sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Imre Simon (USP), pioneiro da computação no Brasil

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Professor titular aposentado da USP e um dos idealizadores do Programa Tidia foi um dos mais importantes líderes da ciência da computação no país (foto: arq.pessoal)

Morre Imre Simon, pioneiro da computação


14/8/2009
Por Thiago Romero

Agência FAPESP – Imre Simon, professor titular aposentado do Departamento de Ciência da Computação do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da Universidade de São Paulo (USP), morreu na noite de quarta-feira (12/8), em sua residência na capital paulista, em decorrência de um câncer de pulmão.

Simon foi um dos pioneiros e um dos mais importantes líderes na área de ciência da computação no país, com enorme contribuição científica. Era membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e foi um dos idealizadores do Programa Tecnologia da Informação no Desenvolvimento da Internet Avançada (Tidia) da FAPESP.

... O professor completaria 66 anos nesta sexta-feira (14/8)....

“O professor Imre deu insubstituível contribuição para o desenvolvimento científico no Brasil. Sua participação foi fundamental no estabelecimento da ciência da computação. Ele sempre colaborou intensamente com a FAPESP e suas ideias moldaram programas da Fundação. Sentiremos sua falta”, disse Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP.

Simon nasceu em 14 de agosto de 1943, em Budapeste, na Hungria, região na qual passou os 13 primeiros anos de sua vida, quando a grave situação política no país levou sua família a emigrar para o Brasil.

Em 1962, ingressou na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), onde teve sua primeira experiência com computadores, um IBM 1620, e, juntamente com outros estudantes de sua geração, entre eles Tomasz Kowaltowski e Claudio Lucchesi, atuou no Centro de Computação da USP.

“Somos amigos há quase 50 anos, fomos colegas de faculdade, estudamos e trabalhamos juntos durante todo esse tempo. Fizemos parte da primeira turma de estagiários do Centro de Computação da USP”, disse Tomasz Kowaltowski, professor aposentado do Instituto de Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

“O professor Simon foi um dos primeiros cientistas da computação no Brasil e talvez tenha sido a pessoa que mais contribuiu para o estabelecimento dos programas de graduação e pós-graduação da USP. Ele é muito conhecido internacionalmente por suas contribuições científicas em teoria algébrica dos autômatos finitos, com resultados pioneiros e importantes até hoje. Foi um pesquisador brilhante”, destacou Kowaltowski.

Simon e colegas desenvolveram, em 1965, o primeiro exame vestibular computadorizado do país para o ingresso nas escolas médicas do Estado de São Paulo. Em 1967 foi convidado por Delfim Netto, então ministro da Fazenda, para escrever um programa de computador que estimasse a taxa de inflação do Brasil.

Depois de ter se formado em engenharia eletrônica em 1966 na Poli-USP, em 1969 Simon ganhou uma bolsa da FAPESP para fazer doutoramento na Universidade de Waterloo, no Canadá. Em 1972, completou sua tese, intitulada Hierarchies of Events with Dot-Depth One, com orientação do professor Janusz Brzozowski.

Após o doutoramento, retornou ao Brasil para se tornar professor do IME-USP, onde permaneceu até recentemente. Em 2005, foi homenageado em edição especial da revista Rairo – Theoretical Informatics and Applications (vol.39 – nº1), publicada com apoio do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), da França, que destacou a importante contribuição científica do pesquisador.

Com o título Imre Simon, o cientista da computação tropical, a publicação apresentou diversos artigos escritos por colegas e ex-alunos do professor e prestou um tributo a um dos maiores nomes da ciência da computação mundial.

Yoshiko Wakabayashi, professora titular do Departamento de Ciência da Computação do IME-USP que assina o prefácio da publicação, lamentou profundamente a perda, lembrando que a influência de Simon na área de ciência da computação tem destaque mundial.

“Além de um grande pesquisador, foi um professor excepcional. Aqueles que tiveram o privilégio de assistir suas aulas puderam não só aprender o que ele expunha, mas também aprender como expor”, disse.

Segundo ela, Simon teve um papel fundamental no estabelecimento de uma escola forte na área de ciência da computação no país, na criação do curso de bacharelado de Ciência da Computação e também na formação do Departamento de Ciência da Computação do IME-USP.

Yoshiko lembra um episódio ocorrido em julho, durante a conferência “Developments in Language Theory”, em Stuttgart, Alemanha, quando um dos palestrantes convidados, o polonês Mikolaj Bojanczyk, proferiu palestra intitulada “Factorization Forests”, um dos objetos de pesquisa do professor Imre que teve grande impacto na teoria dos autômatos.

“Essa palestra foi um dos pontos altos da conferência e nela ficou novamente evidenciado quão profundas e de impacto foram as contribuições do professor Simon. É com muita honra e orgulho que faço esse relato. Mais recentemente, ele passou a se dedicar à tecnologia da informação, tendo várias contribuições marcantes nessa área”, disse.

Pioneiro da computação

Claudia Bauzer Medeiros, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Computação (SBC), conheceu o professor Simon ao ser contratada na Unicamp, em meados dos anos 1980. “Desde então, a cada novo encontro ele me encantava. Uma pessoa maravilhosa, uma voz imponente, alguém que fará muita falta a todos nós”, disse.

Claudia também ressalta que Simon foi um dos pioneiros da computação no Brasil, ajudando a criar e consolidar linhas de pesquisa, cursos e departamentos da área.

“Sua personalidade e forma de trabalho lhe angariou admiradores e seguidores por todo o país. Pesquisador dedicado, educador apaixonado e uma figura humana fantástica. Um batalhador incansável pelas causas que abraçava”, disse.

