Roubalheira? O que torna a distribuição digital tão cara
Por Wikerson Landim / Quarta-Feira 29 de Agosto de 2012
Entenda quais são os custos envolvidos na produção de uma
obra digital e entenda por que nem sempre elas podem ser mais baratas do que a
versão física.
É possível que um livro digital custe mais caro do que um
livro impresso? Sim, é possível e, se você já deu uma olhada nos preços desse
tipo de produto nas lojas, certamente já percebeu que essa situação é mais
comum do que você imaginava. Mas qual é o mistério por trás dos altos preços do
formato digital?
O processo de criação
Para entender um pouco mais sobre esse processo, vamos levar
em consideração a criação de um livro. Nessa primeira parte, ainda não há muita
diferença entre um produto digital e uma obra física. O autor da obra escreve o
seu texto e, caso tenha como objetivo a venda do livro, sua obra pode ir parar
nas mãos de uma editora.
A editora pode remunerar o autor por um valor fixo pela
obra, no caso dos livros feitos sob encomenda, ou fazer um acordo com o dono do
texto no que diz respeito ao percentual do lucro que será repassado para ele
pelo trabalho. Ele pode receber, por exemplo, 30% do valor de cada obra
vendida, ficando o restante para a editora.
A editoração
Transformar o texto do autor em um livro de verdade requer
ainda outros dois processos fundamentais que geralmente ficam sob a
responsabilidade da editora. O primeiro deles é a revisão do conteúdo, que fica
a cargo de um profissional específico para isso. Já a outra peça fundamental do
processo é o designer gráfico, que ficará responsável pela criação da capa e pela
diagramação do material.
Caso estejamos falamos de um livro digital com elementos
interativos, pode haver ainda custos com relação à programação de alguns itens.
Diferente do que acontece nas obras de produção independente, em que o autor se
encarrega de todo esse processo ou, ainda, remunera do próprio bolso os
profissionais envolvidos, na editora há também os custos trabalhistas do
funcionário em questão, o que encarece o processo.
A disponibilização do produto
Se até aqui as diferenças são pequenas entre as obras
físicas e digitais, é nesse ponto que começam as grandes mudanças. A obra
física vai para a gráfica e, nesse caso, há todo o custo com a impressão do
material e, posteriormente, com a distribuição do produto. Afinal, enviar
livros via transportadora para diversos pontos do país não é algo barato.
Contudo, se você imagina que nesse ponto a distribuição
digital não tem custo algum, é justamente aí que você se engana. Um dos custos,
por exemplo, diz respeito aos softwares de DRM, responsáveis pela proteção dos
direitos autorais do autor e que impedem, por exemplo, que um livro seja
copiado aleatoriamente por qualquer pessoa.
O investimento em um software do gênero criado pela Adobe,
por exemplo, pode chegar a R$ 80 mil, valor que obviamente entra nos custos de
investimento de uma editora. Outro aspecto fundamental diz respeito à
contratação de servidores e disponibilização de banda para tráfego de dados.
A palavra do consumidor: a demanda
Segundo as editoras, esse ainda é um dos maiores problemas
que fazem com que a distribuição digital seja tão cara quando a venda do livro
impresso. A biografia de Steve Jobs é hoje um dos livros digitais mais vendidos
no país. Apesar disso, a obra vendeu pouco mais de 5 mil unidades, ou seja, um
número pouco significativo.
Se você levar em consideração o valor hipotético de R$ 100
mil de investimento para o lançamento de um livro impresso ou digital e dividir
esse valor pelo número de cópias vendidas, por exemplo, perceberá o quanto uma
obra digital pode ser mais cara.
Com R$ 100 mil de investimento, o custo unitário ao final do
processo de um livro que venda mil unidades seria de R$ 10. O mesmo livro em
versão impressa, caso venda 100 mil unidades, teria um custo final de R$ 1 por
livro. Os valores, é claro, são hipotéticos e as editoras trabalham com uma
previsão de vendas antes do lançamento para estipular um valor final.
No caso dos livros digitais, a maioria deles não chega a
vender nem 100 unidades no Brasil, o que aumenta o risco do investimento e,
visando minimizar possíveis prejuízos, os preços acabam indo lá pra cima.
E no caso dos jogos?
No caso de um jogo, os processos de criação e editoração não
sofrem alteração alguma de acordo com o tipo de distribuição. Entretanto, o tipo
de distribuição impacta diretamente no custo final. É mais barato, por exemplo,
enviar jogos em mídia física para as lojas, incluindo-se aí os custos de
autoração de DVDs e Blu-rays, do que manter servidores de grande capacidade e
que suportem altas taxas de tráfego.
Pense no seguinte comparativo: em uma caixa cabem 20 DVDs,
que são enviados de uma só vez para um determinado ponto do país. Para mandar
os mesmos 20 jogos via distribuição digital, para a mesma cidade, é necessário
disponibilizar tráfego de banda suficiente para esses 20 downloads, muitas
vezes de forma simultânea. É o investimento nessa estrutura que acaba
encarecendo o preço do conteúdo digital.
Então é só esse o problema? Há solução para baixar os
custos?
O que apresentamos acima são apenas características do
mercado e isso não representa, necessariamente, que esse seja o modelo mais
adequado ou mais inteligente de comercializar produtos do gênero. Entretanto,
no que diz respeito à demanda dos produtos, a chave das mudanças está nas mãos
dos consumidores.
Quanto maior for a procura por um produto (e por procura
leia-se expectativa real de venda, excluindo-se as versões pirata), maiores são
as chances de, em longo prazo, o custo unitário de cada obra diminuir. Não
podemos nos esquecer também dos impostos, que sempre acabam encarecendo
qualquer produto em pelo menos 15% ao longo do caminho.
As editoras e distribuidoras, sempre que possível, deveriam
ainda fazer a sua parte, mantendo margens de lucro realistas sobre os seus
produtos, o que é justo. Entretanto, sabemos que em muitos casos há abuso e
compensação, fazendo com que em alguns produtos os custos aumentem de forma
considerável sem necessidade alguma.
Por fim, embora não possa ser apontada como o fator
determinante para os preços mais altos, ainda há a questão da pirataria, que
contribui para que as editoras se sintam intimidadas e prevejam um risco maior
na hora de investir na disseminação das plataformas digitais. É possível mudar
o cenário? Certamente que sim. Isso vai acontecer tão cedo? Infelizmente, não.
Fonte: TecMundo
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