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Tristes trópicos
10/12/2009 Por Alex Sander Alcântara
Agência FAPESP – A chamada “crise do Congresso” brasileiro é o tema central do número 67 da revista Estudos Avançados. Publicada pelo Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA/USP), a edição, que lançada nesta quinta-feira (10/12), traz um dossiê sobre a crise institucional vista por acadêmicos, parlamentares e juristas.
..........
Em seu conjunto, a revista traz artigos, entrevistas, ensaios e resenhas. Abriga ainda mais dois blocos temáticos. O segundo dossiê é dedicado ao antropólogo Claude Lévi-Strauss, morto em novembro, e o terceiro, intitulado Vozes do Nordeste, reúne artigos sobre Graciliano Ramos, João Cabral de Melo e Gilberto Freyre.
O dossiê Lévi-Strauss traz textos publicados em 2008 na edição especial da revista La Lettre Du Collège de France (clique para baixar a revista integralmente, em francês) produzida em homenagem ao centenário do antropólogo francês.
De acordo com o editor da revista, Alfredo Bosi, professor titular de literatura brasileira da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, a edição já estava pronta quando souberam da morte de Lévi-Strauss.
“Estive em Paris e tive o privilégio de receber autorização para publicar vários artigos que saíram na revista La Lettre Du Collège de France. É especialmente importante para nós fazer essa homenagem porque dentro do IEA temos a Cátedra Lévi-Strauss, criada graças a um convênio com o Collège de France”, disse à Agência FAPESP.
Além de textos do próprio Lévi-Strauss, a edição de Estudos Avançados traz artigos e ensaios de colaboradores e discípulos, além de entrevistas recentes. Dentre os artigos destacam-se os de Maurice Merleau-Ponty, Jean-Claude Pecker e Philippe Descola, além de entrevistas sobre Lévi-Strauss com Descola, Françoise Héritier e Eduardo Viveiros de Castro, que foram publicadas originalmente em francês.
Segundo Bosi, que também é coordenador da Cátedra Lévi Strauss, o dossiê sobre o antropólogo fala de um outro país, o “Brasil indígena”, que aparece como fonte direta de estudo de um dos maiores antropólogos do século 20.
“O estruturalismo do autor de Tristes Trópicos não teria sido possível sem os seus anos de observação empática junto a tribos sobreviventes no território brasileiro. As relações entre Lévi-Strauss e a USP, onde lecionou na juventude, foram estreitas e profundas, e os textos que agora publicamos no Brasil provam-no de modo cabal”, disse Bosi.
Para homenagear Lévi-Strauss, a cantora, compositora e pesquisadora Marlui Miranda interpretou músicas dos Suruí, Nambikwara e Bororo, povos indígenas visitados pelo francês na década de 1930, quando lecionava sociologia na recém-criada USP. “É pena porque gostaríamos que ele viesse. Ele lia bem o português. Mas fica a homenagem”, disse Bosi.
Velho Senado
Segundo o crítico literário e membro da Academia Brasileira de Letras, há muitos números a revista se caracteriza por apresentar um dossiê que “deve tratar de um tema oportuno, atual, importante e de preferência que tenha a ver com a realidade brasileira”.
“Para o dossiê – que ocupa um terço e às vezes a metade da edição – convidamos professores, pesquisadores e pensadores. Já a segunda parte é mais aberta. Aproveitamos os ensaios que chegam de várias partes do Brasil e os submetemos aos pareceristas e consultores que sigilosamente nos fazem um diagnóstico sobre os textos”, explicou Bosi, acrescentando que, nas últimas edições, a revista abriu uma nova seção de resenhas de livros.
Os três blocos temáticos apresentam unidade e todos os textos são atuais, com exceção da crônica de Machado de Assis intitulada “Velho Senado”, publicada quando o autor de Dom Casmurro escrevia para o jornal Diário do Rio de Janeiro, nos idos de 1860. De acordo com Bosi, a intenção foi mostrar a “diferença de tom”.