A também professora do Instituto de Computação da Unicamp e membro da coordenação da área de Ciência e Engenharia da Computação da FAPESP lembra-se de um dos inúmeros prêmios recebidos por Simon, o Mérito Científico da SBC, em 2006.

“Eu coordenei a comissão que avaliou as indicações para concessão daquele prêmio e os depoimentos apoiando o seu nome vieram de todo o Brasil, dando testemunho da variedade de atividades do professor e de como seu trabalho atingia a comunidade de pesquisa brasileira das formas mais diversas”, disse.

Além de suas atividades científicas, Simon ocupou vários cargos administrativos, tendo sido, entre outros, presidente da comissão central sobre informática da USP, membro da comissão de coordenação do Programa Tidia e presidente da Sociedade Brasileira de Matemática, além de ter recebido inúmeros prêmios e distinções.

Em 1979, recebeu o Prêmio Jabuti de Ciências Exatas e, em 1989, foi premiado pela Union des Assurances de Paris (UAP), na França. Em 1996 foi honrado com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, na seção de Ciências.

Em 1980 tornou-se membro da Academia de Ciências do Estado de São Paulo e, em 1981, membro titular da Academia Brasileira de Ciências na área de Ciências Matemáticas.

A edição especial da Rairo em homenagem a Imre Simon pode ser lida em www.edpsciences.org/ita.

Estraído de
http://www.agencia.fapesp.br/materia/10916/morre-imre-simon-pioneiro-da-computacao.htm


foto da matéria da FAPESP - arquivo pessoal
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quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Ideias não envelhecem

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Ideias não envelhecem

Em 2001 a NovaE publicava a entrevista com o filósofo finlandês Pekka Himanen que apresenta no Brasil tese sobre a ética de trabalho e a vida dos hackers, que tanto a midia de massa combateu nestes primórdios e hoje, mesmo a contragosto, se curva perante a realidade deste ativismo e criatividade digital. (Nas fotos, Pekka, em 2001 e hoje)

Por Sheila Grecco


Transformar a monotonia da sexta-feira em um ensolarado domingo, democratizar a informação, romper a jaula de ferro da disciplina e burocracia, criar arte e beleza através do computador. Esses são os valores de um verdadeiro hacker, expressos pelo filósofo finlandês Pekka Himanen, no polêmico livro "The Hacker Ethic. And The Spirit of The Information Age", recentemente publicado pela Random House (232 págs., US$ 25).

A obra de Himanen, professor das Universidades de Helsinque, Finlândia, e Califórnia, Berkeley (EUA), vai na contramão do senso comum sobre revolução digital. "O termo hacker vem sendo empregado incorretamente. Na origem, nos anos 60, e é isso o que enfatizo, significava apenas uma pessoa para quem programar era uma paixão. O hacker não é jamais um criminoso de computador", definiu Himanen, em entrevista ao Valor, concedida de Helsinque, cidade onde mora e leciona nos "verões".

Violar segredos de empresas, roubar números de cartão de crédito são ações de crackers; os hackers lutam pela liberdade de expressão e tiveram vital atuação na crise de Kosovo

A tese, que já foi tachada de extremamente original a puro romantismo por críticos americanos, está dando o que falar também na Europa, onde foi lançada nesta semana. Contra fatos, Himanen contrapõe argumentos filosóficos, sociológicos e históricos para sustentar a formação de uma ética dos hackers via "comunismo a cabo". Para ele, a criação do Linux, em 1991, é um dos melhores exemplos dos valores desses programadores, pois revela paixão pelo trabalho e extrema capacidade de abertura. O programa desenvolvido por Linus Torvalds, que inclusive prefacia o livro de Himanen, é um sistema gratuito, com código-fonte aberto e vários aplicativos compatíveis, que podem ser igualmente obtidos pela internet.

Himanen cita também o padrão MP3 - fruto de ação de hackers - que conquistou os ouvidos dos internautas do mundo inteiro e fez do Napster, que permite a troca de arquivos musicais na rede, um sucesso tão grande que chegou a forçar a biliardária indústria fonográfica a buscar um acordo para acabar com o que considerava pirataria. "Trata-se de extraordinários avanços na área de softwares abertos e que representaram movimentos reais contra a quebra do monopólio da Microsoft. Por isso, é preciso sublinhar a idéia de 'software aberto' ou 'plataforma aberta'. Sua ênfase não é o dinheiro, mas sim na liberdade e na abertura. Como diz um pensador mais radical, Richard Stallman, devemos ver o processo de abertura no sentido de 'liberdade de expressão', e não como o mero ato de dar uma 'cerveja grátis'", lembra o filósofo.

Outros exemplos da "socialização do conhecimento" são o modo como driblam a censura em diversos países, atuando mesmo de forma efetiva na crise de Kosovo, em 1999, e a formação de invasores do bem - os hackers que seriam pagos para entrar no sistema de empresas e testar suas vulnerabilidades. "Eles funcionariam como psicólogos para saber o que se passa na cabeça dos 'crackers', esses sim, os criminosos", aponta.

Na última semana, o FBI anunciou dados oficiais do maior ataque hacker criminoso da história: só nos Estados Unidos, mais de 1 milhão de números de cartões de crédito foram violados por grupos que exploraram as vulnerabilidades do sistema Microsoft, em 2000. Dados secretos de grandes empresas foram burlados. Essas seriam ações dignas dos Robin Hoods do espaço ou estariam mais para um Robinson Crusoé, símbolo da literatura burguesa? "Eles não passam de crackers. Ser um hacker é ter um título de honra, significa ter uma ética própria, na qual o dinheiro é mera conseqüência e não a causa do trabalho", argumenta.

