quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Os aspectos da violência institucional

"A violência institucional é uma política que não depende dos governos", diz Paulo Arantes

Para o filósofo, o Estado de Direito encontra-se à deriva no mundo inteiro: "ainda é norma incontornável, porém cada vez mais inefetiva"

17/12/2007 - da redação
por jpereira — Última modificação 17/12/2007 19:22

"Tortura-se desde sempre em qualquer cadeia pública brasileira. O escândalo dos anos de chumbo é que esta prática se estendeu aos brancos de classe média politicamente radicalizados. Quer dizer, o que havia de chocante era a inédita ampliação das classes torturáveis brasileiras, até então seletivamente restritas aos pobres, negros e presos”. A opinião é de Paulo Arantes em entrevista especial, por e-mail, à IHU On-Line.

Segundo ele, "a violência institucional ilegal é exercida hoje como uma política sistêmica”. Tanto é assim que, constata o filósofo, que "os governos não fazem mais a diferença. Foi assim com o FHC, e continua agora com o Lula, ambos equipados não obstante com os melhores secretários de direitos humanos disponíveis no mercado de ativistas bem intencionados".

Paulo Arantes é graduado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), doutor pela Universidade Paris X, Nanterre, com a tese Hegel: l'ordre du Temps (Paris: Harmattan, 2000), também disponível em português: Hegel: a ordem do tempo (2. ed. São Paulo: Hucitec, 2000). Arantes é docente emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, departamento de Filosofia da USP. Escreveu inúmeras obras, das quais destacamos Um departamento francês de ultramar (São Paulo: Paz e Terra, 1994); Ressentimento da dialética (São Paulo: Paz e Terra, 1996); e Extinção (São Paulo: Boitempo, 2007).

Considerando os últimos acontecimentos no Brasil, como a prisão da menor L. em uma cela masculina, o ataque a mendigos e a morte de crianças indígenas por desnutrição, como o senhor avalia o cumprimento dos direitos humanos em nosso país? Concorda com a declaração da ONU de que no Brasil podem estar havendo atos de tortura?

Paulo Arantes - As barbaridades que você acaba de evocar dentre os descalabros mais recentes em foco na mídia – e bastaria apenas uma, como disse certa vez Borges , interrompendo um relato de atrocidades perpetradas pela ditadura argentina – dão bem uma idéia do novo ciclo histórico de violência que paradoxalmente se abateu sobre o Brasil desde o fim do regime militar. Registro de violações como o da ONU sempre ajudam, mas acabam contribuindo para a anestesia geral na medida em que tudo acaba virando uma questão de indicadores mais ou menos desalentadores.

Comecemos pelo básico: tortura-se desde sempre em qualquer cadeia pública brasileira. O escândalo dos anos de chumbo é que esta prática se estendeu aos brancos de classe média politicamente radicalizados. Quer dizer, o que havia de chocante era a inédita ampliação das classes torturáveis brasileiras, até então seletivamente restritas aos pobres, negros e presos. Não deixa de ser inquietante reparar que é precisamente esta a circunstância histórica que viu nascer o que viria depois a se institucionalizar como uma política de direitos humanos e igualmente não por acaso desde então acoplada à eterna promessa de uma “verdadeira” política de segurança pública, em contraposição à usual, baseada na escalada punitiva, desde o enfrentamento tipo “guerra urbana” até o endurecimento contínuo da execução penal. Voltando ao básico.

Nunca é demais lembrar que o gatilho da violência institucional ilegal contra os de baixo no Brasil foi disparado no momento em que o Código Criminal dos primeiros tempos do país independente restabeleceu a tortura e a punição sem encarceramento dos escravos, de cuja força de trabalho seus proprietários não poderiam ser privados. Vem dessa atualização liberal do escravismo a tradição de uma polícia com plenos poderes de arbítrio, até às prerrogativas de vida e morte que vemos hoje. Essa, a matriz histórica da catástrofe humanitária em que o Brasil está se tornando. Resta a contribuição da regressão global em curso, a confluência do grande capital corporativo com o sistema local da violência: penso, por exemplo, no episódio de alguns anos atrás, quando se verificou que um hiper-mercado Carrefour havia contratado seus serviços de segurança junto ao tráfico numa favela ao lado. Parcerias.

O que a postura das autoridades de segurança e saúde revela sobre a estrutura política do governo Lula a respeito desses temas?

Paulo Arantes - Mostra que os governos não fazem mais a diferença. Foi assim com o FHC, e continua agora com o Lula, ambos equipados não obstante com os melhores secretários de direitos humanos disponíveis no mercado de ativistas bem intencionados. Que a violência institucional ilegal é exercida hoje como uma política sistêmica. E não adianta dizer que as coisas mudarão quando forem enfim controladas e unificadas as vinte e sete polícias autônomas dos 27 estados, que além do mais são três, federal, militar e civil. Já é assim na Colômbia (polícia unitária e exército dando combate direto ao narcotráfico). Mas, por acaso, mano dura com obras públicas, isto é, o modelo Medellín – é o que se está buscando? Não é só no Brasil que nos defrontamos com um Estado de Direito cuja polícia pode agir como um grupo de extermínio.

O Estado de Direito encontra-se à deriva no mundo inteiro: ainda é norma incontornável, porém cada vez mais inefetiva. Nos países centrais, tornou-se quando muito uma ordem política mínima encarregada de tutelar os direitos subjetivos para o terço superior da população entrincheirado na fortaleza do conforto material capitalista. Pelo menos é assim que raciocina um jurista como Danilo Zolo: o Estado de Direito continua insubstituível e em vigor, mas tudo se passa como se estivesse suspenso.

Que contradições o senhor percebe entre a duplicação do orçamento para rearmar o exército brasileiro a fim de defender nossas fronteiras e a situação da segurança pública nacional, mal-equipada e muito mais reativa do que preventiva?

Paulo Arantes - Nenhuma. A fronteira que realmente conta é interna e social, a função de polícia das forças armadas é questão de tempo, e está sendo testada no laboratório cruento do Haiti. Quanto ao descalabro da segurança pública nacional, não é uma questão de maior ou menor dotação orçamentária. Um aparato policial bem equipado continuaria amalgamando os ilegalismos, em cujo limiar os pobres estão condenados a sobreviver, com a condição descartável de indivíduos fora do direito.

Como o senhor conecta a situação social brasileira com a situação mundial da globalização, sobretudo de mazelas como a violência, fome e educação precária? Esses problemas tendem a se aprofundar ou é possível vislumbrar uma solução?

Paulo Arantes - Se fosse realmente para valer, a declaração da ONU deveria reservar um tópico especial para os Estados Unidos, a globalização da tortura e crimes conexos, como seqüestro de suspeitos e a proliferação de campos em que prevalece a lógica da exceção. O que era operação encoberta durante a Guerra Fria tornou-se objetivo explícito de memorandos oficiais legitimadores do limbo jurídico para o qual se está empurrando uma espécie de classe torturável global, algo como uma humanidade excedente em que todos são a rigor clandestinos. Daí a guerra suja de contenção permanente desse povo subterrâneo e o decorrente embrutecimento do conjunto da sociedade.

Qual deveria ser a postura dos intelectuais sobre temas como os direitos humanos e segurança pública? Nesse sentido, como o senhor percebe o caso brasileiro?

Paulo Arantes - O Estado hoje é a um só tempo, e cada vez mais, penal e social. A massa carcerária barbarizada aumenta na mesma proporção dos pobres assistidos. Além de vigiar e punir, é preciso “cuidar”. Novos fatores de risco e populações vulneráveis exigem novos gestores dessas emergências. Daí o número proliferante de núcleos de estudo da violência que já não se distinguem mais de agências ideológicas da Lei e da Ordem, assim como o Terceiro Setor vai tocando programas em que direito se confunde com prestação de serviço. Se um militante dos direitos humanos também se encarrega de segurança pública, só um doido recusaria este tipo ideal. Um cínico diria, porém, que ele oferece a vantagem suplementar de livrar da má consciência o atual esforço punitivo, enquanto acena para o povo dos porões com a eventualidade de uma janela na mídia das violações espetaculares.

Em entrevista recente, o senhor diz que votar nem pensar. Não seria essa uma forma de aprofundar a apatia política e reiterar um niilismo que só solidificaria a falta de perspectivas em nossa política?

Paulo Arantes - Nietzsche distinguia niilismo ativo e passivo. Sancionar a oligarquia política de quatro em quatro anos me parece ser um caso da segunda espécie.

Fonte: IHU-on line

extraído de http://www.brasildefato.com.br

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Prêmio Clarival do Prado Valadares

PESQUISA HISTÓRICA
Até 31 de março de 2008

Estão abertas as inscrições para a quinta edição do Prêmio Clarival do Prado Valadares, que seleciona anualmente um projeto de pesquisa inédito ligado à história do Brasil.


O Prêmio é promovido pela Organização Odebrecht, destina os recursos necessários para a realização da iniciativa, da pesquisa à edição de livro ilustrado.

Informações: 11-3443-9518, 11-3673-1724
http://www.odebrecht.com.br/
http://www.odebrecht.com.br/index.cfm?conteudo_id=48

domingo, 9 de dezembro de 2007

Concessão da Medalha Otávio Lobo a Lauro de Oliveira Lima


Marcondes Rosa

Dias atrás, a convite do Presidente da Assembléia Legislativa, na qualidade de integrante da galeria dos que receberam a Medalha Otávio Lobo, com a qual o Poder Legislativo do Estado do Ceará condecora os maiores nomes da educação no Ceará, estive presente na entrega da honraria a LAURO DE OLIVEIRA LIMA, ali, por motivo de saúde, representado por um de seus filhos, da mesma comenda.

Confesso-lhes que duas reações ali me invadiram: a) o como me senti - e isso confessei a professores ali sentados a meu lado - pequeno ante a magnitude histórica de Lauro, na mesma galeria; b) o diminuto, conquanto seleto, número de pessoas ali a tributar homenagens ao polêmico e grande educador.

Aqui, gostaria de transcrever homenagem da Página "Opinião" do Jornal "O Povo", prestou a Lauro de Oliveira Lima, em 10 de abril de 2007, por ocasião da concessão pela UFC do título de Doutor Honoris Causa, ao educador, um dos artigos, "Minha universidade", lido agora no Plenário da Assembléia Legislativa do Ceará, por sua autora, Ester Barroso, em sessão solene presidida pelo Deputado Artur Bruno, ex-aluno e ora proponente do título ao grande educador.

***

OPINIÃO
FORTALEZA-CE, TERÇA FEIRA, 10 de abril de 2007

LAURO DE OLIVEIRA LIMA

Na véspera dos 85 anos de idade do professor Lauro de Oliveira Lima, a serem completados depois de amanhã, nesta quinta-feira, O POVO abre suas páginas para homenagear um dos mais eminentes educadores brasileiros, recentemente agraciado com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Ceará.

Ao se incorporar à homenagem, tributada com muita justiça, co mestre, O POVO sente-se orgulhoso de ter tido o privilégio de contá-lo entre seus colaboradores da página de Opinião, e assim contribuído para a difusão de suas idéias revolucionárias na Educação.

Minha universidade
Ester Barroso*

Nas épocas decadentes, a adulação prodigaliza a mancheias o título de gênio aos poderosos. Imbecis há que o outorgam a si próprios. Os que se elevam sobre a mediania são marginalizados, desestiinados, escarnecidos, proscritos em seu próprio país. Sua presença humilharia com a força do contraste. Bastam os vulgares. As academias se povoam de míopes, de charatães, de servis, de burocratas.