“Naqueles tempos o Senado [“cujos cargos eram vitalícios”] talvez não fosse nem melhor nem pior do que é hoje. Sempre deve ter havido escândalos, só que eram mais decorosos. Eles tinham um comportamento que, infelizmente parece, que se perdeu”, indicou Bosi.
No dossiê sobre o Congresso, há uma diversidade de visões e posições. Segundo o professor da USP, a grande discussão não é só mostrar o que está acontecendo, mas “por que está acontecendo”.
“De maneira geral, as análises mostram que a democracia formal em que vivemos é necessária, mas insuficiente. É preciso não só uma democracia representativa, mas participativa”, analisa Bosi.
Participam do primeiro dossiê Fábio Konder Comparato com o artigo O Direito e o Avesso” Marco Aurélio Nogueira, com Uma crise de Longa Duração, e Francisco Weffort, que questiona a ausência de reforma política em Qual reforma política?.
A segunda parte do dossiê é de entrevistas com alguns políticos representativos, como Cristovam Buarque, Arnaldo Madeira, Fernando Gabeira, e com representantes do Judiciário, como o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Do outro lado, o jornalista e professor da Escola de Comunicações e Artes da USP Eugênio Bucci analisa o papel da imprensa na cobertura da crise, ente outros.
“Acho que a crise, superficialmente, passou, porque a política continua a sua rotina, mas o dossiê fica como um momento de reflexão”, disse Bosi.
A última parte da revista é dedicada a resenhas de livros lançados recentemente e ao dossiê Vozes do Nordeste, além da análise de Aziz Nacib Ab’ Sáber, professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, sobre os eventos climatológicos que atingiram Santa Catarina em 2008.
A versão eletrônica da nova edição de Estudos Avançados poderá ser lida em breve na biblioteca on-line SciELO (Bireme/FAPESP), em
A revista impressa custa R$ 30.
Mais informações: http://www.iea.usp.br/revista/rev67.html
e 55 - 11 - 3091-1675
Fonte: Agência FAPESP
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Tristes trópicos
10/12/2009 Por Alex Sander Alcântara
Agência FAPESP – A chamada “crise do Congresso” brasileiro é o tema central do número 67 da revista Estudos Avançados. Publicada pelo Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA/USP), a edição, que lançada nesta quinta-feira (10/12), traz um dossiê sobre a crise institucional vista por acadêmicos, parlamentares e juristas.
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Em seu conjunto, a revista traz artigos, entrevistas, ensaios e resenhas. Abriga ainda mais dois blocos temáticos. O segundo dossiê é dedicado ao antropólogo Claude Lévi-Strauss, morto em novembro, e o terceiro, intitulado Vozes do Nordeste, reúne artigos sobre Graciliano Ramos, João Cabral de Melo e Gilberto Freyre.
O dossiê Lévi-Strauss traz textos publicados em 2008 na edição especial da revista La Lettre Du Collège de France (clique para baixar a revista integralmente, em francês) produzida em homenagem ao centenário do antropólogo francês.
De acordo com o editor da revista, Alfredo Bosi, professor titular de literatura brasileira da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, a edição já estava pronta quando souberam da morte de Lévi-Strauss.
“Estive em Paris e tive o privilégio de receber autorização para publicar vários artigos que saíram na revista La Lettre Du Collège de France. É especialmente importante para nós fazer essa homenagem porque dentro do IEA temos a Cátedra Lévi-Strauss, criada graças a um convênio com o Collège de France”, disse à Agência FAPESP.
Além de textos do próprio Lévi-Strauss, a edição de Estudos Avançados traz artigos e ensaios de colaboradores e discípulos, além de entrevistas recentes. Dentre os artigos destacam-se os de Maurice Merleau-Ponty, Jean-Claude Pecker e Philippe Descola, além de entrevistas sobre Lévi-Strauss com Descola, Françoise Héritier e Eduardo Viveiros de Castro, que foram publicadas originalmente em francês.
