terça-feira, 28 de abril de 2009

O ser mulher

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América Latina
O ser mulher

Ao finalizar sua apresentação durante seminário na Universidade Federal de Santa Catarina em 2007, a transexual Bárbara Graner questionou: "Não entendo porque só uma cirurgia genital permita que uma mulher seja chamada de mulher. Somente uma vagina pode atestar que você é mulher? A questão da feminilidade e de nome estão somente ligados ao órgão genital?” Dito isto, levantou-se de sua cadeira e, batendo na mesa repetidas vezes, falou em alto e bom tom: “Sou mulher! Me sinto uma mulher, logo sou uma mulher!” Embora saibamos que, ao ser oficializado em 1975 pela ONU, o Dia Internacional da Mulher referia-se inicialmente somente às mulheres assignadas biologicamente como tal – e que estas, em 2009, ainda sofrem com questões como a criminalização do aborto e a violência – cabe aqui, face à afirmação de Graner, refletir sobre “o que é ser mulher”, uma vez que a dicotomia entre sexo e gênero e a idéia de que gênero seja decorrência do sexo biológico vêm sendo objetos de contínua reflexão pelos estudos de gênero e feministas.

"Ser mulher é uma construção social e cultural”, explica a socióloga chilena Teresa Valdez, do Centro de Estudios para el Desarrollo de la Mujer (CEDEM). “Historicamente, as culturas têm construído sua idéia de ser mulher levando em conta o corpo sexuado, isto é, a um sexo tem sido designado um gênero. Ser mulher não é somente a construção social e cultural, mas sim uma construção fortemente subjetiva. Ser reconhecida como mulher é também uma necessidade e é aí onde se produz a tensão com a própria subjetividade, em que posso sentir-me mulher, embora não me reconheçam como tal. Neste contexto, temos que entender a rebeldia e o desabafo de Bárbara Graner. O que vale mais: como ela se sente ou o que o contexto social considera atributos necessários para reconhecê-la como uma mulher?”, questiona.

Neste ponto, a opinião de Valdez converge com a da ativista travesti colombiana Diana Navarro Sanjuán, diretora da Corporación Opción, para quem o pertencimento ao gênero feminino está “mais além dos órgãos genitais e sexuais femininos, uma vez que o gênero não tem a ver com nossa fisiologia. Independentemente de um caráter fisiológico genital, nós, pessoas de sexo masculino com uma construção identitária feminina, somos mulheres”, afirma Diana.

A partir da afirmação de Simone de Beauvoir de que “não se nasce mulher”, o papel do substrato biológico e social na constituição das noções de homem e mulher tem marcado as discussões teóricas e políticas em relação ao que significa ser homem e ser mulher. “Do ponto de vista biológico, a mulher é um ser humano com cromossomas XX; entretanto, do ponto de vista cultural, não há somente uma forma de ser mulher”, comenta a antropóloga Marta Lamas, diretora da revista mexicana Debate Feminista. “Ser uma mulher em um país muçulmano não é o mesmo que ser uma mulher em um país nórdico ou no México. Não existe A mulher, mas sim muitas formas de ser mulher, as quais estão cruzadas por questões geracionais, de classe social, de localização geográfica, de crenças religiosas ou ideológicas”, pontua a feminista.

Caminham na mesma direção a antropóloga brasileira Anna Paula Vencato – para quem não é possível dar uma definição objetiva do que é ser mulher, por não existir uma espécie de "essência compartilhada" por todas as mulheres e que vá definir uma "mulheridade" – e a ativista argentina Alejandra Sardá, integrante do grupo Mulabi (Espacio latinoamericano de sexualidades y derechos), que considera que ser mulher seja uma categoria identitária e uma convenção social que “oferece a possibilidade de mudar seu significado à medida que as circunstâncias sociais exijam”.

Professora na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Vencato atualmente realiza a pesquisa "Existimos pelo prazer de ser mulher: corpo, gênero e sexualidade em homens que praticam crossdressing”, para sua tese de doutorado, a ser defendida em breve pelo PPGSA-IFCS-UFRJ. A pesquisa, de base etnográfica, foi realizada basicamente em eventos do Brazilian Crossdresser Club (BCC) e também na internet. “Crossdressers não são mulheres e não se vêem como tal. De forma rápida, poder-se-ia dizer que são homens que ‘se vestem de mulher’, ou que efetivam o ‘desejo de se vestir com roupas e acessórios femininos’, embora o crossdressing seja algo um tanto mais complexo que isso. E, mesmo assim, a noção de feminino que usam para se montar é bastante peculiar. É uma ‘montagem transitória’, realizada em alguns momentos específicos, que envolve graus variados de intervenção corporal, dependendo do que se pretende em termos de resultado final daquela produção. De modo geral, as crossdressers se inspiram e buscam realizar em suas montagens coisas que observam nas mulheres e que admiram ou em coisas que elas vêem nas mulheres e acham bonito ou interessante”, explica a pesquisadora.

Nesta perspectiva, em vez de se referir a uma essência comum, pensar a noção de mulher supõe conceber uma categoria permeável a múltiplos sentidos que, nas palavras da antropóloga brasileira Regina Facchini (Pagu/Unicamp), esteja “sempre aberta a incluir todas aquelas diferenças que demandam o reconhecimento das pessoas enquanto mulheres”. Facchini é autora da tese de doutorado “Entre umas e outras: mulheres, homossexualidades e diferenças na cidade de São Paulo”, defendida na Unicamp em 2008, para a qual pesquisou mulheres que têm relações afetivo-sexuais com outras mulheres, com idades entre 18 e 65 anos e diferentes inserções de classe e étnico-raciais. Além dos bares e boates lésbicos, realizou observação etnográfica em uma rede situada na periferia de São Paulo, outra formada por frequentadoras de um clube sadomasoquista e uma rede de jovens feministas que se denomina “riot girrrls” ou "minas do rock".

“A pesquisa em campo me forçou a relativizar o uso da categoria ‘mulher’. Encontrei pessoas que nasceram do sexo biológico feminino e que se consideravam ‘homem trans’ ou ‘entendidas’, buscando uma expressão de gênero mais ‘masculina’. A ‘masculinidade’ esteve mais presente especialmente entre mulheres de estratos sociais mais baixos e sofria modulações de acordo com a geração, de modo a compor masculinidades mais sisudas entre as mais velhas (que valorizam o ‘respeito’) e masculinidades mais próximas ao mundo do hip hop ou dos estilos juvenis predominantes nas periferias entre as mais jovens. vai logo depois de 'hip-hop: A própria categoria mulher não consegue abranger algumas expressões de gênero, composições e recomposições de peças do caleidoscópio dos processos pelos quais essas “mulheres” diferentes se tornam sujeitos corporeizados, gente de carne e osso”, explica.

O significado do “feminino”

Do mesmo modo que falar de “mulher” supõe pensar em plural, referir-se ao feminino traz à luz as diferentes formas em que esta idéia se materializa. “A maneira em que as mulheres ou outras pessoas incorporam aspectos das feminilidades existentes está informada por certas convenções sociais que variam, considerando elementos diversos do contexto específico no qual determinada pessoa está inserida”, argumenta Anna Paula Vencato. Para ela, falar das convenções sociais que atravessam a construção dos diferentes femininos implica “entender que estas construções ocorrem de forma bastante complexa, através da incorporação e de negociação com diversos fatores, como os marcadores sociais da diferença, por exemplo, ou os graus de identificação e afastamento que uma determinada pessoa possa ter com um conjunto de costumes ou valores sociais específicos”.