Os tartufos, os inimigos de toda luz estelar, de toda palavra sonora persigam-se diante do herético, do subversIvo, do pioneIro. Ter um ideal é um crime que os poderosos não perdoam.

O idealista é supliciado nos impérios absolutos, nas monarquias constitucionais e nas repúblicas burguesas. A Sócrates deram cicuta, o desterro a Dante, o cárcere a Galileu, a fogueira a Giordano Bruno, o isolamento a Espinosa.

Compreende-se, porque, só agora (O4/l/O7), aos 86 anos, o filósofo pedagogo, Lauro de Oliveira Lima, cearense, conhecido no Brasil e no exterior, foi outorgado com o título do Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Ceará, proposição do reitor Renê Barreira, que foi sou aluno, no Ginásio Agapito dos Santos, fundado por Lauro.

Lá iniciou suas experiências pedagógicas, inspiradas nas teorias do grande epistemólogo suiço, Jean Piaget. Piaget foi o pioneiro absoluto na descrição dos estágios de desenvolvimento mental da criança. Criou também a epistemologia genética, ciência que demonstra como o conhecimento é gerado no organismo, como se aprende. Lauro foi o introdutor do pensamento de Piaget no Brasil.

Foi o criador do método psicogenético fundamento nos estágios do desenvolvimento mental, daí denominar-se "educação pela inteligência". Lauro fez-se o aríete da ciência contra curandeirismo pedagógico. Foi o educador mais fecundo, fértil e injustiçado no nosso país. Foi vítima do silêncio, da sabotagem, da inveja, do obscurantismo, da politicalha, da prepotênia e dos lacaios.

Seu pecado original foi desorbitar as pupilas em direção às estrelas antes que o dia amanhecesse para todos. Nunca teve paciência resignada, nem a mansidão de quem se acomoda às circunstâncias, para vegetar tranqüilamente.

E um polemizador contundente, irônico, avassalador em suas criticas, porém, sempre foi vanguarda em tudo que propôs em sua trajetória íngreme e corajosa pela educação. De fato, a educação conserva-se empírica e tradicionalista.

Mesmo as"renovaçõcs" pedagógicas apóiam-se em pura "festividade" experimentalista, geralmente de pouca duração. Hoje, qualquer proposta pedagógica, não fundamentada na psicologia genética, é, simplesmente, uma contrafação.

Em pleno coração da velhice, Lauro continua a pensar por si mesmo, sempre alerta contra os que queriam desplumar as asas dos seus grandes sonhos.

E, mesmo depois de sua partida eterna, ainda ousaria a arrebentar a tumba mais resistente, se lhe fosse dado antever a esperança de que ressuscitaria de entre as cinzas, como a ave mitológica..

Conheci e convivi muitos anos com o professor Lauro, quando fui sua aluna e professo no seu Ginásio Agapito dos Santos, onde o grande mestre me ajudou a aprender tudo o que aprendi.

Por isso, dentre todas as universidades por que passei, incluve a USP, considero o professor Lauro de Oliveira Lima a minha verdadeira universidade.

* ESTER BARROSO é professora e técnica em educação do Ministério da Educação.

recebido de Antonio Morales antonio_morales@uol.com.br, em sábado, 8 de dezembro de 2007 13:09

para saber mais:





sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

“Orfeu”, de Claudio Monteverdi, e o início da aventura humanista na filosofia e na política


Orfeu, de Claudio Monteverdi, 1567 – 1643


Quando esta obra foi estreada em Mantua, em fevereiro de 1607, havia passado poucos anos da realização do Concílio de Trento, em 1563, no qual se confirmava a existência do purgatório da tradição católica do século VI. Mesmo que a idéia já tenha sido usada por Dante, na Divina Comédia, desde finais do século XIII, poetas como Monteverdi se fixavam no modelo da antiguidade clássica grega que concebia apenas a existência do Paraíso e do Inferno. Curioso também é que mesmo o heliocentrismo, acabado de ser defendido por Copérnico, desde a primeira metade do século XVI, não é aceito nos versos de L’Orfeo, onde o sol continua a girar em torno da terra da concepção geocentrista da Igreja.

Se L’Orfeo é o nascimento da ópera na Renascença italiana, é também o início da aventura humanista nos campos da filosofia e da política, não cabendo mais a Deus a determinação do destino humano. E tanto é esta a idéia central do drama que Orfeu se torna o único responsável pela sua desgraça quando desobedece ao deus do Hades e retorna o olhar para trás desconfiando de que Eurídice o seguia no retorno do Inferno para a luz do sol e quebrando com isso o contrato que ele próprio estabelecera. Trata-se aqui de uma fábula sobre o livre arbítrio que faz do cidadão um indivíduo responsável pela seu próprio destino e liberdade. E não mais um servo de quaisquer deuses ou senhores por mais poderosos que sejam.

O próprio fato de Monteverdi intitular sua peça, considerada marco de surgimento do que passará a se chamar simplesmente de ópera, de “Favola in Musica”, nos dá a dimensão de que se trata de um gênero alegórico, referente ao mundo do inverossímil, e não simplesmente de um “drama musicale”, como no gênero que se seguirá com o advento da ópera lírica e do verismo italiano, cujos argumentos

São necessariamente verossímeis. Curioso também é sua escolha do clássico mito de Orfeu, identificado na cultura grega como o arquétipo da música e de seu poder de sedução e encantamento, o que, se o afastava do mundo real da polis, o levava a reconciliar o homem com seu próprio destino.

Vale a pena assistir a esta belíssima montagem do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com direção de cena de Alberto Renault e direção de orquestra e cravo de Marcelo Fagerlande, esta particularmente brilhante e de nível internacional.

Ver mais em

sábado, 1 de dezembro de 2007

Reflexões sobre o Ensino de Filosofia nos vários Cursos de Graduação




Sergio Tiski [1]

Caras Amigas e Caros Amigos: Espero e desejo que estejam e permaneçam bem!
Estou reenviando o texto Reflexões sobre o ensino de filosofia nos vários cursos de graduação, agora finalizado, para o caso de alguém se interessar. Considero-o finalizado, mas se alguém ainda quiser enviar críticas, sugestões, etc., serão sempre bem-vindas. Vai ser publicado como capítulo de um livro. Agradeço a compreensão! Tudo de bom! Sergio Tiski.


RESUMO: O objetivo deste trabalho é proporcionar algumas reflexões sobre o ensino de filosofia nos vários cursos de graduação (exceto a graduação em Filosofia) e assim contribuir para o seu exercício. As fontes principais são as nossas experiências nesse trabalho. Recolhemos dessas experiências muitos elementos que consideramos importantes para estas reflexões e fazemos derivar delas uma espécie de proposta que pode inspirar nossas idéias, mesmo durante o exercício destas reflexões, mas que também poderá provocar novas iniciativas a serem encaminhadas futuramente.

Palavras-chave: educação, ensino, filosofia, graduação

Introdução

Este trabalho busca delinear, a partir da nossa experiência em algumas instituições de ensino superior, e a partir do trabalho em vários cursos de graduação dessas instituições, uma maneira possível de ensino de filosofia nos vários cursos de graduação, excetuando o curso de graduação em Filosofia. Focalizamos, como exemplos, os cursos de Medicina, Agronomia, Educação Física e Administração de Empresas.

1. O ensino de filosofia nos cursos de graduação

Utilizamos, neste trabalho, a definição etimológica de filosofia: busca da sabedoria, apresentando, no entanto, algumas considerações a esse respeito. Busca contínua, porque até hoje ainda não atingimos a sabedoria completa (desautorizamos, portanto, o dogmatismo). Mas também busca que veio e vem conquistando de mais em mais sabedoria (logo, também não concordamos com o ceticismo). Hoje certamente sabemos mais do que no passado [2]. Além disso, compreendemos a filosofia como uma entre as seis formas de sabedoria ou conhecimento: senso comum, arte, ciência, filosofia, teologia e mito, classificação que retomaremos mais adiante.

Já ensinamos filosofia em cursos de filosofia desde 1979 (IFA = Instituto Filosófico de Apucarana e UEL) e também em vários outros cursos de graduação (na FAC = Faculdade de Administração e Ciências Contábeis de Arapongas – PR, na FAFICLA = Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Arapongas – atualmente incorporadas pela UNOPAR – e na UEL: Administração de Empresas, Ciências Contábeis, Ciências Sociais, Educação Física, Letras, Matemática, Química etc.) desde 1983, a partir de várias subáreas (Introdução à Filosofia, Lógica, História da Filosofia, Filosofia da(s) Ciência(s) etc.). As reflexões aqui desenvolvidas se referem ao ensino de filosofia realizado nesses últimos.

1.1. Parte geral aplicável a todos os cursos

Certamente o ensino de filosofia nesses cursos, com mais ou menos horas-aula, deve ocorrer principalmente graças a uma das mais marcantes características do conhecimento filosófico, a saber, a busca da visão de conjunto [3]. Como geralmente os cursos de graduação tomam frações do conhecimento e da realidade, especializando os futuros profissionais, seus gestores acadêmicos precisam advertir os alunos em relação à necessidade de uma visão mais abrangente. Precisam ao menos chamar a atenção dos estudantes no sentido de que o conjunto do conhecimento é maior do que a parte dele a respeito da qual serão especialistas. E, do mesmo modo, no sentido de que a realidade é maior do que a parte dela a respeito da qual serão especializados.

Nesse sentido, sempre procuramos pautar a participação ou a contribuição da filosofia na direção de cumprir essa intenção. Como a realidade é um inteiro, e como cada especialista toma apenas fração dela, e como, enfim, precisamos enfrentar a realidade inteira, então parece ser sábio assumirmos uma perspectiva interdisciplinar e multiprofissional. E isso só é possível a partir de uma visão de conjunto.

Assim, no primeiro encontro com os alunos explicitamos a coerência entre o nosso programa para a disciplina (conteúdo programático, metodologia, modos de avaliação, cronograma, bibliografia etc.), aprovado pelos gestores acadêmicos do curso, e a ementa proposta para ela pelos próprios gestores. Argumentamos no sentido de convencê-los a respeito da razoabilidade do programa e, conseqüentemente, da sua aceitação, de tal modo que ele acabe sendo “combinado” entre as partes. Nessas “negociações” já ocorreram acréscimos ou supressões; e, em algumas ocasiões, o programa acabou sendo alterado posteriormente, durante a sua aplicação, pela necessidade. Nunca ocorreu impasse suficiente para impedir o trabalho [4].

Como primeiro conteúdo do programa, seguindo essa perspectiva, normalmente temos proposto a reflexão sobre a relação entre realidade, conhecimento e ação [5]. O que é realidade? O que é a realidade? O que é real? O que é o real? Qual é a realidade? Qual é o real? O que é conhecer? Quais são os tipos de conhecimento humanos? Apenas o tipo sensível e o tipo racional? Também o intuitivo? Também outros? Quais são as formas de conhecimento? Por que e como agir? Qual fatia da realidade é objeto de cada curso? Qual problema real (realidade) deve ser estudado (conhecimento) e resolvido (ação) pelo profissional que cada um quer ser? Afinal, um profissional é formado para saber resolver problemas reais.

Obviamente a relação cognoscitiva com a realidade não é a única relação das pessoas com ela. A relação cognoscitiva é intermediária. Antes de conhecer “sofremos” a realidade (“sentir”, no sentido passivo). E o conhecimento ajuda a que nos adaptemos ou a que adaptemos a realidade a nós, isto é, a que reajamos ou ajamos de alguma forma (“sentir”, no sentido ativo, ou seja, tender ou nos movermos com mais ou menos liberdade). O conhecimento se localiza entre a pressão que sofremos da ou na realidade e a reação ou ação que desencadeamos em relação a ela. Conhecer bem, conhecer o máximo possível é a sabedoria necessária para a ação que deve gerar a felicidade.

