quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

60 anos de "O Segundo Sexo", de Simone de Beauvoir

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O Feminismo e as ligações França-Brasil - Os 60 anos de O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoirmesa de debate com

  1. Nilcéa Freire - ministra, Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres
  2. Maria Betânia Ávila – socióloga, feminista e diretora do SOS Corpo - Instituto Feminista para a Democracia
  3. Maria Luiza Heilborn - antropóloga, feminista e diretora do Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM)
  4. Brigitte Lhomond – socióloga, pesquisadora do Centro Nacional de Pesquisa Científica, Laboratório Triangle (École Normale Supérieure Lettres et Sciences Humaines, Universités de Lyon, CNRS)
do evento:
Seminário Nacional A Mulher e a Mídia 6

Realização:
  1. Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM)
  2. Instituto Patrícia Galvão – Comunicação e Mídia
  3. Fundo das Nações Unidas para o Desenvolvimento da Mulher (UNIFEM)
  4. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)

Frases

  1. “Precisamos pensar em como alargar as fronteiras do feminismo, estabelecer alianças e projetos em comum” - Brigitte Lhomond
  2. “Simone não se interessava por saber do Brasil do carnaval. Queria saber da condição da mulher no Brasil” - Maria Betânia Ávila
  3. “Precisamos nos opor à Simone sombreada, divulgada apenas como ensaísta e não como a verdadeira filósofa que foi, com um importante papel de transformação social” - Maria Luiza Heilborn
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Quais serão as lutas das novas gerações de jovens feministas?
O jogo está ganho?
A provocação é da socióloga francesa Brigitte Lhomond,
pesquisadora do Centro Nacional de Pesquisa Científica, em Lyon,
e convidada para o evento especial
“O Feminismo e as ligações França-Brasil -
Os 60 anos de O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir”,
realizado na abertura do 6º Seminário A Mulher e a Mídia.
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Brigitte estuda a trajetória dos movimentos de liberação das mulheres e a influência do pensamento de Simone de Beauvoir na luta feminista. Nesta perspectiva, ela acredita que o feminismo continua sendo um importante instrumento de luta, mas com a missão de repensar e discutir de maneira contínua temas como aborto, participação política, prostituição e religiosidade.

Para enfrentar os novos desafios, Brigitte retoma a trajetória das diversas correntes feministas, que começaram a ter visibilidade a partir do final da década de 60, como uma continuação das mobilizações de maio de 68. Ela considera a abundância de grupos, os encontros e enfrentamentos dessas correntes como fundamentais para a construção do feminismo transformador da sociedade.

“A perspectiva do feminismo radical é muito importante. Resultou em uma série de publicações e movimentos. Entre eles o movimento pró-aborto, que se reunia em vários estados para apoiar as mulheres na realização de abortos, e a mobilização de combate à violência contra a mulher, a partir da década de 70”, lembra a pesquisadora francesa.

Em 2010, a legalização do aborto na França completa 35 anos, mas segue desafiando o movimento de mulheres francesas. Segundo Brigitte, ainda é preciso lutar para que a lei seja aplicada até o prazo limite – 12 semanas de gestação. A resistência dos médicos, que recorrem à cláusula de consciência da profissão, e a falta de estrutura nos hospitais públicos franceses atrasam o atendimento das mulheres e muitas vezes fazem com que o prazo limite seja vencido, impossibilitando a interrupção legal da gestação.

A luta pelo direito ao aborto, no entanto, não causa tantas divergências entre as feministas européias quanto temas como paridade política, prostituição e porte de véu pelas mulheres mulçumanas. Existem grupos, como As panteras rosas, que exigem a indiferenciação dos sexos. Elas avaliam que a lei de paridade política, que tem como objetivo uma melhor representação das mulheres, aprofundaria essa diferenciação, contrária ao naturalismo e universalismo, que caracterizam a França.

“Uma análise que divide as feministas na França hoje é a análise da prostituição. Para alguns grupos, trata-se de uma forma de exploração da mulher. Para outros, é uma atividade profissional livre. Apesar dessa divergência, há consenso de que esse tema exige política pública”, ressalta a socióloga do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França.

Segundo ela, outro tema que causa discordância entre as feministas é a lei do véu. Sob a justificativa do Estado laico, a França proibiu que as estudantes mulçumanas utilizem véu nas escolas. Algumas correntes feministas consideram que a as jovens mulçumanas estão sendo discriminadas.

Foi aberta uma CPI sobre o porte do véu integral, cada vez mais presente nas ruas francesas por conta da migração. Nestes debates, o feminismo como vontade de igualdade e de transformação acaba sendo instrumentalizado por correntes que antes não lutavam contra a dominação masculina.

“O movimento de liberação das mulheres provocou verdadeiras mudanças na sociedade, mas com o custo de uma certa pausterização desse movimento, com o custo da perda do radicalismo”, destaca a socióloga, que tem se dedicado a pesquisas sobre sexualidade.

“As jovens feministas precisam dar novas respostas a novos desafios. A realidade não é simples e as lutas das antecessoras não foram tão bem sucedidas. Precisamos pensar em como alargar as fronteiras do feminismo, estabelecer alianças e projetos em comum.”


Atualidade de Beauvoir

Para a socióloga e diretora do SOS Corpo - Instituto Feminista para a Democracia, Maria Betânia Ávila, novas questões surgiram, mas o pensamento de Simone de Beauvoir permanece com referência e inspiração.

“Não é um mito, mas é a referência para a construção de um pensamento e uma análise crítica, materialista e histórica, como uma pessoa que foi posicionada politicamente no mundo”, ressalta Betânia. “Simone não se interessava por saber do Brasil de carnaval. Queria saber da condição da mulher no Brasil.”

A socióloga conta que Simone de Beauvoir entrou na militância feminista com mais de 60 anos, quando passou a participar ativamente de atos e a testemunhar em defesa do direito da mulher ao corpo, declarando publicamente já ter abortado.

“Ela ainda tinha crença no socialismo como possibilidade de superar as desigualdades entre homens e mulheres. Suas formulações ainda são atuais, apesar das críticas à abordagem sobre lesbiandade, subestimação e distanciamento dessas questões.”

Lançado em 1949, o livro O Segundo Sexo só foi publicado em 1963 em português. O título chegou a constar no índex da Igreja Católica como leitura proibida. A antropóloga e diretora do Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM), Maria Luiza Heilborn, lembra que ele derrubou o mito do cuidar como virtude e destino feminino.

“O Segundo Sexo reúne duas frases fundamentais para o pensamento feminista: Não se nasce mulher, torna-se mulher e A biologia não é um destino. A leitura é atual e necessária. Precisamos nos opor à Simone sombreada, considerada apenas como ensaísta e não com a verdadeira filósofa que foi, com um importante papel de transformação social."

extraído de Instituto Patricia Galvão
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