segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Gás natural seria pior que carvão


Gás natural seria pior que carvão

Combustível contribui mais para o Aquecimento Global do que se imaginava.

Considerado a alternativa mais "limpa" entre os combustíveis fósseis, o gás natural virou alvo de polêmica com estudos que indicam que ele pode ser na verdade pior para o ambiente do que o carvão. A raiz do problema estaria nas perdas durante o processo de extração. Embora libere a metade do dióxido de carbono (CO2) do carvão e 30% menos que o óleo diesel pela mesma quantidade de energia quando queimado, o metano é um gás-estufa cerca de 25 vezes mais poderoso que o CO2 na retenção de calor pela atmosfera. Assim, o gás que vaza dos poços facilmente anularia sua eficiência na luta contra o Aquecimento Global.

A discussão teve início no ano passado, quando Robert Howarth, professor de Ecologia e Biologia Ambiental da Universidade de Cornell, e sua equipe publicaram artigo na revista "Climate change" em que afirmavam que as perdas na extração, transporte e distribuição do gás natural eram muito maiores do que as anteriormente estimadas, chegando a 7,9% do total. Agora, novo estudo liderado pela cientista atmosférica Gabrielle Pétron, da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (Noaa) dos EUA e da Universidade do Colorado, diz que os vazamentos no processo de extração podem ser ainda maiores que os calculados por Howarth.

Pétron pesquisava a Qualidade do Ar nos arredores de Denver, no Colorado, quando, junto com a poluição urbana comum, detectou forte presença de metano e outros elementos do tipo nas amostras. Novas medições indicaram que o gás vinha de um campo de exploração próximo, batizado Denver-Julesburg, que estaria liberando 4% de sua produção diretamente na atmosfera. A quantidade é o dobro das perdas admitidas pelos produtores e acima das estimadas pela equipe de Cornell. Os resultados serão publicados em breve pelo "Journal of Geophysical Research".

"Se quisermos que o gás natural seja a fonte de combustível fóssil mais limpa, as emissões de metano têm que ser reduzidas", disse Pétron à "Nature", acrescentando não ver razões para que os números de outros poços e campos sejam muito diferentes. "Precisamos analisar seriamente as operações de gás natural em uma escala nacional."

Nos últimos anos, os EUA se tornaram um dos maiores produtores de gás natural do mundo graças a uma técnica polêmica apelidada "fracking". Corruptela para hydraulic fracturing (fratura hidráulica), ela consiste na injeção de água e compostos químicos sob alta pressão no subsolo para "expulsar" o gás preso em pequenos bolsões nas rochas. Os críticos afirmam que o método pode provocar a contaminação de fontes subterrâneas de água e desestabilizar o solo, mas seu uso tem sido estimulado pelo governo americano, de olho em opções para tornar a matriz energética do país mais autossuficiente e limpa, argumento que começa a ruir com os novos estudos.

"É ótimo ter números vindos diretamente do campo", comemorou Howarth em declaração à "Nature". "Não estou à procura de vingança, mas eles estão muito próximos e talvez até um pouco maiores que os nossos."

Como o estudo de Howarth, no entanto, o levantamento de Pétron também já é objeto de ressalvas por outros pesquisadores. Para Michael Levi, diretor do Programa de Segurança Energética e Mudanças Climáticas do Conselho de Relações Exteriores, muitas das suposições de Pétron são prematuras, assim como a crença de que o nível de perdas deve ser semelhante em todos os campos de produção: "Há dados observacionais fantásticos no artigo. Suspeito que haja muito mais a ser feito para jogar luz sobre os vazamentos de metano. Por enquanto, porém, não estou pronto para confiar em seus resultados".

Original em O Globo - 16/02/2012 - Ciência - p.36

Extraído de Jornal da Ciência

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