O segundo tema de discussão se desenvolve no sentido de diferenciar entre formas de conhecimento possíveis. Normalmente apontamos pelo menos seis formas de conhecimento, conforme já indicado acima [6]. O senso comum, a arte e a ciência constituem o trio mais prático, mais próximo do concreto, decrescentemente, enquanto que a filosofia, a teologia e o mito constituem o terno mais teórico, mais abstrato, também decrescentemente.

Do mesmo modo que o graduando deve localizar a sua fração de realidade, assim também deve perceber a sua parte de estudo no conjunto do conhecimento. Geralmente os nossos cursos de graduação são subconjuntos do conhecimento científico, mas há também cursos pertencentes ao conhecimento artístico, ao conhecimento teológico e ao conhecimento filosófico, quando os cursos dessas duas últimas formas de conhecimento não estão incluídos na ciência, isto é, entre os cursos considerados científicos, a teologia como ciência ou ciências da religião e a filosofia como uma das ciências humanas.

Só não existem, evidentemente, cursos de graduação pertencentes ao senso comum e à forma mítica de interpretação ou conhecimento. Mas não nos enganemos: a maior parte das decisões em vista das nossas ações se dá a partir do senso comum, do “bom senso”, da praticidade da vida e da “paixão” mítica. Se somarmos a esses dois moventes a influência religiosa e a influência estética, podemos perguntar e responder que poucas de nossas ações são derivadas diretamente do impulso científico e filosófico, isto é, de acentuação intencional e explicitamente racional (contrapondo essa acentuação intencional e explícita ao fato que o senso comum, o mito, a arte ou a teologia dão respostas principalmente práticas, apaixonadas, estéticas ou a partir da Divindade, respectivamente).

Neste ponto da discussão parece ser este o momento de se pensar também sobre a relação do conhecimento com a ideologia [7]. O que vamos aprender, o que temos aprendido, o que estamos aprendendo é ciência, é filosofia, enfim, é conhecimento ou é ideologia? Há ou haverá o desvelamento, o descobrimento da realidade, o desmascaramento verdadeiro do objeto ou ocorrerá o seu o contrário? Aprenderemos algo, alguma coisa, exatamente para não vermos o resto ou para não compreendermos o todo? Será que o mais importante é exatamente o que não está sendo mostrado? Vemos também nas entrelinhas? Por baixo, por cima, pelos lados, por dentro? Estão nos mostrando, estamos vendo a amplitude e a profundidade do real?

O estudo só é realmente proveitoso se possibilitar, de algum modo, a realização da pessoa. As pessoas são os únicos animais de mundo (amplitude) e de realidade (profundidade). De mundo porque “mundificam”, isto é, fazem mundo, vêem e ou estabelecem relações, como por exemplo: uma folha de árvore na árvore ou no chão, aqui, influencia na China. E vice-versa. Temos que nos perceber localizados em uma região de um estado, de um país, de um continente, de um planeta, de um sistema solar, de uma galáxia, de um universo de galáxias... Mundo percebido espacial e também temporalmente: arrancar a folha da árvore agora ou amanhã provoca conseqüências diferentes no agora, no amanhã e no depois de amanhã. Ao contrário disso, os simples animais não sabem que são, por exemplo, cavalos “árabes” ou vacas “holandesas” (espaço) ou, ainda, que seus ascendentes chegaram ao Brasil no século XVI (tempo). Nunca se ouviu, como outro exemplo, que efetivamente os cavalos de uma determinada região (espaço) tenham convocado os seus pares para uma assembléia a discutir e deliberar sobre a dominação imposta a eles pelo animal humano (tempo).

Somos também animais de realidade: apenas as pessoas perguntam “o que é isto?” E procuramos, descobrimos ou inventamos a resposta (a realidade, o real): Isto, por exemplo, é H2O, é água, é rio, é chuva, é solução para a sede, para o calor, para o nascimento das plantas, para a produção de energia elétrica etc. Eis o real! Ou pelo menos “algum real”... Ao contrário disso, os simples animais, como outro exemplo, apenas têm sede e bebem a água que lhes sacia a sede, mas não perguntam o que é a sede ou o que é isto que sacia a sua sede.

No entanto, mundo e realidade só interessam se forem o lugar e a efetividade da liberdade e da felicidade. Por isso é necessária a distinção entre o conhecimento e a ideologia.

O tema seguinte pode ser apresentado pela pergunta: Como se tem diagnosticado até agora a realidade e, conseqüentemente, que conhecimento já se conseguiu e, mais ainda, qual é, então, o jeito sábio de viver? Afinal não somos os primeiros a buscar a sabedoria. É a hora de vermos a história, mais ou menos lentamente, conforme o número de horas-aula disponíveis. Como as várias filosofias, os vários filósofos interpretaram a realidade? Que sabedoria propuseram ou propõem? Não precisamos reinventar a roda, por exemplo. Muita coisa já foi e está bem diagnosticada. Trata-se de “encarar” e de “acertar a conta” com a tradição. Para essa questão recomendamos alguma das muitas histórias da filosofia e os textos dos próprios filósofos [8].

A seguir podemos perguntar pelos fundamentos lingüísticos, lógicos, epistemológicos e metafísicos (metafísica, no mínimo como marco teórico-metodológico). Desse modo, é possível contribuir muito para a tomada de consciência dos fundamentos de cada ramo de ciência ou conhecimento, e da fração de realidade à qual cada especialização se refere. Quanto a esses fundamentos, temos que recorrer aos textos correspondentes de filosofia da linguagem, lógica, epistemologia e metafísica [9].

O mesmo se pode fazer em relação aos princípios morais das ações vistas ou decididas como necessárias. Qual ação é a mais justa, atinge melhor o bem ou ao menos o bem maior? O que é, qual é o bem? Sobre esse assunto recomendamos os textos de introdução à filosofia moral ou ética [10].

1.2. Parte específica a cada curso

A partir deste ponto podemos afunilar para a especificidade de cada curso. Trata-se de um curso próprio a qual subconjunto de conhecimento? ciências humanas? ciências sociais aplicadas? educação, comunicação e artes? educação física e desportos? ciências exatas? ciências agrárias? tecnologia e urbanismo? ciências biológicas? ciências da saúde?

E também, coerentemente, afunilamos para a especificidade da porção de realidade correspondente a cada curso. Qual é ou quais são os problemas específicos a serem resolvidos por este especialista? Trata-se de um problema humano? social? de educação? de comunicação? de estética? de motricidade humana? de medida? de lazer? agrário? de tecnologia? de organização da cidade? vital? biológico? de saúde?

Depois da discussão do programa (conteúdo programático, metodologia, modos de avaliação, cronograma, bibliografia etc.) e do estudo dos temas da parte geral [11], e a partir desse afunilamento localizador do curso em questão no conjunto do conhecimento e da realidade, podemos escolher temas de interesse específico da área.

Se estivermos no curso de Medicina, por exemplo, poderemos debruçar-nos sobre as questões referentes à vida (o que é, como é, de quem é, quando começa, quando termina ou terminou etc.), à saúde, à doença etc., a partir do (ou de um explicitado) enfoque filosófico. Escrevemos recentemente três artigos que podem ilustrar essa possibilidade de elegermos temas julgados relevantes: Sobre a humanização dos profissionais da saúde, Sobre a relação entre teoria e prática na saúde e Sobre a relação entre teoria e prática na saúde 2, nos quais citamos, principal e respectivamente, Hipócrates (filósofo e médico grego, considerado o Pai da Medicina: +- 460-370 a.C.), Immanuel Kant (filósofo alemão: 1734-1804) e Augusto Comte (filósofo francês, fundador da sociologia científica, fundador da filosofia e da religião positivas, propositor de uma moral científica: 1798-1857). [12]

Como o curso de Medicina da UEL não funciona mais conforme o esquema tradicional de disciplinas, e sim a partir de módulos que congregam várias disciplinas, de vários departamentos, precisamos adaptar o trabalho a essa nova situação. Utilizamos as palestras e os módulos para os quais somos convidados para discutirmos os temas tanto da parte geral quanto os específicos.

Focando um outro curso, o de Agronomia, como um novo exemplo, elegemos, para depois dos três temas iniciais da parte geral, os seguintes temas: aprofundamentos em relação à ciência, à ideologia e à filosofia e uma introdução à filosofia moral ou ética, em vista do Código de ética profissional do Engenheiro Agrônomo. Para essa última introdução utilizamos com suficiente sucesso o texto Conversando sobre ética e sociedade, de Jung Mo Sung e Josué Cândido da Silva, cujo Sumário revela bem o seu conteúdo: Capítulo 1: O porquê da ética; 2: Ética e construção da realidade; 3: Critério ético e posturas morais; 4: Ética e economia; 5: Ética e política; 6: Ética e ecologia; 7: Ética e relações de gênero; e 8: Por uma ética de responsabilidade solidária. [13]

Em outro curso ainda, o de Educação Física, discutimos com os alunos, além dos três temas iniciais da parte geral, os seguintes temas: aprofundamentos em relação ao conhecimento, à ideologia, ao mito, à filosofia e à ciência e uma introdução à antropologia. Para essa última introdução utilizamos também com suficiente sucesso os capítulos I: A dimensão corpórea do homem (homo somaticus) e IX: O jogo e o divertimento (homo ludens), da Primeira parte: Fenomenologia do homem, do livro O homem: quem é ele? Elementos de antropologia filosófica, de Battista Mondin.

Focalizando, enfim, um outro curso, como último exemplo, o de Administração, no qual tivemos o dobro de horas-aula em comparação com os cursos de Agronomia e Educação Física, trabalhamos nele, além dos três temas iniciais da parte geral, os seguintes temas: aprofundamentos sobre a relação entre natureza e cultura, pensamento e linguagem, trabalho e alienação, aprofundamentos sobre o conhecimento, a ideologia, a consciência mítica, a filosofia e a ciência e introduções à filosofia política e à filosofia moral ou ética [14], e, enfim, uma complementação dessa última introdução trabalhando com o texto Conversando sobre ética e sociedade, de Jung Mo Sung e Josué Cândido da Silva, como ao curso de Agronomia, mas agora em vista de preparar a leitura do Código de ética profissional do Administrador.

Trata-se, como podemos perceber, de proporcionar uma introdução à filosofia (apresentando a filosofia de forma contextualizada em relação à realidade e em relação às outras formas de conhecimento) e de propiciar um exercício de filosofia da especialização em foco, ou seja, uma filosofia, por exemplo, da medicina e da correspondente parte da realidade ou de algo constante nelas. O que se pretende conseguir é que o especialista não perca de vista o conjunto do conhecimento e da realidade.

2. Metodologia e modo de avaliação

2.1. Metodologia


Nos últimos anos temos realizado a parte geral mediante aulas expositivas ministradas por nós, e as partes de aprofundamentos e específica por meio de seminários apresentados pelos alunos divididos em equipes.

Tivemos ocasiões nas quais alguns alunos preferiram substituir a participação nos seminários por estudo individual do texto e apresentação oral apenas ao professor (o que, em termos de avaliação, funcionou como prova oral).

No curso de Medicina da UEL, que funciona sob o esquema de módulos ao invés de disciplinas, aproveitamos as palestras e os módulos para os quais somos convidados para discutirmos os temas tanto da parte geral quanto da parte específica.

