domingo, 1 de março de 2009

Nos 445 anos de Galileu, astronomia avança

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Luneta utilizada por Galileu entre 1609 e 1610
foi exposta em museu de Florença

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Nos 445 anos de Galileu, astronomia avança

15 de fevereiro de 2009 • 15h58 • atualizado às 22h49

O famoso astrônomo italiano Galileu Galilei (1564-1642), cujos 445 anos de nascimento são comemorados neste domingo, impressiona os especialistas até hoje por ter formulado novas teorias sobre o universo, que contrariavam o que se conhecia até a época, tendo à disposição apenas equipamentos limitados e de pouca qualidade. Com uma simples luneta refratora (de lente principal objetiva), o cientista coletou dados que revolucionaram a astronomia, deixando marcas que atravessam séculos.

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e a União Astronômica Internacional (UAI) aproveitaram a data e decretaram em 2009 o Ano Internacional da Astronomia. Com participação de mais de 100 países, a iniciativa marca os 400 anos da primeira observação astronômica feita pelo cientista.

"Galileu tinha grandes limitações em seu trabalho e utilizava equipamentos de qualidade óptica sofríveis", afirmou o geógrafo Gilberto Klar Renner, do Planetário de Porto Alegre, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que estuda astronomia. Para superar estes problemas, explicou Renner, "ele fez novas medições e adaptações que lhe permitiram desenvolver novas lunetas e qualificar suas observações".

Atualmente, os astrônomos não enfrentam tantas dificuldades quanto Galileu. A tecnologia chegou a um estágio tão avançado que em muitas pesquisas o profissional não vai mais ao observatório para concluir um estudo, avaliou Renner. "Nos grandes observatórios, os equipamentos coletam todas as informações (raios infravermelhos e ultravioleta), deixando as medições para o computador. O cientista só precisa pegar os dados e analisá-los", disse.

Os telescópios modernos, associados a detectores de carga acoplada (CCD, Charged Coupled Devise), podem ser milhões de vezes mais eficientes e muito mais precisos do que a antiga luneta de Galileu, mas os princípios ópticos são essencialmente os mesmos, pois captam mais luz do que o olho humano. Quem garante isto é o físico Horacio Dottori, professor do Departamento de Astronomia da UFRGS e pesquisador do CNPq.

Para o especialista, captar mais luz dos alvos astronômicos significa poder enxergar objetos mais fracos ou observar objetos extensos com maior resolução angular. "O olho humano, ao focar um carro, observa o veículo reduzir-se cada vez mais de tamanho, enquanto a pessoa se distancia. Sabemos que, na verdade, o carro ainda tem o tamanho real, mas o que muda com a distância é o ângulo sob o qual o olho observa aquele carro. Um binóculo, por exemplo, nada mais é do que dois pequenos telescópios lado a lado, que, além de aumentar o tamanho angular do objeto, permite prolongar a visão estereoscópica (tridimensional) do olho humano.

O pesquisador lembrou também que a qualidade da observação e o alcance do instrumento dependem do diâmetro da objetiva que coleta a luz do astro no equipamento. "Quanto maior a lente, maior a entrada de luz e melhor a nitidez do foco", completou.

Gênio controvertido

O astrônomo, físico e matemático Galileu Galilei nasceu em 15 de fevereiro de 1564 em Florença, na Itália. Foi o responsável por melhorar significativamente o telescópio refrator, além de fazer importantes descobertas como as manchas solares, as montanhas da Lua, as fases de Vênus, os quatro grandes satélites de Júpiter, os anéis de Saturno e aglomerações de estrelas da Via Láctea.

Mesmo pioneiro em observações astronômicas, o pesquisador não teve uma vida fácil. Foi condenado por heresia pelo Tribunal da Inquisição, da Igreja Católica, por aderir à teoria do heliocentrismo, proposta por Copérnico. Ele também acreditava que o Sol era o centro do universo e não a Terra. Morreu em 8 de janeiro de 1642 e foi enterrado na Basílica de Santa Croce, em Florença.

Problemas de visão

Cientistas do Museu de Florença, na Itália, querem abrir o túmulo de Galileu para analisar seu DNA, a fim de entender se o pesquisador sofria de alguma doença degenerativa nos olhos, que teria lhe causado uma cegueira. Com o DNA, os especialistas europeus afirmam que podem compreender como a enfermidade teria distorcido sua visão para compreender alguns erros cometidos por Galileu, como descrever que o planeta Saturno tinha 'orelhas laterais', em vez dos anéis.

Gilberto Klar Renner acredita que o equívoco de Saturno não deve ser atribuído à cegueira porque "a qualidade óptica do seu equipamento não permitia identificar os anéis com clareza". Segundo ele, "os anéis foram vistos de frente, e não de lado, devido a uma posição diferente que o planeta se encontrava". "Alguns meses mais tarde, Galileu conseguiu corrigir o erro, prevendo que a posição do ponto observado iria mudar", destacou.

Para Horacio Dottori, o possível problema de visão de Galileu pode ter sido provocado pelo Sol. "Olhar diretamente para o Sol pode queimar a retina. Galileu não se deu conta disso e acabou se prejudicando", considerou. O especialista alertou que o efeito se torna ainda pior no caso do uso de um telescópio, já que o instrumento foi feito para captar bastante luz.

Redação Terra

http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI3515233-EI238,00.html
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