O antropólogo brasileiro Jorge Leite, professor no departamento de Sociologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), lembra que nunca houve consenso sobre o que significa ser mulher ou ser homem, mas sim “apenas momentos em que determinada visão se torna hegemônica e se naturaliza". O mesmo acontece com a noção de feminino: “São as convenções sociais que determinam o que pode ou não ser entendido como feminino em determinada época. Hoje, uma mulher ser uma torcedora entusiasmada por seu time ou mesmo jogar futebol não é mais visto como algo contrário à feminilidade. Mas há décadas passadas, aqui no Brasil, isso era, para os valores culturais da época, um sinal claro de falta de feminilidade e uma ‘masculinização’ da mulher. Ainda hoje, mulheres fisiculturistas sofrem este tipo de preconceito”.

Jorge Leite é autor da tese “Nossos corpos também mudam: sexo, gênero e a invenção das categorias ‘travesti’ e ‘transexual’ no discurso científico”, defendida em novembro de 2008, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). O campo foram as travestis e transexuais que trabalham e vivem na região central de São Paulo.

“Grosso modo, posso dizer que a construção do feminino no meio das travestis se dá através da ingestão de hormônios, implante/ aplicação de silicone e, principalmente, um intenso e constante processo de ‘encarnação’ das normas de gênero (no caso, o feminino) vigentes no período, sem abrir mão de determinados elementos associados à noção de virilidade masculina, em especial em relação às práticas sexuais. De qualquer maneira, sempre é importante lembrar que, a grande maioria das pessoas que se auto-identificam como travestis aqui no Brasil não se reconhecem como mulheres”, diz ele.

No entanto, estas desconstruções convivem com modelos hegemônicos marcados por uma ordem de gênero que constrói o feminino sobre o fato reprodutivo, isto é, sobre a maternidade e a conjugalidade heterossexual. Para Diana Navarro Sanjuán, os paradigmas sociais do “dever ser feminino” põem tanto as mulheres assim designadas ao nascer como as transgênero no lugar de ter que validar e reproduzir estereótipos. “Muitas de nós ainda copiamos modelos do que nos foi imposto como feminino: seios grandes, corpos ostentosos, cintura pequena, quadris largos, braços finos, ventres planos, unhas grandes, cabelos longos, o uso de maquiagem, roupas e acessórios que permitam identificar-nos como parte das múltiplas formas de ser mulher”.

Segundo a ativista, comportamentos submissos quase monacais que reproduzem os estereótipos negativos do “dever ser da mulher” condicionam o tipo de mulher que as mulheres trans querem ser. Por sua vez, as pesquisadoras entrevistadas coincidem sobre o lugar privilegiado da maternidade nas convenções do feminino. “Há um mito que diz que o destino de uma mulher é ser mãe e o que vai confirmar a sua feminilidade é esse fato biológico. Por outro lado, como está construída essa feminilidade, com os valores da maternidade, é um ato de abnegação em prol de ocupar-se com os filhos. Entretanto, o tema da maternidade não é um tema de biologia. Muitas mulheres, sejam transexuais ou não, optam por adotar filhos, e são boas mães”, argumenta Marta Lamas.

Na mesma linha, para Alejandra Sardá a veneração feminina da maternidade, que se complementa com a da paternidade masculina, “é um dos tabus mais resistentes, que danifica seriamente a possibilidade de pensar e implementar políticas sérias de saúde e direitos reprodutivos e também de encontrar novas formas de feminilidade. Há muito tempo, em nível mundial, movimentos críticos tem sido feitos no sentido de reformular a condição humana, a partir de um reconhecimento da diversidade sexual, de gênero, de opções em muitos sentidos. Valorizar a diversidade rompe com esses esquemas monolíticos de ser homem ou mulher”.

Nas palavras de Regina Facchini, “pensar como reconhecer a diversidade de quem se reivindica mulher talvez seja a política de solidariedade mais importante” para se conseguir que cada 8 de março seja um espaço para comemorar todas as possibilidades que supõe a palavra “mulher”.

http://www.clam.org.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?UserActiveTemplate=%5FBR&infoid=5225&sid=7

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domingo, 26 de abril de 2009

O Sonho Transdisciplinar

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Os alunos presentes na aula inaugura Pós-Graduação em Filosofia - UBM
por Hilton Japiassu *
  • Palestra proferida na aula inaugural do Curso de Pós-graduação em Filosofia, na UBM - Centro Universitário Barra Mansa.


O grande desafio lançado à educação neste início de século é a contradição entre, de um lado, os problemas cada vez mais globais, interdependentes e planetários, do outro, a persistência de um modo de conhecimento privilegiando os saberes fragmentados, parcelados e compartimentados. Donde a urgência, para uma reforma da educação, de valorizarmos os conhecimentos interdisciplinares ou, pelo menos, promovermos o desenvolvimento, no ensino e na pesquisa, de um espírito ou mentalidade propriamente transdisciplinar. Creio que pode ser aplicado à Educação o que dizia Péguy da poesia: “quando a poesia está em crise, a solução não consiste em decapitar os poetas, mas em renovar as fontes de inspiração”. O que podemos fazer quando tomamos consciência de nossos conhecimentos atuais revelam uma tremenda incapacidade de pensar o mundo globalmente e em suas partes? O que devemos fazer quando constatamos que nosso pensamento se encontra preso às cegueiras e miopias que caracterizam nossas universidades divididas em departamentos sem comunicação? Já no século XVII, Pascal dava-nos uma orientação: “considero impossível conhecer as partes se não conheço o todo e se não conheço particularmente as partes”. Queria dizer: se quisermos dominar um objeto, não podemos confiar no conhecimento fragmentado nem na apreensão holística. Porque o conhecimento deve efetuar, não só um movimento dialético entre o nível local e o global, mas de retroação do global sobre o particular. Ao mesmo tempo que precisamos contextualizar o singular, devemos concretizar o global: relacioná-lo com suas partes.

Hoje há um interesse crescente pela interdisciplinaridade. Motivado por diversas razões. A mais importante: a que se vincula a análise pedagógica e à redefinição de uma política educacional. Paradoxalmente, nunca se recusou tanto e de boa fé as exigências interdisciplinares. Muita gente toma consciência de que os objetos de pesquisa são tão complexos que só podem ser tratados por uma abordagem interdisciplinar. Não basta mais o simples encontro ou justaposição das disciplinas. Torna-se imprescindível eliminar as fronteiras entre as problemáticas e os modos de expressão para que se instaure uma comunicação fecunda. Tem-se tornado preocupante o estado lamentável de esfacelamento do saber. Por toda parte surge a exigência de se instaurar pelo menos um diálogo ecumênico entre as disciplinas. Porque ninguém mais parece entender ninguém. Mas essa exigência apenas revela a situação patológica em que se encontra nosso saber. A especialização sem limites culminou numa fragmentação crescente do horizonte epistemológico. Chegamos a um ponto em que o especialista se reduziu ao indivíduo que, à custa de saber cada vez mais sobre cada vez menos, terminou por saber tudo (ou quase tudo) sobre o nada, em reação ao generalista que sabe quase nada sobre tudo. Ora, um saber em migalhas revela uma inteligência esfacelada. O desenvolvimento da especialização, com todos os seus inegáveis méritos, dividiu ao infinito o território do saber. Cada especialista ocupou, como proprietário privado, seu minifúndio de saber onde passou a exercer, ciumenta e autoritariamente, seu mini-poder.

