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L´HUMANITÉ
Novo look aos 105 anos
Por Leneide Duarte-Plon, de Paris em 27/10/2009
Ele vende em torno de 50 mil exemplares por dia, não é encontrado em todas as bancas de Paris, chega apenas às maiores cidades francesas mas tem um público fiel – comunistas ou simpatizantes, na grande maioria – que garante sua existência cada vez mais ameaçada.
Aos 105 anos, o jornal L´Humanité fez uma reforma gráfica e editorial para continuar brigando por seu lugar nas bancas. A última grande reforma do diário foi em 2003, poucos meses antes das comemorações do centenário, em 2004 [ver, neste Observatório, "L´Humanité: cem anos de engajamento"].
Este ano, o diário fundado por Jean Jaurès, em 18 de abril de 1904, resolveu consultar o leitorado antes de passar por uma reforma para se adaptar às exigências do leitor da era internet. Mas apesar de não ter mais a foice e o martelo no logotipo nem ser mais o "órgão oficial do Partido Comunista Francês", o L´Humanité não pretende ser um jornal neutro.
Na edição de 13 de outubro, quando estreava a nova diagramação, o ex-diretor da Redação Patrick Le Hyaric, eleito este ano deputado para o Parlamento Europeu pelo Partido Comunista, defendeu os partis pris do jornal. Entre eles estão a defesa da causa palestina, dos estrangeiros em situação irregular na França, ameaçados de expulsão, muitos deles para países em guerra (como os afegãos e os iraquianos, entre outros), a denúncia dos favores do governo aos bancos e a ameaça que a ideologia sarkozysta representa para o serviço público francês.
Trunfo maior
Como interatividade é a palavra-chave da comunicação da era da internet, o jornal ouviu os leitores, que responderam a um questionário opinando sobre o que deveria ser mantido e o que deveria mudar. Segundo a direção, essa consulta democrática ao leitorado é inédita entre os jornais diários. Há leitores que manifestaram o desejo de ver o jornal tão eclético e aberto que possa se tornar o jornal de leitores não-comunistas. Alguns pediram que o jornal não sacrifique o espaço concedido à cultura, que fale mais de desenvolvimento sustentável não-capitalista, e que tenha matérias mais curtas, em linguagem tão direta e clara quanto possível, para explicar os eufemismos e as manipulações do poder. E que faça mais matérias investigativas exclusivas.
O L´Huma nunca vendeu a falsa idéia de que faz jornalismo objetivo. Foi o "órgão oficial do Partido Comunista Francês" de 1920 a 1994 e, apesar de continuar sendo próximo do PCF, está aberto a todas as lutas da esquerda francesa, com oposição sistemática ao governo Sarkozy. A diagramação mudou, o jornal tem cores em todas as páginas, mas o espírito combativo do jornalismo de esquerda se manteve inalterado.
Em cada nova mudança, o L´Humanité foi se adaptando aos novos tempos. Em 1994, a menção "órgão central do PCF" foi substituída por "jornal do PCF". Em 1999, esse laço com o partido foi eliminado do jornal. O Partido Comunista continua sendo o editor, mas não dita a linha editorial. E os militantes do PCF vão para as ruas distribuir ou vender o jornal em frequentes campanhas de assinaturas. Outros contribuem financeiramente sempre que a situação financeira do diário é periclitante e que ele resolve lançar um apelo a subscrições.
Essa mobilização militante é o grande trunfo do jornal que tem nos eleitores comunistas o suporte para levar adiante a utopia de Jean Jaurès de um jornal "feito para transformar a sociedade" ou "trabalhar pela realização da humanidade".
Relação singular
No ano passado, o L´Humanité teve que se render aos fatos e colocou à venda a sede histórica do jornal, em Saint-Denis, ao norte de Paris, um belo projeto de Oscar Niemeyer, autor também do projeto da sede do Partido Comunista Francês.
Em maio de 2008, a redação abandonou o prédio de Niemeyer em que se instalara desde 1989 e passou a ocupar um imóvel situado perto do Stade de France.
Colocada à venda por 15 milhões de euros, a sede do jornal ainda não encontrou comprador, o que obrigou o diário a recorrer aos leitores para pagar dívidas, já que o jornal não tem anunciantes e conta como única fonte de renda a venda nas bancas e as doações dos leitores reunidos em uma "associação de amigos do L´Humanité".
Em menos de um mês, o jornal angariou mais de 1 milhão de euros doados por leitores engajados que mantêm com o cotidiano uma relação singular. Ser leitor do L´Huma é antes de tudo um ato militante. E nenhum desses leitores quer ver o jornal desaparecer do cenário da mídia francesa.
