segunda-feira, 24 de agosto de 2009

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domingo, 23 de agosto de 2009

O Twitter é de direita

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Por que o Twitter é de direita

Mauro Carrara*

Esta é uma bela reflexão que, pessoalmente, gostaria de levar para as ferramentas, conforme proposta do autor, ao final, quando compara o Twitter e o Orkut. Mas o brilhante Mauro Carrara chega a essa reflexão a partir de episódios da política brasileira atual. Bem, ele tinha de partir de algum lugar. Vale acompanhar o texto, apesar de que meu foco aqui, neste Blog de Filosofia é pela reflexão, como escrito acima, sobre as ferramentas.

Raras vezes o revés se exibiu tão instrutivo. E o senador Mercadante, do partido mudo, merece gratidão por nos oferecer incrível lição de como torrar a própria imagem diante da opinião pública.

Depois da tarde das garrafadas invisíveis, em que a bancada do partido mudo quis converter-se em madame girondina, Mercadante utilizou-se do microblog Twitter para anunciar, em caráter irrevogável, sua renúncia à liderança do PM na Câmara Alta.

O sol deitou, voltou, deitou e Mercadante resolveu pisar atrás, anunciando, pelo mesmo Twitter, sua desistência de desistir.

E uma onda de indignação hipócrita e seletiva passou como tsunami sobre a praia governista. Foram muitas as vítimas. Estava posta a carniça aos abutres. Folha de S. Paulo e Estadão, por exemplo, lambuzaram-se das tripas do bigodudo parlamentar.

Do episódio neodantesco, ficaram três lições: 1) O partido mudo não sabe o que é o Twitter; 2) Os parlamentares do partido mudo utilizam essa e outras ferramentas de maneira imprópria e irresponsável; 3) A direita nada de braçada nessa lagoa da comunicação interativa.

Deu pena do incauto Mercadante. O tal perfil da Juventude do DEM, a mesma que utilizou o Twitter para engrossar o coro de “Fora Sarney”, divertiu-se à vontade em cantigas de maldizer, levantando hordas de playboys para espezinhar o pobre líder mudista.

O meio é a mensagem

Assisti a uma palestra de Marshall McLuhan há uns 5 mil anos, na Universidade de Wisconsin, numa época em que meu Inglês não era lá essas coisas.

Mas peguei o básico, sem grandes problemas.

Neste momento, vem à memória o trecho da preleção em que o canadense falava sobre sua teoria de que “o meio é a mensagem”, conceito que na época eu não compreendia muito bem, e continuei sem compreender.

Agora, contudo, tudo faz muito sentido.

Mercadante e o partido mudo nem desconfiam do impacto sensorial das novas mídias. Presos à ideologia e ao conteudismo, não percebem que os meios de comunicação se constituem em extensões humanas, nas tais próteses técnicas capazes de determinar padrões de comportamento e reconstruir discursos.

O Twitter é exemplo claro da importância do meio na conformação da conduta do usuário.

Mais do que o Orkut, por exemplo, que é sucesso entre os brasileiros de todas as classes sociais, o Twitter tem em sua engenharia interna a inspiração do modelo personalista.

Serve, portanto, de modo perfeito, à construção de púlpitos para gurus. É da pessoa e não do tema, estabelece uma hierarquização no tráfego de informação e copia os modelos verticais de gestão corporativa.


O Orkut, por exemplo, é campo aberto de batalha e debate. Ali, os famosos e poderosos têm medo de se expor. Equivale a se apresentarem no meio da multidão, em praça pública.

Por conta das características do meio orkutiano, as pequenas legiões leonídeas da esquerda organizada destroçam facilmente as gordas falanges do mainardismo virtual.

O Twitter, ao contrário, enfatiza o emissor e exclui o intercâmbio dinâmico de ideias. Não há corpo a corpo e, por conta das condições do campo de batalha, a quantidade pode vencer a qualidade.

Vale dizer que o Twitter funciona no campo da comunicação declaratória. Não trabalha com base na argumentação e na exposição racional do pensamento.

No Twitter, as personalidades têm o que o sistema chama de “seguidores”, característica que fortalece um padrão de falsa interação.

Um tema dromológico


Cada tweet (mensagem) tem que se limitar a 140 caracteres. Assim é a coisa.

É fácil pedir “Fora Sarney” nessa tecladas mínimas. Mas é difícil explicar que o presidente do Senado está por aí há 45 anos, que a bronca tucana é oportunista, que Arthur Virgílio é um bandalho e que o movimento midiático faz parte de um projeto de desestabilização do governo Lula.

O Twitter é ótimo para gritar e exigir cabeças. É péssima ferramenta para qualquer advogado.

Curiosamente, o Twitter no Brasil é utilizado majoritariamente por homens paulistas e cariocas, na faixa de 20 a 30 anos, a maior parte deles com ensino superior. A agência Bullet, que coletou os dados, mostra que 60% dos twitteiros são considerados formadores de opinião.