Segundo Bosi, que também é coordenador da Cátedra Lévi Strauss, o dossiê sobre o antropólogo fala de um outro país, o “Brasil indígena”, que aparece como fonte direta de estudo de um dos maiores antropólogos do século 20.
“O estruturalismo do autor de Tristes Trópicos não teria sido possível sem os seus anos de observação empática junto a tribos sobreviventes no território brasileiro. As relações entre Lévi-Strauss e a USP, onde lecionou na juventude, foram estreitas e profundas, e os textos que agora publicamos no Brasil provam-no de modo cabal”, disse Bosi.
Para homenagear Lévi-Strauss, a cantora, compositora e pesquisadora Marlui Miranda interpretou músicas dos Suruí, Nambikwara e Bororo, povos indígenas visitados pelo francês na década de 1930, quando lecionava sociologia na recém-criada USP. “É pena porque gostaríamos que ele viesse. Ele lia bem o português. Mas fica a homenagem”, disse Bosi.
Velho Senado
Segundo o crítico literário e membro da Academia Brasileira de Letras, há muitos números a revista se caracteriza por apresentar um dossiê que “deve tratar de um tema oportuno, atual, importante e de preferência que tenha a ver com a realidade brasileira”.
“Para o dossiê – que ocupa um terço e às vezes a metade da edição – convidamos professores, pesquisadores e pensadores. Já a segunda parte é mais aberta. Aproveitamos os ensaios que chegam de várias partes do Brasil e os submetemos aos pareceristas e consultores que sigilosamente nos fazem um diagnóstico sobre os textos”, explicou Bosi, acrescentando que, nas últimas edições, a revista abriu uma nova seção de resenhas de livros.
Os três blocos temáticos apresentam unidade e todos os textos são atuais, com exceção da crônica de Machado de Assis intitulada “Velho Senado”, publicada quando o autor de Dom Casmurro escrevia para o jornal Diário do Rio de Janeiro, nos idos de 1860. De acordo com Bosi, a intenção foi mostrar a “diferença de tom”.
“Naqueles tempos o Senado [“cujos cargos eram vitalícios”] talvez não fosse nem melhor nem pior do que é hoje. Sempre deve ter havido escândalos, só que eram mais decorosos. Eles tinham um comportamento que, infelizmente parece, que se perdeu”, indicou Bosi.
No dossiê sobre o Congresso, há uma diversidade de visões e posições. Segundo o professor da USP, a grande discussão não é só mostrar o que está acontecendo, mas “por que está acontecendo”.
“De maneira geral, as análises mostram que a democracia formal em que vivemos é necessária, mas insuficiente. É preciso não só uma democracia representativa, mas participativa”, analisa Bosi.
Participam do primeiro dossiê Fábio Konder Comparato com o artigo O Direito e o Avesso” Marco Aurélio Nogueira, com Uma crise de Longa Duração, e Francisco Weffort, que questiona a ausência de reforma política em Qual reforma política?.
A segunda parte do dossiê é de entrevistas com alguns políticos representativos, como Cristovam Buarque, Arnaldo Madeira, Fernando Gabeira, e com representantes do Judiciário, como o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Do outro lado, o jornalista e professor da Escola de Comunicações e Artes da USP Eugênio Bucci analisa o papel da imprensa na cobertura da crise, ente outros.
“Acho que a crise, superficialmente, passou, porque a política continua a sua rotina, mas o dossiê fica como um momento de reflexão”, disse Bosi.
A última parte da revista é dedicada a resenhas de livros lançados recentemente e ao dossiê Vozes do Nordeste, além da análise de Aziz Nacib Ab’ Sáber, professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, sobre os eventos climatológicos que atingiram Santa Catarina em 2008.
A versão eletrônica da nova edição de Estudos Avançados poderá ser lida em breve na biblioteca on-line SciELO (Bireme/FAPESP), em
A revista impressa custa R$ 30.
Mais informações: http://www.iea.usp.br/revista/rev67.html
e 55 - 11 - 3091-1675
Fonte: Agência FAPESP
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