2.2. Modo de avaliação

Temos acentuado principalmente duas avaliações, atribuindo uma nota de zero a dez ou um conceito sobre as apresentações de seminário, e outra atribuindo uma nota de zero a dez ou um conceito sobre uma prova individual escrita, dissertativa ou objetiva, ou, substituindo essa última pela confecção de uma monografia sobre um tema pertinente escolhido pelo próprio aluno. Ou, ainda, substituindo a prova e ou confecção de monografia pela confecção de redações ou resumos a serem entregues de cada tema após a sua respectiva discussão (o seu conjunto substituindo a prova ou a monografia).

Tivemos ocasiões, conforme dito acima, nas quais alunos preferiram substituir a avaliação da participação e da apresentação de seminário por prova oral sobre o texto trabalhado nos seminários.

Tivemos ocasiões, também, nas quais solicitamos ou permitimos que os próprios alunos se auto-avaliassem, em relação às apresentações de seminários, à prova dissertativa, trabalho individual de estudo de textos ou em relação à participação geral nas aulas.

No curso de Medicina da UEL avaliamos oralmente ao final de cada participação (inquirindo diretamente se houve ou não o aproveitamento necessário) e fornecemos, por escrito, questões objetivas para a coordenação do módulo aplicar, juntamente com as questões formuladas pelos demais professores participantes, na avaliação feita no final do módulo.

Conclusão

Apresentamos sumariamente uma ou algumas experiências de ensino de filosofia em alguns cursos de graduação que podem e devem ser criticadas, e que podem, também, servir de inspiração. O mais importante é que sejam oportunizados o descobrimento e o exercício de mais esta possibilidade cognoscitiva, o filosofar, e a sua contribuição, para os que não se formarão especificamente filósofos ou professores de filosofia. A visão de conjunto possibilita a perspectiva interdisciplinar e multiprofissional de enfrentamento da realidade, válida igualmente para todos.

Referências bibliográficas

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. 3ª edição revista e ampliada. SP: Martins fontes, 1998. Tradução (do italiano) da 1ª edição brasileira coordenada e revista por Alfredo Bosi; tradução dos novos textos incluídos nesta edição por Ivone Castilho Benedetti. 1014 p.
ALVES, Rubem A. Filosofia da ciência: introdução ao jogo e suas regras. 4ª edição. SP: Brasiliense, 1983. 209 p.

ARGOTE, German Marquinez. Metafísica desde latinoamérica. 2ª edição. Bogotá: Usta, 1980. 361 p.

ARRUDA ARANHA, Maria Lúcia de e PIRES MARTINS, Maria Helena. Filosofando: introdução à filosofia. 3ª edição revista. SP: Moderna, 2003. 439 p.

BASTOS, Cleverson Leite e KELLER, Vicente. Aprendendo lógica. 2ª edição revista. Petrópolis: Vozes, 1993. 143 p.

BELTRÃO PERNETTA, Augusto. Filosofia primeira. RJ: Laemmert, 1957. Série estudos de ciência positiva. 1329 p.

BUZZI, Arcângelo Raimundo. Introdução ao pensar: o ser, o conhecimento, a linguagem. 17ª edição. Petrópolis: Vozes, 1988. 260 p.

CARVALHO, Maria Cecília Maringoni de (Org.). Paradigmas filosóficos da atualidade. Campinas: Papirus, 1989. 305 p.

CHARBONNEAU, Paul-Eugène. Curso de filosofia: lógica e metodologia. Tradução (do francês) por Antonio da Silveira Mendonça. SP: Epu, 1986. 159 p.

CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. SP: Ática, 1994. 440 p.

CONILL, Jesús. El crepúsculo de la metafísica. Barcelona: Editorial Antrhopos, 1988. Colección Autores, Textos y Temas de Filosofía, nº 15. 348 p.

DUSSEL, Enrique D. Ética da libertação na idade da globalização e da exclusão. Tradução (do espanhol) de Ephraim Ferreira Alves, Jaime A. Clasen e Lúcia M. E. Orth. 2ª edição. Petrópolis: Vozes, 2002. 671 p.

JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES DE SOUZA FILHO, Danilo. Dicionário básico de filosofia. 3ª edição revista e ampliada. RJ: Jorge Zahar Editor, 1996. 296 p.

KUJAWSKI, Gilberto de Mello. Filosofia: a razão a serviço da vida. SP: Companhia Editora Nacional, 1985. Col. portasabertas, vol. 3. 92 p.

MARCONDES FILHO, Ciro. O que todo cidadão precisa saber sobre ideologia. 3ª edição. SP: Global, 1987. Cadernos de educação política: Série sociedade e Estado, nº 2. 95 p.

MONDIN, Battista. O homem: quem é ele? Elementos de antropologia filosófica. Tradução (do italiano) de R. L. Ferreira e M. A. S. Ferrari. 12ª edição. SP: Paulus, 2005. 331 p.

OS PENSADORES, Coleção. 60 volumes. SP: Nova Cultural, 1987-1989.

PIZZI, Jovino. Ética do discurso: a racionalidade ético-comunicativa. Porto Alegre: Edipucrs, 1994. Col. Filosofia, nº 15. 158 p.

RICOEUR, Paul. Interpretação e ideologias; organização, tradução e apresentação de Hilton Japiassú. RJ: Francisco Alves, 1983. 172 p.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Filosofia. SP: Cortez, 1993. Col. magistério 2º grau: Série formação geral. 211 p.

SIDEKUM, Antonio (Org.). Ética do discurso e filosofia da libertação, modelos complementares. São Leopoldo: Unisinos, 94. Série Estudos Ibero-Americanos, 2. 264 p.

SUNG, Jung Mo e SILVA, Josué Cândido da. Conversando sobre ética e sociedade. 12ª edição. Petrópolis: Vozes, 2003. 117 p.

TISKI, Sergio. Sobre a humanização dos profissionais da saúde. Londrina: Digitado, 3/2007. 2 p.

_____. Sobre a relação entre teoria e prática na saúde. Maquinações: Idéias para o ensino das ciências, Londrina, 1 (1): 56-57, outubro / dezembro 2007.

_____. Sobre a relação entre teoria e prática na saúde 2. Londrina: Digitado, 5/2007. 2 p.

_____. A questão da moral em Augusto Comte. Tese de doutorado. Unicamp. 2005. 236 p.

VALVERDE, José Maria. História do pensamento. 60 fascículos. Tradução (do espanhol) de Luiz João Gaio. SP: Nova Cultural, 1987. 724 p.

VÁSQUEZ, Adolfo Sánches. Ética. Tradução (do espanhol) de J. Dell’Anna. 7ª ed. RJ: Civilização brasileira, 1984. Col. Perspectivas do homem, nº 46. Série Filosofia. 267 p.
_______________________

[1] Professor do Deptº de Filosofia da UEL. Graduado em filosofia pela PUC de Curitiba e em teologia pela PUG de Roma; especialista em filosofia pela UEL; mestre em filosofia pela PUC de SP; doutor em filosofia pela UNICAMP. E-mail: sertis@uel.br .

[2] “Pitágoras (séc. VI a.C.), um dos filósofos pré-socráticos e também matemático, teria usado pela primeira vez a palavra filosofia (philos-sophia), que significa “amor à sabedoria”. Assim, com o auxílio da etimologia, podemos ver que a filosofia não é puro logos, pura razão: ela é a procura amorosa da verdade.” (Maria Lúcia de ARRUDA ARANHA e Maria Helena PIRES MARTINS. Filosofando: introdução à filosofia, p. 88). Em todo este trabalho, transcrevemos os grifos dos próprios autores sempre em itálico.

[3] A respeito dessa característica, seguimos, como as autoras acima, Dermeval Saviani: “O professor Dermeval Saviani conceitua a filosofia como uma reflexão radical, rigorosa e de conjunto sobre os problemas que a realidade apresenta. (SAVIANI, Dermeval. Educação brasileira: estrutura e sistema. SP: Saraiva, 1973, p. 68-69)” (Ibidem, p. 89).

[4] Normalmente os gestores acadêmicos dos cursos são os colegiados ou departamentos de cursos, constituídos em sua maioria pelos professores do curso (que têm uma ou até mais que uma filosofia, consciente ou inconscientemente). Todas as disciplinas do curso, com suas respectivas ementas, são decididas por esses responsáveis e constam desde o início no currículo a ser desenvolvido com uma turma de alunos. Aos professores dessas disciplinas cabe montar programas que realizem de algum modo as ementas. Esses programas são analisados e aprovados antes do início das disciplinas.

[5] Como bibliografia propomos que os alunos, além de passar a prestar mais atenção em relação à realidade e aos noticiários, leiam esses verbetes em algum dicionário da língua portuguesa e de filosofia. Entre as muitas possibilidades de dicionários de filosofia em português costumamos indicar o de Hilton JAPIASSÚ e Danilo MARCONDES DE SOUZA FILHO (Dicionário básico de filosofia) e o de Nicola ABBAGNANO (Dicionário de filosofia).

[6] Como bibliografia propomos que os alunos leiam sobre cada uma dessas formas de conhecimento em algum dicionário de filosofia e também em algum texto de introdução à filosofia. Quanto às inúmeras introduções à filosofia, além da já citada, de Maria Lúcia de ARRUDA ARANHA e de Maria Helena PIRES MARTINS, já utilizamos, também, as de Arcângelo Raimundo BUZZI (Introdução ao pensar: o ser, o conhecimento, a linguagem), Marilena CHAUÍ (Convite à filosofia), Gilberto de Mello KUJAWSKI (Filosofia: a razão a serviço da vida) e Antônio Joaquim SEVERINO (Filosofia), entre outras.

[7] Para a questão da ideologia, além dos dicionários e das introduções à filosofia, sugerimos também algum texto específico dos muitos existentes, que pode ou não ser trabalhado em sala, conforme o número disponível de horas-aula. Por exemplo: Ciro MARCONDES FILHO (O que todo cidadão precisa saber sobre ideologia) e Paul RICOEUR (Interpretação e ideologias).

[8] Sugerimos, por exemplo, o trabalho de José Maria VALVERDE (História do pensamento), publicado em 60 fascículos, acompanhando a publicação dos 60 volumes da Coleção OS PENSADORES, e esses 60 volumes.

[9] A respeito dessas subáreas propomos, além das introduções à filosofia, das histórias da filosofia e dos textos dos próprios filósofos, os trabalhos, por exemplo, de Cleverson Leite BASTOS e Vicente KELLER (Aprendendo lógica), de Paul-Eugène CHARBONNEAU (Curso de filosofia: lógica e metodologia), Rubem ALVES (Filosofia da ciência: introdução ao jogo e suas regras), Maria Cecília Maringoni de CARVALHO (Paradigmas filosóficos da atualidade), Jesús CONILL (El crepúsculo de la metafísica), German Marquinez ARGOTE (Metafísica desde latinoamérica) e Augusto BELTRÃO PERNETTA (Filosofia primeira), entre outros.

[10] Além das introduções, das histórias da filosofia, dos textos dos próprios filósofos e além do texto de Jung Mo SUNG e Josué Cândido da SILVA (Conversando sobre ética e sociedade), que citaremos adiante, sugerimos também os trabalhos, entre tantos possíveis, de Adolfo Sánches VÁSQUEZ (Ética), Jovino PIZZI (Ética do discurso: a racionalidade ético-comunicativa), Enrique D. DUSSEL (Ética da libertação na idade da globalização e da exclusão), Antonio SIDEKUM (Ética do discurso e filosofia da libertação, modelos complementares) e a nossa tese de doutorado (A questão da moral em Augusto Comte).