No total, 51% dos usuários valorizam os tais perfis corporativos.

Cabe destacar que o Twittter se casa perfeitamente com o modelo de comunicação veloz da juventude. É um SMS da Internet.

A informação é rala e muitas vezes codificada. O importante é estar “em contato”, integrado, saber um pouco, talvez quase nada, mas de muitos. Também é preciso mostrar-se vivo, disparando a mensagem, mesmo que irrefletida.

O Twitter faz parte do arsenal das bombas informáticas, às quais faz referência o filósofo Paul Virílio, pessimista mas sabido.

Como instrumento de controle e alienação, a ferramenta já se converteu em arma poderosa do que se convencionou chamar de “direita”, considerado aí o termo conforme a brilhante conceituação de Norberto Bobbio.

Em seus estudos, Virílio alerta para a supervalorização da velocidade na sociedade tecnológica contemporânea. Segundo ele, perdemos o valor mediador da ação em benefício da interação imediata.

O pensador, que bem avaliou os elementos simbólicos da guerra, afirma que a velocidade divinizada reduz drasticamente o poder de atuação racional e estabelece uma conduta de reação, muitas vezes automatizada.

Por isso, o Twitter tem menos interesse no pensamento estruturado que no jogo rápido das reações. Assim, vem sendo utilizado com sucesso no fortalecimento de marcas, agregando “seguidores” por categorias definidas pelos profissionais de marketing.

Razões éticas ou morais podem afastar as esquerdas do Twitter. A esquerda não se contenta (e não sabe se contentar) com 140 caracteres e historicamente não tem gosto pela velocidade.

Os esquerdistas de raiz libertária, em especial, valorizam a dialética e a comunicação multidirecional, em que a igualdade de direitos faz emissores e receptores trocarem de lugar a cada passo da valsa.

O partido mudo e alguns setores decrépitos da esquerda são casos à parte. Praticam, há tempos, certo neoludismo fanático e tolo. Noutras ocasiões, a inépcia marca o uso das novas armas-meio.

Como já estive por aqueles lados, posso assegurar que os vietnamitas não se valeram apenas de zarabatanas e armadilhas de caça para vencer a maior potência bélica do mundo.

O Twitter é de direita, hoje. Mas não precisa ser para sempre.

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* Mauro Carrara é jornalista, nascido em 1939, no Brás, em São Paulo. É o segundo filho de Giuseppe Carrara, professor de Filosofia em Bologna, e de Grazia Benedetti, uma operária e militante comunista de Nápoli. O casal chegou ao Brasil em 1934, fugindo da perseguição fascista. Mauro foi para a Itália em 1959, por sugestão do amigo dramaturgo G. Guarnieri. Em Firenze, estudou arte, ciências sociais e comunicação. De volta ao Brasil, passou dois anos na Amazônia. Ao atuar na defesa dos povos indígenas, foi preso pelo regime militar. Libertado, voltou à Itália. Como free-lancer, produziu reportagens para jornais como L?Unita e Il Manifesto. Com o primo Antonino, esteve no Vietnã, no início da década de 70. Em 1973, no Chile, juntou-se à resistência ao golpe contra Allende. No Brasil, como clandestino, aproximou-se do cartunista Henfil, cujos trabalhos traduziu para uma revista alternativa italiana. Na década de 80, prestou serviços para a ONU em países como China, Iraque e Marrocos. Nos anos 90, assessorou ONGs brasileiras, especialmente na área de Direitos Humanos. Ainda atua na área de comunicação e relações internacionais.

Fonte da matéria: NovaE
recebida de "Novae Informa" - revista.novae@gmail.com
em Domingo, 23 de agosto de 2009 23:06


Conhecendo NovaE: Novae: uma história de amor ao copyleft

Esta é a mensagem de rodapé nos textos em NovaE: Fortaleça a imprensa independente do Brasil e a Livre Expressão ao disseminar este artigo para sua rede de relacionamento. Imprima ou envie por e-mail.

foto "Redes Neurais" extraída de "cerebromente"
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sábado, 22 de agosto de 2009

SciELO chega ao continente africano

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SciELO chega à África

Por Fábio de Castro - 21/8/2009

Agência FAPESP – A fim de otimizar o alcance global e o impacto potencial da pesquisa feita no país, a Academia de Ciências da África do Sul (Assaf) adotou a modalidade de acesso aberto por meio da plataforma SciELO (Scientific Eletronic Library Online) para a publicação de seus periódicos acadêmicos.

Em editorial publicado na edição desta sexta-feira (21/8) da revista Science, Wieland Gevers, chefe do Comitê de Publicações Acadêmica e ex-presidente da Assaf, explica por que o modelo foi escolhido para tornar mais visível – em sistemas de busca e ferramentas bibliométricas – o trabalho publicado em periódicos científicos locais.