Extraído de Observatório da Imprensa - versão para impressão
ou página original da Web do Observatório da Imprensa
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L´HUMANITÉ
Novo look aos 105 anos
Por Leneide Duarte-Plon, de Paris em 27/10/2009
Ele vende em torno de 50 mil exemplares por dia, não é encontrado em todas as bancas de Paris, chega apenas às maiores cidades francesas mas tem um público fiel – comunistas ou simpatizantes, na grande maioria – que garante sua existência cada vez mais ameaçada.
Aos 105 anos, o jornal L´Humanité fez uma reforma gráfica e editorial para continuar brigando por seu lugar nas bancas. A última grande reforma do diário foi em 2003, poucos meses antes das comemorações do centenário, em 2004 [ver, neste Observatório, "L´Humanité: cem anos de engajamento"].
Este ano, o diário fundado por Jean Jaurès, em 18 de abril de 1904, resolveu consultar o leitorado antes de passar por uma reforma para se adaptar às exigências do leitor da era internet. Mas apesar de não ter mais a foice e o martelo no logotipo nem ser mais o "órgão oficial do Partido Comunista Francês", o L´Humanité não pretende ser um jornal neutro.
Na edição de 13 de outubro, quando estreava a nova diagramação, o ex-diretor da Redação Patrick Le Hyaric, eleito este ano deputado para o Parlamento Europeu pelo Partido Comunista, defendeu os partis pris do jornal. Entre eles estão a defesa da causa palestina, dos estrangeiros em situação irregular na França, ameaçados de expulsão, muitos deles para países em guerra (como os afegãos e os iraquianos, entre outros), a denúncia dos favores do governo aos bancos e a ameaça que a ideologia sarkozysta representa para o serviço público francês.
Trunfo maior
Como interatividade é a palavra-chave da comunicação da era da internet, o jornal ouviu os leitores, que responderam a um questionário opinando sobre o que deveria ser mantido e o que deveria mudar. Segundo a direção, essa consulta democrática ao leitorado é inédita entre os jornais diários. Há leitores que manifestaram o desejo de ver o jornal tão eclético e aberto que possa se tornar o jornal de leitores não-comunistas. Alguns pediram que o jornal não sacrifique o espaço concedido à cultura, que fale mais de desenvolvimento sustentável não-capitalista, e que tenha matérias mais curtas, em linguagem tão direta e clara quanto possível, para explicar os eufemismos e as manipulações do poder. E que faça mais matérias investigativas exclusivas.
O L´Huma nunca vendeu a falsa idéia de que faz jornalismo objetivo. Foi o "órgão oficial do Partido Comunista Francês" de 1920 a 1994 e, apesar de continuar sendo próximo do PCF, está aberto a todas as lutas da esquerda francesa, com oposição sistemática ao governo Sarkozy. A diagramação mudou, o jornal tem cores em todas as páginas, mas o espírito combativo do jornalismo de esquerda se manteve inalterado.
Em cada nova mudança, o L´Humanité foi se adaptando aos novos tempos. Em 1994, a menção "órgão central do PCF" foi substituída por "jornal do PCF". Em 1999, esse laço com o partido foi eliminado do jornal. O Partido Comunista continua sendo o editor, mas não dita a linha editorial. E os militantes do PCF vão para as ruas distribuir ou vender o jornal em frequentes campanhas de assinaturas. Outros contribuem financeiramente sempre que a situação financeira do diário é periclitante e que ele resolve lançar um apelo a subscrições.
Essa mobilização militante é o grande trunfo do jornal que tem nos eleitores comunistas o suporte para levar adiante a utopia de Jean Jaurès de um jornal "feito para transformar a sociedade" ou "trabalhar pela realização da humanidade".
Relação singular
No ano passado, o L´Humanité teve que se render aos fatos e colocou à venda a sede histórica do jornal, em Saint-Denis, ao norte de Paris, um belo projeto de Oscar Niemeyer, autor também do projeto da sede do Partido Comunista Francês.
Em maio de 2008, a redação abandonou o prédio de Niemeyer em que se instalara desde 1989 e passou a ocupar um imóvel situado perto do Stade de France.
Colocada à venda por 15 milhões de euros, a sede do jornal ainda não encontrou comprador, o que obrigou o diário a recorrer aos leitores para pagar dívidas, já que o jornal não tem anunciantes e conta como única fonte de renda a venda nas bancas e as doações dos leitores reunidos em uma "associação de amigos do L´Humanité".
Em menos de um mês, o jornal angariou mais de 1 milhão de euros doados por leitores engajados que mantêm com o cotidiano uma relação singular. Ser leitor do L´Huma é antes de tudo um ato militante. E nenhum desses leitores quer ver o jornal desaparecer do cenário da mídia francesa.
Extraído de Observatório da Imprensa - versão para impressão
ou página original da Web do Observatório da Imprensa
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