[11] No mínimo os três primeiros: a relação entre realidade, conhecimento e agir, as seis formas de conhecimento em geral e a relação entre conhecimento e ideologia. Mas nada impedindo de avançar para a busca da história, dos fundamentos e princípios, desde que haja horas-aula disponíveis...

[12] Podemos enviar cópia digital para quem se interessar, até que versões impressas sejam disponibilizadas.

[13] Cumpre esclarecer que os textos que utilizamos são, também para nós, “pretextos” para iniciar as discussões e não manuais para (as tentativas sempre frustradas de) aprendizado (imposição?) de pretendida verdade ou verdades.

[14] Para essas introduções utilizamos, também com suficiente sucesso, do texto de Maria Lúcia de ARRUDA ARANHA e Maria Helena PIRES MARTINS, já citado, a Unidade IV – POLÍTICA: Capítulo 16. Introdução à política; 17. A política na Antiguidade e na Idade Média; 18. A política como categoria autônoma; 19. O liberalismo político; 20. A crítica ao Estado burguês: as teorias socialistas; 21. Liberalismo e socialismo hoje; 22. Os desvios do poder (p. 213-298) e a Unidade V – ÉTICA: Capítulo 23. Introdução à filosofia moral; 24. A construção da identidade moral; 25. A liberdade; 26. A identidade do sujeito moral; 27. Concepções éticas (p. 299-362).

Política de Publicação

domingo, 11 de novembro de 2007

Dissertações e Teses em acesso livre (05)

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Dissertações de Mestrado

- Fortuna e superstição: um estudo destes temas no Tratado teológico-político de Espinosa
Autor: Rocha, Andre Menezes
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8133/tde-01112007-151604/

- Uma reconstrução racional da concepção utilitarista de Bentham
Autor: Dias, Maria Cristina Longo Cardoso
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Teses de Doutorado

- O valor heurístico das nuvens para o curso de história da educação
Autor: Tsuruda, Maria Amalia Longo
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-09112007-102121/

Esta tese visa a mostrar que a comédia As Nuvens de Aristófanes (423 a.C.) possui um valor heurístico para os alunos de graduação de Pedagogia, isto é, que a obra possibilita um trabalho de cotejo de textos para a formação de um quadro complexo da educação ateniense da época. Compõe-se de duas partes, a primeira dedicada ao estudo da peça e de suas possíveis relações com o ensino da filosofia em Atenas e a segunda dedicada ao relato do trabalho com alunos, desenvolvido durante duas experiências com o Curso Experimental. A metodologia utilizada baseia-se em três pilares, a pesquisa bibliográfica, a análise textual e a aplicação experimental em sala de aula. A avaliação final do trabalho mostra que As Nuvens possui um caráter altamente heurístico e que a sua aplicação em sala de aula apresenta resultados altamente satisfatórios.

- Crítica e autonomia em Kant: a forma legislativa entre determinação e reflexão
Autor: Keinert, Mauricio Cardoso
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8133/tde-01112007-153708/

- Nietzsche e o primado da prática: um espírito livre em guerra contra o dogmatismo
Autor: Mattos, Fernando Costa
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8133/tde-01112007-140014/

- Participação política como exercício da cidadania
Autor: Freire, Roberto de Barros
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8133/tde-01112007-154422/
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- A palavra em Paulo Freire e a palavra em Jacques Lacan
Autor: Calixto, Flander de Almeida
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-08112007-152104/

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Dissertações e Teses em acesso livre (04)

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Dissertações de Mestrado

- O metafísico no olhar: a pintura na filosofia de Merleau-Ponty
Autor: Furlan, Annie Simões Rozestraten
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59137/tde-30072007-140242/
Disponibilidade: acessível apenas dentro da Universidade de São Paulo

- Hábito - expectativa: uma noção de sujeito a partir de David Hume
Autor: Stival, Monica Loyola
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8133/tde-09102007-141926/


Teses de Doutorado

- Ágora, dêmos e laós: os modos de figuração do povo na assembléia homérica - contradições, ambigüidades e indefinições
Autor: Julien, Alfredo
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-05072007-102301/

- Brasil e África do Sul: os paradoxos da democracia. Memória política em democracias com herança autoritária
Autor: Teles, Edson Luis de Almeida
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8133/tde-10102007-150946/

- Transformismo e extinção: de Lamarck a Darwin
Autor: Ferreira, Marcelo Alves
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8133/tde-24102007-150401/

- Contribuição ao estudo do sistema de crédito em \'O Capital\' de Karl Marx
Autor: Mello, Caio Roberto Bourg de
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8137/tde-22102007-113450/

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Bancada do PT debate conjuntura com Marilena Chaui



A bancada do PT na Câmara reuniu-se (em 23 de agosto de 2007) com a filósofa Marilena Chaui. O objetivo foi discutir a conjuntura política e os desafios atuais do partido. O líder da bancada, deputado Luiz Sérgio (RJ), qualificou o encontro como altamente positivo. "A professora Marilena Chaui tem grande capacidade de fazer uma análise apurada de temas atuais e importantes para o PT", disse.

Luiz Sérgio destacou o fato de a filósofa ser uma estudiosa fora do ambiente parlamentar, o que garante a ela uma visão de temas do dia-a-dia que nem sempre são acompanhados tão de perto pelos parlamentares. A bancada vai promover outros encontros para discutir a conjuntura política, econômica, social e legislativa.

Autora de vários livros, Marilena Chaui é professora de Filosofia Política e História da Filosofia Moderna da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP). No encontro com a bancada petista, ela abordou, entre outros temas, o poder da mídia e a democracia, o neoliberalismo, os desafios atuais do PT e o papel dos movimentos sociais.

Ela lembrou a própria história da formação do PT, que rompeu com a tradição da esquerda, em que grupos se colocavam como varguardas de classe. Era uma prática adotada não só no Brasil. "O PT, ao contrário, nasce como esquerda a partir de movimentos sindicais, populares, sociais, grupos e tendências de esquerda", configurando um novo sujeito político e coletivo, disse Marilena Chaui. "O PT é a afirmação da presença política direta das classes populares", completou.

Para o presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), foi uma reflexão importante para a bancada. "Por ser uma intelectual respeitadíssima e conhecida pelo grau de polêmica que sempre assumiu, ela traz uma visão de quem está fora deste cotidiano da política, do dia-a-dia da dinâmica parlamentar e, ao mesmo tempo, faz uma boa avaliação da relação entre o poder político, econômico, da mídia e as questões que envolvem o nosso cotidiano".

O deputado Fernando Ferro (PT-PE) tem a mesma opinião. "Foi muito importante e positivo. Temos que repetir este tipo de debate. A Marilena Chaui é uma intelectual extremamente capaz, competente e que tem o compromisso político muito sério com a luta do PT no Brasil e com a postura da esquerda no Brasil", disse Ferro.

Para a deputada Fátima Bezerra (PT-RN), a reflexão "foi oportuna e necessária" para chamar a atenção sobre os desafios que estão colocados, além de "renovar" a esperança. "O debate foi excelente. Emociona participar de um debate com a professora Marilena Chaui e constatar a sua lucidez política e clareza teórica. Na verdade, ela nos levou a uma reflexão muito oportuna e muito necessária sobre o PT de ontem e de agora. Ou seja, ela nos levou a fazer uma reflexão sobre estes 27 anos e o que tem significado o PT para a construção da democracia do país".

O deputado Tarcísio Zimmermann (PT-RS) afirmou que a bancada saiu fortalecida do debate. "A análise sobre a manipulação que a imprensa faz no nosso país nos ajuda a compreender muito o embate político que estamos vivendo. Acho que a bancada sai fortalecida politicamente desse debate, foi um passo muito importante para retomar a iniciativa do debate político e até mesmo qualificar toda a ação de afirmação no nosso projeto no país", disse.

Para o deputado Carlos Abicalil (PT-MT), é fundamental que a bancada promova novos debates. "Foi importante a análise rigorosa sobre a conjuntura e o que está em disputa no ideário popular no país. É fundamental que a bancada realize outras edições, não apenas para quebrarmos nossa cegueira de procedimentos, como para dar sustentação a uma leitura de ação política que possa ir fazendo com que o PT mantenha a sua ousadia de ser um partido determinado a mudanças", disse.

Na opinião do deputado José Genoino (PT-SP), a bancada precisa "criar o hábito" de realizar debates. "A Marilena fez com a bancada reflexões profundas, atuais; é um instrumento para todo o partido discutir e avaliar aprofundadamente. Acho que a bancada precisa, periodicamente, chamar pessoas para um debate mais estratégico sobre sistemas e o momento", disse. O deputado Odair Cunha (PT-MG) ressaltou "que a iniciativa é importante porque se constitui numa oportunidade para a bancada pensar um pouco sobre os desafios que são colocados para a bancada".

fonte Informes PT - 24/agos/2007 nº3809

Nem pensando muito se consegue responder a isto...

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Escolas de SP não precisam implantar filosofia e sociologia


21/08/2007 - 16h35

Juliana Doretto
Em São Paulo*

As escolas públicas e particulares de São Paulo não precisam implantar as disciplinas de sociologia e filosofia no currículo do ensino médio. O CEESP (Conselho Estadual de Educação de São Paulo) considerou "nula" a norma do MEC (Ministério da Educação) que obriga as escolas a terem aulas específicas nessas duas áreas. A decisão foi publicada no sábado (18) no Diário Oficial do Estado de São Paulo.

Os conselhos e secretarias estaduais de educação do país têm até esta terça (21) para apresentar ao MEC um plano de trabalho para implantação das duas disciplinas no currículo. Ou seja, o ministério não cobra que as aulas comecem já em 2007, mas pede aos sistemas de ensino que digam quando e como vão iniciar as disciplinas.

A obrigatoriedade foi instituída há um ano pelo CNE (Conselho Nacional de Educação), órgão colegiado do ministério, e abrange todas as escolas das redes pública e privada de ensino médio do país que adotam o sistema de disciplinas.

Para o presidente do conselho paulista, Pedro Salomão José Kassab, não há hierarquização que obrigue os conselhos estaduais e municipais a aceitarem as decisões do Conselho Nacional. "Pela Constituição, os sistemas estaduias e municipais de ensino são autônomos. Eles só devem cumprir a Lei, a LDB [Lei de Diretrizes e Bases], que permite que esses conteúdos sejam ministrados de modo transversal, ou seja, distribuídos em outras disciplinas."

O texto do CEESP publicado no Diário Oficial diz que, "a obrigatoriedade de inclusão de disciplinas específicas de filosofia e sociologia fere a autonomia assegurada aos sistemas de ensino, pela LDB e pela Constituição, para a definição de suas próprias grades curriculares". Segundo o documento, "cada escola é autônoma para decidir, dentro das balizas postas pela legislação, o melhor modo de organizar o currículo a ser ministrado aos seus alunos".

A diretora de políticas públicas do ensino médio do Ministério da Educação, professora Lúcia Lodi, diz que o CNE pode, sim, legislar, e o ministro Fernando Haddad já homologou a resolução.

Na rede estadual de ensino paulista, porém, as aulas já são aplicadas, segundo a assessoria de imprensa da Secretaria de Educação. Filosofia é obrigatória a 1ª e 2ª série do ensino nédio e opcional para a 3ª série. Quanto à sociologia, a disciplina é optativa no 3º ano do ensino médio.

O CEESP é formado por 24 membros e tem funções normativas, deliberativas e consultivas em relação à educação paulista pública e privada. É vinculado à Secretario Estadual da Educação.