Ao destruir a cegueira do especialista, o conhecimento interdisciplinar recusa o caráter territorial do poder pelo saber. Substitui a concepção do poder mesquinho e ciumento do especialista pela concepção de um poder partilhado. O espírito interdisciplinar pressupõe que reconheçamos: "o coração tem razões que a Razão desconhece". Porque possuímos qualidades de coração, entusiasmo e maravilhamento que representam as raízes da inteligência. E devemos renunciar, se não ao desejo de dominação pelo saber, pelo menos à manipulação totalitária do discurso da disciplina. Não podemos dialogar com quem erige em absoluto a causa ou a verdade que defende. Em geral, o especialista tenta impor a causa de sua especialidade como se fosse a resposta a todo por quê; ou identificar seu discurso com a origem de tudo. Este instinto teológico é muito celebrado nas capelas da ciência: colóquios, simpósios, congressos ou confrarias patenteadas (quermesses com vaidades intelectuais). De um modo geral repete-se que o futuro pertence às pesquisas interdisciplinares. De fato, são muito difíceis de ser organizadas. Por causa de ignorâncias recíprocas por vezes sistemáticas. Em nosso sistema escolar, encontram-se ainda relegadas ao ostracismo. Os arraigados preconceitos positivistas cultivam uma epistemologia da dissociação do saber. Sob esse aspeto, ensina-se um saber bastante alienado e em processo de cancerização galopante. Seus horizontes cognitivos são demasiado reduzidos. Ensina-se um saber fragmentado que constitui um fator de cegueira intelectual. As escolas estão mais preocupadas com a distribuição de suas fatias de saber, de uma ração intelectual a alunos que nem mesmo parecem ter fome. Este saber mais ou menos mofado, armazenado nessas "penitenciárias centrais" da cultura (as instituições de ensino), além de ser indigesto e nocivo à saúde espiritual, passa a ser propriedade de pequenos mandarinos dominados pelo espírito de concorrência e carreirismo. É por isso que o interdisciplinar provoca atitudes de medo e recusa. Porque constitui uma inovação. Como todo novo, incomoda. Porque questiona o já adquirido, o já instituído, fixado e aceito. Se não questionar, não é novo, mas novidade. O conservadorismo acadêmico tem um medo pânico do novo que põe em questão as estruturas mentais, as representações coletivas estabelecidas, as idéias sobre o mundo, a educação e a boa ordem das coisas. O que se encontra em jogo, no fundo, é certa concepção do saber: o modo de se conceber sua repartição e o processo de seu ensino.

Lamentamos que em nosso atual sistema educacional seja praticamente inexistente a prática interdisciplinar. O que existe são encontros multidisciplinares: frutos mais da imaginação criadora e combinatória de alguns sabendo manejar conceitos e métodos diversos que algo propriamente instituído e institucionalizado. Mesmo assim, realizam-se como práticas de indivíduos abertos e curiosos, com o sentido da aventura e não tendo medo de errar; de indivíduos que não buscam nenhum porto seguro, mas se afirmam e se definem por um solene anti-autoritarismo e um contundente anti-dogmatismo. Vejo no dogmatismo de um saber definitivo, acobertado pela etiqueta "objetivo" ou pelo rótulo "verdadeiro" o sintoma de uma ciência agônica. A este respeito, faço minhas as palavras de F. Jacob: "Não é somente o interesse que leva os homens a se matarem. Também é o dogmatismo. Nada é tão perigoso quanto a certeza de ter razão. Nada causa tanta destruição quanto a obsessão de uma verdade considerada como absoluta. Todos os crimes da história são conseqüência de algum fanatismo. Todos os massacres foram realizados por virtude: em nome da religião verdadeira, do racionalismo legítimo, da política idônea, da ideologia justa; em suma, em nome do combate contra a verdade do outro, do combate contra Satã".

O espírito interdisciplinar nos permite tomar consciência de que uma verdade acabada e dogmática impede o exercício cotidiano da liberdade de pensar. Corresponde a uma sociedade sem vida onde somos livres para fazer tudo, mas onde não há mais nada para se fazer. Somos livres para pensar, mas não há nada sobre o quê pensar. É infindável o processo de estabelecimento de uma verdade. Neste domínio, a evidência só pode ser engano ou dogma. E a certeza, credulidade ou cegueira. Apoiar-se numa verdade como em um absoluto é realizar uma censura injustificável. É aceitar um superego opressor e castrador vendo em todo erro uma heresia e não uma força criadora, uma condição sine qua non de uma verdade sempre provisória. Toda verdade humana é feita de verdades verificadas. Uma verdade congelada torna-se uma anestesia intelectual. Seu efeito paralisante gera inúmeras doenças do espírito, inclusive a paralisia adulta da inteligência. Ora, um saber que não se questiona constitui um obstáculo ao avanço dos saberes. A pretensa maturidade intelectual, orgulho de tantos sistemas de ensino, constitui um obstáculo entre outros. A famosa cabeça bem-feita, bem arrumada, bem estruturada, bem organizada e objetiva, não passa de uma cabeça mal-feita, fechada, produto de escola, modelagem e manipulação. Trata-se de uma cabeça que precisa urgentemente ser re-feita. O espírito interdisciplinar ajuda a se refazer essas cabeças bem-feitas, quer dizer, mal-feitas. Pois cultiva o desejo do enriquecimento por enfoques novos e o gosto pela combinação das perspetivas; ademais, alimenta a vontade de ultrapassar os caminhos batidos e os saberes adquiridos. Não nascemos com cabeças "desocupadas", mas inacabadas. A escola e a sociedade pretendem ocupá-las pela instrução e pela linguagem. Donde a necessidade de se psicanalisar os educadores a fim de que possam ser agentes que despertem, provoquem, questionem e se questionem, e não se reduzam ao papel de disciplinadores intelectuais, capatazes da inteligência ou revendedores de um saber-mercadoria sem as técnicas do marketing. O professor que não cresce, não estuda, não se questiona e não pesquisa deveria ter a dignidade de aposentar-se, mesmo no início de carreira: já é portador de uma paralisia intelectual ou de uma esclerose precoce. Deveria também aposentar-se o que prefere as respostas às questões ou ensinar a pesquisar.