O programa SciELO, criado em 1997 por meio de uma parceria entre a FAPESP e o Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (Bireme), foi implantado até agora em outros sete países – Argentina, Chile, Colômbia, Cuba, Venezuela, Espanha e Portugal.

O modelo conta também com duas coleções temáticas nas áreas de saúde pública e ciências sociais. Além da África do Sul, estão atualmente em fase de desenvolvimento bases de dados para coleções de Costa Rica, México, Paraguai, Peru e Uruguai.

No editorial da Science, Gevers, que é professor emérito de bioquímica médica da Universidade de Cidade do Cabo, afirma que a visibilidade internacional da pesquisa sul-africana deverá ter um salto com a adoção da plataforma. O projeto está em fase piloto de desenvolvimento com a cooperação da Bireme.

Gevers destaca dois objetivos principais da plataforma SciELO: indexar periódicos de alta qualidade, ampliando os títulos indexados na base do Instituto para a Informação Científica (ISI, na sigla em inglês) – por meio de uma seleção com base em avaliações transparentes –, e oferecer acesso livre global ao conteúdo dessas revistas.

“Esse sistema já revelou a existência de periódicos locais e artigos altamente citados nas revistas indexadas na base ISI e também revelou periódicos e artigos que tiveram alto impacto no próprio sistema SciELO”, afirmou Gevers.

Segundo ele, com apoio de governos locais e da comunidade internacional, será plenamente possível estender o modelo também para outros países africanos. “Poucas iniciativas poderiam ter mais chance de oferecer tanto rendimento como esse, ao facilitar um sistema nacional e regional interconectado, com livre acesso e qualidade garantida”, acrescentou.

Gevers conta que, dos 225 periódicos científicos sul-africanos, mais de 100 nunca tiveram seus artigos citados. “A África do Sul ocupa uma posição paradoxal no contexto da publicação científica: o de ser, ao mesmo tempo, um gigante dentro do contexto africano e um anão na arena internacional”, disse. A África do Sul já produziu nove prêmios Nobel, sendo quatro em áreas científicas.

“O objetivo do Programa SciELO é aumentar a visibilidade de publicações científicas em revistas brasileiras e os resultados tem sido exemplares e reconhecidos por observadores independentes de entidades estrangeiras”, disse Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP.

“As revistas que fazem parte do SCIELO tiveram seus artigos mais citados internacionalmente, gerando com isso benefícios para o desenvolvimento científico em São Paulo e no Brasil. Uma estratégia efetiva dos líderes do projeto tem sido a de abranger publicações de outros países, inicialmente ibero-americanos e, em seguida, da África. Tal estratégia aumentou ainda mais o valor de toda a coleção, beneficiando todas as publicações envolvidas”, destacou.

Pioneirismo reconhecido

De acordo com Abel Packer, diretor da Bireme e um dos idealizadores do SciELO, a adoção do sistema por mais um país e o editorial na Science demonstram o quanto foi acertada a decisão de criar o programa, há 12 anos.

“A extensão do programa à África do Sul é um reconhecimento do pioneirismo e da visão estratégica do grupo que criou o SciELO e da FAPESP, que nunca deixou de nos apoiar. E o editorial sinaliza o reconhecimento da Science de que a produção científica dos países em desenvolvimento é importante e precisa ganhar visibilidade”, disse à Agência FAPESP

Todos os países que participam do SciELO são nações em desenvolvimento, com exceção da Espanha e de Portugal. “O programa é especialmente importante para países em desenvolvimento – ao aumentar a acessibilidade e tornar mais citados os periódicos dessas regiões –, mas representa uma solução também para os dois países europeus que, como todos os ibero-americanos, também enfrentam a barreira da língua”, destacou.

A proposta de adoção da SciELO na África do Sul partiu de um estudo iniciado pela Assaf em 2007. Uma comissão da academia avaliou os periódicos do país e considerou as principais soluções existentes de publicação em acesso aberto. Em julho de 2008, o comitê visitou a Bireme para conhecer o desenvolvimento do programa brasileiro.

“Em dezembro, o modelo foi adotado e a fase piloto do projeto sul-africano teve início com quatro publicações do país, com o objetivo de testar as funcionalidades da plataforma. Na próxima fase, a coleção deverá contar com 35 periódicos”, explicou.

Sucesso no Chile

A expectativa, segundo Packer, é que a adoção do programa pela África do Sul aumente efetivamente a visibilidade da produção científica local e o impacto global da pesquisa realizada no país, alcançando o sucesso obtido, por exemplo, no Chile, primeiro país, além do Brasil, a adotar a plataforma, em 1998.

Para a coordenadora do SciELO Chile, Marcela Aguirre, da Comissão Nacional de Pesquisa Científica e Tecnológica (Conicyt, na sigla em espanhol), a opção pelo modelo criado no Brasil trouxe um grande aporte ao programa chileno para o fortalecimento de suas revistas científicas.