Sem professores
Kassab afirma ainda que, caso a resolução do MEC fosse aprovada no Estado, São Paulo não teria número suficientes de professores para lecionar as duas disciplinas.

Segundo a Secretaria de Educação de São Paulo, 3.463 professores de filosofia e 944 de sociologia atuam hoje na rede estadual.

Para Lejeune Matogrosso, coordenador da Federação Nacional dos Sociólogos, não faltarão professores de sociologia. "Estimamos que, em três anos, seja necessário contratar 10 mil professores em cada uma das discuplinas. No Brasil, já existe 40 mil formados na área. E, por ano, se formam de 1.500 a 2.000 sociólogos", explica.

Segundo o sociólogo, vários profissionais da área são professores de outras disciplinas, como história e geografia, por falta de aulas específicas de sociologia. Ele diz ainda que, em "caráter excepcional", bacharéis (ou seja, sem formação em licenciatura), podem lecionar.

Para o professor de filosofia da UFPR (Universidade Federal do Paraná) e coordenador do Fórum Sul-Brasileiro de Filosofia e Ensino, Emmanuel Appel, também há filósofos em número suficientes para lecionar. "Temos 190 cursos de filosofia no país, e a disciplina foi suprimida do ensino médio em agosto de 71. Durante 35 anos, esses cursos formaram um considerável número de pessoas. Caso não estejam lecionando, eles podem passar também por reciclagem."

Appel diz ainda que em 17 dos 27 Estados do país a filosofia já vem sendo ensinada nas escolas, e Estados como Minas Gerais e Paraná têm essa disciplina como obrigatória em suas Constituições estaduais.

*Atualizada às 17h24

fonte: http://noticias.uol.com.br/educacao/ultnot/ult105u5689.jhtm

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Dissertações e Teses em acesso livre (03)

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Dissertação de Mestrado
- História, política e revolução em Eric Hobsbawm e François Furet
Autor: Correa, Priscila Gomes
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-06072007-120331/

Tese de Doutorado
- Idéias para uma pedagogia da desconstrução: desdobramentos da ontologia de Martin Heidegger
Autor: Colpo, Marcos Oreste
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-25072007-160352/

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Filosofia e Sociologia devem apresentar os clássicos aos estudantes

24/07/2007 - 09h07

Por Alan Meguerditchian, do Aprendiz

"Existem alguns textos com os quais não precisamos concordar, mas sem os quais não conseguimos pensar. Devemos colocar a serviço da educação dos nossos jovens os textos clássicos de Sociologia e de Filosofia". A fala é do filósofo e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Emanuel Appel, que participou do 1º Encontro Nacional sobre Sociologia e Filosofia, em São Paulo - 22 e 24 de julho, no Palácio das Convenções do Anhembi.

O encontro teve como principal motivação a inclusão das duas ciências como disciplinas nas escolas brasileiras de Ensino Médio, conforme o Parecer nº 38, assinado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), em julho de 2006. A Sociologia já foi matéria obrigatória entre 1925 e 1942. Depois desse período, várias escolas continuaram com a disciplina, mesmo sendo optativa. Enquanto isso, o governo nunca exigiu o ensino de Filosofia.

Segundo Appel, a presença das duas ciências no Ensino Médio traz a possibilidade dos professores resgatarem nos estudantes um espírito crítico, que há muito tempo foi submerso pela indústria cultural. "A indústria cultural traz tudo pronto e os jovens na maioria das vezes não discutem. Devemos modificar isso e tanto a Sociologia quanto a Filosofia são instrumentos de questionamento", disse.

Para que isso aconteça, o melhor método é levar aos estudantes leituras de primeira mão. "Concordo que não devemos aplicar a bibliografia de graduação no Ensino Médio, mas o ensino da Filosofia não pode ser separado da leitura dos pequenos textos dos grandes filósofos", explicou Appel, dizendo que a regra também deve ser aplicada para a Sociologia.

Apesar do otimismo de Appel, a situação do Ensino Médio brasileiro não é muito propício para sonhos. "O Ensino Médio vive uma crise de identidade, de eqüidade e qualidade. Uma a cada três escola não tem biblioteca. Faltam professores de Química e Matemática. Apenas 8% dos professores de Física têm formação específica de licenciatura na área", lembrou alguns dados o vice-presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed). "É um desafio monumental", completou.

"O único dado positivo em relação ao Ensino Médio é que 85% dos jovens estão matriculados em escolas públicas. O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) pode melhorar a situação, pois incluiu o Ensino Médio na divisão dos recursos. Mesmo assim, devemos observar o passado e verificar o que fizemos de bom e de ruim. O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental (Fundef) - que antecedeu o Fundeb - , por exemplo, colocou as crianças na escola, mas que escola é essa?", avaliou a coordenadora do Ensino Médio da Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC), Lúcia Lodi.

Mesmo diante de tantos desafios, Appel mantém a posição de que os clássicos devem ser levados aos jovens estudantes. "Vai demorar para observarmos os resultados, mas devemos convocar os alunos para encarar a perplexidade dos conceitos. Não devemos subestimar a capacidade crítica dos jovens estudantes", conclui o filósofo.

(Envolverde/Aprendiz)

© Copyleft - É livre a reprodução exclusivamente para fins não comerciais, desde que o autor e a fonte sejam citados e esta nota seja incluída.


extraído de http://envolverde.ig.com.br/?materia=34708

para saber mais:
http://www.fespsp.org.br/noticias.detalhes.asp?seq=63 – com detalhes da programação
http://www.contee.org.br/secretarias/educacionais/materia_75.htm

sábado, 30 de junho de 2007

Dissertações e Teses em acesso livre (01)

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Dissertação de Mestrado
- Hannah Arendt e a separação entre política e educação
Autor: Ferreira, Manuela Chaves Simões
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-25062007-112716/

Tese de Doutorado
- Entre a educação e o plano de pensamento de Deleuze & Guattari: uma vida...
Autor: Benedetti, Sandra Cristina Gorni
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-26062007-090606/

domingo, 22 de abril de 2007

UNESCO cria Rede Internacional de Mulheres Filósofas

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Paris – O Setor de Ciências Sociais e Humanas da UNESCO lançou, no dia 09 de fevereiro, um apelo para a constituição da Rede Internacional da UNESCO de Mulheres Filósofas, e que foi anunciada no próximo dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher. O objetivo é reunir o maior número possível de mulheres filósofas – artistas, escritoras, poetisas, etc. – provenientes de todos os países e correntes filosóficas com a finalidade de integrá-las, de maneira dinâmica e participativa, nos diferentes projetos e atividades da Organização na área. Com a criação da Rede, a UNESCO pretende ainda apoiar a criação de associações intelectuais duradouras e solidárias a favor da filosofia.

A chamada para a constituição da Rede foi feita pelo Diretor Geral Adjunto do Setor de Ciências Sociais e Humanas da UNESCO, Pierre Sané, em comunicado no qual ressalta o “papel crucial e indispensável das mulheres na reflexão filosófica e seu valiosíssimo aporte à compreensão cabal dos grandes desafios de nossa época”. Sané pede o apoio dos diferentes países para que a iniciativa tenha o peso necessário e para que a UNESCO receba uma lista com nomes de mulheres filósofas que trabalham atualmente no campo da pesquisa, do ensino e da abertura do debate filosófico ao público. Essas informações, juntamente com os dados pessoais e currículos delas, serão inseridas na base de dados da Rede Internacional de Mulheres Filósofas.

fonte:
em 13/02/2007

Ver matéria, com o lançamento, em inglês - Clique aqui.

Para mais informações e para informar nomes de filósofas, entre em contato pelo E-mail:

domingo, 8 de abril de 2007

Contra a violência. Por Marilena Chaui

segunda-feira 2 de abril de 2007
Marilena Chaui

Especial para o Portal do PT
http://www.pt.org.br/site/noticias/noticias_int.asp?cod=48538 - 31/03/2007 - 12:01

Ao isolar as palavras da ministra do contexto, os defensores da ”não-violência” praticam um ato de violência psíquica, intelectual e política, pois deformam e traem o que ela disse. Usando essa violência, declaram que não há racismo no Brasil, a não ser este que, segundo eles, ela teria instituído.

Foto: Revista Fórum

1. Ética, violência e racismo

Numa perspectiva geral, podemos dizer que a ética procura definir, antes de mais nada, a figura do agente ético e de suas ações e o conjunto de noções (ou valores) que balizam o campo de uma ação que se considere ética. O agente ético é pensado como sujeito ético, isto é, como um ser racional e consciente que sabe o que faz, como um ser livre que decide e escolhe o que faz, e como um ser responsável que responde pelo que faz. A ação ética é balizada pelas idéias de bom e mau, justo e injusto, virtude e vício, isto é, por valores cujo conteúdo pode variar de uma sociedade para outra ou na história de uma mesma sociedade, mas que propõem sempre uma diferença intrínseca entre condutas, segundo o bem, o justo e o virtuoso. Assim, uma ação só será ética se for consciente, livre e responsável e só será virtuosa se for realizada em conformidade com o bom e o jus to. A ação ética só é virtuosa se for livre e só será livre se for autônoma, isto é, se resultar de uma decisão interior ao próprio agente e não vier da obediência a uma ordem, a um comando ou a uma pressão externos. Enfim, a ação só é ética se realizar a natureza racional, livre e responsável do agente e se o agente respeitar a racionalidade, liberdade e responsabilidade dos outros agentes, de sorte que a subjetividade ética é uma intersubjetividade. A ética não é um estoque de condutas e sim uma práxis que só existe pela e na ação dos sujeitos individuais e sociais, definidos por formas de sociabilidade instituídos pela ação humana em condições históricas determinadas.

A ética se opõe à violência, palavra que vem do latim e significa: 1) tudo o que age usando a força para ir contra a natureza de algum ser (é desnaturar); 2) todo ato de força contra a espontaneidade, a vontade e a liberdade de alguém (é coagir, constranger, torturar, brutalizar); 3) todo ato de violação da natureza de alguém ou de alguma coisa valorizada positivamente por uma sociedade (é violar); 4) todo ato de transgressão contra aquelas coisas e ações que alguém ou uma sociedade define como justas e como um direito; 5) conseqüentemente, violência é um ato de brutalidade, sevícia e abuso físico e/ou psíquico contra alguém e caracteriza relações intersubjetivas e sociais definidas pela opressão, intimidação, pelo medo e pelo terror.

A violência se opõe à ética porque trata seres racionais e sensíveis, dotados de linguagem e de liberdade como se fossem coisas, isto é, irracionais, insensíveis, mudos, inertes ou passivos. Na medida em que a ética é inseparável da figura do sujeito racional, voluntário, livre e responsável, tratá-lo como se fosse desprovido de razão, vontade, liberdade e responsabilidade é tratá-lo não como humano e sim como coisa, fazendo-lhe violência nos cinco sentidos em que demos a esta palavra.

É sob este aspecto (entre outros, evidentemente), que o racismo é definido como violência. Não é demais lembrar quando essa idéia aparece.