Ao questionar os conhecimentos adquiridos e os métodos aplicados, não só o interdisciplinar promove a união do ensino e da pesquisa, mas transforma as escolas: de um lugar de simples transmissão ou reprodução de um saber pré-fabricado, num lugar onde se produz coletiva e criticamente um saber novo. Contrariamente ao sistema clássico de ensino, que se instala num esplêndido isolamento e institui um saber pasteurizado, com um sistema hierárquico mais ou menos monárquico e autoritário, o sistema interdisciplinar viria superar o corte escola/sociedade, escola/vida, saber/realidade. Sem falarmos da instauração de uma nova relação entre educadores e educandos. Mas é ilusório pensar que uma lei ou um conjunto de medidas administrativas possam colocar um paradeiro a hábitos tão arraigados, a rotinas e estruturas mentais solidamente estabelecidas. Donde a necessidade de se criar instituições dotadas de estruturas flexíveis, capazes de absorver conteúdos novos e integrar-se em função dos verdadeiros problemas. E de adotar métodos fundados, não em táticas e estratégias de distribuição dos conhecimentos estocados, mas no exercício de aptidões intelectuais e de faculdades psicológicas voltadas para a busca do novo. Mas nada será feito de durável se não estiver fundado na adesão profunda e apaixonada de alguns e em experiências inovadoras desempenhando o papel de catalisadores e de núcleos de inovação. O interdisciplinar constitui um fator de transformação capaz de restituir vida às nossas mais ou menos esclerosadas instituições de ensino. Mil obstáculos precisam ser ultrapassados: 1) a situação adquirida dos "mandarinatos" no ensino e na pesquisa (inclusive na administração, onde os cargos são ocupados pelos mais medíocres); 2) o peso da rotina e a rigidez das estruturas mentais; 3) a inveja dos conformismos e conservadorismos em relação às idéias novas que seduzem (ódio fraterno);; 4) o positivismo anacrônico que, preso a um ensino bastante dogmático, encontra-se à míngua de fundamentação teórica; 5) a mentalidade esclerosada de um aprendizado por acumulação ou entesouramento; 6) o enfeudamento das instituições ("departamentalização"); 7) o carreirismo buscado sem competência; 8) a ausência de crítica dos saberes adquiridos, etc.

Todavia, o interdisciplinar não pode ser praticado sem o cumprimento de certas exigências. Por exemplo, a criação de uma nova inteligência e de uma razão aberta capazes de formar uma nova espécie de cientistas e educadores, utilizando uma nova pedagogia e ousando pensar de outra. forma. Por isso, o candidato a ingressar nessa aventura deveria preencher (entre outros) os seguintes pré-requisitos:

· ter a coragem de fazer a seguinte prece: "Fome nossa de cada dia nos daí hoje"
· ter a coragem de devolver, à sua razão, sua função turbulenta e agressiva
· ter a coragem de, no domínio do pensamento, fazer da imprudência um método
· saber colocar questões (não só buscar respostas) e não ousar "pensar antes de estudar"
· estar consciente de que ninguém se educa (como não cria) com idéias alheias
· ter a coragem de sempre fornecer à sua razão razões (e motivos) para mudar
· não cultivar o gosto pelo "porto seguro" ou pela certeza do sistema, porque nosso conhecimento nasce da dúvida e se alimenta de incertezas
· não fazer concessões ao Saber, etc.

Numa época de conservadorismo como a nossa, precisamos ter a coragem de opor-nos a ela. Só um espírito conservador prefere repetir a ter que refletir. Precisamos abandonar essa monotonia espiritual e fazer da Razão uma realidade incompleta jamais devendo repousar na tradição. É desta maneira que se torna jovem e incisiva, passando a aceitar e viver o princípio segundo o qual "nada é fixo para aquele que alternadamente pensa e sonha": precisamos de pensadores que saibam sonhar e de sonhadores que saibam pensar. Porque nosso conhecimento deve aparecer como a reforma de uma ilusão e uma retificação continuada. Claro que navegar é preciso. E viver, muito mais preciso ainda. Mas se não navegarmos com uma bússola na mão e um sonho na cabeça, ficaremos condenados à rotina do sexo, da droga e do credit card. E o ideal de vida proposto à juventude (viciada em divertimento) passa a ser apresentado como o mais compulsivo consumismo perfumado de hedonismo Donde estarmos assistindo à instalação de uma insidiosa e intimidante violência fazendo imperar o mais generalizado conformismo. Os projetos de autonomia individual sofrem um eclipse quase total. Em grande parte, causado pela onda crescente de privatização, despolitização e "individualismo". Um grave sintoma concomitante: a total atrofia da imaginação política e o empobrecimento intelectual de nossas lideranças. Cada vez mais a liberdade funciona como simples complemento instrumental do dispositivo maximizador dos "gozos" individuais, o único valor exaltado sendo o dinheiro conferindo poder ou notoriedade midiática. A sociedade atual adquiriu uma tremenda capacidade de abafar toda verdadeira divergência, seja silenciando-a, seja convertendo-a num fenômeno comercializado como os outros. As vozes discordantes e dissidentes são comercializadas. Donde a importância de continuarmos pensando uma sociedade onde:

· os valores econômicos não se imponham como centrais ou únicos
· a cultura não seja identificada com o mero entretenimento (com o que se vende), mas com tudo o que ultrapassa o simples funcional e o instrumental, humanizando nosso espírito e nossa consciência
· o crescimento máximo seja considerado um meio, não o fim das ações humanas
· o intelectual possa afirmar-se e definir-se por sua liberdade em relação aos poderes, pela crítica das idéias recebidas e a denúncia das alternativas simplistas.

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  • Na ocasião, foi oficializada a SEAF Sul Fluminense




Professor Alcino Camatta,
Coordenador do Curso de Pós-Graduação em Filosofia da UBM
e Professor Olinto Pegoraro, convidado do evento.


* Hilton Japiassu nasceu em Carolina, Maranhão, em 26 de março. Formado em Filosofia e Teologia no Studium Generale Santo Tomás de Aquino de São Paulo, completou a licenciatura em Filosofia na PUC do Rio de Janeiro, ingressando posteriormente em seu Corpo Docente (1975 a 1986). Fez Doutorado em Filosofia em Grenoble (França), na Université des Ciences Sociales (1974) defendendo tese sobre Les Relations Interdisciplinares dans les Sciences Humaines. Em 1984/85, fez pós-doutorado na Université des Sciences Humaines de Strasbourg (França) com um trabalho de pesquisa sobre Le Statut Epistemologic des Sciences Humaines. Desde 1978, ensinou no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro – IFCS-UFRJ, onde integrou o Departamento de Filosofia. Dedica suas atividades docentes e de pesquisa ao domínio da Epistemologia e História das Ciências Humanas. Tem vários artigos e dezenas de livros.