Para um hacker, disciplina representa autopunição. Dinheiro é para ser gasto, trabalho deve ser prazer e não obrigação. No novo capitalismo, a estrutura burocrática que racionaliza o uso do tempo seria totalmente dispensável. O filósofo vai contrapondo, um a um, os estatutos da ética dos hackers à protestante, à essência do próprio capitalismo preconizado por Max Weber (1864-1920).

"Hackers crêem que a revolução digital deve ser traduzida em um tempo lúdico para a humanidade; a sexta-feira deve virar um domingo"

Himanen, autor de diversos livros de filosofia da tecnologia e uma espécie de guru de CEOs, acadêmicos e artistas, se define como um "humilde filósofo". Embora admita já ter feito suas ações como hacker e passar dias inteiros navegando pela rede, explica que suas paixões hoje são escrever e lecionar. Ele já está preparando um novo livro, em parceria com o sociólogo Manuel Castells, sobre revolução digital e, é claro, os hackers. Tema preferido, porque, "se os hackers são aqueles que não têm medo do prazer, então, nos sonhos de todos, há um desejo secreto de ser apenas um bom hacker". Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

  • Em seu livro, os hackers aparecem de maneira bastante idealizada. Contrariando o sendo comum, ciberpunks, piratas virtuais, criadores de vírus, crackers e hackers não seriam, então, "farinha do mesmo saco"?

Pekka Himanen: Não, embora essas definições se mesclem no imaginário das pessoas comuns, e sejam utilizadas, muitas vezes, indistintamente pela imprensa. O que procuro ressaltar no livro é a origem do termo: hackers são somente programadores apaixonados que trocam suas descobertas livremente com os seus parceiros. Nos anos 80, começou um movimento de deturpação desse sentido, associando-se hackers a criminosos de computador. Mas o seu sentido permanece através da ação de hackers como Steve Wozniak (criador do primeiro computador pessoal, o PC) ou Linus Torvalds (inventor da plataforma Linux). Quanto mais se tornar conhecido que foi através da ação e paixão individual dos hackers (e jamais das corporações) que a base tecnológica do que é a internet hoje foi disseminada, mais os hackers voltarão a ganhar a credibilidade na opinião pública.

  • Autodisciplina e automodelação vinham juntas na ética do trabalho proposta por Max Weber. Segundo a sua tese, os hackers preferem o lema "esta é a minha vida", em vez do "time is money". Como se constrói e se propaga, na prática, essa nova filosofia virtual?

Himanen: A ética protestante incluiu a idéia do "time is money". Governada por essa ética, muito de nossa economia se tornou mais e mais veloz. Nosso tempo de lazer está diminuindo e se tornando apenas obrigação, um processo que poderia ser chamado de "Fridayzation of Sunday". Pessoas estão constantemente correndo de um compromisso a outro, tentando sobreviver dentro dos prazos, do "deadline", expressão que é significativa do nível de emergência e exaustão a que se chegou. Da perspectiva de um hacker, esse é um resultado estranho do progresso tecnológico. O aspecto mais interessante da ética dos hackers é se opor frontalmente à velha ética protestante. Os hackers crêem que a revolução digital deve ser traduzida também em um tempo lúdico para a humanidade. Trata-se de reverter o processo, transformar a sexta-feira no domingo ("The Sundayization of Friday"). Uma relação mais livre é também necessária na economia informal cuja base principal é a criatividade: você precisa permitir a formação de estilos individuais se deseja que se criem coisas interessantes. Na ética protestante, a idéia do dinheiro era um valor em si mesmo. Isso não significa que os hackers sejam ingênuos ou anticapitalistas. Na nova economia, a idéia de propriedade se estendeu para a noção de informação em uma escala jamais vista anteriormente. A própria história do hardware dos computadores é um reflexo disso. A Apple perdeu para o IBM PC sobretudo porque esta apresentava uma arquitetura mais flexível. Os padrões da internet venceram porque eles foram desenvolvidos contra as regras oficiais de padronização. Os protocolos da rede bateram os do Gopher devido a rumores de que o Gopher poderia se tornar, digamos, propriedade privada. Há muitos outros casos semelhantes, cuja lição permanece: se você quer vencer na competição, a melhor estratégia é a abertura e não rigidez. Mas, claro, como argumento em meu livro, as principais razões para tais abertura são éticas, e não comerciais.

Para um hacker, disciplina representa autopunição, dinheiro é para ser gasto, trabalho deve ser puro prazer e não uma obrigação

  • Muitos argumentam que essa flexibilidade e a proeminência do agora geram angústia, incerteza e corrosão de caráter, certa incapacidade de se relacionar com algo/alguém além do computador. O sr. concorda?

Himanen: Essas são posições alarmistas e, em certo sentido, saudosistas. Devido à ligação fundamental entre criatividade e economia da informação, a relação do hacker com o tempo está aos poucos se espalhando para profissionais de outros ramos da informação. E a tendência é aumentar cada vez mais. É um erro achar que o hacker está isolado do mundo e das pessoas, relacionando-se apenas com o computador. Hackers de computador têm enfatizado ultimamente que ser um hacker não significa necessariamente ter de trabalhar com computadores. Há algum tempo, conheci uma pessoa que era um hacker de tratores, outros tipos surgirão em breve.

