um profissional específico para isso. Já a outra peça fundamental do processo é o designer gráfico, que ficará responsável pela criação da capa e pela diagramação do material.

Caso estejamos falamos de um livro digital com elementos interativos, pode haver ainda custos com relação à programação de alguns itens. Diferente do que acontece nas obras de produção independente, em que o autor se encarrega de todo esse processo ou, ainda, remunera do próprio bolso os profissionais envolvidos, na editora há também os custos trabalhistas do funcionário em questão, o que encarece o processo.

A disponibilização do produto

Se até aqui as diferenças são pequenas entre as obras físicas e digitais, é nesse ponto que começam as grandes mudanças. A obra física vai para a gráfica e, nesse caso, há todo o custo com a impressão do material e, posteriormente, com a distribuição do produto. Afinal, enviar livros via transportadora para diversos pontos do país não é algo barato.

Contudo, se você imagina que nesse ponto a distribuição digital não tem custo algum, é justamente aí que você se engana. Um dos custos, por exemplo, diz respeito aos softwares de DRM, responsáveis pela proteção dos direitos autorais do autor e que impedem, por exemplo, que um livro seja copiado aleatoriamente por qualquer pessoa.

O investimento em um software do gênero criado pela Adobe, por exemplo, pode chegar a R$ 80 mil, valor que obviamente entra nos custos de investimento de uma editora. Outro aspecto fundamental diz respeito à contratação de servidores e disponibilização de banda para tráfego de dados.

A palavra do consumidor: a demanda

Segundo as editoras, esse ainda é um dos maiores problemas que fazem com que a distribuição digital seja tão cara quando a venda do livro impresso. A biografia de Steve Jobs é hoje um dos livros digitais mais vendidos no país. Apesar disso, a obra vendeu pouco mais de 5 mil unidades, ou seja, um número pouco significativo.

Se você levar em consideração o valor hipotético de R$ 100 mil de investimento para o lançamento de um livro impresso ou digital e dividir esse valor pelo número de cópias vendidas, por exemplo, perceberá o quanto uma obra digital pode ser mais cara.

Com R$ 100 mil de investimento, o custo unitário ao final do processo de um livro que venda mil unidades seria de R$ 10. O mesmo livro em versão impressa, caso venda 100 mil unidades, teria um custo final de R$ 1 por livro. Os valores, é claro, são hipotéticos e as editoras trabalham com uma previsão de vendas antes do lançamento para estipular um valor final.

No caso dos livros digitais, a maioria deles não chega a vender nem 100 unidades no Brasil, o que aumenta o risco do investimento e, visando minimizar possíveis prejuízos, os preços acabam indo lá pra cima.

E no caso dos jogos?

No caso de um jogo, os processos de criação e editoração não sofrem alteração alguma de acordo com o tipo de distribuição. Entretanto, o tipo de distribuição impacta diretamente no custo final. É mais barato, por exemplo, enviar jogos em mídia física para as lojas, incluindo-se aí os custos de autoração de DVDs e Blu-rays, do que manter servidores de grande capacidade e que suportem altas taxas de tráfego.

Pense no seguinte comparativo: em uma caixa cabem 20 DVDs, que são enviados de uma só vez para um determinado ponto do país. Para mandar os mesmos 20 jogos via distribuição digital, para a mesma cidade, é necessário disponibilizar tráfego de banda suficiente para esses 20 downloads, muitas vezes de forma simultânea. É o investimento nessa estrutura que acaba encarecendo o preço do conteúdo digital.

Então é só esse o problema? Há solução para baixar os custos?

O que apresentamos acima são apenas características do mercado e isso não representa, necessariamente, que esse seja o modelo mais adequado ou mais inteligente de comercializar produtos do gênero. Entretanto, no que diz respeito à demanda dos produtos, a chave das mudanças está nas mãos dos consumidores.

Quanto maior for a procura por um produto (e por procura leia-se expectativa real de venda, excluindo-se as versões pirata), maiores são as chances de, em longo prazo, o custo unitário de cada obra diminuir. Não podemos nos esquecer também dos impostos, que sempre acabam encarecendo qualquer produto em pelo menos 15% ao longo do caminho.

As editoras e distribuidoras, sempre que possível, deveriam ainda fazer a sua parte, mantendo margens de lucro realistas sobre os seus produtos, o que é justo. Entretanto, sabemos que em muitos casos há abuso e compensação, fazendo com que em alguns produtos os custos aumentem de forma considerável sem necessidade alguma.

Por fim, embora não possa ser apontada como o fator determinante para os preços mais altos, ainda há a questão da pirataria, que contribui para que as editoras se sintam intimidadas e prevejam um risco maior na hora de investir na disseminação das plataformas digitais. É possível mudar o cenário? Certamente que sim. Isso vai acontecer tão cedo? Infelizmente, não.

Fonte: TecMundo

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