Para acessar outros materiais de Hilton Japiassu
http://www.editoraeletronica.net/

Buscar textos: http://br.monografias.com/

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Carta da Transdisciplinaridade
referida por Hilton Japiassu, no debate

(adotada no Primeiro Congresso Mundial da Transdisciplinaridade, Convento de Arrábida, Portugal, 2-7 novembro 1994)

Preâmbulo

Considerando que a proliferação atual das disciplinas acadêmicas conduz a um crescimento exponencial do saber que torna impossível qualquer olhar global do ser humano;

Considerando que somente uma inteligência que se dá conta da dimensão planetária dos conflitos atuais poderá fazer frente à complexidade de nosso mundo e ao desafio contemporâneo de autodestruição material e espiritual de nossa espécie;

Considerando que a vida está fortemente ameaçada por uma tecnociência triunfante que obedece apenas à lógica assustadora da eficácia pela eficácia;

Considerando que a ruptura contemporânea entre um saber cada vez mais acumulativo e um ser interior cada vez mais empobrecido leva à ascensão de um novo obscurantismo, cujas conseqüências sobre o plano individual e social são incalculáveis;

Considerando que o crescimento do saber, sem precedentes na história , aumenta a desigualdade entre seus detentores e os que são desprovidos dele, engendrando assim desigualdades crescentes no seio dos povos e entre as nações do planeta;

Considerando simultaneamente que todos os desafios enunciados possuem sua contrapartida de esperança e que o crescimento extraordinário do saber pode conduzir a uma mutação comparável à evolução dos humanóides à espécie humana;

Considerando o que precede, os participantes do Primeiro Congresso Mundial de Transdisciplinaridade (Convento de Arrábida, Portugal 2 -7 de novembro de 1994) adotaram o presente Protocolo entendido como um conjunto de princípios fundamentais da comunidade de espíritos transdisciplinares, constituindo um contrato moral que todo signatário deste Protocolo faz consigo mesmo, sem qualquer pressão jurídica e institucional.

Artigo 1:
Qualquer tentativa de reduzir o ser humano a uma mera definição e de dissolvê-lo nas estrutura formais, sejam elas quais forem, é incompatível com a visão transdisciplinar.

Artigo 2:
O reconhecimento da existência de diferentes níveis de realidade, regidos por lógicas diferentes é inerente à atitude transdisciplinar. Qualquer tentativa de reduzir a realidade a um único nível regido por uma única lógica não se situa no campo da transdisciplinaridade.

Artigo 3:
A transdisciplinaridade é complementar à aproximação disciplinar: faz emergir da confrontação das disciplinas dados novos que as articulam entre si; oferece-nos uma nova visão da natureza e da realidade. A transdisciplinaridade não procura o domínio sobre as várias outras disciplinas, mas a abertura de todas elas àquilo que as atravessa e as ultrapassa.

Artigo 4:
O ponto de sustentação da transdisciplinaridade reside na unificação semântica e operativa das acepções através e além das disciplinas. Ela pressupõe uma racionalidade aberta por um novo olhar, sobre a relatividade definição e das noções de "definição"e "objetividade". O formalismo excessivo, a rigidez das definições e o absolutismo da objetividade comportando a exclusão do sujeito levam ao empobrecimento.

Artigo 5:
A visão transdisciplinar está resolutamente aberta na medida em que ela ultrapassa o domínio das ciências exatas por seu diálogo e sua reconciliação não somente com as ciências humanas mas também com a arte, a literatura, a poesia e a experiência espiritual.

Artigo 6:
Com a relação à interdisciplinaridade e à multidisciplinaridade, a transdisciplinaridade é multidimensional. Levando em conta as concepções do tempo e da história, a transdisciplinaridade não exclui a existência de um horizonte trans-histórico.

Artigo 7:
A transdisciplinaridade não constitui uma nova religião, uma nova filosofia, uma nova metafísica ou uma ciência das ciências.

Artigo 8:
A dignidade do ser humano é também de ordem cósmica e planetária. O surgimento do ser humano sobre a Terra é uma das etapas da história do Universo. O reconhecimento da Terra como pátria é um dos imperativos da transdisciplinaridade. Todo ser humano tem direito a uma nacionalidade, mas, a título de habitante da Terra, é ao mesmo tempo um ser transnacional. O reconhecimento pelo direito internacional de um pertencer duplo - a uma nação e à Terra - constitui uma das metas da pesquisa transdisciplinar.

Artigo 9:
A transdisciplinaridade conduz a uma atitude aberta com respeito aos mitos, às religiões e àqueles que os respeitam em um espírito transdisciplinar.

Artigo 10:
Não existe um lugar cultural privilegiado de onde se possam julgar as outras culturas. O movimento transdisciplinar é em si transcultural.

Artigo 11:
Uma educação autêntica não pode privilegiar a abstração no conhecimento. Deve ensinar a contextualizar, concretizar e globalizar. A educação transdisciplinar reavalia o papel da intuição, da imaginação, da sensibilidade e do corpo na
transmissão dos conhecimentos.

Artigo 12:
A elaboração de uma economia transdisciplinar é fundada sobre o postulado de que a economia deve estar a serviço do ser humano e não o inverso.

Artigo 13:
A ética transdisciplinar recusa toda atitude que recusa o diálogo e a discussão, seja qual for sua origem - de ordem ideológica, científica, religiosa, econômica, política ou filosófica. O saber compartilhado deverá conduzir a uma compreensão compartilhada baseada no respeito absoluto das diferenças entre os seres, unidos pela vida comum sobre uma única e mesma Terra.

Artigo 14:
Rigor, abertura e tolerância são características fundamentais da atitude e da visão transdisciplinar. O rigor na argumentação, que leva em conta todos os dados, é a barreira às possíveis distorções. A abertura comporta a aceitação do desconhecido, do inesperado e do imprevisível. A tolerância é o reconhecimento do direito às idéias e verdades contrárias às nossas.

Artigo final:
A presente Carta Transdisciplinar foi adotada pelos participantes do Primeiro Congresso Mundial de Transdisciplinaridade, que visam apenas à autoridade de seu trabalho e de sua atividade.

Segundo os processos a serem definidos de acordo com os espíritos transdisciplinares de todos os países, o Protocolo permanecerá aberto à assinatura de todo ser humano interessado em medidas progressistas de ordem nacional, internacional para aplicação de seus artigos na vida.

Convento de Arrábida,
6 de novembro de 1994
Comitê de Redação
Lima de Freitas
Edgar Morin
Basarab Nicolescu
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Para mais:

“Congressos internacionais sobre transdisciplinaridade: reflexões sobre emergências e convergências de idéias e ideais na direção de uma nova ciência moderna”, por Augusta Thereza de Alvarenga, Américo Sommerman; Aparecida Magali de Souza Alvarez, em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-12902005000300003&script=sci_arttext#back6 Acesso em: 26 abr. 2009.


Ver Documentos da Transdisciplinaridade, em Centro de Educação Transdisciplinar – CETRANS - http://www.cetrans.com.br/internaCetranscba9.html?iPageId=114
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domingo, 12 de abril de 2009

Eric Hobsbawm, a liberdade para o mercado e os pobres

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"Com liberdade total para o mercado, quem atende aos pobres?"

Em entrevista publicada no jornal Página 12, o historiador britânico Eric Hobsbawm fala da crise atual e de suas possíveis implicações políticas. Para ele, o mundo está entrando em um período de depressão e os grandes riscos, diante da fragilidade da esquerda mundial, são o crescimento da xenofobia e da extrema-direita. Hobsbawm destaca o que está acontecendo na América Latina e elogia o presidente brasileiro. "É o verdadeiro introdutor da democracia no Brasil. No Brasil há muitos pobres e ninguém jamais fez tantas coisas concretas por eles".