“Trata-se de uma metodologia que provocou grande impacto na comunidade científica chilena e nas diferentes instituições que editam periódicos científicos. O fato de proporcionar acesso aberto é uma excelente vantagem para as revistas, que ganharam grande visibilidade, divulgando a produção científica nacional em diferentes áreas do conhecimento”, disse à Agência FAPESP.

Em 1998 o Chile iniciou a participação piloto no SciELO com quatro veículos científicos. A coleção atual já tem 80 periódicos e outros 25 estão sendo avaliados. “Acredito que a adoção dessa metodologia foi boa para ambas as partes, já que trouxe benefícios para as revistas chilenas – que ganharam qualidade ao seguir os critérios rigorosos exigidos para fazer parte da coleção SciELO – e também enriqueceu a própria coleção”, disse.

Segundo Marcela, ao ganhar um sistema de difusão massivo, com acesso completo na internet, as revistas científicas chilenas foram beneficiadas de forma marcante. “Com essa visibilidade, as revistas passaram a receber mais artigos para publicação. Isso exerceu grande impacto nas publicações nacionais. O SciELO também foi importante para padronizar normas de difusão e políticas editoriais, elevando a qualidade dos artigos”, disse.

Marcela conta que a plataforma também trouxe uma grande contribuição em relação à acessibilidade. “Em 2008, tivemos cerca de 78 milhões de acessos à coleção do SciELO Chile. É um número importante de artigos chilenos sendo consultados em todo o mundo.”

O programa trouxe também, segundo ela, um estímulo à internacionalização das revistas chilenas. “Agora temos um grande número de periódicos reconhecidos e indexados em índices internacionais e bases de dados. Tivemos cerca de 30 títulos indexados, por exemplo, na base da ISI. Houve também aumento da presença chilena em bases como Scopus. Essa visibilidade internacional é muito importante”, disse Marcela.

O artigo Globalizing Science Publishing, de Wieland Gevers, pode ser lido por assinantes da Science em www.sciencemag.org.





SciELO: www.scielo.org

Extraído de Agencia FAPESP
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sábado, 15 de agosto de 2009

Revisão de provas e Autonomia Universitária

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Ação do Tribunal de Justiça de SC

Direito à revisão de provas não afronta autonomia universitária


O juiz substituto Júlio César Bernardes, lotado na Comarca de Criciúma, concedeu liminar em mandado de segurança e determinou que Osiris Matias Eing, acadêmico da ultima fase do curso de Administração da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), participe da solenidade de colação de grau, agendada para 14 de agosto deste ano, bem como, que lhe seja permita ampla defesa, em relação às notas apresentadas para a disciplina “Plano de Negócios”, constante da grade do Curso de Administração.

O estudante impetrou mandado de segurança, com pedido de liminar, contra ato do reitor da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, Gildo Volpato. Aduziu ser abusiva e ilegal sua inabilitação na disciplina “Plano de Negócios”, que o impossibilita participar da colação de grau.

Na liminar, o magistrado sustenta que o direito à revisão de provas não afronta a garantia da autonomia universitária. “(…) o direito à educação, ao contraditório e à ampla defesa deve sobrepor-se à referida garantia prevista na Constituição da República”. Por último, concluiu, que as datas das provas acadêmicas e da divulgação dessas avaliações devem ser fixadas previamente pelo docente, oportunizando ao aluno o direito de recorrer a fim de elevar sua nota.

Autos n. 020.09.014750-2
Fonte: TJSC

Extraído de Lion & Advogados Associados
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sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Imre Simon (USP), pioneiro da computação no Brasil

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Professor titular aposentado da USP e um dos idealizadores do Programa Tidia foi um dos mais importantes líderes da ciência da computação no país (foto: arq.pessoal)

Morre Imre Simon, pioneiro da computação


14/8/2009
Por Thiago Romero

Agência FAPESP – Imre Simon, professor titular aposentado do Departamento de Ciência da Computação do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da Universidade de São Paulo (USP), morreu na noite de quarta-feira (12/8), em sua residência na capital paulista, em decorrência de um câncer de pulmão.

Simon foi um dos pioneiros e um dos mais importantes líderes na área de ciência da computação no país, com enorme contribuição científica. Era membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e foi um dos idealizadores do Programa Tecnologia da Informação no Desenvolvimento da Internet Avançada (Tidia) da FAPESP.

... O professor completaria 66 anos nesta sexta-feira (14/8)....

“O professor Imre deu insubstituível contribuição para o desenvolvimento científico no Brasil. Sua participação foi fundamental no estabelecimento da ciência da computação. Ele sempre colaborou intensamente com a FAPESP e suas ideias moldaram programas da Fundação. Sentiremos sua falta”, disse Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP.

