segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Declaração de Paris para a Filosofia - 1995

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DECLARAÇÃO DE PARIS PARA A FILOSOFIA

Nós, participantes das jornadas internacionais de estudo “Filosofia e democracia no mundo”, organizadas pela UNESCO, que ocorreram em Paris, nos dias 15 e 16 de fevereiro de 1995,

Constatamos que os problemas de que trata a filosofia são os da vida e da existência dos homens considerados universalmente;

Estimamos que a reflexão filosófica pode e deve contribuir para a compreensão e conduta dos afazeres humanos;

Consideramos que a atividade filosófica, que não subtrai nenhuma idéia à livre discussão, que se esforça em precisar as definições exatas das noções utilizadas, em verificar a validade dos raciocínios, em examinar com atenção os argumentos dos outros, permite a cada um aprender a pensar por si mesmo;

Sublinhamos que o ensino de filosofia favorece a abertura do espírito, a responsabilidade cívica, a compreensão e a tolerância entre os indivíduos e entre os grupos;

Reafirmamos que a educação filosófica, formando espíritos livres e reflexivos - capazes de resistir às diversas formas de propaganda, de fanatismo, de exclusão e de intolerância - contribui para a paz e prepara cada um a assumir suas responsabilidades face às grandes interrogações contemporâneas, notadamente no domínio da ética;

Julgamos que o desenvolvimento da reflexão filosófica, no ensino e na vida cultural, contribui de maneira importante para a formação de cidadãos, no exercício de sua capacidade de julgamento, elemento fundamental de toda democracia.

É por isso que, engajando-nos em fazer tudo o que esteja em nosso poder - nas nossas instituições e em nossos respectivos países - para realizar tais objetivos, declaramos que:

· Uma atividade filosófica livre deve ser garantida por toda parte - sob todas as formas e em todos os lugares onde ela possa se exercer - a todos os indivíduos;

· O ensino de filosofia deve ser preservado ou estendido onde já existe, criado onde ainda não exista, e denominado explicitamente “filosofia”;

· O ensino de filosofia deve ser assegurado por professores competentes, especialmente formados para esse fim, e não pode estar subordinado a nenhum imperativo econômico, técnico, religioso, político ou ideológico;

· Permanecendo totalmente autônomo, o ensino de filosofia deve ser, em toda parte onde isto é possível, efetivamente associado - e não simplesmente justaposto – às formações universitárias ou profissionais, em todos os domínios;

· A difusão de livros acessíveis a um largo público, tanto por sua linguagem quanto por seu preço de venda, a geração de emissões de rádio ou de televisão, de audiocassetes ou videocassetes, a utilização pedagógica de todos os meios audiovisuais e informáticos, a criação de múltiplos espaços de debates livres, e todas as iniciativas susceptíveis de fazer aceder um maior número a uma primeira compreensão das questões e dos métodos filosóficos devem ser encorajadas, a fim de constituir uma educação filosófica de adultos;

· O conhecimento das reflexões filosóficas das diferentes culturas, a comparação de seus aportes respectivos e a análise daquilo que os aproxima e daquilo que os opõe, devem ser perseguidos e sustentados pelas instituições de pesquisa e de ensino;

A atividade filosófica, como prática livre da reflexão, não pode considerar alguma verdade como definitivamente alcançada, e incita a respeitar as convicções de cada um; mas ela não deve, em nenhum caso, sob pena de negar-se a si mesma, aceitar doutrinas que neguem a liberdade de outrem, injuriando a dignidade humana e engendrando a barbárie.

Esta declaração foi subscrita por:

Prof. Ruben G. Apressian (Instituto de Filosofia da Academia de Ciências de Moscou, Federação Russa),
Prof. Tanella Boni-Koné ( Universidade de Abidjan, Costa do Marfim),
Prof. Tzotcho Boyadjiev (Universidade Saint Klément Ohridski, Sófia, Bulgária),
Prof. In-Suk Cha (secretário Geral da Comissão Nacional para a UNESCO da República da Coréia, Seul),
Prof. Marilena Chaui (Universidade de São Paulo, Brasil),
Prof.. Donald Davidson (Universidade de Berkeley, USA),
Prof. Souleymane Bachir Diagne (Universidade de Dakar, Senegal),
Prof. François Dossou (Universidade Nacional do Benin, Cotonou, Benin),
Prof. Michaël Dummett (Oxford, Reino Unido),
Prof. Artan Fuga (Universidade de Tirana, Albânia),
Prof. Humberto Gianini (Universidade de San Tiago do Chile, Chile),
Prof. Paulin J. Houtondji (Universidade Nacional do Benin, Benin),
Prof. Joanna Kuçuradi (Secretária Geral da Federação Internacional das Sociedades de Filosofia, Ancara, Turquia),
Prof. Dominique Lecourt (Universidade de Paris VII, Paris, França),
Prof. Nelly Motroshilova (Universidade de Moscou, Federação da Rússia),
Prof. Satchidananda Murty (Vice-Presidente da Federação Internacional das Sociedades de Filosofia, Índia),
Prof. Ulrich Johannes Schneider (Universidade de Leipzig, Alemanha),
Prof. Peter Serracino Inglott (Reitor da Universidade de Malta),
S. E. Mohammed Allal Sinaceur (Antigo Diretor da Divisão de Filosofia da UNESCO, Rabat, Marrocos),
Prof. Richard Susterman (Temple University, Filadélfia, USA),
Prof. Fathi Triki (Decano da Faculdade de Letras e Ciências Humanas de Sfax, Tunísia),
Prof. Susana Villavicencio (Universidade de Buenos Aires, Argentina).

Extraído de : UNESCO. Philosophie et Démocratie dans le Monde - Une enquête de l’UNESCO. Librairie Génerale Française, 1995, p. 13-14

para esta postagem, extraído de
http://www.centro-filos.org.br/itens_inicias_proj_lute/Artigo_2_Declaracao_de_Paris_para_a_Filosofia.pdf

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