Martin Granovsky - Página12

Em junho ele completa 92 anos. Lúcido e ativo, o historiador que escreveu "Rebeldes Primitivos", "A Era da Revolução" e a "História do Século XX", entre outros livros, aceitou falar de sua própria vida, da crise de 30, do fascismo e do antifascismo e da crise atual. Segundo ele, uma crise da economia do fundamentalismo de mercado é o que a queda do Muro de Berlim foi para a lógica soviética do socialismo.

Hobsbawm aparece na porta da embaixada da Alemanha, em Londres. São pouco mais de três da tarde na bela Belgrave Square e se enxergam as bandeiras das embaixadas por trás das copas das árvores. De óculos, chapéu na cabeça e um casaco muito pesado, cumprimenta. Tem mãos grandes e ossudas, mas não parecem as mãos de um velho. Nenhuma deformação de artrite as atacou. Rapidamente uma pequena prova demonstra que as pernas de Hobsbawm também estão em boa forma. Com agilidade desce três degraus que levam do corrimão a calçada. Parece enxergar bem. Tem uma bengala na mão direita. Não se apóia nela, mas talvez a use como segurança, em caso de tropeçar, ou como um sensor de alerta rápido que detecta degraus, poças e, de imediato, o meio-fio da calçada. Hobsbawm é alto e magro. Uns oitenta e bicos. Não pede ajuda. O motorista do Foreign Office lhe abre a porta esquerda do jaguar preto. Entra no carro com facilidade. O carro é grande, por sorte, e cabe, mas a viagem é curta.

- Acabo de me encontrar com um historiador alemão, por isso estou na embaixada, e devo voltar – avisa. Ele chegou de visita a Londres e quis conversar com alguns de nós. Sei que vamos a Canning House. Está bem. Poucas voltas, não?

O carro dá meia volta na Belgrave Square e pára na frente de outro palacete branco de três andares, com uma varanda rodeada de colunas e a porta de madeira pesada. Por algum motivo mágico o motorista de cabelos brancos com uma mecha sobre o rosto, traje azul e sorridente como um ajudante do inspetor Morse de Oxford, já abre a porta a Hobsbawm. Entre essas construções tão parecidas, a elegância do Jaguar o assemelha a uma carruagem recém polida. O motorista sorri quando Hobsbawm desce. O professor lhe devolve a simpatia enquanto sobe com facilidade num hall obscuro. Já entrou em Canning House e à direita vê uma enorme imagem de José de San Martin. À esquerda do corredor, uma grande sala. O chá está servido. Quer dizer, o chá, os pães e uma torta. Outro quadro do mesmo tamanho que o de San Martin. É Simon Bolívar. E também é Bolívar o cavalheiro do busto sobre o aparador.

Quanto chá tomaram Bolívar e San Martin antes de saírem de Londres para a América do Sul, em princípios do século XIX, para cumprir seus planos de independência?

Hobsbawm pega a primeira taça e quer ser quem faz a primeira pergunta.




- Como está a Argentina? - interroga mas não muito, porque não espera e comenta – No ano passado Cristina esteve para vir a Londres para uma reunião de presidentes progressistas e pediu para me ver. Eu disse sim, mas ela não veio. Não foi sua culpa. Estava no meio do confronto com a Sociedade Rural.

Hobsbawm fala um inglês sem afetação nem os trejeitos de alguns acadêmicos do Reino Unido. Mas acaba de pronunciar “Sociedade Rural” em castellhano.

- O que aconteceu com esse conflito?

Durante a explicação, o professor inclina a cabeça, mais curioso que antes, enquanto com a mão direita seu garfo tenta cortar a torta de maçã. É uma tarefa difícil. Então se desconcentra da torta e fixa o olhar esperando, agora sim, alguma pergunta.

- O mundo está complicado – afirma ainda mantendo a iniciativa. Não quero cair em slogans, mas é indubitável que o Consenso de Washington morreu. A desregulação selvagem já não é somente má: é impossível. Há que se reorganizar o sistema financeiro internacional. Minha esperança é que os líderes do mundo se dêem conta de que não se pode renegociar a situação para voltar atrás, senão que há que se redesenhar tudo em direção ao futuro.

A Argentina experimentou várias crises, a última forte em 2001. Em 2005 o presidente Néstor Kirchner, de acordo com o governo brasileiro, que também o fez, pagou ao FMI e desvinculou a Argentina do organismo para que o país não continuasse submetido a suas condicionalidades.

- É que a esta altura se necessita de um FMI absolutamente distinto, com outros princípios que não dependam apenas dos países mais desenvolvidos e em que uma ou duas pessoas tomam as decisões. É muito importante o que o Brasil e a Argentina estão propondo, para mudar o sistema atual. Como estão as relações de vocês?

- Muito bem

- Isso é muito importante. Mantenham-nas assim. As boas relações entre governos como os de vocês são muito importantes em meio a uma crise que também implica riscos políticos. Para os padrões estadunidenses, o país está girando à esquerda e não à extrema direita. Isso também é bom. A Grande Depressão levou politicamente o mundo para a extrema direita em quase todo o planeta, com exceção dos países escandinavos e dos Estados Unidos de Roosevelt. Inclusive o Reino Unido chegou a ter membros do Parlamento que eram de extrema direita [e começa a entrevista propriamente].

- E que alternativa aparece?

- Não sei. Sabe qual é o drama? O giro à direita teve onde se apoiar: nos conservadores. O giro à esquerda também teve em quem descansar: nos trabalhistas.

- Os trabalhistas governam o Reino Unido.

- Sim, mas eu gostaria de considerar um quadro mais geral. Já não existe esquerda tal como era.

- Isso lhe é estranho?

- Faço apenas o registro.

- A quê se refere quando diz “a esquerda tal como era”?

- Às distintas variantes da esquerda clássica. Aos comunistas, naturalmente. E aos socialdemocratas. Mas, sabe o que acontece? Todas as variantes da esquerda precisam do Estado. E durante décadas de giro à direita conservadora, o controle do Estado se tornou impossível.

- Por que?

- Muito simples. Como você controla o estado em condições de globalização? Convém recordar que, em princípios dos anos 80 não só triunfaram Ronald Reagan e Margareth Thatcher. Na França, François Miterrand não obteve uma vitória.

- Havia vencido para a presidência dem 1974 e repetiu a vitória em 1981.

- Sim. Mas quando tentou uma unidade das esquerdas para nacionalizar um setor maior da economia, não teve poder suficiente para fazê-lo. Fracassou completamente. A esquerda e os partidos socialdemocratas se retiraram de cena, derrotados, convencidos de que nada se podia fazer. E, então, não só na França como em todo mundo ficou claro que o único modelo que se podia impor com poder real era o capitalismo absolutamente livre.

- Livre, sim. Por que diz “absolutamente”?

- Porque com liberdade absoluta para o mercado, quem atende aos pobres? Essa política, ou a política da não-política, é a que se desenvolveu com Margareth Thatcher e Ronald Reagan. E funcionou – dentro de sua lógica, claro, que não compartilho – até a crise que começou em 2008. Frente à situação anterior a esquerda não tinha alternativa. E frente a esta? Prestemos atenção, por exemplo, à esquerda mais clássica da Europa. É muito débil na Europa. Ou está fragmentada. Ou desapareceu. A Refundação Comunista na Itália é débil e os outros ramos do ex Partido Comunista Italiano estão muito mal. A Esquerda Unida na Espanha também está descendo ladeira abaixo. Algo permaneceu na Alemanha. Algo na França, como Partido Comunista. Nem essas forças, nem menos ainda a extrema esquerda, como os trotskistas, e nem sequer uma socialdemocracia como a que descrevi antes alcançam uma resposta a esta crise a seus perigos, contudo. A mesma debilidade da esquerda aumenta os riscos.