  • O sr. escreve que a crise de Kosovo em 1999 foi um exemplo modular da ação democrática dos hackers, que espalharam pela rede notícias que se opunham à versão oficial dos fatos. Dessa forma, os hackers seriam politizados?

Himanen: No livro, enfatizo que a liberdade de expressão tem sido um valor vital dos hackers. Não se pode dizer que eles foram sempre passivos e que somente na crise de Kosovo deixaram claro o seu potencial contra o militarismo. Na China, além de ser importante ferramenta para os negócios, a internet tem sido muito usada para contornar a censura. Em Kosovo, os hackers ajudaram os dissidentes a usar a internet com o objetivo de espalhar informação e enviar reportagens para fora de seu país. O governo de Slobodan Milosevic praticamente fechou toda a mídia de oposição, incluindo a mais proeminente, a Rádio B-92. Entretanto, os hackers ajudaram a estação de rádio a continuar a sua transmissão pela internet. Rádios estrangeiras pegavam os sinais da rede e iam retransmitindo-os dentro da própria Iugoslávia, o que tornou os censores não só ridículos, como também ineficientes. Essa é ação dos hackers em um de seus melhores momentos.

  • 78% dos cerca de 130 milhões de usuários da Web no mundo (dodos de 2001) se limitam aos EUA e à Europa. Com um acesso tão restrito e sabendo que milhões de pessoas no mundo são privadas ainda de direitos básicos, como a educação, não seria um enorme exagero considerar a internet uma mídia de massa?

Himanen: De fato, é precoce dizer que a internet já é uma mídia de massa porque, segundo as últimas estatísticas, apenas 5% da população mundial tem acesso à rede. Há mais pessoas morando no Vale do Silício do que conectadas à rede na África e no Oriente Médio somados. De forma que a revolução digital é desigual e ainda há muito a ser feito. Alguns grupos de hackers como o Internet Society e o Net Day tentam lutar contra a exclusão digital, ensinando princípios de conexão e navegação, o que é importante simbolicamente. Mas isso deve ser um esforço que precisa partir dos governos e que deve considerar um investimento maciço em educação. Os governos precisam entender que em nossa economia global e digital o acesso das nações à internet e à alfabetização - também digital - é fator preponderante para o sucesso. Devemos muito o que ocorre aqui (Finlândia) a uma ação efetiva do Estado.

  • Como a revolução nas tecnologias de comunicação está mudando o próprio conceito de informação na sociedade?

Himanen: No passado, associávamos informação a conhecimento, mas o que em grande parte se encontra na rede hoje não é conhecimento, mas um complexo de trocas de emoção e experiência. Sem dúvida, pode-se ter acesso mais rápido e fácil a livros, enciclopédias, dicionários, dados, estatísticas. Mas, por outro lado, a internet deixou claro que a informação não é tudo. O que se requer, agora, é a habilidade para criar um filtro pessoal, selecionando questões e problemas, e se posicionando frente a eles. E é essa a filosofia educativa dos hackers: fazer com que as pessoas aprendam a aprender.

  • O que um historiador no ano de 2020 vai escrever quando analisar os hackers do nosso tempo? Quem vai prevalecer no tempo: os hackers do bem ou os do mal?

Himanen: Eu me atrevo a dizer que em 2020 a internet já será uma mídia universal, entretanto, isso requer trabalho consciente e a formação de novos heróis. Via de regra, tendemos a celebrar os feitos de CEOs e outros que basicamente só se movem pautados pelos interesses de suas companhias. Mas a rede não pode existir sem a ação individual e, por vezes, anônima, dos bons hackers, nomes como os de programadores, verdadeiros "heróis da generosidade", porque dividiram seus conhecimentos com os colegas - como fizeram Vinton Cerf e Tim Berners-Lee, os pais da internet na rede, entre outros. Os nomes de criminosos e dos piratas virtuais vão simplesmente se perder na poeira da história.

Entrevista publicada na NovaE originalmente em 2001, de autoria e com autorização de Sheila Grecco, jornalista, então editora-assistente de Opinião do jornal Valor Econômico.

O real é atual. Credibilidade não envelhece.

1999-2009 - NovaE - 10 anos - Porque história é para ser contada.
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terça-feira, 21 de julho de 2009

Justiça e cidadania

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Justiça e cidadania

João Baptista Herkenhoff *
20-Jul-2009

A criação do Conselho Nacional de Justiça foi uma vitória da cidadania. Não se construirão as circunstâncias que garantem a cidadania sem que se tenha uma Justiça digna, reta, competente, respeitada pelo povo, acima de qualquer suspeita.

O CNJ não foi uma iniciativa do Poder Judiciário, mas sim, da sociedade civil. No início houve oposição, principalmente da cúpula da Justiça, a um controle externo, sob o argumento de que esse controle comprometeria a independência do Poder.

Mas a tese foi finalmente acolhida, inclusive com o apoio de magistrados que não viam qualquer arranhão na independência da Justiça pelo fato de haver um controle externo, público e democrático das instituições judiciárias.

António Braz Teixeira diz que a Ética tem por objeto a interrogação e a reflexão sobre o valor da conduta humana, tendo como princípio orientador a idéia de Bem.

Na edificação de estruturas judiciárias que estejam a serviço da Ética, tarefa fundamental está reservada aos juristas e aos agentes da Justiça em geral.

Não adianta termos bons códigos, leis perfeitas, se os juristas forem despreparados, míopes na visão que tenham do Direito, desprovidos de condições morais para o exercício das profissões jurídicas.