Simon nasceu em 14 de agosto de 1943, em Budapeste, na Hungria, região na qual passou os 13 primeiros anos de sua vida, quando a grave situação política no país levou sua família a emigrar para o Brasil.

Em 1962, ingressou na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), onde teve sua primeira experiência com computadores, um IBM 1620, e, juntamente com outros estudantes de sua geração, entre eles Tomasz Kowaltowski e Claudio Lucchesi, atuou no Centro de Computação da USP.

“Somos amigos há quase 50 anos, fomos colegas de faculdade, estudamos e trabalhamos juntos durante todo esse tempo. Fizemos parte da primeira turma de estagiários do Centro de Computação da USP”, disse Tomasz Kowaltowski, professor aposentado do Instituto de Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

“O professor Simon foi um dos primeiros cientistas da computação no Brasil e talvez tenha sido a pessoa que mais contribuiu para o estabelecimento dos programas de graduação e pós-graduação da USP. Ele é muito conhecido internacionalmente por suas contribuições científicas em teoria algébrica dos autômatos finitos, com resultados pioneiros e importantes até hoje. Foi um pesquisador brilhante”, destacou Kowaltowski.

Simon e colegas desenvolveram, em 1965, o primeiro exame vestibular computadorizado do país para o ingresso nas escolas médicas do Estado de São Paulo. Em 1967 foi convidado por Delfim Netto, então ministro da Fazenda, para escrever um programa de computador que estimasse a taxa de inflação do Brasil.

Depois de ter se formado em engenharia eletrônica em 1966 na Poli-USP, em 1969 Simon ganhou uma bolsa da FAPESP para fazer doutoramento na Universidade de Waterloo, no Canadá. Em 1972, completou sua tese, intitulada Hierarchies of Events with Dot-Depth One, com orientação do professor Janusz Brzozowski.

Após o doutoramento, retornou ao Brasil para se tornar professor do IME-USP, onde permaneceu até recentemente. Em 2005, foi homenageado em edição especial da revista Rairo – Theoretical Informatics and Applications (vol.39 – nº1), publicada com apoio do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), da França, que destacou a importante contribuição científica do pesquisador.

Com o título Imre Simon, o cientista da computação tropical, a publicação apresentou diversos artigos escritos por colegas e ex-alunos do professor e prestou um tributo a um dos maiores nomes da ciência da computação mundial.

Yoshiko Wakabayashi, professora titular do Departamento de Ciência da Computação do IME-USP que assina o prefácio da publicação, lamentou profundamente a perda, lembrando que a influência de Simon na área de ciência da computação tem destaque mundial.

“Além de um grande pesquisador, foi um professor excepcional. Aqueles que tiveram o privilégio de assistir suas aulas puderam não só aprender o que ele expunha, mas também aprender como expor”, disse.

Segundo ela, Simon teve um papel fundamental no estabelecimento de uma escola forte na área de ciência da computação no país, na criação do curso de bacharelado de Ciência da Computação e também na formação do Departamento de Ciência da Computação do IME-USP.

Yoshiko lembra um episódio ocorrido em julho, durante a conferência “Developments in Language Theory”, em Stuttgart, Alemanha, quando um dos palestrantes convidados, o polonês Mikolaj Bojanczyk, proferiu palestra intitulada “Factorization Forests”, um dos objetos de pesquisa do professor Imre que teve grande impacto na teoria dos autômatos.

“Essa palestra foi um dos pontos altos da conferência e nela ficou novamente evidenciado quão profundas e de impacto foram as contribuições do professor Simon. É com muita honra e orgulho que faço esse relato. Mais recentemente, ele passou a se dedicar à tecnologia da informação, tendo várias contribuições marcantes nessa área”, disse.

Pioneiro da computação

Claudia Bauzer Medeiros, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Computação (SBC), conheceu o professor Simon ao ser contratada na Unicamp, em meados dos anos 1980. “Desde então, a cada novo encontro ele me encantava. Uma pessoa maravilhosa, uma voz imponente, alguém que fará muita falta a todos nós”, disse.

Claudia também ressalta que Simon foi um dos pioneiros da computação no Brasil, ajudando a criar e consolidar linhas de pesquisa, cursos e departamentos da área.

“Sua personalidade e forma de trabalho lhe angariou admiradores e seguidores por todo o país. Pesquisador dedicado, educador apaixonado e uma figura humana fantástica. Um batalhador incansável pelas causas que abraçava”, disse.

A também professora do Instituto de Computação da Unicamp e membro da coordenação da área de Ciência e Engenharia da Computação da FAPESP lembra-se de um dos inúmeros prêmios recebidos por Simon, o Mérito Científico da SBC, em 2006.

“Eu coordenei a comissão que avaliou as indicações para concessão daquele prêmio e os depoimentos apoiando o seu nome vieram de todo o Brasil, dando testemunho da variedade de atividades do professor e de como seu trabalho atingia a comunidade de pesquisa brasileira das formas mais diversas”, disse.