- Que riscos?

- Em períodos de grande descontentamento como o que começamos a viver, o grande perigo é a xenofobia, que alimentará e será por sua vez alimentada pela extrema direita. E quem essa extrema direita buscará? Buscará atrair os “estúpidos” cidadãos que se preocupam com seu trabalho e têm medo de perdê-lo. E digo estúpidos ironicamente, quero deixar claro. Porque aí reside outro fracasso evidente do fundamentalismo de mercado. Deu liberdade para todos, e a verdadeira liberdade de trabalho? A de mudá-lo e melhorar em todos os aspectos? Essa liberdade não foi respeitada porque, para o fundamentalismo de mercado isso tinha se tornado intolerável. Também teriam sido politicamente intoleráveis a liberdade absoluta e a desregulação absoluta em matéria laboral, ao menos na Europa. Eu temo uma era de depressão.

- Você ainda tem dúvidas de que entraremos em depressão?

- Se você quiser posso falar tecnicamente, como os economistas, e quantificar trimestres. Mas isso não é necessário. Que outra palavra pode se usar para denominar um tempo em que muito velozmente milhões de pessoas perdem seu emprego? De qualquer maneira, até o momento no vejo um cenário de uma extrema direita ganhando maioria em eleições, como ocorreu em 1933, quando a Alemanha elegeu Adolf Hitler. É paradoxal, mas com um mundo muito globalizado um fator impedirá a imigração, que por sua vez aparece como a desculpa para a xenofobia e para o giro à extrema direita. E esse fator é que as pessoas emigrarão menos – falo em termos de emigração em massa – ao verem que nos países desenvolvidos a crise é tão grave. Voltando à xenofobia, o problema é que, ainda que a extrema direita não ganhe, poderia ser muito importante na fixação da agenda pública de temas e terminaria por imprimir uma face muito feia na política.

- Deixemos de lado a economia, por um momento. Pensando em política, o que diminuiria o risco da xenofobia?

- Me parece bem, vamos à prática. O perigo diminuiria com governos que gozem de confiança política suficiente por parte do povo em virtude de sua capacidade de restaurar o bem-estar econômico. As pessoas devem ver os políticos como gente capaz de garantir a democracia, os direitos individuais e ao mesmo tempo coordenar planos eficazes para se sair da crise. Agora que falamos deste tema, sabe que vejo os países da América Latina surpreendentemente imunes à xenofobia?

- Por que?

- Eu lhe pergunto se é assim. É assim?

- É possível. Não diria que são imunes, se pensamos, por exemplo, no tratamento racista de um setor da Bolívia frente a Evo Morales, mas ao menos nos últimos 25 anos de democracia, para tomar a idade da democracia argentina, a xenofobia e o racismo nunca foram massivos nem nutriram partidos de extrema direita, que são muito pequenos. Nem sequer com a crise de 2001, que culminou o processo de destruição de milhões de empregos, apesar de que a imigração boliviana já era muito importante em número. Agora, não falamos dos cantos das torcidas de futebol, não é?

- Não, eu penso em termos massivos.

- Então as coisas parecem ser como você pensa, professor. E, como em outros lugares do mundo, o pensamento da extrema direita aparece, por exemplo, com a crispação sobre a segurança e a insegurança das ruas.

- Sim, a América Latina é interessante. Tenho essa intuição. Pense num país maior, o Brasil. Lula manteve algumas idéias de estabilidade econômica de Fernando Henrique Cardoso, mas ampliou enormemente os serviços sociais e a distribuição. Alguns dizem que não é suficiente...

- E você, o que diz?

- Que não é suficiente. Mas que Lula fez, fez. E é muito significativo. Lula é o verdadeiro introdutor da democracia no Brasil. E ninguém o havia feito nunca na história desse país. Por isso hoje tem 70% de popularidade, apesar dos problemas prévios às últimas eleições. Porque no Brasil há muitos pobres e ninguém jamais fez tantas coisas concretas por eles, desenvolvendo ao mesmo tempo a indústria e a exportação de produtos manufaturados. A desigualdade ainda assim segue sendo horrorosa. Mas ainda faltam muitos anos para mudar as cosias. Muitos.

- E você pensa que serão de anos de depressão mundial

- Sim. Lamento dizê-lo, mas apostaria que haverá depressão e que durará alguns anos. Estamos entrando em depressão. Sabem como se pode dar conta disso? Falando com gente de negócios. Bom, eles estão mais deprimidos que os economistas e os políticos. E, por sua vez, esta depressão é uma grande mudança para a economia capitalista global.

- Por que está tão seguro desse diagnóstico?

- Porque não há volta atrás para o mercado absoluto que regeu os últimos 40 anos, desde a década de 70. Já não é mais uma questão de ciclos. O sistema deve ser reestruturado.

- Posso lhe perguntar de novo por que está tão seguro?

- Porque esse modelo não é apenas injusto: agora é impossível. As noções básicas segundo as quais as políticas públicas deviam ser abandonadas, agora estão sendo deixadas de lado. Pense no que fazem e às vezes dizem, dirigentes importantes de países desenvolvidos. Estão querendo reestruturar as economias para sair da crise. Não estou elogiando. Estou descrevendo um fenômeno. E esse fenômeno tem um elemento central: ninguém mais se anima a pensar que o Estado pode não ser necessário ao desenvolvimento econômico. Ninguém mais diz que bastará deixar que o mercado flua, com sua liberdade total. Não vê que o sistema financeiro internacional já nem funciona mais? Num sentido, essa crise é pior do que a de 1929-1933, porque é absolutamente global. Nem os bancos funcionam.

- Onde você vivia nesse momento, no começo dos anos 30?

- Nada menos que em Viena e Berlim. Era um menino. Que momento horroroso. Falemos de coisas melhores, como Franklin Delano Roosevelt.

- Numa entrevista para a BBC no começo da crise você o resgatou.

- Sim, e resgato os motivos políticos de Roosevelt. Na política ele aplicou o princípio do “Nunca mais”. Com tantos pobres, com tantos famintos nos Estados Unidos, nunca mais o mercado como fator exclusivo de obtenção de recursos. Por isso decidiu realizar sua política do pleno emprego. E desse modo não somente atenuou os efeitos sociais da crise como seus eventuais efeitos políticos de fascistização com base no medo massivo. O sistema de pleno emprego não modificou a raiz da sociedade, mas funcionou durante décadas. Funcionou razoavelmente bem nos Estados Unidos, funcionou na França, produziu a inclusão social de muita gente, baseou-se no bem-estar combinado com uma economia mista que teve resultados muito razoáveis no mundo do pós-Segunda Guerra. Alguns estados foram mais sistemáticos, como a França, que implantou o capitalismo dirigido, mas em geral as economias eram mistas e o Estado estava presente de um modo ou de outro. Poderemos fazê-lo de novo? Não sei. O que sei é que a solução não estará só na tecnologia e no desenvolvimento econômico. Roosevelt levou em conta o custo humano da situação de crise.