O Direito para exercer sua função social depende dos seus operadores, que preferimos chamar de operários do Direito. Essa expressão operário do Direito me parece muito simpática e adequada porque retira de quem atua no mundo jurídico qualquer laivo de vaidade. São todos, desde o ministro do Supremo Tribunal Federal até o porteiro dos auditórios de uma comarca do interior deste imenso Brasil, operários do Direito.

De que forma o juiz cultuará a Ética? Vejo o juiz... juízes, desembargadores, ministros... vejo o juiz como alguém cujo papel é estar a serviço. Que não ocupe apenas um cargo, mas desempenhe uma missão.

Será desejável um juiz aberto ao universal, que tenha do Direito uma visão sistêmica, que não se feche no estreito mundo do jurídico e menos ainda no estreito mundo dos códigos.

Vamos agora tratar do advogado, a linha ética que deve nortear essa profissão, diríamos melhor, esse ministério. Destaco três pontos na ética do advogado: seu compromisso com a dignidade humana; seu papel na salvaguarda do contraditório; sua independência à face dos Poderes e dos poderosos.

É a luta pela dignidade da pessoa humana que faz da Advocacia uma escolha existencial. É uma bandeira de resistência porque se contrapõe ao apreço "seletivo" pela dignidade humana, à idéia de que só algumas pessoas têm direito de serem respeitadas.

O advogado salvaguarda o contraditório, sendo fiel a seu patrocinado. Não pode haver Justiça sem que se reconheça a todos o amplo direito à palavra. O advogado tem de ser independente, não se render diante de nenhuma espécie de pressão, não temer represálias, só dobrar os joelhos diante de Deus.

Cuidemos agora da Ética do Ministério Público.
A Constituição de 1988 reforçou, significativamente, o papel e a presença do Ministério Público na vida nacional. Hoje o Ministério Público não é apenas o fiscal da lei e de sua execução, como sempre foi, mas um agente político (no sentido aristotélico do termo) atento à defesa do mais amplo leque de interesses sociais.

Cuidemos agora da Ética do servidor público, principalmente do servidor no âmbito da Justiça.

O Poder Judiciário precisa, para funcionar, dos serventuários e funcionários da Justiça. A Ética do servidor público começa com a consciência que deve ter de sua importância na administração, sentindo-se agente, parte integrante, força eficiente de um esforço coletivo.

O servidor deve ser zeloso, responsável, atencioso com todos aqueles cidadãos e cidadãs que procuram os serviços públicos, sem fazer distinção ou discriminação de qualquer espécie. O servidor do Poder Judiciário pode e deve ser um educador da população para o crescimento da consciência ética, pois que é através dos servidores que a população tem o primeiro contato com a Justiça.

Também integram o mundo dos operários do Direito os doutrinadores e os professores.

A sistematização e a discussão crítica do Direito são um trabalho importantíssimo que os doutrinadores oferecem à Ciência do Direito.

Quanto aos professores, transmitem aos seus alunos não apenas conhecimentos jurídicos, mas, sobretudo, o amor ao Direito. Todos os operadores da seara jurídica passaram pelos bancos acadêmicos e receberam lições dos professores. Estes não cuidam apenas do Direito de hoje, mas do Direito do amanhã, no preparo de sucessivas gerações. São responsáveis pela formação de profissionais competentes e éticos. Sem a semeadura dos professores, o destino do Direito seria a estagnação.

* João Baptista Herkenhoff é livre-docente da Universidade Federal do Espírito Santo, professor itinerante e escritor.

E-mail: jbherkenhoff@uol.com.br
Homepage: http://www.jbherkenhoff.com.br/

Fonte: http://www.correiocidadania.com.br/content/view/3526/56/

fonte da imagem "Equilíbrio":

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domingo, 5 de julho de 2009

Crises da Crise

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A volta das camisas negras
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por Michelle Amaral da Silva última modificação 30/06/2009 11:15
Colaboradores: Kostis Damianakis


Crise e o aumento do fascismo Europa

23/06/2009

Kostis Damianakis*

Analistas apontam no último ano, que a atual crise sistêmico-econômica que veio numa conjuntura de crise generalizada (ambiental, alimentar, energética) é uma reflexão do período que precedeu a segunda guerra mundial. A incerteza político-financeira na Europa nas décadas 1920-1930 culminou com o aparecimento de ideologias que saíram do mesmo molde de proteção da identidade nacional e cristã dos estados, pela ameaça de uma nova teoria de emancipação da classe trabalhadora que nesta época surgia com o estabelecimento do comunismo na União Soviética. O fascismo e o nacional-socialismo (nazismo) na Itália e Alemanha, o falangismo na Espanha, entre outros “muros” ideológicos, foram erguidos e deram o exemplo para a construção literal deles mais adiante como em Berlim e ainda hoje na sa(n)grada terra de Palestina onde o estado Sionista constrói o muro da vergonha.

Algumas das políticas propostas e já adotadas para sair da crise atual também são reflexões do ambiente sombrio antes da Segunda Guerra Mundial. Como por exemplo, o aumento do corporativismo econômico e do protecionismo estatal, que hoje parece uma farsa sendo praticados por países como os EUA que há décadas pregaram e impuseram o neoliberalismo e o livre comércio como a evolução natural de um mundo dito democrático e igualitário. Ao mesmo tempo aumenta hipocritamente o controle do estado no setor financeiro e de comunicação, fato que não seria necessariamente negativo se não visasse apenas na garantia dos lucros para as elites e o controle da informação que chega à sociedade.