Além de suas atividades científicas, Simon ocupou vários cargos administrativos, tendo sido, entre outros, presidente da comissão central sobre informática da USP, membro da comissão de coordenação do Programa Tidia e presidente da Sociedade Brasileira de Matemática, além de ter recebido inúmeros prêmios e distinções.

Em 1979, recebeu o Prêmio Jabuti de Ciências Exatas e, em 1989, foi premiado pela Union des Assurances de Paris (UAP), na França. Em 1996 foi honrado com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, na seção de Ciências.

Em 1980 tornou-se membro da Academia de Ciências do Estado de São Paulo e, em 1981, membro titular da Academia Brasileira de Ciências na área de Ciências Matemáticas.

A edição especial da Rairo em homenagem a Imre Simon pode ser lida em www.edpsciences.org/ita.

Estraído de
http://www.agencia.fapesp.br/materia/10916/morre-imre-simon-pioneiro-da-computacao.htm


foto da matéria da FAPESP - arquivo pessoal
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quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Ideias não envelhecem

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Ideias não envelhecem

Em 2001 a NovaE publicava a entrevista com o filósofo finlandês Pekka Himanen que apresenta no Brasil tese sobre a ética de trabalho e a vida dos hackers, que tanto a midia de massa combateu nestes primórdios e hoje, mesmo a contragosto, se curva perante a realidade deste ativismo e criatividade digital. (Nas fotos, Pekka, em 2001 e hoje)

Por Sheila Grecco


Transformar a monotonia da sexta-feira em um ensolarado domingo, democratizar a informação, romper a jaula de ferro da disciplina e burocracia, criar arte e beleza através do computador. Esses são os valores de um verdadeiro hacker, expressos pelo filósofo finlandês Pekka Himanen, no polêmico livro "The Hacker Ethic. And The Spirit of The Information Age", recentemente publicado pela Random House (232 págs., US$ 25).

A obra de Himanen, professor das Universidades de Helsinque, Finlândia, e Califórnia, Berkeley (EUA), vai na contramão do senso comum sobre revolução digital. "O termo hacker vem sendo empregado incorretamente. Na origem, nos anos 60, e é isso o que enfatizo, significava apenas uma pessoa para quem programar era uma paixão. O hacker não é jamais um criminoso de computador", definiu Himanen, em entrevista ao Valor, concedida de Helsinque, cidade onde mora e leciona nos "verões".

Violar segredos de empresas, roubar números de cartão de crédito são ações de crackers; os hackers lutam pela liberdade de expressão e tiveram vital atuação na crise de Kosovo

A tese, que já foi tachada de extremamente original a puro romantismo por críticos americanos, está dando o que falar também na Europa, onde foi lançada nesta semana. Contra fatos, Himanen contrapõe argumentos filosóficos, sociológicos e históricos para sustentar a formação de uma ética dos hackers via "comunismo a cabo". Para ele, a criação do Linux, em 1991, é um dos melhores exemplos dos valores desses programadores, pois revela paixão pelo trabalho e extrema capacidade de abertura. O programa desenvolvido por Linus Torvalds, que inclusive prefacia o livro de Himanen, é um sistema gratuito, com código-fonte aberto e vários aplicativos compatíveis, que podem ser igualmente obtidos pela internet.

Himanen cita também o padrão MP3 - fruto de ação de hackers - que conquistou os ouvidos dos internautas do mundo inteiro e fez do Napster, que permite a troca de arquivos musicais na rede, um sucesso tão grande que chegou a forçar a biliardária indústria fonográfica a buscar um acordo para acabar com o que considerava pirataria. "Trata-se de extraordinários avanços na área de softwares abertos e que representaram movimentos reais contra a quebra do monopólio da Microsoft. Por isso, é preciso sublinhar a idéia de 'software aberto' ou 'plataforma aberta'. Sua ênfase não é o dinheiro, mas sim na liberdade e na abertura. Como diz um pensador mais radical, Richard Stallman, devemos ver o processo de abertura no sentido de 'liberdade de expressão', e não como o mero ato de dar uma 'cerveja grátis'", lembra o filósofo.

Outros exemplos da "socialização do conhecimento" são o modo como driblam a censura em diversos países, atuando mesmo de forma efetiva na crise de Kosovo, em 1999, e a formação de invasores do bem - os hackers que seriam pagos para entrar no sistema de empresas e testar suas vulnerabilidades. "Eles funcionariam como psicólogos para saber o que se passa na cabeça dos 'crackers', esses sim, os criminosos", aponta.