De fato, não se sabe muito bem qual é a origem da palavra "raça"- os antigos gregos falavam em etnia e genos, os antigos hebreus, em povo, os romanos, em nação; e essas três palavras significavam o grupo de pessoas descendentes dos mesmos pais originários. Alguns dicionários indicam que, no século XII, usava-se a palavra francesa "haras" para se referir à criação de cavalos especiais e pode-se supor que seu emprego se generalizou para outros animais e para vegetais, estendendo-se depois aos humanos, dando origem à palavra "raça". Outros julgam que a palavra se deriva de um vocábulo italiano, usado a partir do século XV, "razza", significando espécie animal e vegetal e, posteriormente, estendendo-se para as famílias humanas, conforme sua geração e a continuidade de suas características físicas e psíquicas (ou seja, ganhando o sentido das antigas palavras etnia, genos e nação). Quando, no século XVI, para seqüestrar as fortunas das famílias judaicas da Península Ibérica, a fim de erguer um poderio náutico para criar impérios ultramarinos, a Inquisição inventou a expressão "limpeza de sangue", significando a conversão dos judeus ao cristianismo. Com isso, a distinção religiosa, que separava judeus e cristãos, recebeu pela primeira vez um conteúdo étnico.

É interessante observar, porém, que a palavra "racial" surge apenas no século XIX, particularmente com a obra do francês Gobineau, que, inspirando-se na obra de Darwin, introduziu formalmente o termo "raça" para combater todas formas de miscigenação, estabelecendo distinções entre raças inferiores e superiores, a partir de características supostamente naturais. E, finalmente, foi apenas no século XX que surgiu a palavra "racismo", que, conforme Houaiss, é uma crença fundada numa hierarquia entre raças, uma doutrina ou sistema político baseado no direito de uma raça, tida como pura e superior, de dominar as demais. Com isso, o racismo se torna preconceito contra pessoas julgadas inferiores e alimenta atitudes de extrema hostilidade contra elas , como a separação ou o apartamento total - o apartheid - e a destruição física do genos, isto é, o genocídio.

Seja no caso ibérico, seja no da colonização das Américas, seja no de Gobineau, seja no do apartheid, no do genocídio praticado pelo nazismo contra judeus, ciganos, poloneses e tchecos, ou o genocídio atual praticado pelos dirigentes do Estado de Israel contra os palestinos, a violência racista está determinada historicamente por condições materiais, isto é, econômicas e políticas. Em outras palavras, o racismo é uma ideologia das classes dominantes e dirigentes, interiorizada pelo restante da sociedad e.

Ora, o fato de que no Brasil não tenha havido uma legislação apartheid, nem formas de discriminação como as existentes nos Estados Unidos, e que tenha havido miscigenação em larga escala, faz supor que, entre nós, não há racismo. O fato de que tenha sido necessária a promulgação da Lei Afonso Arinos e que o racismo tenha sido incluído pela Constituição de 1988 entre os crimes hediondos, deve levar-nos a tratar a suposição da inexistência do racismo num contexto mais amplo, qual seja, no de um mito poderoso, o da não-violência brasileira. Trata-se da imagem de um povo ordeiro, pacífico, generoso, alegre, sensual , solidário que desconhece o racismo, o sexismo, o machismo e o preconceito de classe, que respeita as diferenças étnicas, religiosas e políticas, não discrimina as pessoas por sua posição econômico-social nem por suas escolhas sexuais, etc.

2. O mito da não-violência brasileira

Por que mito? Porque:

a) um mito opera com antinomias, tensões e contradições que não podem ser resolvidas sem uma profunda transformação da sociedade no seu todo e que por isso são transferida s para uma solução imaginária, que torna suportável e justificável a realidade. Em suma, o mito nega e justifica a realidade negada por ele;

b) um mito cristaliza-se em crenças que são interiorizadas num grau tal que não são percebidas como crenças e sim tidas não só como uma explicação da realidade, mas como a própria realidade. Em suma, o mito substitui a realidade pela crença na realidade narrada por ele e torna invisível a realidade existente;

c) um mito resulta de ações sociais e produz como resultado outras ações sociais que o confirmam, isto é, um mito produz valores, idéias, comportamentos e práticas que o reiteram na e pela ação dos membros da sociedade. Em suma, o mito não é um simples pensamento, mas formas de ação;

d) um mito tem uma função apaziguadora e repetidora, assegurando à sociedade sua auto-conservação sob as transformações históricas. Isto significa qu e um mito é o suporte de ideologias: ele as fabrica para que possa, simultaneamente, enfrentar as mudanças históricas e negá-las, pois cada forma ideológica está encarregada de manter a matriz mítica inicial. No nosso caso, o mito fundador é exatamente o da não-violência essencial da sociedade brasileira.

Muitos indagarão como o mito da não-violência brasileira pode persistir sob o impacto da violência real, cotidiana, conhecida de todos e que, nos últimos tempos, é também ampliada por sua divulgação e difusão pelos meios de comunicação de massa. Ora, é justamente no modo de interpretação da violência que o mito encontra meios para conservar-se. Se fixarmos nossa atenção ao vocabulário empregado pelos mass media, observaremos que os vocábulos se distribuem de maneira sistemática:

- fala-se em chacina e massacre para referir-se ao assassinato em massa de pessoas indefesas, como crianças, favelados, encarcerados, sem-terra;

- fala-se em indistinção entre crime e polícia para referir-se à participação de forças policiais no crime organizado, particularmente o jogo do bicho, o narcotráfico e os seqüestros;

- fala-se em guerra civil tácita para referir-se ao movimento dos sem-terra, aos embates entre garimpeiros e índios, policiais e narcotraficantes, aos homicídios e furtos praticados em pequena e larga escala, mas também para referir-se ao aumento do contingente de desempregados e habitantes das ruas, aos assaltos coletivos a supermercados e mercados, e para fal ar dos acidentes de trânsito;

- fala-se em fraqueza da sociedade civil para referir-se à ausência de entidades e organizações sociais que articulem demandas, reivindicações, críticas e fiscalização dos poderes públicos;

- fala-se em debilidade das ins tituições políticas para referir-se à corrupção nos três poderes da república, à lentidão do poder judiciário, à falta de modernidade política;

- fala-se, por fim, em crise ética.

Essas imagens têm a função de oferecer uma imagem unificada da violência. Chacina, massacre, guerra civil tácita e indistinção entre polícia e crime pretendem ser o lugar onde a violência se situa e se realiza; fraqueza da sociedade civil, debilidade das instituições e crise ética são apresentadas como impotentes para coibir a violência. As imagens indicam a divisão entre dois grupos: de um lado, estão os grupos portadores de violência, e de outro, os grupos impotentes para combatê-la.

Essas imagens baseiam-se em alguns mecanismos ideológicos por meio dos quais se dá a conservação da mitologia.

O primeiro mecanismo é o da exclusão: afirma-se que a nação brasileira é não-violenta e que, se houver violência, esta é praticada por gente que não faz parte da nação (mesmo que tenha nascido e viva no Brasil). O mecanismo da exclusão produz a diferença entre um nós-brasileiros-não-violentos e um eles-não-brasileiros-violentos. "Eles" não fazem parte do "nós".

O segundo é o da distinção: distingue-se o essencial e o acidental, isto é, por essência, os brasileiros não são violentos e, portanto, a violência é acidental, um acontecimento efêmero, passageiro, uma "epidemia" ou um "surto" localizado na superfície de um tempo e de um espaço definidos, superável e que deixa intacta nossa essência não-violenta.

O terceiro é jurídico: a violência fica circunscrita ao campo da delinquência e da criminalidade, o crime sendo definido como ataque à propriedade privada (furto, roubo e latrocínio). Esse mecanismo permite, por um lado, determinar quem são os "agentes violentos" (de modo geral, os pobres e, entre estes, os negros) e legitimar a ação da polícia contra a população pobre, os negros, as crianças de rua e os favelados. A ação policial pode ser, às vezes, considerada violenta, recebendo o nome de "chacina" ou "massacre" quando, de uma só vez e sem motivo, o número de assassinados é muito elevado. No restante das vezes, porém, o assassinato policial é considerado normal e natural, uma vez que se trata da proteger o "nós" contra o "eles".

Finalmente, o último mecanismo é o da inversão do real, graças à produção de máscaras que permitem dissimular comportamentos, idéias e valores violentos como se fossem não-violentos. Assim, por exemplo, o machismo é colocado como proteção à natural fragilidade feminina, proteção inclui a idéia de que as mulheres precisam ser protegidas de si próprias, pois, como todos sabem, o estupro é um ato feminino de provocação e sedução; o paternalismo branco é visto como proteção para auxiliar a natural inferioridade dos negros, os quais, como todos sabem, são indolentes e safados; a repressão contra os homossexuais é considerada proteção natural aos valores sagrados da família e, agora, da saúde e da vida de todo o gênero humano ameaçado pela Aids, trazida pelos degenerados, etc..

No caso desse mecanismo de inversão, foi sintomática a reação de uma parte da classe média diante do Prouni. De fato, muitos disseram, pasmem!, que se tratava de "opressão racial contra os brancos", no momento da entrada na universidade, e de "estímulo ao ódio contra os negros", durante a permanência universitária. Em suma, o Prouni seria a criação do racismo no Brasil!

Mais clara e ainda mais paradigmática do mecanismo da inversão é o que acaba de ocorrer com a Ministra Matilde Ribeiro pela entrevista concedida à BBC: para puni-la por todas as políticas de ações afirmativas e de criação democrática de direitos sociais, econômicos e culturais, para puni-la por sua luta contra a violência racial, os meios de comunicação de massa tentam transformá-la em agente da violência. Ora, ao isolar suas palavras do contexto, os defensores da "não-violência" praticam uma ato de violência psíquica, intelectual e política, pois deformam e traem o que ela disse. Usando essa violência, declaram que não há racismo no Brasil, a não ser este que, segundo eles, ela teria instituído. E, suprema ironia, um dos jornais atacantes e pretensamente não racista costumava referir-se a FHC como "presidente mulatre"!

Em resumo, no Brasil, a violência não é percebida ali mesmo onde se origina e ali mesmo onde se define como violência propriamente dita, isto é, como toda prática e toda idéia que reduz um sujeito à condição de coisa, que viola interior e exteriormente o ser de alguém, que perpetua relações sociais de profunda desigualdade econômica, social e cultural. Mais do que isto, a sociedade não percebe que as próprias explicações oferecidas são violentas porque está cega ao lugar efetivo de produção da violência, isto é, a estrutura da sociedade brasileira, que, em sua violência cotidiana, reitera, alimenta e repete o mito da não-violência.

3. Uma sociedade violenta

Conservando as marcas da sociedade colonial escravista, a sociedade brasileira é determinada pelo predomínio do espaço privado (ou os interesses econômicos) sobre o público e, tendo o centro na hierarquia familiar, é fortemente hierarquizada em todos os seus aspectos: nela, as relações sociais e intersubjetivas são sempre realizadas como relação entre um superior, que manda, e um inferior, que obedece. As diferenças e assimetrias são sempre transformadas em desigualdades, que reforçam a relação mando-obediência. O outro jamais é reconhecido como sujeito nem como sujeito de direitos, jamais é reconhecido como subjetividade nem como alteridade. As relações, entre os que julgam iguais, são de "parentesco", isto é, de cumplicidade; e, entre os que são vistos como desiguais, o relacionamento toma a forma do favor, da clientela, da tutela ou da cooptação, e, quando a desigualdade é muito marcada, assume a forma da opressão. Há, assim, a naturalização das desigualdades econômicas e sociais, do mesmo modo que há naturalização das diferenças é tnicas (consideradas desigualdades raciais entre superiores e inferiores), religiosas e de gênero, bem como naturalização de todas formas visíveis e invisíveis de violência.