Os estados europeus especificamente, hoje utilizam este poder de controle para convencer as partes da sociedade ainda cientes, que uma das soluções de curto prazo para amenizar os impactos da crise é “devolver” os imigrantes, ou seja, o “excedente” da classe trabalhadora para sua terra originária. Os governos nacionais e a União Européia estão elaborando as medidas para implementar este “grande êxodo” inverso há muito tempo. A crise chegou num momento oportuno e já dezenas de aviões estão sendo fretados com destino ao oriente e à África, cheios pela metade de imigrantes e a outra metade de policiais. A mão-de-obra “de programa” que vem de países destruídos pela guerra ou pelas políticas neoliberais impostas pelos EUA e União Européia através do Banco Mundial e do FMI, recebe até mil euros “de brinde” supostamente para começar uma vida nova na sua terra natal, mesmo que tenham que pagar até dez vezes a mais aos traficantes de pessoas para chegar na Europa.

Esta campanha conta também com a maioria dos garotos-de-ouro do jornalismo, que com reportagens e artigos sensacionalistas elevam o Goebelismo em outros patamares. As palavras nos Jornais Nacionais das nove, desde Madri até Atenas, perdem seu sentido individual e formam duplas inseparáveis no subconsciente da sociedade: crise-crime (uma que fomenta o outro), luta-lucros (necessária para voltar a ter), iminente-imigrantes (a perda do caráter nacional por causa deles), segregação-segurança (uma como condição para a outra), amenizar-ameaça (através de perseguição, mouros e cercas), oriundos-oriente (os problemas sempre dali), emprego-empobrecimento (o primeiro hoje não exclui a possibilidade do outro), policiamento-política (o único jeito de fazer).

Não é de surpreender então que um mês antes das eleições do Parlamento Europeu no começo de Junho, pesquisas de opinião pública em vários países apontaram que entre 50% e 70% da população desejam a redução nos números de imigrantes trabalhadores. A reflexão disso nas urnas, fomentada, dizem alguns, pelo maior índice de abstenção (57%) desde a primeira eleição em 1979, foi o reforço da direita (Partido dos Povos +8%) e a disparada da extrema direita (+14%) em quase todos os 27 países da União Européia. Ao mesmo tempo os ditos socialistas da espécie do partido trabalhista da Inglaterra, perderam 18% das suas cadeiras no parlamento.

É uma situação constrangedora para o velho continente que traz a reflexão se isto é um vestido xenofóbico e racista da sociedade européia ou é sua pele mesmo. A mesma, envergonhada, defende a primeira hipótese no caso da forçada expulsão em meados de junho de 100 imigrantes Romenos de Belfast da Irlanda do Norte, após ataques com pedras e tijolos por jovens desempregados e desiludidos com as políticas implementadas após a reconciliação de protestantes e católicos. O mesmo defende no caso do espancamento e amarramento atrás de uma moto em movimento de dois imigrantes de Bangladesh suspeitos de roubo de comida também neste mês de junho, na Grécia, a antiga terra do conceito do estrangeiro sagrado. O mesmo defende a sociedade européia no caso do Partido Nacional da República Checa que na propaganda eleitoral neste Junho também, exigiu uma “solução final” para o problema dos ciganos como se não fossem suficientes os mais de meio milhão de mortos ciganos nos campos de concentração nazistas.

O que talvez alerta que tudo isto não é apenas um vestido, mas sim uma velha e conhecida pele, é o caso da Itália do corrupto magnata e hoje Primeiro Ministro Berlusconi, que conseguiu a absorção dos fascistas da Itália, liderados por Gianfranco Fini na Casa das Liberdades, o seu partido. O Fini, líder da fascista Aliança Nacional, atual Presidente da Câmara dos Deputados e herdeiro político do Mussolini, está prestes a herdar mais uma dinastia após a aposentadoria do seu novo padrinho, do Berlusconi. Este que fez a caça de imigrantes uma política central do seu governo, e teve ganhos consideráveis nas eleições européias mesmo mergulhado ate o pescoço em escândalos financeiros e pessoais. Tudo isto acontece ao mesmo período que o governo prepara uma medida provisória que permitiria o patrulhamento de grupos de voluntários como da Guarda Nacional Italiana nas ruas de cidades e vilarejos, para ajudar na detenção de imigrantes ilegais. O fato que os uniformes da Guarda Nacional lembram muito as fascistas Camisas Negras do Mussolini, a sociedade européia envergonhada, afirma que é uma mera coincidência.

**Camisas Negras: Grupo voluntário paramilitar de segurança nacional formado na década de 1920 pelos fascistas Italianos.

* Kostis Damianakis é membro do Movimento de Atingidos por Barragens.

Fonte: Brasil de Fato

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Matemática tem gênero?

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Matemática também é feminina
2/6/2009

Agência FAPESP – Uma questão polêmica defendida em diversos círculos acadêmicos envolve a noção de que as mulheres teriam naturalmente menos facilidade do que os homens para a compreensão da matemática, especialmente em seus níveis mais complexos.

A controvérsia aumentou ainda mais em 2005, quando o então presidente da Universidade Harvard, Lawrence Summers – hoje assessor econômico do governo de Barack Obama –, comentou que a diferença entre os gêneros seria um dos motivos principais para explicar a escassez de professoras de matemática nas principais universidades dos Estados Unidos.

Agora, um novo estudo, que será publicado esta semana no site e em breve na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences, afirma que o motivo maior para a disparidade em relação à compreensão matemática entre os públicos masculino e feminino se deve não a fatores biológicos, mas culturais.