Na última semana, o FBI anunciou dados oficiais do maior ataque hacker criminoso da história: só nos Estados Unidos, mais de 1 milhão de números de cartões de crédito foram violados por grupos que exploraram as vulnerabilidades do sistema Microsoft, em 2000. Dados secretos de grandes empresas foram burlados. Essas seriam ações dignas dos Robin Hoods do espaço ou estariam mais para um Robinson Crusoé, símbolo da literatura burguesa? "Eles não passam de crackers. Ser um hacker é ter um título de honra, significa ter uma ética própria, na qual o dinheiro é mera conseqüência e não a causa do trabalho", argumenta.

Para um hacker, disciplina representa autopunição. Dinheiro é para ser gasto, trabalho deve ser prazer e não obrigação. No novo capitalismo, a estrutura burocrática que racionaliza o uso do tempo seria totalmente dispensável. O filósofo vai contrapondo, um a um, os estatutos da ética dos hackers à protestante, à essência do próprio capitalismo preconizado por Max Weber (1864-1920).

"Hackers crêem que a revolução digital deve ser traduzida em um tempo lúdico para a humanidade; a sexta-feira deve virar um domingo"

Himanen, autor de diversos livros de filosofia da tecnologia e uma espécie de guru de CEOs, acadêmicos e artistas, se define como um "humilde filósofo". Embora admita já ter feito suas ações como hacker e passar dias inteiros navegando pela rede, explica que suas paixões hoje são escrever e lecionar. Ele já está preparando um novo livro, em parceria com o sociólogo Manuel Castells, sobre revolução digital e, é claro, os hackers. Tema preferido, porque, "se os hackers são aqueles que não têm medo do prazer, então, nos sonhos de todos, há um desejo secreto de ser apenas um bom hacker". Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

  • Em seu livro, os hackers aparecem de maneira bastante idealizada. Contrariando o sendo comum, ciberpunks, piratas virtuais, criadores de vírus, crackers e hackers não seriam, então, "farinha do mesmo saco"?

Pekka Himanen: Não, embora essas definições se mesclem no imaginário das pessoas comuns, e sejam utilizadas, muitas vezes, indistintamente pela imprensa. O que procuro ressaltar no livro é a origem do termo: hackers são somente programadores apaixonados que trocam suas descobertas livremente com os seus parceiros. Nos anos 80, começou um movimento de deturpação desse sentido, associando-se hackers a criminosos de computador. Mas o seu sentido permanece através da ação de hackers como Steve Wozniak (criador do primeiro computador pessoal, o PC) ou Linus Torvalds (inventor da plataforma Linux). Quanto mais se tornar conhecido que foi através da ação e paixão individual dos hackers (e jamais das corporações) que a base tecnológica do que é a internet hoje foi disseminada, mais os hackers voltarão a ganhar a credibilidade na opinião pública.

  • Autodisciplina e automodelação vinham juntas na ética do trabalho proposta por Max Weber. Segundo a sua tese, os hackers preferem o lema "esta é a minha vida", em vez do "time is money". Como se constrói e se propaga, na prática, essa nova filosofia virtual?

Himanen: A ética protestante incluiu a idéia do "time is money". Governada por essa ética, muito de nossa economia se tornou mais e mais veloz. Nosso tempo de lazer está diminuindo e se tornando apenas obrigação, um processo que poderia ser chamado de "Fridayzation of Sunday". Pessoas estão constantemente correndo de um compromisso a outro, tentando sobreviver dentro dos prazos, do "deadline", expressão que é significativa do nível de emergência e exaustão a que se chegou. Da perspectiva de um hacker, esse é um resultado estranho do progresso tecnológico. O aspecto mais interessante da ética dos hackers é se opor frontalmente à velha ética protestante. Os hackers crêem que a revolução digital deve ser traduzida também em um tempo lúdico para a humanidade. Trata-se de reverter o processo, transformar a sexta-feira no domingo ("The Sundayization of Friday"). Uma relação mais livre é também necessária na economia informal cuja base principal é a criatividade: você precisa permitir a formação de estilos individuais se deseja que se criem coisas interessantes. Na ética protestante, a idéia do dinheiro era um valor em si mesmo. Isso não significa que os hackers sejam ingênuos ou anticapitalistas. Na nova economia, a idéia de propriedade se estendeu para a noção de informação em uma escala jamais vista anteriormente. A própria história do hardware dos computadores é um reflexo disso. A Apple perdeu para o IBM PC sobretudo porque esta apresentava uma arquitetura mais flexível. Os padrões da internet venceram porque eles foram desenvolvidos contra as regras oficiais de padronização. Os protocolos da rede bateram os do Gopher devido a rumores de que o Gopher poderia se tornar, digamos, propriedade privada. Há muitos outros casos semelhantes, cuja lição permanece: se você quer vencer na competição, a melhor estratégia é a abertura e não rigidez. Mas, claro, como argumento em meu livro, as principais razões para tais abertura são éticas, e não comerciais.