A violência está de tal modo interiorizada nos corações e mentes que alguém pode usar a frase "um negro de alma branca" e não ser considerado racista. Pode referir-se aos serviçais domésticos com a frase "uma empregada ótima: conhece seu lugar" e considerar-se isento de preconceito de classe. Pode dizer, como disse certa vez Paulo Maluf, "a professorinha não deve gritar por salário, mas achar um marido mais eficiente" e não ser considerado machista.

Podemos resumir, simplificadamente, os principais traços de nossa violência social considerando a sociedade brasileira oligárquica, autoritária, vertical, hierárquica, polarizada entre a carência e o privilégio e com bloqueios e resistências à instituição dos direitos civis, econômicos, sociais e culturais.

Nossa sociedade conheceu a cidadania através de uma figura inédita: o senhor (de escravos)-cidadão, e concebe a cidadania com privilégio de classe, fazendo-a ser uma concessão da classe dominante às demais classes sociais, podendo ser-lhes retirada quando os dominantes assim o decidirem. O caso da mídia contra a Ministra Matilde exprime exatamente essa idéia de cidadania concedida e retirada ao sabor dos interesses dos dominantes. Pelo mesmo motivo, no caso das camadas populares, os direitos, em lugar de aparecerem como conquistas dos movimentos sociais organizados, são sempre apresentados como concessão e outorga feitas pelo Estado, dependendo da vontade pessoal ou do arbítrio do governante.

Em nossa sociedade, as diferenças e assimetrias sociais e pessoais são imediatamente transformadas em desigualdades, e estas, em relação de hierarquia, mando e obediência. Os indivíduos se distribuem imediatamente em superiores e inferiores, ainda que alguém superior numa relação possa tornar-se inferior em outras, dependendo dos códigos de hierarquização que regem as relações sociais e pessoais. Todas as relações tomam a forma da dependência, da tutela, da concessão e do favor. Isso significa que as pessoas não são vistas, de um lado, como sujeitos autônomos e iguais, e, de outro, como cidadãs e, portanto, como portadoras de direitos. É exatamente isso que faz a violência ser a regra da vida social e cultural. Violência tanto maior porque invisível sob o paternalismo e o clientelismo, considerados naturais e, por vezes, exaltados como qualidades positivas do "caráter nacional".

Nela, as leis sempre foram armas para preservar privilégios e o melhor instrumento para a repressão e a opressão, jamais definindo direitos e deveres concretos e compreensíveis para todos. Essa situação é claramente reconhecida pelos trabalhadores quando afirmam que "a justiça só existe para os ricos". O Poder Judiciário é claramente percebido como distante, secreto, representante dos privilégios das oligarquias e não dos direitos da generalidade social. Para os grandes, a lei é privilégio; para as camadas populares, repressão. A lei não figura o pólo público do poder e da regulação dos conflitos, nunca define direitos e deveres dos cidadãos porque, em nosso país, a tarefa da lei é a conservação de privilégios e o exercício da repressão. Por este motivo, as leis aparecem como inócuas, inúteis ou incompreensíveis, feitas para serem transgredidas e não para serem transformadas - situação violenta que é miticamente transformada num traço positivo, quando a transgressão é elogiada como "o jeitinho brasileiro".

Em nossa sociedade, não existem nem a idéia nem a prática da representação política autêntica. Os partidos políticos tendem a ser clubes privados das oligarquias locais e regionais, sempre tomam a forma clientelística na qual a relação é de tutela e de favor. É uma sociedade, conseqüentemente, na qual a esfera pública nunca chega a constituir-se como pública, pois é definida sempre e imediatamente pelas exigências do espaço privado (isto é, dos interesses econômicos dos dominantes). A indistinção entre o público e o privado não é uma falha acidental que podemos corrigir, pois é a estrutura do campo social e do campo político que se encontra determinada por essa indistinção.

É uma sociedade que por isso bloqueia a esfera pública da opinião como expressão dos interesses e dos direitos de grupos e classes sociais diferenciados eou antagônicos. Esse bloqueio não é um vazio ou uma ausência, mas um conjunto de ações determinadas que se traduzem numa maneira determinada de lidar com a esfera da opinião: os mass media monopolizam a informação, e o consenso é confundido com a unanimidade, de sorte que a discordância é posta como ignorância ou atraso.

As disputas pela posse da terra cultivada ou cultivável são resolvidas pelas armas e pelos assassinatos c landestinos. As desigualdades econômicas atingem a proporção do genocídio. Os negros são considerados infantis, ignorantes, safados, indolentes, raça inferior e perigosa, tanto assim, que numa inscrição gravada até há pouco tempo na entrada da Escola de Polícia de São Paulo dizia: "Um negro parado é suspeito; correndo, é culpado". Os índios, em fase final de extermínio, são considerados irresponsáveis (isto é, incapazes de cidadania), preguiçosos (isto é, mal-adaptáveis ao mercado de trabalho capitalista), perigosos, devendo ser exterminados ou, então, "civilizados" (isto é, entregues à sanha do mercado de compra e venda de mão-de-obra, mas sem garantias trabalhistas porque "irresponsáveis"). Os trabalhadores rurais e urbanos são considerados ignorantes, atrasados e perigosos, estando a polícia autorizada a parar qualquer trabalhador nas ruas, exigir a carteira de trabalho e prendê-lo "para averiguação", caso não esteja carregando identificação profissional (se for negro, além de carteira de trabalho, a polícia está autorizada a examinar-lhe as mãos para verificar se apresentam "sinais de trabalho" e a prendê-lo caso não encontre os supostos "sinais"). Há casos de mulheres que recorrem à Justiça por espancamento ou estupro, e são violentadas nas delegacias de polícia, sendo ali novamente espancadas e estupradas pelas "forças da ordem". Isto para não falarmos da tortura, nas prisões, de homossexuais, prostitutas e pequenos criminosos. Numa palavra, as classes populares carregam os estigmas da suspeita, da culpa e da incriminação permanentes. Essa situação é ainda mais aterradora quando nos lembramos de que os instrumentos criados durante a ditadura (1964-1975) para repressão e tortura dos prisioneiros políticos foram transferidos para o tratamento diário da população trabalhadora e que impera uma ideologia segundo a qual a miséria é causa de violência, as classes ditas "desfavorecidas" sendo consideradas potencialmente violentas e criminosas.

É uma sociedade na qual a estrutura da terra e a implantação da agroindústria criaram não só o fenômeno da migração, mas figuras novas na paisagem dos campos: os sem-terra, volantes, bóias-frias, diaristas sem contrato de trabalho e sem as mínimas garantias trabalhistas. Bóias-frias porque sua única refeição - entre as três da manhã e as sete da noite - consta de uma ração de arroz, ovo e banana, já frios, pois preparados nas primeiras horas do dia. E nem sempre o trabalhador pode trazer a bóia-fria, e os que não trazem se escondem dos demais, no momento da refeição, humilhados e envergonhados.

É uma sociedade na qual a população das grandes cidades se divide entre um "centro" e uma "periferia", o termo periferia sendo usado não apenas no sentido espacial-geográfico, mas social, designando bairros afastados nos quais estão ausentes todos os serviços básicos (luz, água, esgoto, calçamento, transporte, escola, posto de atendimento médico). Condição, aliás, encontrada no "centro", isto é, nos bolsões de pobreza, os cortiços e as favelas. População cuja jornada de trabalho, incluindo o tempo gasto em transportes, dura de 14 a 15 horas, e, no caso das mulheres casadas, inclui o serviço doméstico e o cuidado com os filhos.

É uma sociedade que não pode tolerar a manifestação explícita das contradições, justamente porque leva as divisões e desigualdades sociais ao limite e não pode aceitá-las de volta, sequer através da rotinização dos "conflitos de interesses" (à maneira das democracias liberais). Pelo contrário, a classe dominante exorciza o horror às contradições produzindo uma ideologia da indivisão e da união nacionais, a qualquer preço. Por isso recusa perceber e trabalhar os conflitos e contradições sociais, econômicas e políticas enquanto tais, uma vez que conflitos e contradições negam a imagem mítica da boa sociedade indivis a, pacífica e ordeira. Contradições e conflitos não são ignorados e sim recebem uma significação precisa: são considerados sinônimo de perigo, crise, desordem e a eles se oferece uma única resposta: a repressão policial e militar.

Nela vigora o fascínio pelos signos de prestígio e de poder, como se observa no uso de títulos honoríficos sem qualquer relação com a possível pertinência de sua atribuição, o caso mais corrente sendo o uso de "Doutor" quando, na relação social, o outro se sente ou é visto como superior ("doutor" é o substituto imaginário para os antigos títulos de nobreza); ou como se observa na importância dada à manutenção de criadagem doméstica, cujo número indica aumento de prestígio e de status, etc..

A desigualdade salarial entre homens e mulheres, entre brancos e negros, a exploração do trabalho infantil e dos idosos são consideradas normais. A existência dos sem-terra, dos sem-teto, dos desempregados é atribuída à ignorância, à preguiça e à incompetência dos "miseráveis". A existência de crianças de rua é vista como "tendência natural dos pobres à criminalidade". Os acidentes de trabalho são imputados à incompetência e ignorância dos trabalhadores. As mulheres que trabalham (se não forem professoras, enfermeiras ou assistentes sociais) são consideradas prostitutas em potencial e as prostitutas são tidas como degeneradas, perversas e criminosas, embora, infelizmente, indispensáveis para conservar a santidade da família.

A sociedade brasileira está polarizada entre a carência absoluta das camadas populares e o privilégio absoluto das camadas dominantes e dirigentes, bloqueando a instituição e a consolidação da democracia.

4. Democracia: criação de direitos

De fato, uma sociedade é democrática quando institui algo profundo, que é condição do próprio regime político, ou seja, quando institui direitos. Essa instituição é uma criação social, de tal maneira que a atividade democrática realiza-se socialmente como luta social e, politicamente, como um contra-poder social que determina, dirige, controla, limita e modifica a ação estatal e o poder dos governantes. Fundada na noção de direitos, a democracia está apta a diferenciá-los de privilégios e carências.

Um privilégio é, por definição, algo particular que não pode generalizar-se nem universalizar-se sem deixar de ser privilégio. Uma carência é uma falta também particular ou específica que desemboca numa demanda também particular ou específica, não conseguindo generalizar-se nem universalizar-se. Um direito, ao contrário de carências e privilégios, não é particular e específico, mas geral e universal, seja porque é o mesmo e válido para todos os indivíduos, grupos e classes sociais, seja porque embora diferenciado é reconhecido por todos (como é caso dos chamados direitos das minorias).

Uma das práticas mais importantes da política democrática consiste justamente em propiciar ações cap azes de unificar a dispersão e a particularidade das carências em interesses comuns e, graças a essa generalidade, fazê-las alcançar a esfera universal dos direitos. Em outras palavras, privilégios e carências determinam a desigualdade econômica, social e política, contrariando o princípio democrático da igualdade, de sorte que a passagem das carências dispersas em interesse comuns e destes aos direitos é a luta pela igualdade. Avaliamos o alcance da cidadania popular quando tem força para desfazer privilégios, seja porque os faz passar a interesses comuns, seja porque os faz perder a legitimidade diante dos direitos e também quando tem força para fazer carências passarem à condição de interesses comuns e, destes, a direitos universais.

É neste contexto que a práxis da ministra Matilde precisa ser percebida e compreendida. É inconcebível que seu papel na instituição da democracia no Brasil possa ser diminuído ou contestado seja lá por quem for e muito menos pelos agentes da violência institucionalizada neste país.

Marilena Chaui é filósofa e professora da Faculdade de Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH).

fonte http://www.ciranda.net/spip/article1227.html

referência: Entrevista da Ministra Matilde Ribeiro para a BBC Brasil