“Não se trata de uma diferença inerente entre homens e mulheres. Há países em que a disparidade entre os gêneros, com relação à performance em matemática, simplesmente não existe, tanto no nível médio como nos mais altos. Esses países tendem a ser os mesmos em que se verificam as maiores igualdades entre os gêneros”, disse Janet Mertz, professora da Universidade de Wisconsin-Madison, autora do estudo junto com Janet Hyde, da mesma instituição.

Após reunir dados de diversas fontes – exames estaduais, olimpíadas internacionais de matemática e o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), entre outros –, as cientistas documentaram um padrão de performance que aponta fortemente para fatores socioculturais como explicação para a disparidade.

O estudo verificou que o padrão tem se alterado grandemente nas últimas décadas e que meninas em níveis mais básicos de ensino passaram a ter aproveitamento semelhante aos dos meninos em exames. No ensino médio, meninas estão tendo aulas de cálculo em taxas similares às dos meninos. Outro ponto é que a proporção de doutorados em ciências matemáticas para mulheres pulou de 5% na década de 1950 para 30% na atual.

“Na média, as meninas estão atingindo a paridade com os meninos nos Estados Unidos e em outros países e a diferença em relação aos gêneros nos níveis mais altos está diminuindo bastante”, disse Janet Hyde.

No novo estudo, as pesquisadoras questionam a validade da hipótese defendida por Summers de que os homens teriam uma variabilidade biológica maior em relação à habilidade matemática. Elas apontam que as notas obtidas por meninas em alguns países e em alguns grupos étnicos nos Estados Unidos variam tanto como as dos meninos.

Segundo elas, a proporção de meninas para meninos com relação à performance em matemática é basicamente a mesma que se verifica na questão das diferenças entre os gêneros no país.

“Se oferecermos às mulheres mais oportunidades educacionais e de trabalho em campos que exigem o conhecimento avançado da matemática, certamente passaremos a encontrar mais mulheres aprendendo e executando muito bem essa área do conhecimento”, disse Janet Mertz.

“Nos Estados Unidos, é comum que os estudantes achem que o talento para a matemática é algo inato. Se alguém não for naturalmente bom na disciplina, não há o que fazer para reverter esse cenário. Mas, em outros países, a própria valorização da matemática é maior e as pessoas correlacionam o aproveitamento nessa área com o esforço”, disse Janet Mertz.

Segundo as autoras do estudo, a diferença em atitude é provavelmente o maior motivo por que as notas médias em matemática de meninas em países asiáticos são maiores do que nos Estados Unidos. E por que filhas de imigrantes desses países, educadas em escolas norte-americanas, tendem a apresentar bom conhecimento matemático.

O artigo Gender, culture, and mathematics: contemporary evidence regarding greater male variability and differences in mean and high-end performance, de Janet Hyde e Janet Mertz, poderá ser lido em breve por assinantes da Pnas em http://www.pnas.org/.

http://www.agencia.fapesp.br/materia/10582/matematica-tambem-e-feminina.htm
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segunda-feira, 1 de junho de 2009

Sobre quem pode lecionar Filosofia

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belo espelho de palavras, em inglês,
com Teach (ensinar) refletindo Learn (aprender)

Conforme Parecer da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação - CNE/CEB Nº: 38/2006, aprovado em 07/07/2006, homologado pelo Ministro da Educação, Fernando Haddad, e publicado no Diário Oficial da União de 14/08/2006,

"Para garantia do cumprimento da diretriz da LDB, referente à Filosofia e à Sociologia, não há dúvida de que, qualquer que seja o tratamento dado a esses componentes, as escolas devem oferecer condições reais para sua efetivação, com professores habilitados em licenciaturas que concedam direito de docência desses componentes, além de outras condições, como, notadamente, acervo pertinente nas suas bibliotecas." (página 9)

Ou seja: professores/as devem ter Licenciatura em Filosofia.

http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/pceb038_06.pdf

Por outro lado, em se tratando de Ensino Médio público, além do diploma, o/a candidato/a deve ter sido aprovado em concurso público.
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No passado, o curso para Licenciatura em Filosofia abria para outras licenciaturas, como História, Sociologia, Psicologia e que mais. Atualmente, a maioria das Licenciaturas é específica, dando direito a lecionar conteúdo de conhecimento específico.

Cabe retomar que a Portaria nº 399/89 normatizava os registros que então eram efetuados pelo Ministério da Educação, por meio de seus órgãos regionais, existentes à época. Esta é uma função que não mais existe, posto que os diplomas são agora registrados pelas próprias instituições de educação superior, segundo novas normas, cujo principal critério é o reconhecimento do curso.

A Portaria nº 399/89, situada em contexto de maior carência de profissionais habilitados e de escassez de cursos superiores no país, tornava possível o registro de professores para atuarem em disciplinas do ensino de 1º e 2º graus afins à da titulação, sob as seguintes condições:

(1) que o registro não excedesse o total de três disciplinas (art. 3º), incluída a disciplina mater ; e

(2) que para cada uma dessas disciplinas afins ficassem comprovados estudos em pelo menos 160 horas-aula (art. 4º); e

(3) que fosse comprovada a prática de ensino na forma de estágio supervisionado, em cada disciplina a ser registrada (art. 2º).

cf.: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/pceb043_06.pdf

A Portaria MEC n.º 524, de 12 de junho de 1998, no entanto, suspende, mediante revogação da Portaria n.º 399/89, a expedição de registro profissional a professores e especialistas em educação.

O MINISTRO DE ESTADO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO, no uso das suas atribuições legais,

Resolve:
Art. 1.º Fica revogada a Portaria n.º 399, de 28 de junho de 1989, publicada no Diário Oficial de 29 de junho de 1989, página 10.586, seção I.

