domingo, 9 de dezembro de 2007

Concessão da Medalha Otávio Lobo a Lauro de Oliveira Lima


Marcondes Rosa

Dias atrás, a convite do Presidente da Assembléia Legislativa, na qualidade de integrante da galeria dos que receberam a Medalha Otávio Lobo, com a qual o Poder Legislativo do Estado do Ceará condecora os maiores nomes da educação no Ceará, estive presente na entrega da honraria a LAURO DE OLIVEIRA LIMA, ali, por motivo de saúde, representado por um de seus filhos, da mesma comenda.

Confesso-lhes que duas reações ali me invadiram: a) o como me senti - e isso confessei a professores ali sentados a meu lado - pequeno ante a magnitude histórica de Lauro, na mesma galeria; b) o diminuto, conquanto seleto, número de pessoas ali a tributar homenagens ao polêmico e grande educador.

Aqui, gostaria de transcrever homenagem da Página "Opinião" do Jornal "O Povo", prestou a Lauro de Oliveira Lima, em 10 de abril de 2007, por ocasião da concessão pela UFC do título de Doutor Honoris Causa, ao educador, um dos artigos, "Minha universidade", lido agora no Plenário da Assembléia Legislativa do Ceará, por sua autora, Ester Barroso, em sessão solene presidida pelo Deputado Artur Bruno, ex-aluno e ora proponente do título ao grande educador.

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OPINIÃO
FORTALEZA-CE, TERÇA FEIRA, 10 de abril de 2007

LAURO DE OLIVEIRA LIMA

Na véspera dos 85 anos de idade do professor Lauro de Oliveira Lima, a serem completados depois de amanhã, nesta quinta-feira, O POVO abre suas páginas para homenagear um dos mais eminentes educadores brasileiros, recentemente agraciado com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Ceará.

Ao se incorporar à homenagem, tributada com muita justiça, co mestre, O POVO sente-se orgulhoso de ter tido o privilégio de contá-lo entre seus colaboradores da página de Opinião, e assim contribuído para a difusão de suas idéias revolucionárias na Educação.

Minha universidade
Ester Barroso*

Nas épocas decadentes, a adulação prodigaliza a mancheias o título de gênio aos poderosos. Imbecis há que o outorgam a si próprios. Os que se elevam sobre a mediania são marginalizados, desestiinados, escarnecidos, proscritos em seu próprio país. Sua presença humilharia com a força do contraste. Bastam os vulgares. As academias se povoam de míopes, de charatães, de servis, de burocratas.

Os tartufos, os inimigos de toda luz estelar, de toda palavra sonora persigam-se diante do herético, do subversIvo, do pioneIro. Ter um ideal é um crime que os poderosos não perdoam.

O idealista é supliciado nos impérios absolutos, nas monarquias constitucionais e nas repúblicas burguesas. A Sócrates deram cicuta, o desterro a Dante, o cárcere a Galileu, a fogueira a Giordano Bruno, o isolamento a Espinosa.

Compreende-se, porque, só agora (O4/l/O7), aos 86 anos, o filósofo pedagogo, Lauro de Oliveira Lima, cearense, conhecido no Brasil e no exterior, foi outorgado com o título do Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Ceará, proposição do reitor Renê Barreira, que foi sou aluno, no Ginásio Agapito dos Santos, fundado por Lauro.

Lá iniciou suas experiências pedagógicas, inspiradas nas teorias do grande epistemólogo suiço, Jean Piaget. Piaget foi o pioneiro absoluto na descrição dos estágios de desenvolvimento mental da criança. Criou também a epistemologia genética, ciência que demonstra como o conhecimento é gerado no organismo, como se aprende. Lauro foi o introdutor do pensamento de Piaget no Brasil.

Foi o criador do método psicogenético fundamento nos estágios do desenvolvimento mental, daí denominar-se "educação pela inteligência". Lauro fez-se o aríete da ciência contra curandeirismo pedagógico. Foi o educador mais fecundo, fértil e injustiçado no nosso país. Foi vítima do silêncio, da sabotagem, da inveja, do obscurantismo, da politicalha, da prepotênia e dos lacaios.

Seu pecado original foi desorbitar as pupilas em direção às estrelas antes que o dia amanhecesse para todos. Nunca teve paciência resignada, nem a mansidão de quem se acomoda às circunstâncias, para vegetar tranqüilamente.

E um polemizador contundente, irônico, avassalador em suas criticas, porém, sempre foi vanguarda em tudo que propôs em sua trajetória íngreme e corajosa pela educação. De fato, a educação conserva-se empírica e tradicionalista.

Mesmo as"renovaçõcs" pedagógicas apóiam-se em pura "festividade" experimentalista, geralmente de pouca duração. Hoje, qualquer proposta pedagógica, não fundamentada na psicologia genética, é, simplesmente, uma contrafação.

Em pleno coração da velhice, Lauro continua a pensar por si mesmo, sempre alerta contra os que queriam desplumar as asas dos seus grandes sonhos.

E, mesmo depois de sua partida eterna, ainda ousaria a arrebentar a tumba mais resistente, se lhe fosse dado antever a esperança de que ressuscitaria de entre as cinzas, como a ave mitológica..

Conheci e convivi muitos anos com o professor Lauro, quando fui sua aluna e professo no seu Ginásio Agapito dos Santos, onde o grande mestre me ajudou a aprender tudo o que aprendi.

Por isso, dentre todas as universidades por que passei, incluve a USP, considero o professor Lauro de Oliveira Lima a minha verdadeira universidade.

* ESTER BARROSO é professora e técnica em educação do Ministério da Educação.

recebido de Antonio Morales antonio_morales@uol.com.br, em sábado, 8 de dezembro de 2007 13:09

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