Para um hacker, disciplina representa autopunição, dinheiro é para ser gasto, trabalho deve ser puro prazer e não uma obrigação

  • Muitos argumentam que essa flexibilidade e a proeminência do agora geram angústia, incerteza e corrosão de caráter, certa incapacidade de se relacionar com algo/alguém além do computador. O sr. concorda?

Himanen: Essas são posições alarmistas e, em certo sentido, saudosistas. Devido à ligação fundamental entre criatividade e economia da informação, a relação do hacker com o tempo está aos poucos se espalhando para profissionais de outros ramos da informação. E a tendência é aumentar cada vez mais. É um erro achar que o hacker está isolado do mundo e das pessoas, relacionando-se apenas com o computador. Hackers de computador têm enfatizado ultimamente que ser um hacker não significa necessariamente ter de trabalhar com computadores. Há algum tempo, conheci uma pessoa que era um hacker de tratores, outros tipos surgirão em breve.

  • O sr. escreve que a crise de Kosovo em 1999 foi um exemplo modular da ação democrática dos hackers, que espalharam pela rede notícias que se opunham à versão oficial dos fatos. Dessa forma, os hackers seriam politizados?

Himanen: No livro, enfatizo que a liberdade de expressão tem sido um valor vital dos hackers. Não se pode dizer que eles foram sempre passivos e que somente na crise de Kosovo deixaram claro o seu potencial contra o militarismo. Na China, além de ser importante ferramenta para os negócios, a internet tem sido muito usada para contornar a censura. Em Kosovo, os hackers ajudaram os dissidentes a usar a internet com o objetivo de espalhar informação e enviar reportagens para fora de seu país. O governo de Slobodan Milosevic praticamente fechou toda a mídia de oposição, incluindo a mais proeminente, a Rádio B-92. Entretanto, os hackers ajudaram a estação de rádio a continuar a sua transmissão pela internet. Rádios estrangeiras pegavam os sinais da rede e iam retransmitindo-os dentro da própria Iugoslávia, o que tornou os censores não só ridículos, como também ineficientes. Essa é ação dos hackers em um de seus melhores momentos.

  • 78% dos cerca de 130 milhões de usuários da Web no mundo (dodos de 2001) se limitam aos EUA e à Europa. Com um acesso tão restrito e sabendo que milhões de pessoas no mundo são privadas ainda de direitos básicos, como a educação, não seria um enorme exagero considerar a internet uma mídia de massa?

Himanen: De fato, é precoce dizer que a internet já é uma mídia de massa porque, segundo as últimas estatísticas, apenas 5% da população mundial tem acesso à rede. Há mais pessoas morando no Vale do Silício do que conectadas à rede na África e no Oriente Médio somados. De forma que a revolução digital é desigual e ainda há muito a ser feito. Alguns grupos de hackers como o Internet Society e o Net Day tentam lutar contra a exclusão digital, ensinando princípios de conexão e navegação, o que é importante simbolicamente. Mas isso deve ser um esforço que precisa partir dos governos e que deve considerar um investimento maciço em educação. Os governos precisam entender que em nossa economia global e digital o acesso das nações à internet e à alfabetização - também digital - é fator preponderante para o sucesso. Devemos muito o que ocorre aqui (Finlândia) a uma ação efetiva do Estado.

  • Como a revolução nas tecnologias de comunicação está mudando o próprio conceito de informação na sociedade?

Himanen: No passado, associávamos informação a conhecimento, mas o que em grande parte se encontra na rede hoje não é conhecimento, mas um complexo de trocas de emoção e experiência. Sem dúvida, pode-se ter acesso mais rápido e fácil a livros, enciclopédias, dicionários, dados, estatísticas. Mas, por outro lado, a internet deixou claro que a informação não é tudo. O que se requer, agora, é a habilidade para criar um filtro pessoal, selecionando questões e problemas, e se posicionando frente a eles. E é essa a filosofia educativa dos hackers: fazer com que as pessoas aprendam a aprender.

  • O que um historiador no ano de 2020 vai escrever quando analisar os hackers do nosso tempo? Quem vai prevalecer no tempo: os hackers do bem ou os do mal?

Himanen: Eu me atrevo a dizer que em 2020 a internet já será uma mídia universal, entretanto, isso requer trabalho consciente e a formação de novos heróis. Via de regra, tendemos a celebrar os feitos de CEOs e outros que basicamente só se movem pautados pelos interesses de suas companhias. Mas a rede não pode existir sem a ação individual e, por vezes, anônima, dos bons hackers, nomes como os de programadores, verdadeiros "heróis da generosidade", porque dividiram seus conhecimentos com os colegas - como fizeram Vinton Cerf e Tim Berners-Lee, os pais da internet na rede, entre outros. Os nomes de criminosos e dos piratas virtuais vão simplesmente se perder na poeira da história.

Entrevista publicada na NovaE originalmente em 2001, de autoria e com autorização de Sheila Grecco, jornalista, então editora-assistente de Opinião do jornal Valor Econômico.

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