- Quer dizer que para você as sociedades não se suicidam.

(Pensa) – Não deliberadamente. Sim, podem ir cometendo erros que as levam a catástrofes terríveis. Ou ao desastre. Com que razoabilidade, durante esses anos, se podia acreditar que o crescimento com tamanho nível de uma bolha seria ilimitado? Cedo ou tarde isso terminaria e algo deveria ser feito.

- De maneira que não haverá catástrofe.

- Não me interessam as previsões. Observe, se acontece, acontece. Mas se há algo que se possa fazer, façamos-no. Não se pode perdoar alguém por não ter feito nada. Pelo menos uma tentativa. O desastre sobrevirá se permanecermos quietos. A sociedade não pode basear-se numa concepção automática dos processos políticos. Minha geração não ficou quieta nos anos 30 nem nos 40. Na Inglaterra eu cresci, participei ativamente da política, fui acadêmico estudando em Cambridge. E todos éramos muito politizados. A Guerra Civil espanhola nos tocou muito. Por isso fomos firmemente antifascistas.

- Tocou a esquerda de todo o mundo. Também na América Latina

- Claro, foi um tema muito forte para todos. E nós, em Cambridge, víamos que os governos não faziam nada para defender a República. Por isso reagimos contra as velhas gerações e os governos que as representavam. Anos depois entendi a lógica de por quê o governo do Reino Unido, onde nós estávamos, não fez nada contra Francisco Franco. Já tinha a lucidez de se saber um império em decadência e tinha consciência de sua debilidade. A Espanha funcionou como uma distração. E os governos não deviam tê-la tomado assim. Equivocaram-se. O levante contra a República foi um dos feitos mais importantes do século XX. Logo depois, na Segunda Guerra...

- Pouco depois, não? Porque o fim da Guerra Civil Espanhola e a invasão alemã da Tchecoslováquia ocorreu no mesmo ano.

- É verdade. Dizia-lhe que logo depois o liberalismo e o comunismo tiveram uma causa comum. Se deram conta de que, assim não fosse, eram débeis frente ao nazismo. E no caso da América Latina o modelo de Franco influenciou mais que o de Benito Mussolini, com suas idéias conspiratórias da sinarquia, por exemplo. Não tome isso como uma desculpa para Mussolini, por favor. O fascismo europeu em geral é uma ideologia inaceitável, oposta a valores universais.

- Você fala da América Latina...

- Mas não me pergunte da Argentina. Não sei o suficiente de seu país. Todos me perguntam do peronismo. Para mim está claro que não pode ser tomado como um movimento de extrema direita. Foi um movimento popular que organizou os trabalhadores e isso talvez explique sua permanência no tempo. Nem os socialistas nem os comunistas puderam estabelecer uma base forte no movimento sindical. Sei das crises que a Argentina sofreu e sei algo de sua história, do peso da classe média, de sua sociedade avançada culturalmente dentro da América Latina, fenômeno que creio ainda se mantém. Sei da idade de ouro dos anos 20 e sei dos exemplos obscenos de desigualdade comuns a toda a América Latina.

- Você sempre se definiu com um homem de esquerda. Também segue tendo confiança nela?

- Sigo na esquerda, sem dúvida com mais interesse em Marx do que em Lênin. Porque sejamos sinceros, o socialismo soviético fracassou. Foi uma forma extrema de aplicar a lógica do socialismo, assimo como o fundamentalismo de mercado foi uma forma extrema de aplicação da lógica do liberalismo econômico. E também fracassou. A crise global que começou no ano passado é, para a economia de mercado, equivalente ao que foi a queda do Muro de Berlim em 1989. Por isso Marx segue me interessando. Como o capitalismo segue existindo, a análise marxista ainda é uma boa ferramenta para analisá-lo. Ao mesmo tempo, está claro que não só não é possível como não é desejável uma economia socialista sem mercado nem uma economia em geral sem Estado.

- Por que não?

- Se se mira a história e o presente, não há dúvida alguma de que os problemas principais, sobretudo no meio de uma crise profunda, devem e podem ser solucionados pela ação política. O mercado não tem condições de fazê-lo.

Autor: Martin Granovsky, com tradução de Katarina Peixoto
Martin Granovsky é analista internacional e presidente da agência de notícias Télam.
Publicado no jornal Página 12, em 29 de março de 2009

Fonte: Carta Maior
Internacional 29/03/2009 Copyleft
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15888

extraído de:
http://amaivos.uol.com.br/amaivos09/noticia/noticia.asp?cod_Canal=42&cod_Noticia=12106

os livros de Eric Hobsbawm, clicando sobre a gravura

fonte da gravura

Mais:

Eric Hobsbawm: um espelho do mundo em mutação - Paulo Sérgio Pinheiro - Estudos Avançados vol.3 no.5 São Paulo Jan./Apr. 1989

Eric Hobsbawm: A crise do capitalismo e a atualidade de Marx

Eric Hobsbawm: Entrevista

ERIC HOBSBAWM - O desafio da razão: Manifesto para a renovação da história

A Copa do Mundo e suas paixões, no olhar de Eric Hobsbawm

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terça-feira, 7 de abril de 2009

Chamada para publicação 2009

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A Revista de Filosofia SEAF é uma publicação da SEAF, em co-edição com a Editora Uapê e está aberta à colaboração de todos os associados, estudiosos de Filosofia.

A próxima Revista a ser editado no 2º semestre/2009 está com tema aberto: livre.

Serão aceitos artigos de natureza crítica ou informativa, resenhas / divulgação de lançamentos, pesquisas e outras comunicações que sejam considerados de relevância filosófica.

A redação (que já deve ser encaminhada com a revisão do autor) deve ser apresentada:


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quarta-feira, 1 de abril de 2009

Não esquecer a História! Jamais!

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Porta Curtas relembra os anos de chumbo!

da ditadura militar no Brasil


J. - O mestre Eduardo Escorel estréia o projeto Marco Universal no Porta Curtas, com essa precisa denúncia do nível de brutalidade e repressão que infelizmente ainda reina no Brasil democrático.

O Quintal dos Guerrilheiros - Caio Blat, Cynthia Falabella e Rafael Primo vivem os clássicos guerrilheiros sonhadores vivendo em um Brasil reprimido, porém idealista.
Relembrando os 45 anos da "Revolução" de 1964

Cartas da Mãe - Cartas escritas pelo cartunista Henfil para sua mãe traçam um painel do Brasil nos "anos de chumbo". Depoimentos de Luis Fernando Veríssimo, Laerte, Angeli e até do presidente Lula completam a biografia do saudoso criador da Graúna!
A volta da mãe do Henfil

Clandestinidade - No auge da ditadura no Brasil, tudo era culpa dos comunistas. Pior que as atividades do Partidão eram mesmo o álibi perfeito para uma boa pulada de cerca!
Infidelidade partidária

Meus amigos chineses
O terror e a insegurança de um regime ditatorial filtrados pelo olhar de uma criança curiosa.
Brincando de Guerra Fria

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