Art. 2.º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.

PAULO RENATO SOUZA
Diário Oficial, Brasília, 18-06-98 - Seção 1, p. 3

fonte: http://www.derbp.com.br/portaria_mec_524.doc
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No que diz respeito ao estado do Rio de Janeiro, o Conselho Estadual de Educação, em Parecer CEE Nº 033/2006 (N), responde a consulta da Secretaria Estadual de Educação sobre a contratação e o aproveitamento de docentes para ministrar aulas de disciplinas do currículo da Educação Básica e da Educação Profissional, tendo em vista a inexistência de cursos de licenciatura para algumas disciplinas, como Filosofia, Sociologia, Educação Artística e outras, a exemplo das correspondentes aos cursos de Educação Profissional.

“(...) Tendo em vista as dificuldades enfrentadas por esta Secretaria, no que concerne ao preenchimento de vagas de docentes em algumas disciplinas dos currículos de Educação Básica Profissional, face à baixa procura aos cursos de licenciatura como, por exemplo, Filosofia, Sociologia e Educação Artística, solicitamos a V. Sa. encaminhar consulta ao Egrégio Conselho Estadual de Educação, sobre contratação e forma de aproveitamento de docentes para atender às disciplinas do currículo da educação básica e profissional (...)”. (página 1)

Vale ver o Parecer que está em http://www.cee.rj.gov.br/coletanea/pn060033.pdf e encontrar lá, dentre outras disciplinas:

FILOSOFIA - Portadores de Diploma de Licenciatura em Pedagogia, Ciências Sociais, Sociologia e História, com o mínimo de 160 horas de estudos da disciplina.

Nosso entendimento, enquanto SEAF, é que um/a licenciado/a em Teologia, conforme formação superior específica, em curso universitário reconhecido pelo MEC, e que tenha ao menos 160 horas de estudos de Filosofia se enquadraria no Parecer do CEE.RJ.


texto sobre pergunta dirigida à SEAF, por Graça Rocha - Cachoeiras de Macacu-RJ - gracamariarocha@hotmail.com

fonte da imagem: http://www.grannymar.com/blog/2007/10/22/

domingo, 17 de maio de 2009

Memórias Reveladas

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Memórias Reveladas
Centro de Referência da Luta Política no Brasil – 1964–1985

O Centro de Referência das Lutas Políticas no Brasil, denominado "Memórias Reveladas", foi institucionalizado pela Casa Civil da Presidência da República e implantado no Arquivo Nacional com a finalidade de reunir informações sobre os fatos da história política recente do País.

Dando continuidade a iniciativas dos últimos governos democráticos, em novembro de 2005, o Presidente Lula assinou decreto regulamentando a transferência para o Arquivo Nacional dos acervos dos extintos Conselho de Segurança Nacional, Comissão Geral de Investigações e Serviço Nacional de Informações, até então sob custódia da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e passou à Casa Civil a coordenação do recolhimento dos arquivos.

O Centro constitui um marco na democratização do acesso à informação e se insere no contexto das comemorações dos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Um pedaço de nossa história estava nos porões. O "Memórias Reveladas" coloca à disposição de todos os brasileiros os arquivos sobre o período entre as décadas de 1960 e 1980 e das lutas de resistência à ditadura militar, quando imperaram no País censura, violação dos direitos políticos, prisões, torturas e mortes. Trata-se de fazer valer o direito à verdade e à memória.

A criação do Centro suscitou, pela primeira vez, acordos de cooperação firmados entre a União, Estados e o Distrito Federal para a integração, em rede, de arquivos e instituições públicas e privadas em comunicação permanente. Até o momento, em 13 Estados e no Distrito Federal foram identificados acervos organizados em seus respectivos arquivos públicos. Digitalizados, passam a integrar a rede nacional de informações do Portal "Memórias Reveladas", sob administração do Arquivo Nacional.

Essa iniciativa inédita está possibilitando a articulação entre os entes federados com vistas a uma política de reconstituição da memória nacional do período da ditadura militar. Os acordos firmados entre a União e os Estados detentores de arquivos viabilizam o cumprimento do requisito constitucional de acesso à informação a serviço da cidadania.

Estamos abrindo as cortinas do passado, criando as condições para aprimorarmos a democratização do Estado e da sociedade. Possibilitando o acesso às informações sobre os fatos políticos do País reencontramos nossa história, formamos nossa identidade e damos mais um passo para construir a nação que sonhamos: democrática, plural, mais justa e livre.

Dilma Vana Rousseff
Ministra-Chefe da Casa Civil


http://www.memoriasreveladas.arquivonacional.gov.br/

Arquivo Nacional - Praça da República, 173 - Rio de Janeiro, RJ - 20211-350 - Tel. +55 21 2179-1360
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Da esquerda para a direita, em pé: Luís Travassos, José Dirceu, José Ibrahim, Onofre Pinto, Ricardo Vilas Boas, Maria Augusta Carneiro Ribeiro, Ricardo Zarattini e Rolando Frati. Agachados: João Leonardo da Silva Rocha, Agonalto Pacheco, Vladimir Palmeira, Ivens Marchetti e Flávio Tavares. A foto foi tirada no Rio de Janeiro, pouco antes de eles embarcarem no avião Hércules 56 que os levou para o México. Gregório Bezerra juntou-se ao grupo em Recife e Mário Zanconato em Belém.

fonte da referência da foto
http://pandinigp.blogspot.com/

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